11 dezembro 2007

brasil colônia




nenhum mulato
negro índio
ninguém tingido
por água salgada
vindo

exercerá função
de ourives mesmo
aquele que liberto
um dia com seus
sapatos a luzir

nem o outro
se conseguiu bem mais
precioso tanto faz
se tem coração
ouro branco

artíficie de metais
nobres há que ser
impecável
sem marcas
cicatrizes
não ungido
sem excesso
de melanina

algo assim próximo
da matéria alva
com que se tinge
o mundo
visão última
de quem
se entrega
à morte

08 dezembro 2007

O Buda, ou aquele que despertou


a última luz do dia já se consome
e o bom médico retornando à sua casa
presencia o veneno a destruir sua prole

ingênuos tomaram aos goles a desgraça
ingeriram um mortífero ungüento
e já sofriam os efeitos de tal traça

o hábil médico se apressa por um momento
em seu femento de ervas variadas
com qualidades que alivie o sofrimento

sendo perfeito em fragrância e na cor dada
de exuberante sabor tão desejável
a evitar a morte prefigurada

alguns aceitam o antídoto amigável
outros recusam-no abraçando-se a loucura
forçam o pai a arquitetar um meio hábil

pra motivá-los e livrá-los da amargura
sem questionarem se fará ou não efeito
pois o que é certo se faz presto e sem lonjura

e logo vê-se florescer o que é bem feito
dizer que a morte o rodeia em viagem
e se sozinhos ficarem neste eito

devem beber sem rodeios da enfermagem
logo depois de sua ausência tão sofrida
manda a seus filhos uma rápida mensagem

a que rondava agora lhe dava guarida
filhos queridos já não poderia tê-los
e do convívio lhe roubava a vida

atormentados pela perda e pouco zelo
vêem o remédio com uma cor tão excelente
e experimentá-lo decidem, então, fazê-lo

a cura vem em tal gesto tão premente
e os nefastos efeitos esvanecem
com pai e filhos a celebrar o fato alegremente.

02 dezembro 2007

Arte



o banheiro
é meu reduto
absoluto

templo onde
passo o tempo
a obrar


[ilustração: Majane Silveira]

30 novembro 2007

Corazón

aquí
en este lugar donde
el aire enrarecido arde
rehago mi inventario
de sombras

aquí
en este lugar como
la hecatombe en mi pecho actúa
dibujo garabatos
en matices

aquí
en este lugar cuando
el patio de mi casa yace
se encuentra la matriz
del universo

aquí
en el corazón de este lugar
con ojos húmedos a encararme
aquel chico que un día
fui



[tradução: Adriana de Almeida]

27 novembro 2007

Cortes



há um rio que nos
separa
dos outros rio
lethos de esquecimento
encalhes
de duplicidade

o mundo é outro
para o ser
segundo a dualidade
de sua atitude
nossa

a margem que nos
encalha
no outro é a mesma
pele que nos irmana

quem vislumbra
o tu
permanece em relação
aquele que comunga
somente o isso
não é não
está só


[ilustração: Majane Silveira]

25 novembro 2007

Tombo



anuros
de etimologia obscura

mergulhos
em tanques imundos

sapos
coaxando ali

tudo
à revelia de mim

apupos n’alma



[quadro de Sabine Liva Berzina | Haiku water]

23 novembro 2007

Escolhas



crianças equilibram
borboletas e planetas
homens enxugam copos
com sua dor

mulheres geram gafanhotos
vozes de soprano ao fundo
o artista recolhe o essencial
um esboço

o profeta berra ao vento
boca em sirenes
o filósofo pensa ao andar
tudo é estilo e concisão

o bêbado balbucia
sem coerência
sirenas, sirenas
abra os olhos errante

o poeta embaralha
tudo do cio ao silêncio
alerta os navegantes
abrolhos com escolhos


[ilustração: Majane Silveira]

22 novembro 2007

As sombras



enquanto o sol gira
e queima
em torno da constelação
Alcione
não aquela dos sambas e pistão
a outra que nos contamina
a todos e a tudo
com seus fótons e energias
sutis nós, os chamados humanos
seguimos entre escombros
a acumular mortes
e assombros

15 novembro 2007

Roberto Piva




A PIEDADE

Eu urrava nos poliedros da Justiça meu momento
abatido na extrema paliçada
os professores falavam da vontade de dominar e da
luta pela vida
as senhoras católicas são piedosas
os comunistas são piedosos
os comerciantes são piedosos
só eu não sou piedoso
se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria
aos sábados à noite
eu seria um bom filho meus colegas me chamariam
cu-de-ferro e me fariam perguntas: por que navio
bóia? por que prego afunda?
eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as
estátuas de fortes dentaduras
iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos
pederastas ou barbudos
eu me universalizaria no senso comum e eles diriam
que tenho todas as virtudes
eu não sou piedoso
eu nunca poderei ser piedoso
meus olhos retinem e tingem-se de verde
Os arranha-céus de carniça se decompõem nos
pavimentos
os adolescentes nas escolas bufam como cadelas
asfixiadas
arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através
dos meus sonhos

[Confira, também, entrevista quentinha com o Piva na TV CRONÓPIOS]

13 novembro 2007

SOPHIA

 

minha bruxinha querida
a assombrar os dias
luzes insuspeitadas
nas mãozinhas delicadas

a preencher nossas noites
estrelas nunca cintiladas
em céus gregos ou egípcios
perguntas d'o que é isso?

alfabetos sinuosos tatuados
páginas amareladas de minha
vida a balbuciar afetos de sofilha
acepções ignoradas da felicidade

10 novembro 2007

Estado de espírito



há manhãs de sábado
que nem o cheiro
do café
o jornal aberto
sobre a mesa
o sorriso franco
da amada
suprem o oco
do corpo a corpo
com a vida
desperdiçada a cada
dia dado
dádiva imerecida

09 novembro 2007

Gonfotérios B

temos ossos em demasia
gordura que brota pelos ouvidos
escorrendo pelo pescoço desmedido

temos que enxugar nossos acúmulos
moer nossa coluna num triturador de açougueiro

nossa massa de orgulho encefálico será
servida fatiada com rodelas
de tomates fritos

o que sobrar de nosso ego lançaremos num formigueiro faminto e sem escrúpulos

depois é só amarrar linha sem cerol no dedão do pé e preso a árvore mais alta soltar-se aos desvarios dos ventos e tempestades num treinamento catártico de infância

um dia a linha puída pelo destempero se romperá e não saberemos mais nada sobre bancos, cadeiras ou telefones.

a gente é rascunho de gente.


letra e voz: Edson Cruz
música: Pipol
confira em www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=483

07 novembro 2007

Me encanta


[Praça de Maldonado. Foto: Ignacio Fernández de Palleja]


Uma coisa me chamou muito a atenção em Maldonado, Uruguai. A presença da rede MacDonald's com a placa “Me encanta”. Essa expressão é tão bonita que fiquei meio enojado com o uso espertalhão dela pela rede. O “M” casando bem com “Me”. Depois fiquei sabendo que houve muita resistência dos uruguaios contra a entrada da rede no país. Mas, parece, que não foi suficiente.

Uma grande figura que conheci por lá foi o Ignacio Fernández de Calleja. Ele fala muito bem o português e faz parte da nova geração de escritores e pensadores da literatura e cultura uruguaia. Levou-me, numa noite daquelas, a um programa de rádio comunitário feito por ele e amigos. Um programa supimpa. Li alguns poemas meus e alguns minicontos do Evandro Affonso Ferreira, com tradução simultânea dele, e fundo musical brasileiro.

Ignacio fez uma entrevista com o escritor gaúcho Aldyr Garcia Schlee, que você pode conferir no Cronópios.

Abaixo, a meu pedido, ele faz suas considerações sobre a entrada da rede por lá.




Not Mac or Not Mac

Si tengo un hijo le voy a explicar, a escondidas de la madre, que la “M” grande significa “mierda”. Creo que la cantidad de veces en las que entré a los locales de lo de MacDonald para ir al baño supera la cantidad de ocasiones en la que concurrí a comprar sus productos. La culpa de esto último recae en una mala mujer que, además de gustar de la comida de ahí, no está conforme con quién es y recurre a su padre sólo para sacarle plata. Una chica material, aunque es seguro que Renato Gaúcho no la invitaría a fornicar con ella en pleno Maraca.
¿Ha habido polémica pública o repercusiones sociales sobre la presencia de esta empresa norteamericana? No conozco ningún estudio serio en este país sobre los hábitos de consumo alimenticio. Es decir, no sé qué segmento del mercado acaparan. No sé de estudios sociológicos serios que muestren la opinión del público. Sólo sé que a los niños y adolescentes les interesa. No son idiotas los que diseñan la imagen corporativa: juegos, cajitas felices, Ronald y más. “Me encanta” se repite insistentemente y se pega a nuestro oído, queriendo hacer creer que se dirige al estómago. Es ese tipo de consigna en primera persona que busca que cada consumidor individual se sienta identificado, parte de la cosa. Es el slogan que ataca desde el aire instando a comprar hamburguesas. En un mundo de padres que se sienten culpables, mandan los adolescentes hiperactivos de deseo diverso y mirada volátil. La culpa sostiene un imperio de grasa. Y es quizá por tratarse de una manifestación percibida como imperial que los vidrios de un local situado en el centro de Montevideo fueron apedreados para celebrar la visita de Bush (y ya que estaban, también la emprendieron contra una iglesia brasilera de esas que en Uruguay se han esparcido como hongos tras la lluvia).
“Super Size Me” (“Yo, talle grande”) es un documental en que un tipo decide experimentar consigo mismo y se impone la hercúlea tarea de comer, durante un mes, solamente los productos de la cadena de “M”. Se hace estudios médicos antes de empezar la prueba y muestra su envidiable salud. Durante la película, lo muestran comer y empezar a sentirse mal, incluso a ver resentida su vida sexual. Se entrevista con gente gorda y con adictos a los productos del payaso. Los estudios médicos revelan que aumentó más de diez kilos de peso, su colesterol subió y el hígado anda mal. Queda en evidencia que casi todas las cosas que venden tienen grasa y/o azúcar. Decido tajantemente que yo no consumiré nunca más algo que ellos vendan. Porque eso parece ser la intención del texto: convencernos de las maldades de la comida de “M”. Sin embargo, la “M” aparece tantas veces que parece un comercial de la marca. Empiezo a sospechar que la empresa ha financiado la película como una forma de evitar juicios, como diciendo “todo el mundo sabe que vendemos porquerías, ¿por qué demandarnos entonces?”.
No les compro aunque regalen todos los años la recaudación de un día de ventas a una fundación que se dedica a curar niños con cáncer. Es como apoyar a un narcotraficante que dona su dinero para lograr la paz mundial.

04 novembro 2007

Charles Willer


[quadro de André Albuquerque]


O quadro acima é incrível. Você poderia dizer (o autor também diz) que é o Baudelaire, mas eu continuo visualizando o Cláudio Willer. É o Charles Willer, ou talvez o Cláudio Baudelaire.

O André Albuquerque pinta com essa pegada que nos lembra o irlandês Francis Bacon . Uma pintura nada naturalista, extremamente essencial, arrasadora das aparências.

Como na arte nós dizemos muitos mais do que nos propusemos antes de realizá-la (isso se, realmente, formos artistas), vejo nos quadros de André uma consciência aguda de que o ser humano, no final das contas, sempre recuará diante da visão de sua crueldade. A pós-modernidade talvez seja o momento da camuflagem e do fascínio das mudanças superficiais. Talvez.

Vejam esse poema de Cláudio Willer, que o próprio diz ter-se lembrado, posteriormente ao lê-lo, da noção do moderno e da modernidade em Baudelaire.


Poemas para ler em voz alta

6

Seus olhos têm muitas cores
que refletem o brilho de cada hora
estranhas palavras
atravessam nossas conversas
É PRECISO QUE SEJAMOS MODERNOS COMO O AMOR
mas não sei
se não recuaremos
confundidos diante da visão da nossa crueldade.


E para terminar, uma tradução de Guilherme de Almeida de meu poema preferido de Baudelaire. Claro, está em sua “Flores do Mal”. Uma visão romântica do poeta, mas que nos faz lembrar da busca incessante da tempestade, mesmo nas coisas mais prosaicas, no exercício existencial da poesia.


O ALBATROZ

Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.

Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.

Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!

O Poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
As asas de gigante impedem-no de andar.

03 novembro 2007

Escher brasileiro


[desenho de Levi Ciobotariu]

Conheço o Levi há muito tempo. Já moramos, viajamos, e fizemos muitas coisas juntos. Levi é do bairro Bom Retiro e eu era da Ponte Pequena. Dividindo um bairro do outro está a fatídica avenida Tiradentes.

Levi é um grande artista. Meticuloso, quase obsessivo. Cursou Arquitetura, mas é com o desenho que se realiza. Nós sempre fomos parceiros de alguma forma e vamos tentar reabilitar essa parceria, agora já maduros e cada qual com seu trabalho e direção.

Levi tem vários livros infantis, com ilustrações e textos próprios. Já ganhou um prêmio Pirelli de pintura jovem e um prêmio Jabuti de melhor programação visual de coleção.

Imaginem um carinha que, logo ao terminar a faculdade, totalmente desconhecido, chega ao Masp, com seus desenhos debaixo do braço, e pede pra falar com o todo poderoso Pietro Maria Bardi. Não conseguiu, claro! A secretária ficou com seus trabalhos e uma semana depois o secretário do Bardi liga para ele. Bardi vira seus desenhos, gostara e ainda convida-o para uma exposição no Masp. Uau!

Foi assim que começou a carreira do Levi. Levi é aquele amigo que cito em texto sobre o nascimento de minha filha Sophia . Um nascimento livrou sua mãe da morte em um campo de concentração nazista. Um nascimento permitiu que posteriormente Levi viesse a nascer.

Levi mandou o desenho acima para nosso Sambaquis. Se não me engano o nome original é “Resquícios da Maré”. Ele tem muitos desenhos feitos em Bico de Pena, de sua primeira fase, em preto-e-branco. São meus preferidos. Principalmente o “Transecular talking with Giordano Bruno about the creation and destruction of the worlds”: uma obra-prima. Há até um quadro seu em que eu apareço tocando violão. Uma grande honra para mim.

Desde 1989, Levi colabora com pesquisadores botânicos de várias universidades e, por conta desta produção, é conhecido como um artista naturalista (confira alguma coisa em seu site). Quem diz isso desconhece sua fase “viajandona”, que reúne sua técnica e precisão naturalista com devaneios e toques surreais – são seus trabalhos mais interessantes.

Levi Ciobotariu vai fazer sua primeira exposição internacional em 2008. Ele mesmo contará os detalhes posteriormente, pois o convidei para escrever uma coluna sobre artes plásticas no Cronópios. Irá apresentar trabalhos e artistas de que gosta e falar de artes plásticas em geral.

Evoé!



30 outubro 2007

O Portal do Dragão


[ilustração: Tania Ricci]


quando o torpor do sono vem
e o ser apaziguado fica

algo enfim desperta e bem
com o sonido d’água precipita

tal sonho dentro de um sonho
a imagem de um peixe nos habita

salta pra fora num dançar bisonho
buscando alçar-se ao topo da queda entrevista

(nunca é fácil a uma carpa
transformar-se em um varão)

assim como os ciprinos buscam
o portal do dragão

assim como os poetas anseiam
enxergar na escuridão

assim como o plebeu almeja
algum dia ser barão

todos o seres ensejam
atingir a iluminação

parece fácil feito tocar harpa
tatuar o sim na água do não

um canto grave como bordão
vem repetir o mesmo refrão

não desanimem, insistam
superem o limite do ego falastrão

pois ninguém escapa da morte
nem mesmo o grande dragão

25 outubro 2007

El encuentro perfecto


Fernando Butazzoni e Edson Cruz
[foto tirada pela esposa de Fernando]

No Encuentro de Escrituras de Maldonado, Uruguai, tive o prazer de conhecer um escritor que me fez correr à livraria e gastar quase todos os meus pesos para adquirir o livro que ele acabara de lançar e de ler um trecho para nosotros. Seu nome é Fernando Butazzoni.

Seu romance, El profeta imperfecto, foi editado pela Planeta no Uruguai e já é um dos dez finalistas do Prêmio Planeta/Casamérica de 2007. Segundo ele me confirmou, posteriormente, seu livro está em tradução e será lançado no Brasil em 2008.

Butazzoni, além de escritor, é jornalista nascido em Montevidéu. Estudou Ciências Biológicas em Cuba. Uau! Trabalhou por lá como professor e escreveu programas para rádios de Cuba. Logo em seu primeiro livro Los dias de nuestra sangre, de 1979, abocanhou o prestigioso Prêmio Casa de las Américas, na categoria contos.

Fez parte da resistência nicaragüense em 1978 e esteve na frente de batalha pela Frente Sandinista de Liberación Nacional. Ainda bem que sobreviveu. Aliás, conheci durante o Encontro vários escritores marcados, de alguma forma, por suas opções e ações políticas. Um deles foi o uruguaio Carlos Caillabet, que esteve 13 anos preso por pertencer ao movimento tupamaro e só foi libertado com a anistia.

Mas, voltando a Butazzoni, ele criou, juntamente com o escritor argentino Mempo Giardinelli, o Comitê Internacional de Intelectuais Contra a Guerra, resistindo às políticas bélicas dos EUA. Desse Comitê participaram vários escritores importantes como Mario Benedetti, Eduardo Galeano, Luis Sepúlveda, Antonio Cisneros, entre outros.

No mesmo dia em que ouvi sua leitura participei de uma mesa com sua presença. Um belo encontro. Ele me perguntou algo sobre a sonoridade e musicalidade de meus poemas, que eu acabara de ler, e cuja emoção quase me deixou sem fala. Eu estava meio dopado depois da leitura e nem lembro o que respondi. Acho que falei de música popular, como a música me influenciou e da velha questão sobre letras de música e poesia no Brasil. Ele foi bem bacana e receptivo à minha poesia. É um grande escritor. Vejam vocês mesmos...

“[...] Resulta que este hombre es experto en practicar un juego secreto que consiste en no pronunciar ni una palabra durante todo el fin de semana. Es mi tiempo libre y hago lo que quiero, piensa. O sea, silencio. Cuando cultiva el arte de callarse la boca ni siquiera se permite una exclamación mientras de despereza, o un susurro al afeitarse frente al espejo. Nada. Ningún sonido. Se dedica a la lectura o a sus pasatiempos: las palabras cruzadas y la televisión. Es un orfebre de los crucigramas, y hasta se há comprado de liquidación un viejo diccionario enclopédico Sopena del año 1952, nada más que para corroborar de manera fehaciente algunos de los múltiples gazapos com que suelen estropearse muchas definiciones, realizadas la mayoría de las veces con torpeza por iletrados aprendices.
Esa es, para él, una posible forma de estar: televisión, palabras cruzadas y silencio. Vodka y silencio. Como si el tiempo se quedara allí y lo pusiera a salvo de los desastres del pasado, a los que há sobrevivido de manera inexplicable. Silencio y tiempo. Una posible forma, también, de no estar. Así se las arregla, en el tédio de esos larguísimos fines de semana, para hacer las compras – em general los sábados sobre el mediodía – sin saludar ni consultar precios ni despedirse de la cajera del supermercado. Es un maestro del mutismo. Claro que no há podido sacar, de esos parêntesis, casi ninguna conclusión, excepto tal vez la certeza de su inutilidad, lo que viene a reforzar su tesis acerca de la estupidez humana. [...]”

[Trecho do romance El profeta imperfecto, Planeta, 2007]

Posted by Picasa