17 julho 2008

touché

(para Jorge Tufic)

o diabo é a greve
dos Correios
ainda bem
que Deus trafega
em meus emeios

16 julho 2008

préstito negro

o carnaval acabou
mas o desfile continua
em todo caso a morte
sempre chega mesmo
mansa e nua em macios
passos de porta-bandeira
a equilibrar o mastro
em suas ancas de ossos
carcomidos pelos olhos
vorazes da avenida
corsos ensandecidos

09 julho 2008

No ponto



Esse poema foi trabalhado em Flash pelo craque Pipol. Como não sei colocar isso no blog, passo o link da Folha onde ele primeiramente apareceu. Lá você poderá conferir, também, trabalhos do Pipol, do André Vallias, do Augusto de Campos, do Ferreira Gullar, entre outros.

Clique aqui: E-Poemas

05 julho 2008

santo




após receber
a plenitude
os sacramentos
a fé no criador
lambuzou-se
até o fim
nas águas
da vida delfim

04 julho 2008

Comportamento do Autor

Estive navegando por alguns sites de editoras e encontrei estas dicas e comentários primorosos no site da Editora Novo Século. Recebo muitos e-mails pedindo dicas e contatos com editoras para uma possível publicação (como se eu mesmo não precisasse delas, no caso de querer editar em papel...). As dicas são mais pertinentes se você já tiver sido abraçado por uma editora. Mas no caso de ainda não, o bom-senso talvez seja mais importante ainda... ou não?


"O livro é um produto que carrega consigo um rótulo de prestígio, de elite e de trabalho de toda uma vida. Essa é uma visão distorcida. Apesar de os medos serem absolutamente normais como parte do processo de publicação de um livro, é bom lembrar que os profissionais de uma editora são da área da cultura, e não psicólogos. Desse modo, ter ataques de ansiedade, telefonemas diários ao editorial ou à produção, reclamações insistentes sobre atrasos e uma presença constante na editora sem que você tenha sido chamado, em vez de ajudar acaba atrapalhando a produção de seu livro, tendo em vista que você deixará os funcionários encarregados pela produção de seu livro muito irritados e de mau-humor, podendo isso até interferir no resultado final do trabalho. Tenha sempre muito bom senso e equilíbrio nestas horas, para que o trabalho possa ser produtivo para ambos os lados: autor e editora. Os dois têm interesse em um único objetivo: que o livro seja um sucesso e atinja ótimas vendas. Outro ponto importante é o fato de o autor confundir um editor com um empresário ou agente, e isso não é correto. O editor é o responsável por analisar a viabilidade de publicação de um livro e, depois de este ter sido aprovado, formalizar o contrato, dando andamento ao processo de produção. Para isso, ele tem pessoas que trabalham com ele, auxiliando-o, cada uma em seu respectivo setor, neste processo de produção. Desse modo, o autor deve se dirigir sempre ao funcionário responsável por cada departamento em que sua obra estiver passando, e não exigir que o editor o atenda, pois ele não tem disponibilidade para isso. Já o empresário ou o agente, estes sim têm a função de cuidar de uma outra parte, até em nível pessoal, no que diz respeito ao autor ou sua obra. Cabem a eles ajudar o autor a decidir sobre questões do tipo: faça isso, não faça aquilo; vá por este caminho, não por aquele; vamos mudar de estratégia, pois esta não está funcionando; haja desta forma, não daquela; coisas assim. Eles são um tipo de conselheiro pessoal/comercial do autor. Portanto, não adianta o autor querer atribuir o papel de "conselheiro" ao editor, pois sua função é exatamente outra. Outro lembrete: uma editora não é uma empresa em que o autor pode entrar e sair quando bem lhe convier. Jamais vá até a editora sem ter marcado um horário, pois isso pode atrapalhar toda a rotina dos funcionários, que procuram planejar minuciosamente seu dia-a-dia. E mesmo marcando um horário, não é de bom tom "alugar" o funcionário. Tenha bom senso e converse sobre tudo o que necessitar, no menor espaço de tempo possível. Isso vale também para horários agendados com o editor."

22 junho 2008

cortes





há um rio que nos separa
dos outros
rio

lethos de esquecimento
encalhes
duplos

o mundo é outro
segundo a dualidade
do ser

a margem que nos divide
é a pele
que nos irmana

quem vislumbra o tu
é nutriente
da relação

aquele que comunga
o isso não é

está

21 junho 2008

sim



um poema
de amor poderia
assim começar:
amo porque
pressinto
fim


[Quadro de Karel Šafář]

26 maio 2008

A cegueira em época de supervisualização



Ensaio sobre a cegueira foi o livro que mais me impactou nos últimos 12 anos e passei a respeitar com carinho o escritor português Jose Saramago.

Esse momento tão particular e tão emocionante (que invasivamente vemos acima), impossível de ser compartilhado em tempos pré-web, pré-YouTube, pré-visualização de coisas tão íntimas como essa, pré-big-brothers, me levou às lágrimas...

Aguardo o filme com ansiedade.

19 maio 2008

Mormaço na Floresta



Finalmente conheci o Amazonas. Naveguei pelo rio Solimões. Vi o abraço de suas águas claras com as negras do rio Negro. Entrei no Teatro Amazonas. Assisti a um ensaio de ópera. Encarei uma onça arredia nos olhos. Hospedei-me no mítico Hotel Tropical. Conheci o Centro de Estudos e Pesquisas Ecológicas da Amazônia - CEPEAM, um projeto do mestre Daisaku Ikeda. Vi pela primeira vez uma Ambulancha.

Fiz muitos amigos. Abracei muitos companheiros de ideal. Fortaleci minha unicidade de mestre e discípulo. Senti um pouco da grandeza do povo amazonense e dos desafios dos manauaras. Sobrevoei a extensa floresta. Comi tambaqui frito. Fiquei sabendo a história do candiru (peixinho que devasta a uretra do mijões em alguns rios).

Tudo isso só foi possível graças ao Grupo Alvorada da BSGI. Três vivas ao Grupo. Três vivas ao mestre.

E se tudo isso não bastasse, ainda apertei a mão, conversei, fui beijado e abraçado pelo poeta Thiago de Mello. Ganhei um afago do poeta depois de lhe dedicar um poema. "Você tem talento, menino. Gostei muito. Gostei da sonoridade. Escreva mais com versos em rima. Redondilhas.

O poema é este:


Coração Amazônico
para Thiago de Mello


na lentidão do rio Solimões
curtindo na pele
o mormaço de sua querida floresta
senti a imensidão
de seu coração
a grandeza sem fim
deste rico manancial de vida
no planeta

tudo ficou tão pequeno
tão ínfimo dentro de mim
igarapés de coisas desnecessárias
trastes de civilização

tudo o mais era silêncio
só o ronco do barco desafiava
a quietude
deslizando imponente
entre os igapós

ouvi seu grito
a ecoar na voz do filho amado
“não mate a mata”
a mata não mata

deixem a vida
vicejar em ritmo natural
deixem o rio
quietar em minha Barreirinha
para que possa desaguar
límpido em minhas mãos.


[Manaus, 17 de maio, XI Encontro do Grupo Alvorada da BSGI]

11 maio 2008

A origem do Dia das Mães


A mais antiga comemoração dos dias das mães vem da Grécia antiga, quando a entrada da primavera era festejada em honra de Rhea, a Mãe dos Deuses.
Depois de muito tempo, no início do século XVII, a Inglaterra começou a dedicar o quarto domingo da Quaresma às mães das operárias inglesas. Nesse dia, as trabalhadoras tinham folga para ficar em casa com as mães. Era chamado de "Mothering Day", fato que deu origem ao "mothering cake", um bolo para as mães que tornaria o dia ainda mais festivo.
Mas foi uma americana, Ana Jarvis, no Estado da Virgínia Ocidental, que iniciou a campanha para instituir o Dia das Mães. Em 1905, Ana, filha de pastores, perdeu sua mãe e entrou em grande depressão. Preocupadas com aquele sofrimento, algumas amigas tiveram a idéia de perpetuar a memória de sua mãe com uma festa. Ana quis que a festa fosse estendida a todas as mães, vivas ou mortas, com um dia em que todas as crianças se lembrassem e homenageassem suas mães. A idéia era fortalecer os laços familiares e o respeito pelos pais.
Durante três anos seguidos, Anna lutou para que fosse criado o Dia das Mães. A primeira celebração oficial aconteceu somente em 26 de abril de 1910, quando o governador de Virgínia Ocidental, William E. Glasscock, incorporou o Dia das Mães ao calendário de datas comemorativas daquele estado. Rapidamente, outros estados norte-americanos aderiram à comemoração.
Finalmente, em 1914, o então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1913-1921), unificou a celebração em todos os estados, estabelecendo que o Dia Nacional das Mães deveria ser comemorado sempre no segundo domingo de maio. A sugestão foi da própria Anna Jarvis. Em breve tempo, mais de 40 países adotaram a data.
"O amor de uma mãe é diariamente novo", afirmou certa vez. Anna morreu em 1948, aos 84 anos.
O primeiro Dia das Mães brasileiro foi promovido pela Associação Cristã de Moços de Porto Alegre, no dia 12 de maio de 1918. Em 1932, o então presidente Getúlio Vargas oficializou a data no segundo domingo de maio. Em 1947, Dom Jaime de Barros Câmara, Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro, determinou que essa data fizesse parte também no calendário oficial da Igreja Católica.
Desde então, mesmo contra a vontade de Anna, que chegou a entrar com um processo em 1923 para cancelar o Dia das Mães, sem sucesso, muita coisa aconteceu e entre as filas nos Shoppings, o trânsito infernal, as lojas lotadas, e essa homenagem se transformou em algo diferente.
E isso pode ser muito simbólico. Sendo a mãe o núcleo da família, o equilíbrio do lar, essa “nova” situação desencaminhou a luta de Anna. O reconhecimento da importância das mães no dia-a-dia foi subestimado.
Os tempos modernos (ai que saudades da aurora da minha vida...) conseguiram, através do incremento do comércio, de promoções tipo compre 1 e leve 2, distorcer o grande feito de Anna Jarvis.
Será que aí não pode estar uma das razões para os atos de violência, da desestruturação familiar que nós temos observado, ainda estarrecidos, nos dias de hoje?
Vocês sabem o que foi escolhido por Anna Jarvis como presente, simbolizando a pureza, a fidelidade, o amor, a caridade e beleza para uma mãe?
Um simples cravo branco.

Dr. Yechiel Moises Chencinski – médico pediatra e homeopata
http://www.doutormoises.com.br/

P.S.: Anna Jarvis morreu em 1948, aos 84 anos, sem ter sido mãe.

01 maio 2008

Fonction França



Na terça-feira estivemos na livraria Martins Fontes entrevistando e depois dialogando, sobre literatura na internet, com a simpaticíssima escritora e editora francesa Laure Limongi, Claudio Willer, Solange Rebuzzi, Sonia Goldfeder (a incansável Assessora de Imprensa da melhor livraria da cidade de São Paulo) e convidados.

Foi uma noite mais do que agradável. Muito interessante conhecer o trabalho de Laure em vários aspectos. Desde seus escritos, suas idéias e sua relação com os novos escritores franceses. A editora em que ela trabalha, Éditions Léo Scheer, e onde organiza a Coleção Laureli, é das mais interessantes. Seu site é dinâmico e dá um banho nos sites de editoras brasileiras, que parecem muito ingênuos e preguiçosos em relação aos recursos e criatividade que a internet possibilita. Vejam com os próprios olhos.

Ela deu dicas de sites e blogs bacanérrimos da nova cena literária francesa. Confiram os comentários da senhorita Limongi, sobre a passagem por São Paulo, em seu blog, http://www.rougelarsenrose.blogspot.com/ , e no final desse texto os links que ela citou na noite.

A entrevista que fizemos, com a participação da poeta carioca Solange Rebuzzi e a tradução simultânea da Sonia Goldfeder foi muito bacana. Logo que o Pipol conseguir editar entrará na TV Cronópios.

No final do bate-papo ela fez leitura de alguns textos seus que depois foram traduzidos (anteriormente) e lidos em português pela poeta Solange Rebuzzi. Vamos publicá-los, oportunamente, no Cronópios. Solange leu, também, um poema de sua autoria dedicada a Laure Limongi, que havia conhecido na semana anterior em evento no Rio de Janeiro.

O poeta Claudio Willer tinha esquecido os óculos e preferiu não ler nada, depois de comentar e falar sobre a Revista Agulha, site que co-edita com o poeta Floriano Martins.

Dois dos poemas que li, em tradução generosa de Sonia Goldfeder, foram o “Eu”, e o “Palimpsesto” que ficaram assim:

Moi

un être
etonné comme um dieu
abasourdi

sur mon visage
des goûtes de la mer
morte



Palimpseste

toute poèsie déjá
écrite

n’equivaut
a aucune poesie

inscrite
la poesie crève



Links indicados por Laure Limongi:

http://towardgrace.blogspot.com/
www.tierslivre.net/spip
www.publie.net/
www.jcbourdaily.net/
http://correcteurs.blog.lemonde.fr/
http://www.desordre.net/
http://www.t-pas-net.com/libr-critique/
http://www.berlol.net/dotclear/

20 abril 2008

O jogo da vida



não adianta, tempo
tu não gozarás de minha velhice
tuas construções erigidas sobre nossas cabeças
não me surpreendem, não estranham
apenas revelam o quanto tu és antigo
o quanto é breve a parte que me cabe

não me importo com o passado
a mim, interessa o presente
matriz de tudo que há de vir

desafio-te como um dia o fez o bardo
pois tuas lendas, livros e tudo o que vemos
são aparência e revelam o quão imperfeito és
serei lento, único e delicado artesão
tecerei uma obra que te anulará com um sopro
algo de mim continuará e permanecerá
zombando de ti e de tua afiada foice

[frame de "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman]

06 abril 2008

Allen Ginsberg & Paul McCartney



[The Ballad Of The Skeletons, Live at the Royal Albert Hall, October 16, 1995. Site: http://www.allenginsberg.org/]

18 março 2008

saliva

hoje eu não vou falar
sobre aquilo tudo que
não sei e faço de conta
não vou nomear o que
não carece fazer aquela
pergunta desnecessária
constelação de saliva
em boca úmida
hoje vou ficar aqui
só eu e meu teclado
amarelado meu monitor
Flatron a piscar
o documento Word
a esperar
palavras palavras palavras
mundos não mudos
habitados por
ninguém.

16 março 2008

encaixes [emboîtement]



o animal vegeta feito planta
a planta se anima ao ouvir música
a música preenche o silêncio dos entes
o silêncio ampara os seres solitários
os seres acariciam o todo quando cantam
o todo permeia tudo a seu modo.

22 fevereiro 2008

aurora

neste instante onde 
meu ser se compraz
ouve-se o marulho 
do tempo a tecer fios 
do carma em névoa  
sutis emaranhados
de causas e efeitos

sua voz suave a 
sibilar no ouvido 
dos seres a sussurrar 
que no espaço infindo 
desta hora
de hoje 
do amanhã
ou de outrora

há algo que quer
pode
deve
triunfar

17 fevereiro 2008

A casa do ser



sou a inescapável casa que habito
a fonte que busco iluminada
o paraíso eterno e impalpável
o eco que retorna após o grito

sou o lugar que tanto almejo
o instante que entoa o infinito
o estar na ação que se conclui
o bem que neste mundo entrevejo

sou aquele que é já se fazendo
partícula por quem o todo se apaixona
a vida que permeia o ambiente
sombra que acompanha o movimento

um bom lugar será que sou,
ou só preencho a casca que me restou?

13 fevereiro 2008

Coisas que aprendi com Koellreutter



Já contei em minha coluna no Cronópios como me enfiei numa sala de aula do flautista e professor alemão (ou será que era suíço?) - que morou até o fim de seus dias no Brasil ensinando e influenciando dezenas de músicos, compositores, maestros e professores – Hans-Joachim Koellreutter.

Era um velhinho muito inspirador, e insistia o tempo todo que precisávamos questionar a tudo e a todos: principalmente aos professores.

Ele dizia que a função do artista é transmitir, informar, através de sua arte, as grandes idéias do momento em que vive. E as grandes idéias, os pilares da cultura do nosso querido século 20 (aliás, as aulas anotadas aconteceram no século passado… he he), foram: o conceito de tempo; a superação do dualismo e a superação da causalidade.

Tempo, para ele, era a questão central. É fácil de entender o porquê, pois trata-se de um músico e na música esse é o xis da questão. Se o conceito de tempo muda, tudo mudará na música. E sabemos (ou pensamos que sabemos, mas não colocamos em nosso dia-a-dia) que depois de Einstein e de Niels Bohr a noção de tempo como um fluxo constante do passado infinito até o futuro infinito não existe mais.

O tempo deixa de ser um fator puramente físico para ser uma forma de percepção, ou seja, o tempo não pode ser critério de avaliação porque ele muda de pessoa para pessoa. Os fenômenos do tempo como os da cor dependem da percepção. Esse redimensionamento do conceito de tempo, para ele, é o tema da música da segunda metade do século 20.

A música reproduz a visão do novo mundo. E nesse novo mundo, com essa nova percepção de tempo, tudo é movimento. No universo não há referenciais fixos, portanto, não se pode querer uma percepção rigorosamente objetiva.

Por outro lado, fomos educados dualisticamente e a música composta na segunda metade do século 20 procura superar esses dualismos. O dualismo é consequência do dualismo que fazemos entre tempo e espaço. Na realidade não existe essa divisão e sim um continuum.

Na música tradicional, ou seja, em 99,999% do que ouvimos supõe-se a existência de consonância versus dissonância; tempo forte versus tempo fraco; modo maior versus modo menor. A nova música transcende esses dualismos. Os contrários são complementares.

Para Koellreutter, a superação dos contrários talvez seja um dos problemas mais urgentes para se construir uma cultura mais humanista. É difícil para nós, mas ainda chegará o momentuum onde não sentiremos mais diferença entre a vida e a morte, a melodia e o acorde, a tônica e a dominante, o bem e o mal, a transcendência e a imanência. Teremos uma forma de pensar e de agir que relacionará os contrários, na formação de um todo.

Na arte, a estética relativista será a base da criação e da fruição artística.

A estética relativista já é a base da composição musical contemporânea. Ela não considera, em princípio, alturas e intervalos absolutos, mas graduações e tendências. Não trata mais de acordes e sim de graus de densidade. Não trata de ritmos e andamentos determinados, mas de graus de velocidade. De mudanças de andamento, de tendências, enfim.

Mas o fato é que nossa cabeça e percepção ainda estão, e agem de acordo, em estágios bem anteriores a esses conhecimentos. Ainda pensamos e ouvimos de forma linear, com começo meio e fim. E ficamos incomodados quando nos é feita outra proposta. Inclusive pela arte, pela música. Ou deveria dizer, inclusive pela vida. Nos defendemos como podemos desses desconfortos. Por isso não ouvimos música contemporânea (que aliás já é música do século passado), ou pior, não sabemos como ouví-la. Não aprendemos. Não queremos.

O que Koellreutter revelava é que os cientistas e os artistas deixaram de ser observadores do mundo e passaram a ser co-autores. E nesse processo de co-autoria a preparação dos espíritos e das mentes para a apreensão de um mundo novo (que alias é velhíssimo, sempre esteve aqui, nossa percepção e compreensão é que foram embotadas) é uma função importantíssima da arte e da ciência.

[Exemplos de escuta para assimilar as idéias de Koellreutter: “Pranam”, de Gacinto Scelsi; “Anaklasis”, de Penderecki; “Tschel”, para sax tenor, de Hespor; “Acronon”, de H. J. Koellreutter]