15 setembro 2007

Quaternário [3º tempo]

tal vez ella

la teoría
especial de la relatividad
pudiese explicar

el hecho increíble de
estar a una velocidad
de equis kilómetros

y/o

el tiempo congelar
retroceder
el espacio alterarse

de estar yo aquí
en un istmo/instante
en Cuba allá estar

ella tal vez

pudiese explicar
la relatividad de la especial
teoría a

ella tal vez ella

¿quién sabe?


[Tradução: Luis Benítez]

14 setembro 2007

Quaternário [2º tempo]

automóvil engullendo
la pista

paradoja de Zenón

torres quedando
atrás

un motor en combustión

una chispa iluminando
la infancia

un osito bien bobo



[Tradução: Luis Benítez]

13 setembro 2007

Quaternário [1º tempo]

en el principio era
el huevo
el pájaro en
vuelo

ahora a un paso
precipicio
motores sangran
el puente

indiferente
mareo





[Tradução: Luis Benítez]

12 setembro 2007

Lágrimas oceânicas



Portugal
quanto de tua riqueza é o sumo
de nossas tristezas?

Ano Bom Arzila Ormuz Azamor
Ceuta Flores Agadir Safim
Tanger Acra Angola Mogador

Aguz Cabinda Cabo Verde Arguim
São Jorge da Mina Fernando Pó
Costa do Ouro Portuguesa Zanzibar

Melinde Mombaça Moçambique
Guiné Portuguesa Macassar
Quíloa São Tomé e Príncipe Mascate

Fortaleza de São João Baptista de Ajudá
Socotorá Ziguinchor Bahrain Paliacate
Alcácer-Ceguer Bandar Abbas Cisplatina

Ceilão Laquedivas Maldivas Baçaim
Calecute Cananor Chaul Chittagong
Cochim Cranganor Damão Bombaim

Dadrá e Nagar-Aveli Damão Mangalore
Diu Goa Hughli Nagapattinam
Coulão Thoothukudi Salsette Masulipatão

Surate Nagasaki Timor-Leste
São Tomé de Meliapore Mazagão
Malaca Molucas Guiana Francesa

Nova Colónia do Sacramento Bante
Brasil
Macau

Portugal
Oh sal que corrói a pele de nossas almas.

11 setembro 2007

A minha procura da poesia



Edson.
Aquela palestra do Leminski, com o quadro negro atrás, que está nos vídeos do teu blog foi aqui em Porto Alegre. Eu estava assistindo. Foi na livraria Arcano 17. A fala do Leminski me apresentou com toda a clareza algo que já tinha lido duas vezes, o próprio Jakobson e também o Haroldo de Campos falando sobre Jakobson no A arte no horizonte do provável. Mas com a fala do Paulo, o entendimento foi muito além do que conseguira nas leituras anteriores. Estava sentado quase no mesmo ângulo em que está a câmera. Foi em 1987. Eu tinha 24 anos.

por uma prática teórica
meteórica lucidez
ensinando o gesto
a entender o que fez
aprendendo com ele
a fazer o que diz
palavra e gesto,
cada um com seu texto,
façam o que eu digo
digam o que eu fiz

(in Palavra mágica, Ricardo Silvestrin, Massao Ohno,1994)

E agora 3 poemas que fiz, em épocas diferentes, para ajudar no meu luto pela morte do Paulo.

1

VIVA LEMINSKI

quem é muito vivo
leva tempo pra morrer

há mesmo os que nunca morrem
passam-se os séculos
e a gente não esquece

quem é vivo sempre aparece

(in Palavra mágica, Ricardo Silvestrin, Massao Ohno,1994)


2

não quero mais de um poeta
que a sua letra
palavra presa na página
borboleta
nem quero saber da sua vida
da verdade que nunca foi dita
mesmo por ele
que tudo que viveu duvida
não revirem a sua cova
o seu arquivo
é no seu livro que o poeta está enterrado
vivo

(in Palavra mágica, Ricardo Silvestrin, Massao Ohno,1994)

3

.ninguém precisa defender o mortO
.ele se vira sozinho na covA
.o corpo que é só pÓ
.vive no corpo do textO
.palavras vindas do aléM
.escritas ainda em vida
.assombram os vivoS
.que atacam o caixão a golpes de textos crípticoS

.ninguém precisa amar o morto agorA
.por culpa ao ódio contidO
.odeie até a eternidadE
.ódio é de quem vivE
.e mesmo mortO
.ele continua odiando vocêS

(in O Menos Vendido, Ricardo Silvestrin, Nankin, 2006)

Grande abraço.


Ricardo Silvestrin é autor de O menos vendido, ex-Peri,mental, Palavra mágica, Quase eu, Bashô um santo em mim e Viagem dos olhos, além dos infantis O baú do Gogó, Pequenas observações sobre a vida em outros planetas, É tudo invenção e Mmmmonstro!. Integra o grupo musical os poETs. É editor da ameopoema. Assina uma coluna no Segundo Caderno do jornal Zero Hora. Site: www.ricardosilvestrin.com.br

10 setembro 2007

Feitiço



algo assim tão
inatural
que chega a ser
outra natureza

algo sim não
mais factício
por demais tal
coisa feita

que de tão artifício
vira arte
vira livro
vira ofício

09 setembro 2007

Sambaqui



em meu samba sarnambi
cabem todos os restos:
é meu recanto de desterras
chão de joão-ninguém
depositório de meus erros

todos os ossos
sem nome
todos os nomes
sem boca
todas as bocas
à míngua.

o que fazer então
com as palavras?
depositá-las aqui
vomitá-las
como se vomita
uma língua.

08 setembro 2007

A vasta nuvem



há muitas espécies de flores
árvores, ervas em série e tamanhos
no planeta inundam todas as cores

por mais que haja perdas e ganhos
o abraço do céu se ergue no mundo
e a chuva deságua por sobre os rebanhos

por mais que te chames Raimundo
comungas da mesma aflição
enquanto alguns param, outros estão no gerúndio

às vezes tu dizes o sim, outras preferes o não
mas como tudo é tão vário
bebemos da mesma água e clarão

talvez seja mesmo tão raro
encontrar rimas em tamanha profusão
ou quem sabe seja mesmo a única solução.



Ilustração de Jesús Torrealba

06 setembro 2007

Insígnia



habito
este mundo

ave do paraíso
sem pernas

rascunho
que não pousa

nunca


Ilustração: Majane Silveira

05 setembro 2007

Miragem



feito intrépido pintor
a perseguir a essência
de tua visagem busco-te
fêmea magistral
nas sinuosas curvas
do tempo perco-me
e reencontro-me
para passar mais uma
miragem a sussurrar no vento
ancestral Amor, Amor, Amor...

04 setembro 2007

Linguagem



outeiro criado de acúmulos
tegumentos enrijecidos
essências exteriorizadas

depósito antiqüíssimo de
coisas que não deterioram

plástico cheio de esperma
restos que não evaporam
interiores de madrepérola

coisas não transformadas em
objetos de adorno

palavras não específicas
lamelibrânquios lâmina
branca de sentidos

forno onde se calcina
a cal da memória

fábrica de desmundos
mijos de civilizações
sambaquis

tudo que o tempo não
esquece nem se envaidece

kjokkenmodding



Ilustração: Majane Silveira

03 setembro 2007

Sinal verde




tantos anos se arrastaram
já não me lembro de minha infância
será que a tive, ou foi um sonho?

tudo se resume a uma noite
noite de escolha e enfrentamento
ali, me fiz na solidão azul
do nascimento

“se não quer ir ao culto
que fique aí, sozinho!”

fiquei ali, e ainda estou...
em casa escura e sobressaltada
por sombras e faróis relampejando
abandonado de deuses e de afetos

não dormi, como não durmo agora
não fugi, como nem posso embora
ali, a vontade de meu eu se impôs
minha porção de dor se amarelou

permaneci na infinitude do possível
e assim abraço o totem
de vida que sutil me resta

na contingente luz verde que se revela
aceito humilde e resignado
o gentil açoite da morte que me espera.




Ilustração: Majane Silveira

02 setembro 2007















um ser
atônito feito um deus
absorto

em meu rosto
gotas de um mar
morto


Ilustração de Majane Silveira

01 setembro 2007

A viagem do menino


















o menino sempre soube o que é bom
desde semente fez o que devia fazer
descendo bem serelepe em sua bike
ouvindo aquele big som do Skank

o menino foi feito pra isso, é seu dom
azeitar a infância pra encontrar com ela
não precisou procurar muito, não
quase a atropela de tanta alegria

pena que ela seja tão confusa
fez-se demente no afã de crescer
não está pra brincadeira moleque
é tão séria que o menino acha graça

o que será que ela quis dizer, parafusa
sai pedalando e abanando os ombros
a vida é boa pra quem sabe assoviar
ela ainda vai querer sentar na sua garupa


[Ilustração de Majane Silveira]

Gonfotérios na Paulista

quando os helicópteros tomarem os céus
de assalto e não houver espaço para mais arranha-céus
arranharem a nervura dos pés de Júpiter

sairei pela Paulista nu e mijarei na vitrine de todas
as lojas de roupas masculinas

quando Hollywood invadir a tela
de meu micro e não houver mais tempo para que o ouvido
escute o soar das libélulas em cópula

me tornarei um vírus paraguaio e sedento a infectar
jovens virgens e sardentas

quando tudo que criamos der em nada
e meus sonhos mais malucos couberem num grão de chip Made in India

vestirei minha máscara de gonfotério e sairei
por aí a procurar alfaces cultivados em bacias d’água

tudo isso farei ao som de um mantra tão exótico
que a solidão dos seres vibrará em uníssono supersônico
e arrasará o que ainda restar de escombros e sonidos