21 julho 2009

Eunice Arruda à queima-roupa


[foto: Juan Esteves]


1 – O que é poesia para você?

A poesia, para mim, é uma das formas de viver. Que está incorporada em meus dias. Significa captar, no cotidiano (ou em outra dimensão que não ouso nomear), as emoções. Os pensamentos. Para depois devolvê-los ao mundo transformados em outra linguagem: a da poesia. Mas, muitas vezes, abandonei este caminho – a estrada real – para conhecer o atalho. Visitar a cor de outras ramagens.

2 – O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Um iniciante – que para mim são todos os poetas no momento que iniciam a escritura de um poema – é exatamente esta palavra: perseguir. Escrevendo, rescrevendo até encontrar a forma exata que o próprio poema reconhece. Também é necessário estabelecer um diálogo com os procedimentos artísticos do passado e do presente. E abraçar as múltiplas vozes que imploraram as nossas palavras.

3 – Cite 03 poetas e 03 poemas referências para o seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Os poetas referências para o meu trabalho são aqueles cujos poemas, ou trecho de poemas não consigo esquecer. Porque são poemas ou trechos de poemas que eu gostaria de ter escrito. Por exemplo, o de Lúcia Ribeiro da Silva:

“De tudo que tive na vida
Só levarei um pôr do sol
De tudo que tive do tudo
Só levarei um pôr do sol
De todas as coisas ardentes
Só levarei um pôr do sol
Só levarei
Sol levarei um por do sol.

( do livro “Jogo fixo”, Livraria José Olympio Editora, apresentação de Walmir Ayala, RJ/R/, 1966)

E também a última parte do poema “Natal” de Claudio Mello e Souza:

“Olhar sem susto para o fim.
No meu último passo,
Serei o último sujeito.
Deixarei vestígios.
A vida não é um crime perfeito.”

( do livro “Passageiro do tempo”, Editora Nova Fronteira, RJ/RJ, 1985)

No mais, há os outros poetas que me acompanharam e acompanham sempre, com maior ou menor intensidade os, digamos, clássicos, como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira: referências insubstituíveis.



Eunice Arruda nasceu em Santa Rita do Passa Quatro (SP). Pós-graduação em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP (1988). Prêmio no Concurso de Poesia PABLO NERUDA, organizado pela Casa Latinoamericana, Buenos Aires, Argentina, 1974. Presença em antologias, com poemas publicados no Uruguai, Colômbia, França, Estados Unidos, Canadá. Fez parte da diretoria da União Brasileira de Escritores e do Clube de Poesia de São Paulo. Ministra oficinas de criação poética desde l984, em locais como a Biblioteca Mário de Andrade e a Oficina da Palavra (Secretaria de Estado da Cultura). Coordenou os projetos Tempo de Poesia/Década de 60 em l995 e Poesia 96/97, promovidos pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Por tais iniciativas recebeu o prêmio de Mérito Cultural em 1997 conferido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, RJ. Foi homenageada com o prêmio Mulheres do Mercado, concedido pela Casa de Cultura de Santo Amaro – São Paulo/SP, 2005. Em 2006, fez leitura de poemas para o programa Momento do poeta –Instituto Moreira Sales (IMS) – SP, disponível na Rádio IMS: www.ims.com.br. Leitura de poesia no projeto “Mulheres do Planeta” (Casa das Rosas e Oca).

Lançou os seguintes livros: É tempo de noite. São Paulo, Massao Ohno, 1960. O chão batido. São Paulo, Coleção Literatura Contemporânea, n.7,1963. Outra dúvida. Lisboa, Panorâmica Poética Luso-Hispânica, 1963. As coisas efêmeras. São Paulo, Ed. do Brasil, 1964. Invenções do desespero. São Paulo, edição da autora, 1973. As pessoas, as palavras. São Paulo, Ed. de Letras e Artes, 1976 (1.ed); São Paulo, Ed. do Escritor, 1984 (2.ed). Os momentos. São Paulo, Nobel/Secretaria de Estado da Cultura, 1981. Mudança de lua. São Paulo, Scortecci, 1986 (1.ed.); 1989 (2.ed.) Gabriel: São Paulo, Massao Ohno, 1990. Risco. São Paulo, Nankin Editorial, 1998 (Prêmio “Fernando Pessoa” da União Brasileira de Escritores, RJ/RJ). À beira. Rio de Janeiro, Blocos, 1999. Há estações (haicai). São Paulo, Escrituras Editora, 2003 – selo do Programa Nacional do Livro Didático. Olhar (haicai). São Paulo, Dulcinéia Catadora, 2008. Dias contados (conto). São Paulo, RG Editores, 2009. Blog: www.poetaeunicearruda.blogspot.com Email: poetaeunicearruda@bol.com.br

16 julho 2009

Joana Ruas à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

A Poesia deve ao poeta alemão Novalis a sua melhor definição. Grata pela oportunidade de a recordar, num tributo à sua memória, aqui a deixo:
«A poesia é representação da alma, representação do mundo interior na sua totalidade. Os seus intermediários, as palavras, já o indicam, pois elas são a manifestação exterior deste reino profundo. O sentido poético tem muitos pontos comuns com o sentido místico. Trata-se do sentido de tudo aquilo que é particular, pessoal, desconhecido, misterioso, de tudo o que deve ser revelado, de tudo o que é ao mesmo tempo necessidade e acaso. O sentido poético representa o irrepresentável. Ele vê o invisível, sente o insensível... A crítica da poesia é um absurdo: já é difícil de dizer se uma coisa é poesia ou não, e isto é ainda a única distinção possível. O poeta é literalmente insensato, e, por outro lado, tudo se passa nele. Ele é, ao pé da letra, sujeito e objecto ao mesmo tempo, alma e universo. Daí o carácter infinito e eterno de um bom poema.
A poesia é o real absoluto. Quanto mais uma coisa é poética, mais ela é verdadeira.»

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Deve conviver com a poesia de outros poetas, adquirir o sentido da forma e partir, infinitamente partir para tudo o que o possa exprimir na sua singularidade e experiência pessoal.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Ao longo dos anos o meu contacto com as obras dos vários poetas de que tive conhecimento ajudou-me a progredir mental e moralmente. Através de uns encaminhei-me para outros que, na altura me pareceram mais próximos da minha própria demanda ou ainda, porque notava a existência entre nós de uma afinidade electiva. Sem esquecer a minha dívida para com todos eles, portugueses e estrangeiros, neste momento a minha escolha vai para Rimbaud, Bashô e José Ángel Leyva.

Rimbaud, inventou Khenghavar, um país mítico de uma geografia apócrifa , um país plein de lourds cieles ocreux et de fouet de fleurs en chair. Khenghavar era o país mítico onde todos os lugares eram poéticos, onde todas as viagens se faziam de homem para homem, de povo para povo. Para salvar a própria pele ,Rimbaud enterra a sua inspiração poética no negócio de marfim e peles de leopardo, de tigres e cabras, negócios baseados em ofícios sangrentos de matar, arrancar presas, esfolar animais. Estuda aGramática Somali e o Corão de que faz uma tradução bilingue, francês e árabe. Segundo escreveu, depois de abandonar a poesia, cumpriu a existência e, se condenado a viver durante bastante tempo ainda em França, não passaria ali de um estrangeiro.

L´Éternité

Elle est retrouvée.
Quoi? — L´éternité.
C’est la mer allée
Avec le soleil.
(do livro Une Saison en Enfer)

Matsuo Bashô
Este poeta japonês do século XVII escreveu num dos seus Diários:« Estou só e escrevo para minha alegria». Para mim, ele, perante as atribulações da sua existência de peregrino, alcança a sua maravilhosa serenidade através da sua arte, isto é, a arte do equilíbrio na desilusão.

Ervas do estio
Eis o que resta
Da ambição dos guerreiros

do livro O Gosto Solitário do Orvalho)

José Ángel Leyva, que só agora estou descobrindo, impressionou-me pelo seu dom de uma expressão directa que reflecte, não só o Real como a sua realidade subjectiva. O seu poema Marcha fúnebre para um anjinho narra a caminhada do indecifrável para o mundo do Humano tornado familiar pela acção de o nomear.

Marcha fúnebre para um anjinho

Assim que alce a escotilha
E veja o meu sangue exaltado
Fazendo remoinhos no crânio
Terei a infância à minha mercê
Poderei tocar-lhe com a mão
Reviverei ossaturas
Falarei com meus irmãos
De tantas coisas esquecidas
Sairemos a passear pelos campos
Um bosque de pinheiros e de fetos
Se abrirá como casca de árvore
Veremos regressar as chuvas
Com sol e num descampado
Resgataremos o véu dos nomes
A pedra permanecerá livre e será pedra
O musgo e o orvalho arroios
E ser e estar na estação do ano
O soçobro da água e das folhas
Quando abrir a escotilha da minha casa
Um menino como eu terá morrido
Não temerá a obscuridade a sua cara de anjo
Não hesitará em mostrar-me as cavidades
Comuns dos olhos
O seu verdadeiro rosto
assomará por essa porta

(do livro Duranguraños)


Finalmente, alguns haiku da minha autoria

Camélia

Camélia branca
Sorriso de névoa
Na milenar rocha
Da saudade


Carta

Verde, a folha
Voa
Por oceanos de Tempo
Para o Amado


Poente

Com raro esplendor
Qual taça de vinho quente
Ergue-se a frésia vermelha
Ao doirado sol do poente


Joana Ruas publicou os seguintes romances: Corpo Colonial, Centelha, Coimbra, 1981; O Claro Vento do Mar, Bertrand Editora, Lisboa, 1996; A Pele dos Séculos, Editorial Caminho, Lisboa, 2001; A Batalha das Lágrimas, Editora Calendário,2008. Em prosa publicou Na Guiné com o PAIGC, reportagem escrita nas zonas libertadas e Zona (ficção). Escreveu os ensaios: Amar a Uma só Voz, Colóquio Rilke, Edições Colibri, Lisboa, 1997; A Amante Judia de Stendhal e E Matilde Dembowski, e A Guerra Colonial e a Memória do Futuro, comunicação apresentada no Congresso Internacional sobre a Guerra Colonial. Participou na 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará onde proferiu uma palestra intitulada Aproximar o Distante, Do Estranho ao Familiar — duas experiências: Timor-Leste e Guiné-Bissau. A sua poesia encontra-se dispersa por publicações como NOVA 2 (1975), um magazine dirigido por Herberto Helder; o seu poema Primavera e Sono com música de Paulo Brandão foi incluído, pelo compositor Jorge Peixinho, no 5º Encontro de Música Contemporânea promovido pela Fundação Gulbenkian; Cartas a Ninguém de Lisa Flores e Ingrid Bloser Martins, Vega. Participou nas antologias: Antologia da Poesia Erótica, Universitária Editora; Na Liberdade, Garça Editores; Mulher e Um Poema para Fiama, Editora Labirinto. E-mail: joanaruas@sapo.pt

13 julho 2009

Luiz Roberto Guedes à queima-roupa


[foto: Akira Nishimura]


1) O que é poesia para você?

Poesia é certamente uma forma de conhecimento do mundo e da psique. É memória mágica da humanidade, um rito persistente na tentativa da arte de reencantar o mundo. Serve para celebrar os nomes de divindades extintas e majestades desaparecidas, ou para assinalar experiências sensoriais, como aquele simples e misterioso “gole de água bebido no escuro”, por exemplo, de que fala Mário Quintana num poema.


2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Eu creio que esse iniciante deve se esforçar para ler o maior número possível de poetas, de todos os séculos e culturas, para poder captar o espírito poético através das épocas e a vibração do poeta vivente em seu momento sob o sol. Creio que é simplesmente fundamental que a poesia diga algo e que, essencialmente, diga respeito à vida. Em meados dos anos 90, um tanto desapontado com a poesia norte-americana naquela altura, Lawrence Ferlinghetti recomendava aos poetas que fossem para a rua e fizessem “novas e frescas observações” da realidade ou do cotidiano.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Em termos de iniciação e formação, em minha adolescência, os numinosos Bandeira, Drummond e Jorge de Lima. Em Bandeira, o dizer exato e simples e a revolta contra “a vida que podia ter sido e que não foi”, mais a contínua evasão para Pasárgada, onde “tem prostitutas bonitas para a gente namorar”. Na cordilheira mineira de Drummond, sua investigação no reino obscuro das palavras, sua profundeza e seus calculados delírios, como aquela celebração de uma Fulana que “é toda dinâmica/tem um motor na barriga/suas unhas são elétricas/seus beijos refrigerados”. Em Jorge de Lima, essa catedral fantástica que é Invenção de Orfeu, que nos revela, por exemplo, a divindade como um cacho de faces, concepção surpreendente para um poeta confessadamente católico. Claro que Mário de Andrade e Oswald são santos no meu altar. Preciso acrescentar ao rol o buleversante Murilo Mendes e o poeta José Paulo Paes, por sua fina lição de concisão e humor. Das pessoas do Pessoa, talvez a poesia de Alberto Caeiro tenha se sedimentado mais, em mim. Naturalmente, outras influências se somam e se entrelaçam, como a práxis concretista, a poética beat, a música popular etc. Ou se faz magia... ou se faz mélange.


Luiz Roberto Guedes é paulistano, poeta, escritor e tradutor. Publicou, entre outros, Calendário Lunático/Erotografia de Ana K (Ciência do Acidente, 2000) e organizou Paixão por São Paulo – antologia poética paulistana (Editora Terceiro Nome, 2004). Lançou a aventura juvenil Armadilha para lobisomem (Cortez Editora, 2005) e a novela O Mamaluco Voador, pela Travessa dos Editores, de Curitiba. É, também, letrista de música popular sob o pseudônimo de Paulo Flexa. E-mail: lrguedes@hotmail.com

04 julho 2009

Oniá: oO Murmurador na noite



[poema inédito de Vicente Franz Cecim]


Como uma Construção erguida para baixo


rio em Silêncio, e serpentes: A Palavra
interminavel

mente
calada

mente de Aves Profundas

e um Carrilhão de Luz

soando na Penumbra dos Seus Olhos,

dAquilo que escurece
as manhãs de cinzas
as pedras dos dedos da Oração

quando o mais Alto se ergue

e depõe o Muro Branco das Idades
como Transparência

no deserto Inundado
dos Teus sonhos: Cílio

da Carne,

e Rumor de Bosque Escuro

Curva dos Lábios
que não dizem - Rio

lá, onde
a Água Escura de um Abismo


Aquele que teve os olhos Selados
já não aguarda a Aurora das Virtudes: o Guardião de Sombras


Aurora das virtudes

Quando a terra se abre aos nossos pés,
quando a terra se abriu aos nossos pés

e vindo a ausência da Ausente, veio a Ausência
do ausente

e A que devorávamos na Sombra estava atrasada, e vindo


a que esperávamos estava atrasada


Caminho lento
que a terra ainda não abrira aos nossos pés

ainda Tantas vezes O teu silêncio e a Pálpebra
que não quis nos ver


Tantas vezes o Conselho: Soluça sem espreitas


Tu me nutriste de Escombros,
como uma construção erguida para baixo
não eram os passos

Vocação de Olhos mais Escuros
quando a mão se abriu

para tocar O céu


Não eram os Passos dos que vieram antes


Sim


Quando a Árvore sem tréguas descer do céu

como saber: Se um homem vem por degraus

no coração da nave submersa nos Seus Olhos,


antes
que a Inquietante fale as Palavras
mas não após o silêncio das Virtudes

indo
ao Encontro das lápides Flutuantes e das Águas
se erguendo para a Sede

e na penumbra oh na Penumbra
de um Encanto

e
da Esfera tombada no Caminho
por Onde ainda Passam os que passaram antes
Na penumbra oh na Penumbra,

enquanto espera a tempestade, a: Tempestade

nos


Repousos

dos

Teus

Passos


Lodo das espécies


As Catedrais de Luzes já foram semeadas
no Centeio Negro

e não te voltas para colher a Sombra

O
Que Ora está ausente
onde murmura Silêncio a Serpente

Agora aquele que aguardou a Alvura
despertou na névoa e sem olhos

Agora, Aquilo se lançou nas Águas e
sem guelras
Nenhum Cílio

desvia o Pó de um homem das Visões
do Florescer
ao Fenecer
da vida,

indo


tu serás o Escombro de Lágrimas

Canto Mais Impuro
O
cantando
Se um Oceano de pedras descesse
uma palavra Não te espera



Reino que Se curva


Quando a Mente, sem espinhos,
torturou Teu Sangue

veio a lágrima

e O orvalho te doou


O Lago


Na Solidão
se tinge o Lodo


Ainda é a carne a Submersa na pedra
que o teu Dom adormece



Estação das seivas


Não era a Infância ainda,
pois foi antes

Instante

sem tempo, O cancelado instante
de Ressurreições

do Pó


enteNoite
ente de murmúrios: uma semente,
apenas Uma bastaria, Escura

Se
no Silêncio de Seivas em que nasceste

o teu Luar acolhesse a serpente



Corpo nu da Demanda profunda


aquele que Tomba,

quando virá à Tona coberto de Cinzas

quando dará às Fontes suas mãos de Encantos em ruínas até
à Seca folha lágrima Raiz da Desfolhada não nascida

quando dirá ao outroO
nascendo do seu Lado Esquerdo com a ferrugem
das Catedrais partidas
- Busca

O ourO Escuro


para onde, para onde


Irá
indo,
indo

com sua imortalidade de lençóis de Alvura: O naufragado em terra,
caminhando sobre águas brancas que não vê


de despedidas de reencontros de Trevas murmurantes
Pedra de Queda como um fruto; o Fruto O

que alcança a outra margem: Oo

Fervor de Limo
Levanta vôo para baixo


Quando obterá a recusa da Envolvente?

e o Não lhe será um Dom
de Indiferença

que poupará, por Desprezo
que poupará, pelo silêncio



VICENTE FRANZ CECIM nasceu e vive em Belém do Pará, na Amazônia, Brasil. Desde que iniciou em 1979 a invenção de Viagem a Andara oO livro invisível, se devota unicamente a essa obra imaginária, que chama de literatura fantasma e diz escrever com tinta invisível. Os livros visíveis que escreve emergem dessa Viagem, ou, segundo o autor, não-livro, ambientados no território metafísico e físico de Andara, transfiguração da Amazônia em região-metáfora da vida. Em 1980, recebeu o prêmio Revelação de Autor da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte, por sua segunda obra, Os animais da terra. Ao longo dos sete primeiros livros de Andara prosseguiu abolindo as fronteiras entre prosa e poesia. Publicados inicialmente pela Iluminuras no volume Viagem a Andara, receberam, em 1988, o Grande Prêmio da Crítica da APCA, nessa década somente atribuído também a Hilda Hilst, Cora Coralina, Mario Quintana e, na seguinte, a Manoel de Barros. Em novas versões, transcriados pelo autor e reunidos nos volumes A asa e a serpente e Terra da sombra e do não, foram reeditados em edição comemorativa, pela Cejup, em 2004. Em 1994, Silencioso como o Paraíso, lançado pela Iluminuras com mais quatro livros de Andara, em que o autor reafirma sua disposição de converter a literatura em pura escritura, foi aclamado por Leo Gilson Ribeiro como “um dos mais perfeitos livros surgidos no Brasil nos últimos dez anos.” Desde então, suas novas obras passaram a ser publicados apenas em Portugal. Em 2001, a Íman lançou Ó Serdespanto, livro duplo, em que a palavra cada vez mais aprofunda o seu dialogo com o silêncio, aqui reeditado em 2006 pela Bertrand Brasil. Apontado pela crítica portuguesa, no jornal Público, como o segundo melhor lançamento do ano, Cecim foi saudado por Eduardo Prado Coelho como “Uma revelação extraordinária!” K O escuro da semente, que saiu em Portugal pela Ver o Verso em 2005 e tem lançamento previsto, no Brasil, pela Bertrand, inaugurou uma outra fase em sua linguagem, que o autor denomina Iconescritura. Fase que se prolonga em seu livro mais recente, lançado em 2008 pela Tessitura, de Minas Gerais: oÓ: Desnutrir a pedra. Nesta obra, o autor aprofunda sua demanda de uma nova escritura, mesclando palavra, silêncio da página em branco e imagem. Diz que durante esses anos todos, Andara lhe desvelou que “o natural é sobrenatural, o sobrenatural é natural.” Em 2009, a invenção de Andara atinge 30 anos de criação. E-mail: andara@nautilus.com.br