23 setembro 2010

Jornal MEMAI e Micropolis


























O jornal de Letras e Artes japonesas, MEMAI, lança seu quinto número e completa 1 ano de circulação. Seu nome significa, em japonês, “Vertigem” e constrói pontes híbridas entre o Oriente e o Ocidente.

Nesta edição, com essa capa maravilhosa, podemos encontrar um artigo sobre a gravura japonesa que influenciou pintores como Van Gogh, Manet e Gauguin.

Conheci sua simpática editora, a jornalista Marília Kubota, na Casa das Rosas. Pelo Correio, ela me enviava os números do jornal, antes de aparecer no lançamento do livro “O que é poesia?”. Ela também é haicaista e nos oferece, em primeira mão, um pouquinho de suas micropolis iluminações.

O projeto gráfico do jornal é da artista plástica Sandra Hiromoto. Você pode conferir o site www.jornalmemai.com.br e se quiser assinar ou conhecer na faixa, mande um email para contato@jornalmemai.com.br


Micropolis
Por Marília Kubota



De repente
A luz alumia a casa
Um bando de vagalumes


Névoa na cidade.
Cantam os pneus da bicicleta
o ciclista  assobia.


Passeio no entardecer.
O velho descansa na varanda.
Pantufas vermelhas.


Tarde de calor.
O elefante, a girafa, a moça,
Deslizam em nuvem.


Flores de ipê
Caídas na calçada nova
No coreto discursos velhos.


Na fimbria do dicionário
a fileira de formigas
obstrui a pesquisa


Tarde de calor.
O gato aguarda espetáculo:
a dança do mosquito.

21 setembro 2010

Piratas, não. CORSÁRIOS.






















A revista Corsário está novamente on-line, comemorando seu quinto ano de existência, e com projeto engatilhado para uma revista impressa. Os cabras tem até editora e já haviam disponibilizado vários livros em PDF em suas edições anteriores.

O Ceará é realmente um celeiro alternativo (ao pretensioso Sul maravilha, claro) e produtivo do que melhor se vem fazendo em literatura e suas adjacências, no ciberespaço ou não. Não dá pra falar em literatura na internet sem citar o pioneiro Soares Feitosa e seu Jornal de Poesia ou Floriano Martins com sua revista Agulha (que agora hospeda-se nos braços do Jornal de Poesia).

A nau capitaneada pelo poeta e agitador em novas mídias, Mardônio França, não pede licença e sangra sem compaixão os mares bravios da mediocridade internética.

Se você não acredita, é só conferir: www.corsario.art.br/

19 setembro 2010

O computador enquanto suporte da nova literatura

















[Amador Ribeiro Neto, Marcelino Freire, André Ricardo Aguiar e Edson Cruz]

Texto lido por Amador Ribeiro Neto em João Pessoa, no Agosto das Letras, na mesa de debate: “Literatura e Novas Mídias”


Nestes tempos de Internet, a pergunta que mais se faz é se o livro deixará de existir. Depois da era das imagens voltamos à era alfabética, nos diz Umberto Eco em seu mais recente livro, intitulado Não contem com o fim do livro. Nunca se leu e escreveu tanto como agora. O livro, ainda segundo Eco, não desaparecerá. “O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não podem ser aprimorados”. O livro um dia talvez não tenha páginas de papel, mas ele permanecerá como é.

O livro que um dia Mallarmé projetou, depois Borges sonhou – e antes deles, Heródoto quis –, este livro virou realidade. Mas realidade virtual. Este livro é o ciberespaço da infolinguagem.

Para Lucia Santaella, em Culturas e Artes do Pós-Humano; da cultura das mídias à cibercultura:

“Dos anos 90 para cá, estamos assistindo a uma nova revolução que (...) provavelmente trará consequências antropológicas e socioculturais muito mais profundas do que foram as da revolução industrial e eletrônica, talvez ainda mais profundas do que foram as revoluções neolíticas. Trata-se da revolução digital e da explosão das telecomunicações, trazendo consigo a cibercultura e as comunidades visuais. (...) Na ciberarte (...) as tradicionais divisões de papéis entre emissor e receptor se ampliam sobremaneira, com a sua condição interativa, a tradição das artes expositivas-contemplativas e mesmo das artes participativas”.

O texto eletrônico, por não se fixar em suporte material, como a folha de papel, possibilita o acesso à distância em tempo real. Ou seja, o texto, sem a materialidade do papel, pode ser lido por múltiplos (ou milhares) de leitores ao mesmo tempo, com tais leitores em espaços geográficos diversos.

A biblioteca universal chegou. O grande livro, soma de todos os livros e bibliotecas, tão almejado, está on line. Está no ciberespaço. E o ciberespaço (espaço com inovações da eletrônica, da cibernética, da computação, da informação, da comunicação) chegou rápido – e rapidamente está mudando a ordem econômica, a ordem social, a ordem cultural, etc. Enfim, está mudando a linguagem. Sociedade da informação, era do virtual, vida digital, homem semiótico, hipertexto, infopoesia, e-book são realidades instauradas em nosso tempo.

As escritas hipertextuais estão gerando uma economia na escrita, mudando a língua, a linguagem, a literatura. O ciberespaço ultrapassa a nossa capacidade de imaginação e, é claro, nos dá sentimentos de gozo e medo, ao mesmo tempo. Afinal, o novo assusta. “À mente apavora o que ainda não é mesmo velho”, canta Caetano. Oswald disse: "língua natural e neológica".

Por estas e outras, o novo, o velho, o novelo, o novelho está nos envolvendo em cada linha, em cada palavra, em cada música, em cada pensamento, com esta língua de literaturas, saberes e sabor.

Borges um dia declarou: "Dediquei grande parte de minha vida às letras, e creio que uma forma de felicidade é a leitura".

Literatura: cursor de novos jogos, brincadeiras, armações, engenhos e engenhosidades: a língua proíbe e a literatura libera. Apenas proibição ou apenas liberação geral não dão em nada – ou levam à barbárie. O lance é continuar deixando literatura e língua trocarem seus beijos sem ter conta e sem ter fim.

Literatura: ludismo à mancheia. Exuberância. Pletora sem fim.

Com a mudança do meio de produção, ou da mídia de produção, se assim preferir-se, altera-se o modo de recepção do objeto literário. Walter Benjamin já nos chama a atenção para a nova mudança da postura, também física do leitor, diante do surgimento do jornal – em confronto com o livro.

Da mesma forma a tela do computador impõe, não somente mudança na postura física do leitor, como na assimilação das novas mensagens.

Diante de imagens que movimentam-se associadas, ou não, a sons e cores, o repertório do receptor pede atualização face a esta nova realidade da obra artística.

Mais que objeto cultural – como pontua o semioticista russo Chklóvski – o texto literário é um processo cultural singular, desautomatizador, gerando novas percepções do objeto artístico e do mundo em si.

Em tempos de novos suportes e recursos tecnológicos, a poesia farta-se nas múltiplas possibilidades de criação face às novas mídias. Estudar as representações daí advindas é um desafio aos estudiosos da poesia, bem como aos poetas. Arte-ciência-tecnologia embrincam-se, mais que em outras épocas históricas.

O computador é hoje a grande máquina semiótica, afirma Pedro Barbosa, ensaísta português especializado em ciberliteratura. Na tela do computador desfilam signos dos mais variados matizes, questionando as formas de absorção das novas linguagens. Para Santaella, “qualquer descrição do computador é uma evidência de seu caráter simbólico e cognitivo”. Frente a este universo desafiador e estimulante, a poesia encontra um espaço a mais para as suas sempre renovadoras formas de manifestação.

Para o semioticista português Rui Torres o cibertexto (ou o texto em meio digital) modifica o uso inicial do computador, até então utilizado como máquina de armazenamento. A partir de agora o computador pede um uso criativo. E é neste momento que surge a poesia digital. E, como consequência, altera-se nosso modo de percepção do mundo, gerando uma nova epistemologia.

Ainda segundo Rui Torres, o computador modifica e amplia tanto a leitura como a escrita. Assim, o semioticista português apresenta três posturas abarcando a criatividade literária e o meio digital. São elas: 1. o hipertexto e a hiperficção; 2. o texto animado, interativo e multimídia; 3. o texto gerado por computador. Tais modalidades problematizam a mentalidade analógica e abrem caminhos para novas formas de expressão da literatura – e da poesia, em particular.

O hipertexto é o mais permanente e o mais visível. Desde a organização dos arquivos de bibliotecas que as disponibilizam a distância (é o lado permanente) até a cara e o prefixo da www – world wide web – até o http:// - hipertext transfer protocol (é o lado mais visível). Por isto mesmo o hipertexto é a mais conhecida das modalidades do cibertexto. Diz Rui Torres: “o hipertexto interessa aos estudos literários e culturais no sentido em que ele nos leva a identificar, no tipo de escrita não-linear e sequencial que o caracteriza, a própria noção de literariedade”. E continua: “Por outro lado, o hipertexto permite-nos rearticular, através principalmente da hiperficção, os conceitos de dialogismo e intertextualidade, o primeiro proposto por Bakhtin e o segundo por Julia Kristeva”.

A tendência do hipertexto para a autorreferencialidade (“a tomada de consciência acerca do próprio meio em que se inscreve”) o relaciona com a pós-modernidade. A convergência entre hipertexto e narrativa metaficcional faz-nos repensar as ligações (linkadas), a colagem, a mistura e a combinação tendo em vista o movimento do diálogo e a variação. Dentro da perspectiva rizomática de Deleuze e Guatarri não interessam o centro ou a periferia mas as conexões e a pluralidadade daí advinda. O rizoma é, por definição, anti-hierárquico: todos os pontos que constituem o sistema estão interligados; qualquer ponto de um sistema rizomático pode estar ligado a outros sem obedecer a regras hierárquicas.

Dentro de uma linha não-linear de descentramento, o hipertexto destaca-se por conceder ao leitor o papel de construtor de sentido. Nele o leitor torna-se autor, ou co-autor já que é ele quem manipula a informação através das escolhas que faz.

O texto animado, multimídia, interativo dos blogs, twitters, orkuts e etc., têm feito emergir uma literatura que, mais que em épocas precedentes, toma o leitor e a linguagem como vetores. O princípio norteador de O jogo da amarelinha, os labirintos borgeanos, etc., agora são matéria concreta de uma nova escrita, dos manuscritos de computador. A poesia animada por computador, ao trazer para o universo da criação novos componentes como o efetivo movimento e a interatividade, abre portas e janelas para novos campos da criação. O que é altamente estimulante para a nova literatura – e em especial, para a nova poesia, a poesia digital (ou ciberpoesia, ou infopoesia – já que a terminologia ainda não foi fixada).

Por fim, o computador passa a gerar textos. A inteligência artificial nunca foi tão natural como agora. O computador é uma máquina semiótica por excelência. Gera signos e linguagens. Tanto a partir de programas pré-estabelecidos, como através de programações aleatórias – e portanto inesperadas.

O livro pode não desaparecer, como afirma Eco, mas seu modo de compor já é outro. Sorte da literatura, que se renova depois de renovar tantas mídias, como o cinema, a tv, o vídeo.



Referências bibliográficas:

ECO, Umberto & CARRIÈRE, Jean-Claude. Não contem com o fim do livro. Trad. André Teles. Rio de Janeiro: Record, 2010.

SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano; da cultura das mídias à cibercultura. 2ª ed. S. Paulo: Paulus, 2004.

TORRES, Rui. “Poesia em meio digital: algumas observações”. In: GOUVEIA, Luís Borges & GAIO, Sofia (Org). Sociedade da Informação: balanço e implicações. Porto: Edições da Universidade Fernando Pessoa, 2003.



Amador Ribeiro Neto é autor, em parceria com Roberto Coura, de "imagens & poemas" (ed. UFPB, joão pessoa, 2008). É organizador e co-autor de "muitos – textos sobre caetano veloso" (ed. orobó, montes claros-mg, no prelo). É autor de “Poemail”, livro de poemas, inédito. Também organizou e é co-autor de "literatura na universidade" (ed. UFPB, joão pessoa). É co-autor de "chico buarque do brasil", organizado por rinaldo de fernandes, rio, garamond; de "quartas histórias", organizado por rinaldo de fernandes, rio, garamond e de "capitu mandou flores", organizado por rinaldo de fernandes, s. paulo: geração editorial, 2008. E-mail: amador.ribeiro@uol.com.br


15 setembro 2010

Fogo na bacurinha






















Desconcertante este Almodóvar. Ao terminar de ler o livro não sabemos por onde começar a falar sobre ele. Se começamos pelas entranhas, pelo que recobre as entranhas, ou mesmo, pelo que penetrou nas entranhas. Em todo caso, há um calor que emana pelo texto e vai crescendo até se tornar puro fogo. Um fogo que queima as bacurinhas das mulheres madrileñas retratadas, e que se espalha, acabando por consumir a todos como lenhas numa Madri em chamas. 


O bacana do livro é a forma direta, sem firulas, e irônica como são narrados os acontecimentos. Acontecimentos às vezes inusitados, que poderiam ser inverossímeis, mas narrados como são, nos parecem histórias mais do que reais. Enredos de um filme de Almodóvar. Um estilo sem pretensão de profundidades, mensagens, ou outras moralidades, e que por isso mesmo encanta e nos dá prazer. 



O romance, pelo que nos consta, foi a estreia de Almodóvar no gênero, lá pelos idos de 81, longe ainda da produção cinematográfica pela qual viria a se tornar uma referência do cinema espanhol moderno. O livro esgotou-se rapidamente e, por estas bandas, já está na quinta reimpressão desta coleção que recupera, com bom gosto e estilo, livros raros da literatura underground e folhetinesca: a coleção Babel. 



As teorias e postulações críticas que visam compreender o gênero chamado de romance sempre deixaram a desejar, em todos os tempos. Há sempre aquela produção que surge para desbancar as formulações mais elaboradas e fechadas. Produções que exigem dos críticos reformulações de escopo e postulados. Não que Fogo nas Entranhas tenha sido gerado com esta intenção, nem que seja um exemplo acabado de romance esteticamente revolucionário, mas a simplicidade de suas formulações atinge por vezes uma poesia estranha, que muitas vezes obras de maior fôlego, e rebuscamento, ficam longe de atingir.

Parece-me que alguns romances são impermeáveis a um olhar mais tradicional da crítica literária. Toma-se o romance, quase sempre, a sério demais, como se ele se tratasse de um documento de época, uma confissão, ou uma história autêntica, pessoal. Quando a seriedade do olhar não encontra ressonância na obra, descartam-na como sendo irrelevante para a arte literária de uma época.

Acontece, por vezes, que a literatura nas mãos de um ‘artista’ tem sempre um objetivo estético e que - mesmo não compreensível nos parâmetros que estamos acostumados - possui uma coerência interna que se afina e se afirma com o diapasão de quem a produz. 


É o que acontece com este pequeno romance de Almodóvar. Um recorte da vida que obedece a propósitos específicos. Revestido de uma linguagem paródica, intensifica nossa relação com a vida e nos faz aceitá-la com toda a carga de magia e absurdo que possa nos acarretar. 



A graça deste romance está na forma como ele desenvolveu a estória de Chu Ming Ho. Um chinês que chegou à Espanha nos anos 50 e prosperou, pois era hábil, astuto e artesão. Ou será que prosperou por que era chinês? 



Tudo é contado de maneira não linear, como uma história em quadrinhos entremeada de várias tramas paralelas, até chegar ao nó central que as unifica e dá sentido: o testamento do chinês. 



Abandonado pelas cinco amantes, que nos são apresentadas com vagar, este próspero industrial de absorventes femininos prepara uma vingança flamejante às suas ex, e por extensão, a todas as mulheres e mesmo a toda a cidade. 


                                           

O Testamento 



“...trabalhei minha vida inteira com e para as mulheres, e nunca cheguei a conhecê-las. Só descobri uma coisa: louras, morenas, ruivas, altas ou baixas, todas são iguais. Umas vadias. Ainda assim, reconheço que devo meus melhores momentos a elas - e os piores também. Mas não me arrependo de nada. Dediquei todos os dias da minha existência a esse milagre que elas guardam no meio das pernas, uma coisa tão delicada que justifica todos os meus esforços. Por isso não quis ir embora sem render-lhes um pequeno tributo: meu último modelo de absorvente, diminuto, transparente, que estimula, tonifica, desinfeta, com vitaminas E e U, cloruto potássico, etc. Utilizável todos os dias do mês, e não apenas no período da menstruação. Como prova de agradecimentos, determinei que durante uma semana todas as clientes possam ter de graça um pacote de absorventes. Depois, o artigo começará a ser vendido normalmente.

Deixo minha indústria para aquelas que foram minhas principais amantes, ou seja: Diana, a orgulhosa; Mara, a cínica; Katy, a abelhuda; Lupe, a hippie; e Raimunda, a freira. Podem vender tudo, ou fazer o que quiserem. Só imponho uma condição: que durante meu enterro, e na presença de um tabelião, as quatro usem um dos meus absorventes último modelo. Acho que tenho direito a esta homenagem póstuma. E fico satisfeito em saber que sejam elas as primeiras a desfrutar de todas as suas vantagens. A que por algum motivo se negar, ficará automaticamente excluída da herança.

Não sinto rancor por nenhuma. Adeus”.




O que se segue a partir daí me lembrou o romance Ensaio sobre a Cegueira de Saramago. Só que Saramago é grave e Almodóvar hilário. Em Almodóvar as mulheres ficam cegas é de vontade de dar depois de usarem este bendito absorvente. As caras ficam crispadas e os olhos selvagens a cata de um macho que possa aplacar o furor uterino que lhes consome. Claro que os homens não dão conta do recado. Alguns até tentam. Outros alegram-se pela oportunidade de tirar a barriga da miséria, ou melhor, o peru. Mas o prazer é fatal, pede seu quinhão de vida em troca. 



Instaura-se a peste pós-moderna. O êxtase, o céu e o inferno têm moradas em Madri. O esplendor do caos deita-se e copula com todos. Como apagar esta fogueira que se consome? Como é Almodóvar, a cura não existe, o efeito não se desvanece de uma hora pra outra e tudo volta ao ‘normal’. A chama continua com suas labaredas. Você pode fugir delas, se refugiar, se embebedar, até dormir em paz, mas elas continuam a arder. 



Ardem tanto que há relatos e relatos de mulheres e homens que depois de lerem Fogo nas Entranhas saíram por aí com uma vontade danada de dar. Claro que levaram quilos de camisinha na bolsa, pois já não estamos mais em 81, né?


Bibliografia de Almodóvar
Fuego en las entrañas, 
Madrid, ed La Cúpula, 1981. El Víbora, colección Onliyu



Site sobre Almodóvar:

09 setembro 2010

Mecanismos Precários






















Mecanismos precários é uma coletânea de dezessete poderosos contos sobre a turbulenta existência na metrópole. São narrativas intensas e vigorosas, que contemplam os muitos lados da vida em sociedade: a poesia e a violência, a fraternidade e o medo, o humor e o amor etc.
Do realista ao alegórico, passando pelo subjetivista e pelo nonsense, uma ampla gama de registros literários sustenta essa reunião de vozes narrativas.
Participam do livro alguns dos melhores ficcionistas brasileiros da nova geração (Edson Cruz, Marcelino Freire, Nelson de Oliveira, Luís Marra e Marcelo Maluf) ao lado de jovens promessas não menos talentosas.

Autores: Ábia da Silva Gomes, Alexandre Heredia, Claudio Brites, Edson Cruz, Eduardo Sigrist, Laura Fuentes, Marcelino Freire, Marcos Roma, Nelson de Oliveira, Nelson Lourenço, Patricia Cytrynowicz, Ricardo Delfin, Tiago Araújo, Valéria Piassa Polizzi, Deborah Panachão, Luís Marra e Marcelo Maluf.


Prefácio:

Contos cortantes e perfurantes

A pintura mais famosa de Pablo Picasso retrata uma cidadezinha basca — Guernica y Luno — bombardeada pelos nazistas a pedido dos nacionalistas espanhóis, durante a Guerra Civil.
A grande tela em preto e branco, em estilo primitivista e cubista, mostra corpos mutilados e incendiados, de pessoas e animais. Terrível.
Dizem que um oficial nazista, horrorizado com a feiúra da tela, perguntou ao pintor: “Foi você quem fez isso?”
Picasso respondeu: “Não. Foram vocês.”
Toda a arte e toda a literatura modernas tratam da feiúra do mundo. Essa é sua forma de protesto: denunciar as injustiças e a crueldade, mostrando-as.
Os contos reunidos nesta antologia, fiéis a esse princípio, incomodam, inquietam. Podem até chocar. Mas não culpem os autores por isso. Culpem a própria sociedade.
Mecanismo (substantivo: “combinação de peças que fazem funcionar uma estrutura orgânica ou mecânica”) precário (adjetivo: “que está em más condições e não cumpre a contento seus propósitos”) é tudo o que funciona mal na sociedade. Tudo o que corta e fura, provocando angústia e dor.
Mecanismos precários somos todos nós: tesouras na própria carne.
A função da literatura é revelar isso, por meio do mergulho estético. E assim nos salvar de nós mesmos.

Os organizadores

03 setembro 2010

Revista Celuzlose










A sexta edição da revista Celuzlose
já está pronta e disponível na internet.

Para acessá-la, basta clicar no link abaixo:



NESTA EDIÇÃO
Entrevista
Rodrigo Garcia Lopes
BR.XXI - Literatura Brasileira Contemporânea
Ademir Demarchi
Adriano Lobão Aragão
Beatriz Bajo
Celso de Alencar
Eduardo Jorge
Micheliny Verunsck
Nicole Cristofalo
Wanderson Lima
GEO - Literatura sem Fronteiras
Jesús Ernesto Parra (Venezuela)
Julien Burri (Suíça)
Melcion Mateu (Espanha)
Pedro Granados (Peru)
Caderno Crítico
Breve história da literatura basca - por Fábio Aristimunho Vargas
O que é poesia?
Edson Cruz (Organizador)
André Ricardo Aguiar
Lau Siqueira
Linaldo Guedes
BIO - Vida & Obra
Lorenzo de´ Medici - por Dirceu Villa
LÚCIDA RETINA - Poesia Visual
Guto Lacaz

01 setembro 2010

À beira-mar








[Pedro Salgueiro, Marcelino Freire, companheira do Chico, Chico César, amigo do Chico, Branca Ramil, Vitor Ramil, Edson Cruz e Karla Melo]


Na noite de sábado, em João Pessoa, depois do debate sobre Literatura e Novas Mídias, do lançamento de O que é poesia? e do show de Vitor Ramil, fomos jantar em um quiosque na beira da praia. Choveu nesta noite. Começou durante o show do Vitor Ramil. Aliás, lindo. Voz, violão, letras e postura de palco. O Marcelino e eu tomando cerveja e embevecidos com o show. A estética do frio geometrizada em João Pessoa. Essa cidade quente e com uma luz inacreditável. Foi um choque voltar pra São Paulo. Amanhecer em São Paulo, com sua luz baça e sua poluição monstro.

Apesar de pouco público e de algumas falhas na organização, o evento idealizado pela Funjope, na figura do gentleman André Ricardo Aguiar, foi um sucesso.

Na manhã de sábado, conheci o bairro e a praia do Bessa com o amigo jornalista e parceiro de vários anos, Linaldo Guedes. Linaldo foi me pegar no hotel, apesar de estar se recuperando de uma gripe forte, e regados à água de coco, conversamos sobre a vida, sobre literatura e sua mazelas.

Não almoçei neste dia, pois me senti o mais gordo dos baianos. Com uma pança enorme resfolegando pelas areias de João Pessoa.

No dia anterior, sexta à tarde, já havia reencontrado o mestre Raimundo Carrero em seu diálogo sobre autores e editoras.

À noite, depois do debate, Lau Siqueira nos carregou pra jantar e, antes, nos levou para uma exposição  de Abelardo da Hora na Estação Ciência. O trabalho artístico mais incrível que vi nos últimos anos. Uma descoberta pra não ser esquecida. Eu nunca escutara o nome de Abelardo.



Valeu, Lau.

26 agosto 2010

III Agosto das Letras


LITERATURA
III Agosto das Letras começa
nesta 6ª no Ponto de Cem Réis

Oficinas, exibição de filmes, mesas-redondas, lançamento de livros e shows musicais fazem parte da programação do III Agosto das Letras, evento literário que começa nesta sexta-feira (27), com abertura oficial às 17h, no Ponto de Cem Réis, e se estende até domingo (29), em mais dois locais – Casarão 34 e Sala Funjope. Na edição deste ano, os homenageados serão os escritores Jomard Muniz de Brito e Geraldo Maciel (in memorian), além do professor de Literatura Antônio Arcela. A realização é da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), por meio da Divisão de Literatura, Editoração e Biblioteca.

Entre os convidados estão o compositor, cantor e escritor gaúcho Vitor Ramil e o romancista baiano Aleilton Fonseca. Durante os três dias de evento, a programação começa às 14h, com as oficinas, no Casarão 34, e no final da tarde e à noite, haverá mesas-redondas e mostras de curta-metragens, na Sala Funjope. Também no mesmo período, acontece a feira de livros, em stands armados no Ponto de Cem Réis, mesmo local onde serão realizados lançamentos de obras literárias e shows musicais.

O objetivo do Agosto das Letras é aproximar editores, produtores, autores e leitores. O evento tem como base o lúdico, o pedagógico e a política editorial, já que, por um lado, a iniciativa forma leitores e, por outro, amplia o mercado editorial na cidade. As atividades terão tanto um cunho artístico-cultural como acadêmico, o que faz o III Agosto das Letras ter um caráter multidisciplinar, com shows musicais e mostra de cinema sempre relacionados à literatura como conteúdo.

A ideia é não apenas apontar possíveis soluções para as carências do setor, mas principalmente permitir um resgate aos valores consagrados, além de mostrar o que está acontecendo na cena cultural do momento. O evento cria uma referência de alcance mais eficaz com o autor local e com a cena contemporânea nacional. A intenção é inserir a sociedade nessa discussão sobre a construção autoral.

Confira a programação geral

Dia 27 – Sexta
Oficina: Livro artesanal de papelão com Dulcinéia Catadora
Horário: 14h
Local: Casarão 34

Mostra de Curtas - Literatura em foco
Horário: 17h30
Local: Ponto de Cem Réis

Mesa Redonda: Caminho das pedras: autores x editores
Horário: 17h
Local: Sala Funjope (R.Duque de Caxias, 352 – Centro)
Participantes:
Henrique Magalhães (PB)
Raimundo Carrero (PE)
Raimundo Gadelha (RJ)
Mediador: Sérgio de Castro Pinto (PB)

Lançamento de Livro
Coleção Novos Escritos - Cordel (PB)
Local: Pça Vidal de Negreiros (Ponto de Cem Réis)
Horário: 19h30

Show musical - Xisto Medeiros (lançamento do disco Prana)
Local: Pça. Vidal de Negreiros (Ponto de Cem Réis)
Horário: 20h30

Dia 28 - Sábado
Oficina: A arte do Conto - com Clube do Conto
Horário: 14h
Local: Casarão 34

Cine Clube Casarão 34 (Ou Ponto de Cem Reis)
Mostra de Curtas - Literatura em foco
Horário: 17h30
Local: Ponto de Cem Réis

Mesa Redonda 1: Circulação do livro - ou dez maneiras de atrair leitores
Local: Pça Vidal de Negreiros (Ponto de Cem Réis)
Horário: 17h
Participantes:
Maria Valéria Rezende (PB)
Rinaldo de Fernandes (PB)
Pedro Salgueiro (CE)
(Grupo Estilingues) (SP)
Mediador: Antônio Mariano (PB)

Mesa Redonda 2: Literatura e novas tecnologias
Local: Pça Vidal de Negreiros (Ponto de Cem Réis)
Horário: 19h
Participantes:
Edson Cruz (SP)
Marcelino Freire (PE)
Amador Ribeiro Neto (PB)
Mediador: Linaldo Guedes (PB)

Lançamento de Livros
O que é poesia?
Organizador: Edson Cruz (SP)
Debate: Amador Ribeiro Neto, André Ricardo Aguiar, Antonio Mariano e Linaldo Guedes. Mediação: Edson Cruz
Local: Pça Vidal de Negreiros (Ponto de Cem Réis)
Horário: 20h30

Show musical
Victor Ramil (RS)
Local: Pça. Vidal de Negreiros (Ponto de Cém Réis)
Horário: 21h

Dia 29 - Domingo
Oficina: Poesia Visual com Constança Lucas
Local: Casarão 34
Horário: 14h

Performance teatral
Local: Pça Vidal de Negreiros (Ponto de Cem Réis)
Horário: 16h

Cine Clube Casarão 34
Local: Local: Pça Vidal de Negreiros (Ponto de Cem Réis)
Horário: 17h30
Mostra de Curtas - Literatura em foco

Mesa Redonda 1: Bom de ler: a crítica e a paixão
Local: Sala Funjope (R. Duque de Caxias, 352 – Centro)
Horário: 17h
Participantes:
Hildeberto Barbosa (PB)
Sônia Ramalho (PB)
Alfredo Monte (MG)
Aleiton Fonseca (BA)
Mediador: Ronaldo Monte (PB)

Mesa Redonda 2: Literatura e adaptações
Local: Sala Funjope (R. Duque de Caxias, 352 – Centro)
Horário: 19h
Participantes:
João Batista de Brito (PB)
Vitor Ramil (RS)
Wellington Pereira (PB)
Mediador: Renato Félix (PB)

Homenagens
Local: Pça Vidal de Negreiros (Ponto de Cem Réis)
Horário: 19h30
Homenageados:
Antonio Arcela (com integrantes da Oficina Literária)
Geraldo Maciel
Jomard Muniz de Brito

Lançamento de Livros
Local: Pça Vidal de Negreiros (Ponto de Cem Réis)
Horário: 20h45
Bruno Gaudêncio (PB)
João Matias de Oliveira (PB)

15 agosto 2010

Diálogos na Bienal do Livro

Amigos,

Participarei da 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo mediando os diálogos abaixo. Para mais informações sobre os autores participantes, sigam os links em seus nomes. Prestigiem.


No Auditório Monteiro Lobato (programação da Casa das Rosas):

A LITERATURA E SEUS DIÁLOGOS (com outras artes)

17/08, terça-feira, 19h

Diálogo entre os poetas Elson Fróes e o músico e poeta Lirinha (do Cordel do Fogo Encantado).

19/08, quinta-feira, 19h

Diálogo com o poeta Olívio Guedes e o jornalista Xico Sá (da Folha de S.Paulo)



No estande do SESC:

CARTOGRAFIA LITERÁRIA , EXPERIÊNCIAS WEBLITERÁRIAS

21/08, sábado, 16h

Bate-papo com a professora Heloisa Buarque de Hollanda e os escritores Nelson de Oliveira, Andrea Del Fuego e a poeta Micheliny Verunschk.

19 julho 2010

Carvalho à queima roupa




EC.: O que é poesia para você?

Paulo César de CARVALHO: Já que você pergunta assim de bate-pronto, como um direto de direita, quase sem chance pra respirar, a primeira referência que me vem é Santo Agostinho, que não era poeta. Interrogando-se em suas "Confissões" sobre o que é o tempo, o santo – que não era santo – dizia: quando não me perguntam o que é o tempo, eu sei o que é, eu o sinto. Mas quando me pedem para defini-lo... O que a reflexão do “santo” sugere é que o sujeito aí se divide em dois: o que existe no espaço-tempo e o que racionaliza no discurso. Isso para dizer que sua pergunta me cinde, colocando-me na mesma situação: ao mesmo tempo sou o sujeito que escreve o texto poético e o que é convocado a refletir sobre a cria.
Tomando essas noções como ponto de partida pra tentar te responder, quando leio ou escrevo poesia, sei o que é: estou dentro dela. Mas quando me pedem para defini-la... Falar sobre a poesia, nessa perspectiva, é estar fora dela. Isto é, falar de fora, enunciar a partir de outro lugar que não o do discurso poético. Por isso é que falar sobre ela – sobretudo na condição também de criador – dá a sensação, de certa forma, de matá-la, aprisioná-la como borboleta de colecionador em taxionomias críticas (como Wali Salomão dizia, sou míssil, não fóssil!), por-lhe rótulo, colocá-la numa embalagem. Quando se fala da poesia, ela não é: se o beija-flor parar para pensar porque beija a flor, cai...
Por isso prefiro a poesia ao discurso sobre a poesia: o bom texto poético fala por si, na sua própria “língua”, com o seu próprio código. Isso, aliás, me lembra Mallarmé, quando dizia que apresentar um objeto estético em sua imediata evidência é matar três quartos do prazer que reside na descoberta gradual de sua verdadeira natureza - sugerir, eis o sonho! E, por falar em sonho, sonho o sonho de Rimbaud (como um sonho dentro do outro, num discreto charme à Buñuel) para tentar te responder: queria um verbo alquímico acessível a todos os sentidos, para fixar as vertigens, anotar o inexprimível, dizer o inominável. Se fosse possível definir a poesia com a cor das vogais! Mas como traduzir isto que Octávio Paz chama de a mais fascinante orgia dos sentidos?
O discurso sobre a poesia, ao racionalizar procedimentos, revelar os andaimes da construção, mata a sugestão de que fala Mallarmé, enfraquece a potência do sonho: a reflexão sobre o objeto é como um beliscão que desperta o sonhador, leitor ou poeta. É que o discurso sobre a poesia, de certa forma, muitas vezes parece querer revelar a mágica.
Por isso gostaria de aproximar o sujeito que escreve poesia do sujeito que reflete sobre a escrita poética, para tentar alcançar o que Barthes chama de “ciência dramática”, território em que o rigor da reflexão se soma ao calor da emoção, em que a abordagem teórica, crítica, não aborta as subjetividades, não apaga o “eu” (em nome da pretensa objetividade do discurso científico – pelo qual, aliás, nutro grande respeito: os pensadores são fundamentais! Meu bode é contra os acadêmicos de seminários sem sêmen, os colecionadores de coleópteros literários!). Quem me dera alcançar a graça da dicção ensaística barthesiana, que faz poesia falando sobre poesia, diluindo as fronteiras entre os gêneros (sonho leminskiano: vai haver um dia em que tudo o que eu diga seja poesia!)...
Voltando à sua pergunta (divago, como diz Rosa, mas não disperso!): as definições teóricas do fazer poético – O QUE É POESIA? – em geral, em movimento pendular, alternam-se entre as noções de poesia como inspiração e poesia como construção: num lado do campo, a emoção; no outro, a razão. Reivindicando o Nietzsche do "nascimento da tragédia no espírito da música", podemos traduzir assim a questão: de um lado, há a chamada tradição estética dionisíaca, romântica, que defende a criação como um sopro das musas; de outro, a apolínea, clássica, que concebe a obra como um objeto de ourivesaria.
Os poetas, falando de seu ofício, parecem procurar um lugar em um ou outro nicho, aninhando-se deste ou daquele lado da fronteira: há os racionalistas de carteirinha, defensores de uma poesia cerebral, equilibrada, contida, sem emoção, e os subjetivistas descabelados, defensores de uma poética passional, exaltada, comportamental, cotidiana. De um lado, a poesia como construção; de outro, como inspiração. E os poetas se digladiando como numa espécie de guerra santa estética! Eu, de minha parte, prefiro abolir as fronteiras, transitar sem pedágio, devorar e digerir (como bom antropófago aluno de poesia de Oswald de Andrade) o que cada lado tem de interessante para oferecer – afinal, “só me interessa o que não é meu”.
Para ajudar a pensar o problema, lembro-me agora de outro Andrade, companheiro de viagem modernista: Mário de Andrade, em seu ensaio "A escrava que não é Isaura" (que ele apresentou na Semana de 22) tenta equacionar a questão, conjugando os contrários em nome da boa síntese dialética. Em outros termos, reflete tentando encontrar uma espécie de “caminho do meio” entre Apolo e Dionísio, entre a construção e a inspiração. Segundo o bardo modernista, a poesia é um telegrama cifrado que vem da atividade inconsciente para a atividade consciente traduzir. Ela não é só emoção; ela não é só razão. No processo complexo do fazer poético, a inspiração passa por um processo de construção, de elaboração crítico-criativa. Eu vou nessa mesma linha – eu acredito na poesia como inspiração e como construção: creio que esta vem lapidar aquela, matéria bruta; vem dar-lhe acabamento. Como Leminski, advogo a "pororoca", o encontro das águas, o tao do “caminho do meio”: o rigor & o vigor, os caprichos & os relaxos, a construção & a descontração.
Explicando de outra maneira, quero dizer que no meu Panteão cabem vários deuses (mas defender a diversidade não é levantar a bandeira do relativismo - atenção!): não só amo a lição dos concretos, que me deram régua e compasso, ensinando-me que as palavras não são meros vasos para os conteúdos (como fala Augusto de Campos), chamando-me a atenção para a materialidade do signo linguístico, mas também amo a "várzea subdesenvolvida", a poesia marginal, as inscrições nas tabuletas, a poesia-grafite nos muros, as frases de camisetas, os slogans publicitários, as máximas de caminhão, os trocadilhos de mesa de bar, os recados de porta de banheiro...
Gosto mais da conjunção aditiva "e" do que da alternativa "ou": uma soma; a outra exclui. Isso significa que curto mais a adição do que a subtração. Sou da "ética da mistura" (na feliz expressão de Luiz Tatit), contra os valores assépticos da pureza: barroco pós-moderno, sou tropicália, não bossa nova! Acredito no Maiakóvski que fornece a divisa fundamental do concretismo: sem arte revolucionária não há arte revolucionária. Mas acredito também em Roberto Piva, que não acredita em artista experimental sem vida experimental. Não só não acredito na arte pela arte, como também não acredito no Ulisses Tavares que diz que poesia é questão de vida, não de linguagem. Acredito que poesia é questão de vida e de linguagem!  Em matéria de poesia, a vida é uma questão de linguagem, e a linguagem é uma questão de vida! Ah, valha-me Torquato: a poesia é a mãe das manhas e das artimanhas!  Não gosto de fronteiras, de guetos, de muros, de etiquetas, de fórmulas fixas, de escolas: com a bênção de Leminski (meu orixá, santo de cabeça fundamental, meu santo graal!), minha mente psicodélica salta dos trilhos; lógica aristotélica não legarei a meus filhos. Ah, valha-me também Novalis: não te sei o nome, flor azul, só sei que te amo! Enfim, só acredito em poesia de qualidade, qualquer que seja seu nome (com o perdão do pleonasmo: pois, se te chamo poesia, flor azul, é porque tem qualidade - é porque é flor!).
Lembro agora de uma síntese lapidar de Augusto de Campos, talvez a melhor e mais rápida resposta à sua pergunta: poesia/ a fazer/ afasia (com toda a carga de ambiguidade que faz a boa poesia: ela está entre o que o poeta fazia e o que está a fazer, entre a mudez afásica e o que vai dizer). A poesia está no intervalo. Aliás, como diz René Char (o poeta preferido de Picasso): nós não podemos viver a não ser no entreaberto, sobre a linha que separa a luz e a sombra. Poesia como luz & sombra...
Tentando, por minha vez, responder a poesia com poesia - para falar de dentro, não de fora (ou, melhor, no intervalo!)-,  escrevi um poema sintomaticamente intitulado "Plural" (publicado em meu livro toque de letra – editora nhambiquara), espécie de declaração de princípios, epitáfio, testamento poético, que reverbera minha noção de “pororoca”, minha conjugação de vida & linguagem, minha enunciação marcada pela diversidade: 

"meu lar/ em mil falares/ meu luar/ em mil lugares/ tenho um ar/ de muitos ares/ sou mar de muitos mares/ sou muitos/ - não repares!/ sou tantos/ - não compares!/ sou vários/ - não separes!/ sou par/ de muitos pares/ sem apesar/ nem pesares/ meus encantos/ em tantos cantares/ meus prantos/ em vários bares/ sou tantos/ quantos sonhares/ os contrários/ que encontrares/ todos os santos/ em meus altares/ em todos os cantos/ meus calcanhares/ - acredite!/ sou afrodite/ sou ares".

EC.: O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?


Paulo César de CARVALHO: Roger Laporte, num ensaio sobre “intertextualidade”, diz que antes da relação EU-ESCREVER-TEXTO há uma outra que a precede necessariamente: a relação EU-LER-TEXTO. Não acredito em abiogênese: as obras não nascem do nada. Como diz a Análise de Discurso de Pêcheux – conjugando Bakhtin, Freud e Marx –, todo dito se ancora num já-dito. Não tenho a ilusão adâmica da linguagem, a crença num grau zero da escritura. Todo texto brota da costela de outros textos. Creio, com Barthes, na espiral de vozes constitutiva do discurso: quando escrevo, outras vozes se cruzam com a minha, outras enunciações alimentam minha enunciação. A informação poética é fundamental para o fazer poético.
O conselho (como diz Mário, na conferência de 42 sobre a Semana de 22, se não sirvo de conselho, que sirva de lição!) que dou aos jovens poetas, assim, é ler muito: antes da escrita, durante a escrita, depois da escrita. Glosando Haroldo de Campos, o livro me alaga o livro me alarga o livro me alegra... O livro é um mosaico de rendas de ouro e ocelos de pavão... Ler milumapáginas em milumanoites... Ler para acabar com a escritura para começar com a escritura para acabarcomeçar com a escritura... Ler sobre o ler, ler sobre o escrever, escrever sobre o escrever, sobrescrever, escrever... Ler diferentes autores, diferentes escolas, diferentes estéticas. Ler entendendo as soluções procuradas pelas diferentes vozes poéticas. Ler entendendo cada proposta, sem exigir do poeta aquilo a que ele não se propôs. Ler sem preconceito, com os olhos livres. Ler como um antropófago, digerindo e excretando. Ler para encontrar sua própria dicção. Rilke, aliás, aconselhando seu jovem pupilo na travessia do fazer poético, fala da importância da autenticidade do enunciador, do encontro de uma dicção própria: o poeta deve escrever o que é ditado pela necessidade íntima, não pela exigência exterior. Escrever sem preocupação com modismos, com filiações a escolas, sem professar dogmas. Escrever com rigor & com vigor. Escrever conjugando vida & linguagem. Escrever construindo & descontraindo. Escrever nunca se traindo. Escrever porque não é possível não escrever... Não escrever quando é possível não escrever...
Nesta minha espécie de “carta a um jovem poeta”, lembro que o poeta-samurai Bashô também falava da importância dos mestres (ou seja, das leituras que nutrem a escrita) e da necessidade de sua superação, para a aquisição de uma voz poética própria. Duas máximas lapidares de sua pena-zen para a “cartilha” dos iniciantes: “não siga os mestres, procure o que eles procuraram”; “conheça as regras; depois, jogue-as para cima”. Em outros termos, é necessário descolar-se da foz para encontrar sua voz. Para nascer o escritor, enfim, é preciso sofrer a angústia da influência e libertar-se dela no gesto criador: reconhecer o pai e matá-lo. O poeta, ladrão do fogo, nasce quando devora a esfinge.

EC.: Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que estas escolhas?

Paulo César de CARVALHO: A primeira coisa que me chama a atenção em sua pergunta é o número 3: ancestral, mítico, arquetípico, cabalístico... O 3 da Santíssima Trindade; o 3 do céu, da terra e do inferno; o 3 de Hermes Tri Megisto e sua Tábua de Esmeralda; o 3 do ménage a trois; o 3 dos três triângulos; o 3 dos três reis magos; o 3 dos triunviratos; o 3 dos três patetas; o 3 dos três mosqueteiros; o 3 das três graças; o 3 das três parcas; o 3 das três fúrias; o três do power trio; o 3 do Trio Parada Dura; o 3 do Trio Mocotó; o 3 dos Tribalistas; o 3 dos três pedidos do gênio da lâmpada; o 3 do “tri-legal”; o 3 do trivial; o 3 dos “três tristes tigres” e seus “três pratos de trigo”...
O 3 também está na literatura: por exemplo, no ABC de Pound (já no título, sintomaticamente, 3 letras!). O 3 dos três tipos de poeta: o diluidor, o mestre e o inventor. O 3 das três poéticas: a fanopéia, a logopéia e a melopéia.
Você também faz 3 perguntas nesta enquete poética: e na terceira, como num efeito-bumerangue (que tem 3 lados!), volta ao três, pedindo 3 poetas e 3 textos... Ufa! (3 letras!).
Tanto 3, e três é tão pouco! Queria poder escolher 3 inventores (de quebra, 3 bons mestres; e chutar a bunda de 3 diluidores!). Queria poder escolher 3 poetas da melopéia, 3 poetas da fanopéia, 3 poetas da logopéia. 3 craques da poética do som; 3 artífices da poética da imagem; 3 arquitetos da poética do raciocínio. 3 franceses; 3 espanhóis, 3 americanos; 3 ingleses; 3 chilenos, 3 brasileiros. 3 em cascata; 3 em dízima periódica. 3+3+3+3... (as reticências têm três pontos!).
Mas ia ser muita gente, extrapolando muito o que você pede. Então, para chegar a um meio termo, vou escolher 3 brasileiros e 3 estrangeiros. Não os 3 que necessariamente considero os mais importantes, pensando na história da literatura. Não os 3 de que necessariamente gosto mais. Mas os 3 que funcionam como espécies de “santos de cabeça” da minha poética (que fica no intervalo entre a poesia e a letra de música, surfando na pororoca!). Se não são o Tejo, são o rio de minha aldeia... De cá, Oswald de Andrade, Augusto de Campos e Paulo Leminski. De lá (melhor, flexionando rosianamente o advérbio, de lás), Artur Rimbaud, Federico Garcia Lorca e Allen Ginsberg.
Começando pelos de cá, escolhi Oswald pelo “amor/humor”: depois do rio caudaloso do parnasianismo, da afetação neoclássica, do preciosismo vocabular, da restrição temática, uma poética da síntese, uma lição de economia de meios, a incorporação das variantes linguísticas populares (a “contribuição milionária de todos os erros”), a presença do bom humor, a ampliação do eixo temático (a poesia no amor, na dor, na flor, no elevador), a devoração antropofágica da tradição, a reinvenção do Brasil. Na música, Oswald volta, por exemplo, na trip tropicalista (além de influência literária, a capa do disco Tropicália – Panis et Circenses, por exemplo, faz alusão à celebre foto dos modernistas de 22 no Teatro Municipal). Cazuza, no disco Só se for a dois, grava uma adaptação do poema Balada do Esplanada. João Bosco, no disco Dá licença, meu senhor, compõe Pagodespell com trechos dos poemas Relicário e Escapulário. & etc.
Augusto porque “poesia é risco”: a ousadia de dinamitar o ciclo histórico do verso; de implodir a palavra; de propor (como queria Rimbaud) um verbo acessível a todos os sentidos (o “verbivocovisual” do Plano Piloto da Poesia Concreta); de mostrar a dimensão acústica, gráfica e semântica da palavra (Mallarmé, Apollinaire, Cummings...); de ensinar que em poesia o menos é mais (se Le Corbisier fosse poeta...); enfim, de experimentar o experimental (como diria Hélio Oiticica). A poesia de Augusto é um antídoto contra a vazia dicção grandiloquente da poesia bacharelesca (a “discurseira de arrastão” de que reclamava Mário de Andrade), é um dique para conter o blá retórico, um remédio contra o tédio declamatório... Augusto me dá régua e compasso (como aliás já disse a poeta Alice Ruiz, mais um de meus santos de cabeça para escrever/compor): ensina-me maiakovskmente que sem forma revolucionária não há arte revolucionária. Na música, está presente em Pulsar, na bela interpretação de Caetano (um dos textos referenciais para o meu trabalho, que traduz a cor das vogais em mil alturas e durações...), em Cademar, parceria com Tom Zé. & etc & tao. Curiosamente (mas não gratuitamente!), o “amor/humor” de Oswald é poema fundamental para Augusto (e os concretistas). Curiosamente (mas não gratuitamente!), Augusto é influência fundamental para as letras tropicalistas...
Leminski porque “é preciso colocar a poesia numa aventura de massa” (aliás, Oswald, nesta barthesiana “espiral de vozes”, dizia: “a massa ainda vai comer o biscoito fino que fabrico”): o “kamiquase” fez seu primeiro caderno de poesia (para lembrar de novo de Oswald) a partir das lições dos concretos (ele, aliás, se dizia mais concreto do que os concretos, já que havia nascido concreto, e eles se tornaram depois). Mas, além do experimentalismo na poesia, foi poeta experimental na vida, trazendo em seu couro poético as marcas da existência: sua poesia falava da vida, do comportamento, do sexo, das drogas, do rock’n’roll (“tudo o que li me irrita/ quando ouço rita lee”). Isso o aproxima também da dita “poesia marginal” da dita “geração mimeógrafo” (vide seu livro artesanal “não fosse isso era menos / não fosse tanto era quase”). Leminski realiza como ninguém a síntese forma (herança concreta)/ conteúdo (pulsão marginal), numa pororoca entre caprichos & relaxos (título de uma obra que é uma espécie de divisa de seu fazer poético). A sacada que me interessa bem de perto é colocar a poesia numa aventura de massa: para o poeta-samurai, isso se daria por meio das letras de música. E Leminski (que tocava violão) foi gravado por Caetano Veloso (Verdura), por Paulinho Boca de Cantor (Valeu e Se houver céu), pela Cor do Som (Razão)... Foi parceiro de Itamar Assumpção (Custa nada sonhar, Dor elegante, etc), de Arnaldo Antunes (Além alma e UTI), de Carlos Careqa (Alles Plastik), de José Miguel Wisnik, de Edvaldo Santana, de Moraes Moreira. & etc.
Ah, a ditadura do espaço, as inevitáveis coerções da edição, o imperativo moderno da brevidade: só três! Mas meu trabalho também sofre influência de Torquato Neto, de Caetano Veloso, de Alice Ruiz, de Walter Franco, de Arnaldo Antunes...
Bom, vamos agora aos 3 de lá. Rimbaud eu escolhi porque falta “música sábia aos vossos sentidos”: o anjo no exílio (como lhe chamava Verlaine, que, aliás, faz um elogio à música, torcendo o pescoço da eloquência, em seu “Arte Poética” – a propósito, um dos textos referenciais para meu trabalho: “música, acima de tudo música”) transitava da poesia clássica à poesia das tabuletas, dos livros infantis, dos diários... Foi o grande mago visionário da “Alquimia do Verbo” (outro texto referencial para o meu trabalho), que ambicionava um verbo poético para anotar o inexprimível, para fixar as vertigens, traduzindo a cor das vogais (outro texto seu que gostaria de que fosse meu...). Nosso poeta-letrista Vinícius de Moraes o considerava o maior da lírica moderna. Não à toa, na canção Carta ao tom 74, diz “é preciso inventar de novo o amor”, citando o “l’amour est pour reinventé” do “vagabundo genial” (como Mário de Andrade se refere a Rimbaud em A escrava que não é Isaura).
Lorca porque “há um cão no coração” que não pode deixar de ganir: um de seus trabalhos de que mais gosto é o Poeta em Nova Iorque, que para alguns críticos chega a superar os surrealistas. Mas, para minha poesia-letra, para minha poesia-canção, estão mais presentes textos como Bodas de Sangue – escrito para o teatro, adaptado por Carlos Saura para o cinema, entremeado por trechos de canções populares (“a noiva, a branca noiva, hoje donzela, amanhã senhora...”), Romanceiro Gitano (dá quase para ouvir o violão “flamenco” de Paco de Lucia...)... Tocam-me particularmente (“tocar”, verbo musical...) os poemas do Diván del Tamarit: “diván” é uma palavra de origem persa que significa “conjunto de poesias líricas”, em geral de amor (um de meus temas preferidos, apesar de um dos mais batidos, talvez por isso dos mais desafiadores, já que fica mais difícil fugir do lugar-comum. Como diz Caio Fernando Abreu – que, aliás, na chácara de Hilda Hilst, acreditou em trip espírita ter incorporado Lorca –, “o bicho homem não faz outra coisa a não ser pensar no amor”). Neste trabalho, o poeta-cigano experimenta formas poéticas bem musicais, como a casida, um tipo de poesia árabe com uma só rima e métrica (a tradição árabe chegou ao nosso nordeste com os portugueses, influenciando a poesia popular das feiras...), e o gazel,  poema curto usado na poesia persa, que tem entre quatro e quinze dísticos, com retorno frequente a um refrão e exigência de rima dos versos do primeiro dístico entre si, e, depois, com o segundo verso dos outros dísticos, numa estrutura também marcada pela musicalidade.
Por fim, Ginsberg porque “esteja eu louco ou frio/ obcecado por anjos/ ou por máquinas/ o último desejo é o amor”: estes fragmentos constam do poema intitulado sintomaticamente de Canção – caro para mim, que persigo justamente o poema-canção. O bardo beat, herdeiro de Walt Whitman, é o poeta dos “pulmões épicos”, que escrevia ao sabor do jazz uma poesia fortemente marcada pela oralidade (a musicalidade da fala, a descoberta do rap): seu torrencial Uivo, título que remete à musicalidade do grito, foi declamado no famoso recital da Galeria Six, em 1955 (aliás, no “eterno retorno” da “espiral de vozes” desta nossa entrevista, no poema Um supermercado na Califórnia há uma referência a Lorca: “e você, Garcia Lorca, o que fazia lá, no meio das melancias?”). O poema Kaddish também traz a marca da música: dedicado à mãe, é um lamento fúnebre, um canto aos mortos na tradição judaica. Mas a música esteve presente não só na poesia, como também na vida de Ginsberg: no seu aniversário de 50 anos, uma homenagem do The Clash; os 60 comemorou com as dissonâncias do Sonic Youth... Isso sem falar da influência sobre dois dos maiores nomes do poema-canção norte-americano: Lou Reed e seu gutural canto “uivado” (a figura, a propósito, sempre se vestiu de preto – como a Janis Joplin antes de chegar a São Francisco –, reverberando à moda americana o tédio existencialista francês, bem traduzido pelos escritores da trupe de Ginsberg) é autor de canções “beats” como Walk on the Wild Side, crônica sobre a América anti-sonho americano, sobre o fracasso do american way of life, sobre traficantes, drogados, travestis e outros personagens naufragados. Bob Dylan também carrega em suas composições a herança beatnik, como na letra de Desolation Row, por exemplo (Ginsberg e ele deixaram um texto para Kerouac no enterro do autor de On the Road; Ginsberg era louco para transar com Dylan...). Isso sem falar da influência também sobre Jim Morrison, do The Doors, que era pirado também em Rimbaud, como Ginsberg... Só pra terminar a “quadrilha” – pra não dizer que não falamos de Drummond... Só pra não falar também que eu não queria falar também de Joan Brossa, de Boris Vian, de Fernando & outras pessoas...


Paulo César de Carvalho é mais conhecido como Carvalho. Vocalista e letrista da banda Os Babilaques. Bacharel em Direito e mestre em Linguística pela USP, professor de Gramática, Interpretação de Texto e Redação do curso Anglo Vestibulares e do CPC-Marcato, co-autor do material de Língua Portuguesa do Sistema Anglo de Ensino, autor dos livros Tópicos de Gramática e Tópicos de Interpretação de Texto e Redação (Editora CPC – www.cpc.adv.br ou livraria@cpc.adv.br). Foi editor do boletim Texto & Cultura, com o ex-correspondente da Folha de S.Paulo e editor de Política Internacional José Arbex Júnior. Colaborador das revistas Discutindo Língua Portuguesa, Discutindo Literatura, Arte & Informação, Livro Aberto e Libertárias e consultor da TV FUTURA no programa Tá Ligado?. Curador da exposição Linguaviagem: em Português nos entendemos, organizada pelo Museu da Língua Portuguesa para o Itamaraty, a propósito do Congresso dos Países Lusófonos, realizado em Brasília em março de 2010. Tem poemas publicados no livro Na virada do século – poesia de invenção no Brasil (Landy Editora) e na antologia portuguesa Poezz (Almedina). Em 2009, publicouo Toque de Letra (poesia, Editora Nhambiquara). E-mail: carvalho70@gmail.com