13 julho 2009

Luiz Roberto Guedes à queima-roupa


[foto: Akira Nishimura]


1) O que é poesia para você?

Poesia é certamente uma forma de conhecimento do mundo e da psique. É memória mágica da humanidade, um rito persistente na tentativa da arte de reencantar o mundo. Serve para celebrar os nomes de divindades extintas e majestades desaparecidas, ou para assinalar experiências sensoriais, como aquele simples e misterioso “gole de água bebido no escuro”, por exemplo, de que fala Mário Quintana num poema.


2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Eu creio que esse iniciante deve se esforçar para ler o maior número possível de poetas, de todos os séculos e culturas, para poder captar o espírito poético através das épocas e a vibração do poeta vivente em seu momento sob o sol. Creio que é simplesmente fundamental que a poesia diga algo e que, essencialmente, diga respeito à vida. Em meados dos anos 90, um tanto desapontado com a poesia norte-americana naquela altura, Lawrence Ferlinghetti recomendava aos poetas que fossem para a rua e fizessem “novas e frescas observações” da realidade ou do cotidiano.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Em termos de iniciação e formação, em minha adolescência, os numinosos Bandeira, Drummond e Jorge de Lima. Em Bandeira, o dizer exato e simples e a revolta contra “a vida que podia ter sido e que não foi”, mais a contínua evasão para Pasárgada, onde “tem prostitutas bonitas para a gente namorar”. Na cordilheira mineira de Drummond, sua investigação no reino obscuro das palavras, sua profundeza e seus calculados delírios, como aquela celebração de uma Fulana que “é toda dinâmica/tem um motor na barriga/suas unhas são elétricas/seus beijos refrigerados”. Em Jorge de Lima, essa catedral fantástica que é Invenção de Orfeu, que nos revela, por exemplo, a divindade como um cacho de faces, concepção surpreendente para um poeta confessadamente católico. Claro que Mário de Andrade e Oswald são santos no meu altar. Preciso acrescentar ao rol o buleversante Murilo Mendes e o poeta José Paulo Paes, por sua fina lição de concisão e humor. Das pessoas do Pessoa, talvez a poesia de Alberto Caeiro tenha se sedimentado mais, em mim. Naturalmente, outras influências se somam e se entrelaçam, como a práxis concretista, a poética beat, a música popular etc. Ou se faz magia... ou se faz mélange.


Luiz Roberto Guedes é paulistano, poeta, escritor e tradutor. Publicou, entre outros, Calendário Lunático/Erotografia de Ana K (Ciência do Acidente, 2000) e organizou Paixão por São Paulo – antologia poética paulistana (Editora Terceiro Nome, 2004). Lançou a aventura juvenil Armadilha para lobisomem (Cortez Editora, 2005) e a novela O Mamaluco Voador, pela Travessa dos Editores, de Curitiba. É, também, letrista de música popular sob o pseudônimo de Paulo Flexa. E-mail: lrguedes@hotmail.com

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