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24 março 2009

Ana Maria Ramiro à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

O estado permanente de tensão individual que se resolve aparentemente com a escrita, a procura angustiante daquilo que se esconde e se esvai e que, por essa mesma razão, dá sentido a essa busca, ao processo poético. Para mim, três palavras-chave têm sido a base para o fazer poético: pulsão, concisão e descoberta (um novo olhar sobre a linguagem) e, claro, muita reescrita.


2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Acho fundamental ler muito, dos clássicos (aqueles que permanecem "novos") aos contemporâneos, estabelecer um paideuma, mas também acho necessário um certo distanciamento do cânon e do campo literário, que muitas vezes acaba criando uma amarra condicionante, um instrumento de padronização. Os poetas não devem nunca deixar de lado a idéia de reformular constantemente a própria linguagem, e isso serve para todos, iniciantes ou não. A poesia, como aspecto da linguagem, é matéria viva e ninguém passa uma vida inteira fazendo, falando, escrevendo as mesmas coisas. Ser fiel a um leitmotiv, mas com possibilidade de desvios. Reinventar-se.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Minha inclinação para a poesia se iniciou na adolescência e me lembro que a leitura de Alberto Moravia e de Baudelaire (As Flores do mal) me apresentou uma escrita enérgica, anímica, além de expandir a minha compreensão para a existência de uma estrutura textual. A partir daí, outras leituras foram fundamentais: Uma temporada no inferno, do Rimbaud, A Divina Comédia (mais tarde li na versão original e o prazer foi redobrado ao descobrir como a linguagem arcaica contextualiza historicamente a obra de Dante, mas ao mesmo tempo é uma surpresa estética para o leitor contemporâneo), O livro das horas, do Rilke, muito da obra do Pessoa, do Drummond, alguns poemas específicos de Cecília Meireles, João Cabral e os concretistas. Mais tarde descobri poetas ingleses, franceses, irlandeses, americanos, mexicanos, sul-americanos, poetas orientais... e sigo nessas descobertas. Devo mencionar ainda algumas obras e autores singulares, sui generis, tanto da poesia como da ficção e, nesse sentido, seriam muitos os exemplos, desde o Popol Vuh, passando por Sóror Juana Inés de La Cruz, E. A. Poe, Joyce, Clarice Lispector, a poesia em dialeto de Pasolini, os orikis de Antonio Risério... Todas essas leituras me provocaram em determinado aspecto e momento, me incitaram a dissecá-las, mais do que outras tantas, e de alguma forma se tornaram um palimpsesto, o amálgama que utilizo quando penso em poesia.


Ana Maria Ramiro nasceu em São Paulo (1972). Publicou os livros Menina-Poesia (1999) e Desejos de Gaia (2007). Em 2006, organizou e traduziu a plaquete Para Fazer um Talismã, com poemas de cinco autoras argentinas: Alejandra Pizarnik, Elizabeth Azcona Cranwell, Dolores Etchecopar e Olga Orozco. Participou da antologia 8 femmes (2007) e da Antologia de poesia brasileira do início do terceiro milênio (2008), lançada em Portugal. Tem poemas, traduções e ensaios publicados nas revistas literárias Zunái, Critério, Coyote, Grumo, entre outras. Publica na internet o blog Folhas de Girapemba, no endereço http://girapemba.blogspot.com. Email: ana.ramiro@uol.com.br