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27 maio 2009

João Miguel Henriques à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

A poesia foi sendo para mim coisas diferentes ao longo dos anos. Mas algo que nunca deixou de ser é esse trabalho da memória sobre a linguagem. Ou será que é a linguagem que trabalha sobre a memória? É por vezes difícil distinguir...

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Dar conselhos não é de facto o meu forte, mas creio que um iniciante deve acima de tudo procurar alguma pureza. Dedicar-se ao labor da poesia sem se preocupar muito com publicações ou reconhecimento público. Não deixar-se contaminar pelas instituições da cultura. E nesse trabalho poético puro, não deve também descurar uma certa consciência do percurso histórico da própria poesia. Julgo que era T.S. Eliot quem afirmava que sem esse sentido histórico nenhum poeta poderia continuar a escrever após os vinte e cinco anos de idade.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Não sei se os que vou citar são textos referenciais, mas fazem seguramente parte das minha predilecções mais ou menos constantes. O Livro de Cesário Verde, de Cesário Verde, pela linguagem trabalhada, pelo requinte formal e pelas visões da cidade; Na Terra e no Inferno, de Thomas Bernhard, pelo exercício da memória acompanhado de um belíssimo sentido trágico da existência; e A Musa Irregular, reunião da poesia de Fernando Assis Pacheco, um poeta infelizmente não muito conhecido fora de Portugal, mas que tem poemas de amor extraordinários e um admirável sentido de equilíbrio entre o coloquial e o mais lírico ou erudito.



João Miguel Henriques nasceu em Cascais em 1978. Estudou Literatura em Lisboa, Jena (Alemanha) e Edimburgo (Escócia). Vive e trabalha em Lisboa. Estreou-se em poesia com o livro O Sopro da Tartaruga (Edição do Autor, 2005) e em 2007 participou no Tordesilhas, Festival Ibero-Americano de Poesia Contemporânea. Publicou também um conjunto de poemas no nº 12 da revista DiVersos e em publicações online como a Zunái ou a sèrieAlfa. Desde finais de 2003 que mantém o blogue Quartos Escuros (www.quartosescuros.blogspot.com).