tantos anos se arrastaram
já não
me lembro de minha infância
será que
a tive, ou foi um sonho?
tudo se
resume a uma noite
noite de
escolha e enfrentamento
ali, me
fiz na solidão azul
do
nascimento
“se não
quer ir ao culto
que
fique aí, sozinho!”
fiquei
ali, e ainda estou...
em casa
escura e sobressaltada
por
sombras e faróis relampejando
abandonado
de deuses e de afetos
não
dormi, como não durmo agora
não
fugi, como nem posso embora
ali, a
vontade de meu eu se impôs
minha
porção de dor se amarelou
permaneci na infinitude do possível
e assim
abraço o totem
de vida
que sutil me resta
na
contingente luz verde que se revela
aceito
humilde e resignado
o gentil
açoite da morte que me espera.