28 abril 2010

Um ET em Brasília



[Da janela do diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, Antonio Miranda]




[Antonio Miranda, Abreu Paxe, Frederico Barbosa e Paulo César de Carvalho]

15 abril 2010

UIVO

a vida é breve e urge ser plena

mesmo que o sopro leve

o ânimo desta pena

e a dor urre sob o acúmulo de neve

VIVO


02 abril 2010

DiOli à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

poemas
são como vaga-lumes
são sensações dispersas
- brilham -
ora grandes
ora pequenas

vaga-lumes e pirilampos
são formas de poemas
:
quando cintilam
já se foram
pelos ares
pelos campos

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Ler: Ler: Ler.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que estas escolhas?

FERNANDO PESSOA – Pela vastidão e diversidade poética e principalmente por ensinar que a poesia simplesmente acontece “como dar-me o sol de fora”.
NICOLAS BEHR – Além de ser um expoente da famosa “geração mimeógrafo”, que abriu outros caminhos para a poesia além das estradas privativas da “camöenidade acadêmico-literária”, ler Nicolas Behr é conhecer as partes íntimas de Brasília sem ter que ir até lá.
DIETER ROOS – Filósofo, pintor e poeta universal/primitivista/africano nascido alemão, que escreve poesia para ser “pintada em paredes de cavernas urbanas” e que me ensinou que a poesia está em todas as coisas e que um homem pode ser grande sem perder a humildade.


David Willian de Oliveira, diOli, nasceu em Divinópolis-MG. É co-editor dos folhetos BARKAÇA de poesias e artes visuais (http://www.barkaca.blogspot.com/). Tem poemas, videopoemas e performances divulgados/publicados na internet e em jornais de literatura de Minas Gerais. E-mail: dioli@rocketmail.com

01 abril 2010

Dia (da implosão) da mentira

O poeta Affonso Romano de Sant’Anna pede-me que divulgue o poema abaixo. Circula na web uma versão atribuída a ele e que está a ser usada como campanha contra o Lula.

O poema correto foi escrito em 1984, durante a ditadura, e reagia ao episódio macabro do ‘Rio Centro’. Confira.


A Implosão da Mentira

Affonso Romano de Sant'Anna


Fragmento 1

Mentiram-me. Mentiram-me ontem

e hoje mentem novamente. Mentem

de corpo e alma, completamente.

E mentem de maneira tão pungente

que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.

Não mentem tristes. Alegremente

mentem. Mentem tão nacional/mente

que acham que mentindo história afora

vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases

falam. E desfilam de tal modo nuas

que mesmo um cego pode ver

a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil

e para alguns é cara e escura.

Mas não se chega à verdade

pela mentira, nem à democracia

pela ditadura.


Fragmento 2

Evidente/mente a crer

nos que me mentem

uma flor nasceu em Hiroshima

e em Auschwitz havia um circo

permanente.

Mentem. Mentem caricatural-

mente.

Mentem como a careca

mente ao pente,

mentem como a dentadura

mente ao dente,

mentem como a carroça

à besta em frente,

mentem como a doença

ao doente,

mentem clara/mente

como o espelho transparente.

Mentem deslavadamente,

como nenhuma lavadeira mente

ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem

com a cara limpa e nas mãos

o sangue quente. Mentem

ardente/mente como um doente

em seus instantes de febre. Mentem

fabulosa/mente como o caçador que quer passar

gato por lebre. E nessa trilha de mentiras

a caça é que caça o caçador

com a armadilha.

E assim cada qual

mente industrial? mente,

mente partidária? mente,

mente incivil? mente,

mente tropical? mente,

mente incontinente? mente,

mente hereditária? mente,

mente, mente, mente.

E de tanto mentir tão brava/mente

constroem um país

de mentira

-diária/mente.


Fragmento 3

Mentem no passado. E no presente

passam a mentira a limpo. E no futuro

mentem novamente.

Mentem fazendo o sol girar

em torno à terra medieval/mente.

Por isto, desta vez, não é Galileu

quem mente.

mas o tribunal que o julga

herege/mente.

Mentem como se Colombo partin-

do do Ocidente para o Oriente

pudesse descobrir de mentira

um continente.

Mentem desde Cabral, em calmaria,

viajando pelo avesso, iludindo a corrente

em curso, transformando a história do país

num acidente de percurso.


Fragmento 4

Tanta mentira assim industriada

me faz partir para o deserto

penitente/mente, ou me exilar

com Mozart musical/mente em harpas

e oboés, como um solista vegetal

que absorve a vida indiferente.

Penso nos animais que nunca mentem.

mesmo se têm um caçador à sua frente.

Penso nos pássaros

cuja verdade do canto nos toca

matinalmente.

Penso nas flores

cuja verdade das cores escorre no mel

silvestremente.

Penso no sol que morre diariamente

jorrando luz, embora

tenha a noite pela frente.


Fragmento 5

Página branca onde escrevo. Único espaço

de verdade que me resta. Onde transcrevo

o arroubo, a esperança, e onde tarde

ou cedo deposito meu espanto e medo.

Para tanta mentira só mesmo um poema

explosivo-conotativo

onde o advérbio e o adjetivo não mentem

ao substantivo

e a rima rebenta a frase

numa explosão da verdade.

E a mentira repulsiva

se não explode pra fora

pra dentro explode

implosiva.


(Poema publicado no JB em 1984, quando do episódio do Rio Centro e em diversas antologias do autor. Está em “ Poesia Reunida” L&PM, 1999, v.2)