Quando a noite vem cobrir
o pensamento
feito um urso polar a abraçar
a sua amada
agradeço à dádiva absurda
de ainda estar vivo.
Lembro-me da rara insensatez
dos Gregos
ao postularem que seus homens
mortos ainda jovens
seriam mais amados
pelos deuses.
O fato é que não
escolhemos como morrer
nem os deuses que porventura
virão a nos receber.
O que nos cabe - se formos
sábios - é não aspirar
à vida imortal
e, como Píndaro, esgotar
o campo do possível.
Viver o instante que nos redime
e glorifica.
O agora, a mãe
geradora de todos
os futuros
impossíveis.
[Imagem: poema de Augusto de Campos]