a hora já não é mais nossa agora
uma nuvem lá fora encobre o sol
que outrora ardera sem espanto.
em todo canto não se ouve cantos
só o gemer dolorido e sem descanso
de um povo a arder de febre e
pranto.
a hora já não é mais nossa agora
uma nuvem lá fora encobre o sol
que outrora ardera sem espanto.
em todo canto não se ouve cantos
só o gemer dolorido e sem descanso
de um povo a arder de febre e
pranto.
carro
engolindo
a pista
paradoxo
de Zenão
torres
ficando
para
trás
um motor
em combustão
faísca
iluminando
a
infância
um
ursinho bem bobão
[litografia Dia e Noite de Maurits Cornelis Escher]
aqui em
meu samba
cabem
todos os restos
recanto
de desterros
chão de
joão-ninguém
repositório
de erros.
todos os
ossos
sem nome
todos os
nomes
sem boca
todas as
bocas
à
míngua.
o que
fazer
com as
palavras?
depositá-las
assim
vomitá-las
como se
vomita
uma
língua.
nenhum
mulato negro índio
nem esta
nódoa nativa, mula
das
índias ocidentais
nada com
a cor de piche
melhorada
em pixels
neca de
pepitas douradas
nenhures
nonada
zero em
exercer exercitar se excitar
nulo
deste aguadouro viscoso
seiva
preciosa de vida escoada
à
conta-gotas
chega
deste papo besunto
arranjo
de flores tardias
aulas,
estórias, assuntos
demagogia
a luz dos dias
chega de
aulas de história
e a realidade
feliz que não chega
chega
evoé, seja
bem-vindo de volta
velho
mouro.
seu corpo
encontrado boiando
inchado de Jonas
baleia sem contorno.
o que já foi meu
um dia
hoje é alimento
da poesia.
quando
os homens
e
mulheres se abatem
todo o
universo
se esbate
em
misteriosa simbiose
melancolia
jaz
soberana
sobre as
lápides.