um coro
de virgens
em
uníssono:
só aqueles
que mantêm
completa
inocência
podem gozar
o fogo
sagrado de
meu altar.
que
venham Bispos
do Rosário
em
cardumes.
um coro
de virgens
em
uníssono:
só aqueles
que mantêm
completa
inocência
podem gozar
o fogo
sagrado de
meu altar.
que
venham Bispos
do Rosário
em
cardumes.
o Carnaval acabou
ou será que nunca houve?
mas o desfile continua.
nada para essa gente
nem Covid nem indigentes.
a morte sempre chega
não é mesmo?
e daí? segue o coro
dos contentes.
ela vem mansa e nua
com seus macios passos
de porta-bandeira
a equilibrar o mastro
em suas ancas de ossos
carcomidos
devorados pelos olhos
vorazes da avenida
Brasil,
corsos ensandecidos.
o animal
vegeta
feito
planta
a planta
se anima
ao ouvir
música
a música
preenche
o
silêncio dos entes
o
silêncio distingue
o ser solitário
o ser
acaricia
o todo quando
canta
o todo
permeia
tudo a
seu modo.
[Escultura by Susan Beatrice]
Ano Bom Arzila
Ormuz Azamor
Ceuta Flores
Agadir Safim
Tanger Acra
Angola Mogador
Aguz Cabinda
Cabo Verde Arguim
São
Jorge da Mina Fernando Pó
Costa do
Ouro Portuguesa Zanzibar
Melinde Mombaça
Moçambique
Guiné
Portuguesa Macassar
Quíloa
São Tomé e Príncipe Mascate
Fortaleza
de São João Baptista de Ajudá
Socotorá
Ziguinchor Bahrain Paliacate
Alcácer-Ceguer
Bandar Abbas Cisplatina
Ceilão
Laquedivas Maldivas Baçaim
Calecute
Cananor Chaul Chittagong
Cochim
Cranganor Damão Bombaim
Dadrá e
Nagar-Aveli Damão Mangalore
Diu Goa Hughli Nagapattinam
Coulão Thoothukudi Salsette Masulipatão
Surate
Nagasaki Timor-Leste
São Tomé
de Meliapore Mazagão
Malaca
Molucas Guiana Francesa
Nova
Colónia do Sacramento Bante
Macau
Brasil
Portugal
Oh sal
que corrói a pele de nossas almas.
lá em casa
o menino
Jesus
com os
meninos
tinha
caso
com as
meninas
engatinhava
o menino
Jesus
lá em
casa.
A biblioteca do pai de Borges
foi o fato capital de sua vida.
Ele nunca saiu dela, disse.
Em minha casa nunca tive livros.
O fato capital de minha vida
é não ter tido pai.
Minha mãe foi minha biblioteca.
Ensinou-me tudo.
Nunca saí dela.
Era analfabeta e deveria
ter se chamado Alexandria.
[Imagem: Biblioteca Nacional da República Tcheca]
Um ilhéu
fazendo a travessia.
Acima dele o céu.
Abaixo, a maresia.
Entre os fios de seu enleio,
a vida fugidia.
[O menino grapiúna by Casa de Jorge
Amado]
Sucesso na vida.
Um plano de carreira.
Aposentadoria planejada.
Lápide no cemitério.
Não tenho nada disso.
Sou um caso sem critério.
Meu currículo não Lattes,
mas morde.
Minha poesia não explode,
mas contamina.
Contra a morte precoce
não conheço melhor vacina.
há manhãs quando
nem o cheiro do
café
o jornal aberto
sobre a mesa
o sorriso franco
da amada
o chamado doce
de meu filho
o latido amigo
do cachorro
o frescor florido
da jabuticabeira
o canto verde
das maritacas
o azul-celeste
de janeiro
suprem o corpo
oco da vida
o sumo
desperdiçado
a dádiva
imerecida.
retocar
a canção
chegar
até
a
imperfeição
de mero José
a impossível João.
[da série “Cabeças”, acrílica
sobre tela colada em compensado, by Alex Flemming]
enquanto
o sol gira
e queima a aba
da
constelação Alcione
— não aquela do pistão
em riste
a outra que contamina
a tudo e triste
com fótons
pó de minas
energias sutis
nós — os chamados
humanos
entre escombros
seguimos
a
acumular mortes
e
assombros.
[Criança
morta, de Cândido Portinari]
há um
rio que nos separa
dos
outros, rio
lethos de esquecimento
oclusões,
duplos
o mundo é outro
segundo
a dualidade
do ser
a margem que nos divide
é a pele
que nos irmana
quem vislumbra o tu
é
nutriente
da relação
aquele que comunga
o isso não
é
está só.