Não sei
falar inglês
nem o
dialeto ancestral
banto.
Me vingo
toda noite
sonhando
em esperanto.
Boi,
catamênio,
chica, chico, conjunção,
costume, embaraço, escorrência, fluxo,
incômodo, lua, menarquia,
menorreia, mênstruo,
mês, paquete, pingadeira,
sangue, veículo,
visita,
volta da lua.
Quando
ela se viu grávida,
as regras já estavam sem sinonímia.
Geometrias
rasuradas
nos gramados
da memória.
Uma
coruja sobre
um ângulo reto.
O gol vazio e quieto.
A busca
principia
e se
finda no coração.
Na longa
jornada
dia a
dia se oficia.
No limite,
nos brinda
com a
iluminação.
O ser na
aurora do dia.
A dança
das imagens entre as palavras.
A viagem
de volta ao desconhecido.
Aquilo
que concerne ao cerne do ser.
A
linguagem dos pássaros sem voz.
A
hesitação sem a redenção do êxito.
O
enunciado do ser travestido em vocábulos.
A ordem
do ente na desordem dos seres.
Emoção
recuperada no deserto da história.
A ação e
o efeito de fingir-se sendo.
Parcas
arrependidas uivando pela vida.
Desígnio
de deuses esquecidos.
A pureza
selvagem do espúrio.
Tudo o
que se perde com a conceituação.
Névoa no
campo-santo.
Os que
se despedem
dos que
partem
quanto
tempo ainda
viverão?
[lendo o
Diálogo entre um Venerável e um Homem Não Iluminado do buda Nichiren
Daishonin, séc. 13]
Não me
venha com essa
de que o
tempo passa
depressa.
A beleza
não tem pressa,
ela
súbito graça
e
aparece.
no
começo foi a roda
uma, duas, três e quatro
virou carro, virou moda
e viralizou em cova.
****
carro
caro
car
ar
a...
...
...
cadê
o ar?
um coro
de virgens
em
uníssono:
só aqueles
que mantêm
completa
inocência
podem gozar
o fogo
sagrado de
meu altar.
que
venham Bispos
do Rosário
em
cardumes.
o Carnaval acabou
ou será que nunca houve?
mas o desfile continua.
nada para essa gente
nem Covid nem indigentes.
a morte sempre chega
não é mesmo?
e daí? segue o coro
dos contentes.
ela vem mansa e nua
com seus macios passos
de porta-bandeira
a equilibrar o mastro
em suas ancas de ossos
carcomidos
devorados pelos olhos
vorazes da avenida
Brasil,
corsos ensandecidos.
o animal
vegeta
feito
planta
a planta
se anima
ao ouvir
música
a música
preenche
o
silêncio dos entes
o
silêncio distingue
o ser solitário
o ser
acaricia
o todo quando
canta
o todo
permeia
tudo a
seu modo.
[Escultura by Susan Beatrice]
Ano Bom Arzila
Ormuz Azamor
Ceuta Flores
Agadir Safim
Tanger Acra
Angola Mogador
Aguz Cabinda
Cabo Verde Arguim
São
Jorge da Mina Fernando Pó
Costa do
Ouro Portuguesa Zanzibar
Melinde Mombaça
Moçambique
Guiné
Portuguesa Macassar
Quíloa
São Tomé e Príncipe Mascate
Fortaleza
de São João Baptista de Ajudá
Socotorá
Ziguinchor Bahrain Paliacate
Alcácer-Ceguer
Bandar Abbas Cisplatina
Ceilão
Laquedivas Maldivas Baçaim
Calecute
Cananor Chaul Chittagong
Cochim
Cranganor Damão Bombaim
Dadrá e
Nagar-Aveli Damão Mangalore
Diu Goa Hughli Nagapattinam
Coulão Thoothukudi Salsette Masulipatão
Surate
Nagasaki Timor-Leste
São Tomé
de Meliapore Mazagão
Malaca
Molucas Guiana Francesa
Nova
Colónia do Sacramento Bante
Macau
Brasil
Portugal
Oh sal
que corrói a pele de nossas almas.