18 novembro 2008
Distâncias
Leitura de distância from virna teixeira on Vimeo.
[Apresentação da versão em espanhol do livro Distancia (lunarena editorial, 2007) pela poeta Virna Teixeira e os tradutores Berenice Huerta e Jair Cortés. Jornadas Lopezvelardeanas. Zacatecas, México, junho de 2008.]
Sopa de Poesia
Gustavo Felicíssimo - O que o contato com a música traz de relevante para a sua poesia?
Edson Cruz – O contato com a música para mim foi a própria abertura para a poesia e para a vida. Com ela (a música) apurei meus sentidos, meu ouvido, minha sensibilidade em relação às palavras e aos sentidos. Como já disse Shakespeare em O mercador de Veneza, “Todo homem que em si não traga música... É de traições, pilhagens, armadilhas. ... Não se confie em homem tal...”.
Por outro lado, embora saibamos que o isomorfismo entre o som e o signo tenha limites, não podemos desconsiderar o fato de que a própria comunicação através de palavras começou com onomatopéias, gestos vocais imitando a natureza das coisas, etc.
O psicólogo Wolfgang Köhler fez aquela famosa experiência para descobrir se ocorria para as pessoas uma ligação entre algumas formas visuais e certos sons. Inventou as palavras “takete” e “maluma”, que são foneticamente opostas, e apresentou-as a indivíduos de línguas diferentes com duas figuras geometricamente opostas. Uma figura era angulosa (parecia uma estrela), a outra curvilínea (como círculos concêntricos). A pergunta fatal era: qual das figuras poderia ser chamada “takete” e qual “maluma”? A maior parte das pessoas inquiridas (embora falassem línguas totalmente diferentes) associou a palavra “takete” à figura angulosa, estrelada e “maluma” à figura curvilínea. Coincidência? Não, de forma (de som) alguma (algum).
O que eu quero dizer com isso? Simples. A musicalidade é tudo em poesia. Se não houver ritmo, sonoridades encantatórias permeando o texto poético, poderá até haver tema, discurso, sentido, mas sempre faltará alguma coisa, a música, que para mim tende ao essencial. Isso não quer dizer que precisemos, necessariamente, de rimas.
Aquelas categorias aventadas por Ezra Pound são importantes: o enfoque nas imagens (a fanopéia), nas idéias (a logopéia) e nos sons (a melopéia). Um poema que permanecerá, em minha opinião, deverá ter os três elementos dialogando entre si. Mas há grandes poemas que privilegiam aspectos de um dos três enfoques. Agora, o poema pode até não contemplar as imagens, ou as idéias, mas, para mim, se não tiver melopéia, meu ser simplesmente o rejeita. É instintivo.
Isso, que não é nenhuma novidade desde os gregos, foi a maior influência que a música teve sobre mim e sobre a minha poesia — se é que eu a tenho.
GF – Você vê o poeta como um ser deslocado perante a sociedade prática em que vivemos?
EC – De certa forma isso já se tornou um clichê, e também deve ser combatido, como todos os clichês. O poeta, e todos os seres criativos, terão que desenvolver as habilidades necessárias para interferir e alterar o estado das coisas, gerado pelas pessoas que se dizem práticas e pragmáticas. Ele não deve aceitar passivamente ser colocado (ou colocar-se, o que é pior...) de escanteio no jogo da vida com a desculpa de que não sabe lidar com as coisas práticas do mundo. O poema de Baudelaire O Albatroz é lindo. Constata uma verdade que se relacionava ao mundo romântico.
...O Poeta se compara ao príncipe da altura [ao Albatroz] / Que habita os vendavais e ri da seta no ar; / Exilado no chão, em meio à turba obscura, / As asas de gigante impedem-no de andar. [em tradução de Ivan Junqueira]
É uma verdade relativa que não nos cabe mais. O mundo precisa ser transformado e não será com uma atitude “canhestra e envergonhada”, digna de um monarca em meio à turba obscura, que faremos a diferença.
É justamente por estarmos nessa sociedade pragmática, egoísta e desumana, que o poeta deve recolocar-se com voz e atitude dignas. Com consistência do princípio ao fim. Levar o potencial revolucionário da poesia para as coisas práticas da vida.
GF – Que sentido você atribui a esses seus versos: “o que não sei/ eu intuo/ o que sei/ é entulho”?
EC – Esse é um dos grandes trunfos/triunfos da poesia. Poder dizer em poucas palavras, com certa graça, o que de outra forma seria necessário um tratado, uma tese, uma dissertação. E há, com certeza, inúmeros textos, tanto na tradição oriental quanto na ocidental, que buscam esclarecer o que tento dizer com estes quatros versos: o excesso de conhecimento, de informação, não é sabedoria. Esse acúmulo de pretensos saberes, nas horas cruciais podem muitas vezes atrapalhar, mais do que ajudar. A intuição é o que nos salva, se ela não for completamente obliterada pela pretensa erudição.
Na hora em que você for atacado por uma onça, ou estiver na iminência de ser atropelado, ou de se apaixonar, se parar para pensar, já era. E muitos já foram salvos (ou criaram coisas novas, inovaram, atingiram a iluminação, acertaram na mega-sena, conquistam o amor) justamente porque deixaram a massa de informação de lado e permitiram que outra coisa atuasse. É como se deixar levar pela música. Não dá pra pensar muito em qual seria o próximo passo. Tem que se entregar e, de repente, surge uma estrela cintilante, um gesto, um passo jamais realizado, o poema, a dança, a saída, a resolução do problema, a beleza, enfim, a vida.
[Publicado no blog de Gustavo Felicíssimo, http://sopadepoesia.zip.net/]
Edson Cruz – O contato com a música para mim foi a própria abertura para a poesia e para a vida. Com ela (a música) apurei meus sentidos, meu ouvido, minha sensibilidade em relação às palavras e aos sentidos. Como já disse Shakespeare em O mercador de Veneza, “Todo homem que em si não traga música... É de traições, pilhagens, armadilhas. ... Não se confie em homem tal...”.
Por outro lado, embora saibamos que o isomorfismo entre o som e o signo tenha limites, não podemos desconsiderar o fato de que a própria comunicação através de palavras começou com onomatopéias, gestos vocais imitando a natureza das coisas, etc.
O psicólogo Wolfgang Köhler fez aquela famosa experiência para descobrir se ocorria para as pessoas uma ligação entre algumas formas visuais e certos sons. Inventou as palavras “takete” e “maluma”, que são foneticamente opostas, e apresentou-as a indivíduos de línguas diferentes com duas figuras geometricamente opostas. Uma figura era angulosa (parecia uma estrela), a outra curvilínea (como círculos concêntricos). A pergunta fatal era: qual das figuras poderia ser chamada “takete” e qual “maluma”? A maior parte das pessoas inquiridas (embora falassem línguas totalmente diferentes) associou a palavra “takete” à figura angulosa, estrelada e “maluma” à figura curvilínea. Coincidência? Não, de forma (de som) alguma (algum).
O que eu quero dizer com isso? Simples. A musicalidade é tudo em poesia. Se não houver ritmo, sonoridades encantatórias permeando o texto poético, poderá até haver tema, discurso, sentido, mas sempre faltará alguma coisa, a música, que para mim tende ao essencial. Isso não quer dizer que precisemos, necessariamente, de rimas.
Aquelas categorias aventadas por Ezra Pound são importantes: o enfoque nas imagens (a fanopéia), nas idéias (a logopéia) e nos sons (a melopéia). Um poema que permanecerá, em minha opinião, deverá ter os três elementos dialogando entre si. Mas há grandes poemas que privilegiam aspectos de um dos três enfoques. Agora, o poema pode até não contemplar as imagens, ou as idéias, mas, para mim, se não tiver melopéia, meu ser simplesmente o rejeita. É instintivo.
Isso, que não é nenhuma novidade desde os gregos, foi a maior influência que a música teve sobre mim e sobre a minha poesia — se é que eu a tenho.
GF – Você vê o poeta como um ser deslocado perante a sociedade prática em que vivemos?
EC – De certa forma isso já se tornou um clichê, e também deve ser combatido, como todos os clichês. O poeta, e todos os seres criativos, terão que desenvolver as habilidades necessárias para interferir e alterar o estado das coisas, gerado pelas pessoas que se dizem práticas e pragmáticas. Ele não deve aceitar passivamente ser colocado (ou colocar-se, o que é pior...) de escanteio no jogo da vida com a desculpa de que não sabe lidar com as coisas práticas do mundo. O poema de Baudelaire O Albatroz é lindo. Constata uma verdade que se relacionava ao mundo romântico.
...O Poeta se compara ao príncipe da altura [ao Albatroz] / Que habita os vendavais e ri da seta no ar; / Exilado no chão, em meio à turba obscura, / As asas de gigante impedem-no de andar. [em tradução de Ivan Junqueira]
É uma verdade relativa que não nos cabe mais. O mundo precisa ser transformado e não será com uma atitude “canhestra e envergonhada”, digna de um monarca em meio à turba obscura, que faremos a diferença.
É justamente por estarmos nessa sociedade pragmática, egoísta e desumana, que o poeta deve recolocar-se com voz e atitude dignas. Com consistência do princípio ao fim. Levar o potencial revolucionário da poesia para as coisas práticas da vida.
GF – Que sentido você atribui a esses seus versos: “o que não sei/ eu intuo/ o que sei/ é entulho”?
EC – Esse é um dos grandes trunfos/triunfos da poesia. Poder dizer em poucas palavras, com certa graça, o que de outra forma seria necessário um tratado, uma tese, uma dissertação. E há, com certeza, inúmeros textos, tanto na tradição oriental quanto na ocidental, que buscam esclarecer o que tento dizer com estes quatros versos: o excesso de conhecimento, de informação, não é sabedoria. Esse acúmulo de pretensos saberes, nas horas cruciais podem muitas vezes atrapalhar, mais do que ajudar. A intuição é o que nos salva, se ela não for completamente obliterada pela pretensa erudição.
Na hora em que você for atacado por uma onça, ou estiver na iminência de ser atropelado, ou de se apaixonar, se parar para pensar, já era. E muitos já foram salvos (ou criaram coisas novas, inovaram, atingiram a iluminação, acertaram na mega-sena, conquistam o amor) justamente porque deixaram a massa de informação de lado e permitiram que outra coisa atuasse. É como se deixar levar pela música. Não dá pra pensar muito em qual seria o próximo passo. Tem que se entregar e, de repente, surge uma estrela cintilante, um gesto, um passo jamais realizado, o poema, a dança, a saída, a resolução do problema, a beleza, enfim, a vida.
[Publicado no blog de Gustavo Felicíssimo, http://sopadepoesia.zip.net/]
16 novembro 2008
Viajes
Cuando los famas salen de viaje, sus costumbres al pernoctar en una ciudad son las siguientes: Un fama va al hotel y averigua cautelosamente los precios, la calidad de las sábanas y el color de las alfombras. El segundo se traslada a la comisaría y labra un acta declarando los muebles e inmuebles de los tres, así como el inventario del contenido de sus valijas. El tercer fama va al hospital y copia las listas de los médicos de guardia y sus especialidades.
Terminadas estas diligencias, los viajeros se reúnen en la plaza mayor de la ciudad, se comunican sus observaciones, y entran en el café a beber un aperitivo. Pero antes se toman de las manos y danzan en ronda. Esta danza recibe el nombre de "Alegría de los famas".
Cuando los cronopios van de viaje, encuentran los hoteles llenos, los trenes ya se han marchado, llueve a gritos, y los taxis no quieren llevarlos o les cobran precios altísimos. Los cronopios no se desaniman porque creen firmemente que estas cosas les ocurren a todos, y a la hora de dormir se dicen unos a otros: "La hermosa ciudad, la hermosísima ciudad". Y sueñan toda la noche que en la ciudad hay grandes fiestas y que ellos están invitados. Al otro día se levantan contentísimos, y así es como viajan los cronopios.
Las esperanzas, sedentarias, se dejan viajar por las cosas y los hombres, y son como las estatuas que hay que ir a verlas porque ellas ni se molestan.
[Do livro Historias de Cronopios y de Famas, de Julio Cortázar]
Terminadas estas diligencias, los viajeros se reúnen en la plaza mayor de la ciudad, se comunican sus observaciones, y entran en el café a beber un aperitivo. Pero antes se toman de las manos y danzan en ronda. Esta danza recibe el nombre de "Alegría de los famas".
Cuando los cronopios van de viaje, encuentran los hoteles llenos, los trenes ya se han marchado, llueve a gritos, y los taxis no quieren llevarlos o les cobran precios altísimos. Los cronopios no se desaniman porque creen firmemente que estas cosas les ocurren a todos, y a la hora de dormir se dicen unos a otros: "La hermosa ciudad, la hermosísima ciudad". Y sueñan toda la noche que en la ciudad hay grandes fiestas y que ellos están invitados. Al otro día se levantan contentísimos, y así es como viajan los cronopios.
Las esperanzas, sedentarias, se dejan viajar por las cosas y los hombres, y son como las estatuas que hay que ir a verlas porque ellas ni se molestan.
[Do livro Historias de Cronopios y de Famas, de Julio Cortázar]
01 novembro 2008
Diálogo com o Uruguai
1. ¿Dónde naciste y en que año?
Nasci em Ilhéus, no sul do estado da Bahia. Uma terra que foi palco de vários romances famosos de Jorge Amado (o escritor brasileiro mais conhecido no mundo, antes do fenômeno Paulo Coelho). Sou quase um velho, mas não aparento. Deve ser a herança genética misturada com africanos, holandeses e portugueses. Nasci em 1959, um ano depois da Bossa-Nova. Moro em São Paulo, cidade cosmopolita, desde os anos sessenta. Quando veio o golpe militar, em 1964, já estava por aqui. Vi os milicos de perto. Não sabia do que se tratava.
2. ¿Cómo fue tu infancia y tu adolescencia? ¿Quiénes son tus padres?
De minha infância não lembro muita coisa. Acho que não foi nada boa, nada aconchegante. Sempre em lugares que não eram meus. Minha mãe, Laurinda, se separou de meu pai, João, e veio para São Paulo. Ela diz que meu pai era militar e à noite cantava e tocava em boates pela cidade. Chegava em casa cheirando a álcool e a outras mulheres. Minha mãe não aguentou e pediu ajuda para sua irmã, Maria, que trabalhava em São Paulo, numa casa de família, como empregada doméstica. Eles nos hospedaram por dois anos. Eram ricos. Depois, minha mãe, que chegou grávida e teve meu irmão Luiz em São Paulo, arrumou um emprego e nos deixou morando em um bairro da periferia, na casa de seu irmão João. Não tenho boas lembranças deste período, pois minha tia não gostou nada da idéia de cuidar de mais dois pirralhos, fora os que ela já tinha. Minha mãe trabalhava durante a semana toda como empregada e só aparecia aos domingos, às vezes no sábado. Sofri muito neste período, mas fui crescendo.
Aos cinco anos minha mãe se casa novamente e, finalmente, a família se reune. Vamos morar todos juntos. Me lembro até hoje do trajeto que fizemos de trem da periferia até a Estação da Luz, onde descemos e fomos a pé até nossa casa. Era uma sensação de que algo que havia se quebrado estava começando a se recompor. Se fosse possível queria ser feliz. Foram anos de pobreza, mas de felicidade. Fui crescendo, entrei na escola, minha família aumentou. Lembro-me da quantidade imensa de pulgas que havia em casa. Depois, ratos, mas era tudo estimulante. Eu tinha minha família agora. Tinha amigos, gostava de estudar, de aprender.
Lembro-me que logo que aprendi a escrever fiz uma redação para o curso primário que a professora gostou muito. Leu em voz alta na classe. Tinha um trecho que dizia que era manhã de sábado, e no ar havia um cheiro de felicidade. A classe toda não entendeu. Como é que a felicidade pode ter cheiro. A professora entendeu e explicou para a moçadinha. Eu vibrei. Ali vislumbrei que poderia ser diferente e me expressar da forma que quisesse.
Quando estava entrando na adolescência, um padre (sim, eu frequentava as missas aos domingos… nem sei como cheguei lá… acho que foi através da primeira comunhão, curso de catecismo, estas coisas…) perguntou se eu não queria estudar no Seminário para me tornar um Padre. Me seduziu com as coisas boas que haveria por lá, como por exemplo, um pomar, uma biblioteca, um campo de futebol, uma piscina, etc.
Fiquei fascinado com a idéia de aprender Latim, Francês, ter uma biblioteca onde pudesse ler o que quisesse, conhecer outras coisas fora da pobreza de minha família. Topei.
Minha família adorou a idéia. Sim, eles pensavam, agora ele seria alguém. Se não pode ser médico ou advogado, pelo menos vai ser Padre.
Fui. Vi. Gostei de muitas coisas e detestei outras. Amadureci um pouco tendo que cuidar de minhas coisas, competir com os outros meninos, estar sozinho, ter que fazer amizades estratégicas, etc. Estudei bastante, li muita coisa da biblioteca. Aprendi a nadar e o principal, aprendi a tocar violão. O violão foi meu grande companheiro por toda a adolescência e na vida adulta. Quase virei músico profissional. Cheguei a estudar música muito tempo, composição, regência, violão erudito, cantar na noite, etc. A música me salvou. Me aproximou das pessoas e expandiu meu círculo de influência e minha percepção do mundo. Sou o que sou hoje graças as minhas leituras e a música. A escrita veio depois, ou melhor, acompanhou este processo todo, mas despreocupadamente, sem compromissos.
3. ¿Qué estudios realizaste?
Estudei alguns anos em Seminário, colégio para formação de padres, que me proporcionou o contato com muitas coisas: um pouco de espanhol, latim, francês, música. Depois, já fora do Seminário, fiz quase o curso completo de Psicologia; depois um pouco de formação em terapia reichiana. Estudei um pouco de composição e regência na Universidade e também um pouco de violão erudito e canto, com professores particulares. Também estudei um pouco de estética e misticismo com um professor genial aqui de São Paulo. Atualmente, termino o curso de Letras na Universidade de São Paulo – USP.
4. ¿Influencias filosóficas?
Sim. Várias. Nada muito aprofundado, mas sempre fui um leitor voraz e indisciplinado. Li muito Nietzsche e um pouco de Schopenhauer. Li, também, muita coisa do Oriente. Budismo. Taoismo. Pratico o budismo de Nitiren Daishonin há 15 anos e leio com frequência o filósofo, poeta e pacifista Daisaku Ikeda, que vem iluminando meu caminho e de minha esposa. Em suma, busco cada vez mais o humanismo e uma ação diária que gere valor, sempre embasado na consciência de causa e efeito.
5. ¿Algún poeta o persona que te haya inspirado en tu labor poética?
Todos os poetas que admiro me inspiraram ou inspiram de alguma forma: Carlos Drummond de Andrade, Augusto de Campos, Manoel de Barros, Rabindranath Tagore, Manuel Bandeira, Matsuo Bashô, Fernando Pessoa, Baudelaire, Jorge Luis Borges, Paulo Leminski e tantos outros…
6. ¿Cuál es tu hobby?
Assistir filmes em DVD, ouvir música e tocar violão.
7. ¿Podes contarme algo de un gran amor que hayas tenido en tu vida?
Meu grande amor é a mulher com que estou casado desde 2002 e com quem tenho uma pérola chamada Sophia. Foi com ela, Eliane, que decidi e senti o desejo de constituir uma família — algo que nunca havia sentido em relacionamentos anteriores. Veja o texto que escrevi quando do nascimento de Sophia.
8. ¿Qué es la poesía para ti?
Em cada momento de minha vida a poesia representou alguma coisa. Descobrimento de mim mesmo. Descobrimento do outro e de outras formas de encarar e dizer a vida. Hoje, ela representa um caminho que sigo lapidando; uma constante labuta com a palavra, com a forma e com o inesperado da expressão alinhavada em um poema. Tudo pode ser motivo ou tema da poesia, pois ela representa um sentimento do mundo que nos irmana, ao mesmo tempo que nos delimita enquanto diferenças. É pura magia, quando ela realmente acontece. Feitiço, como digo em um de meus poemas…
Feitiço
algo assim tão
inatural
que chega a ser
outra natureza
algo sim não
mais factício
por demais tal
coisa feita
que de tão artifício
vira arte
vira livro
vira ofício
9. ¿Qué es el poeta para ti? ¿Qué rol cumple en la sociedad si lo cumple? ¿o que rol cumple?
O poeta é um fazedor de inutensílios que tornam-se cada vez mais necessários. O poema em si não serve para nada. Não tem finalidade alguma. Nem mesmo emocionar como querem alguns. Ele apenas existe, como uma flor ou uma pedra. Nós é que damos finalidade para ele. A cultura é que precisa, eventualmente, de sua existência para nutrir-se e oxigenar-se. O poeta é alguém que decide, por vontade ou por imperiosa necessidade, dedicar-se à revelação que pode ressignificar o uso das palavras. A música inscrita na partitura dos fonemas e da semântica. Veja meu poema “Palimpsesto”:
palimpsesto
toda poesia já
escrita
não se equipara
a toda poesia
inscrita
a poesia jaz
10. ¿Cómo es la vida del poeta?
Como a de outro ser humano qualquer. O poeta não tem nada de especial. Ele pode até, como já existiram alguns, ser um assassino e usar muito bem as palavras. O poeta não está livre de seu carma. E quando ele se manifesta não há sentimento poético que possa encobri-lo. Mas é claro que a poesia pode salvar a vida do poeta, e talvez de algumas poucas pessoas. Assim como pode destruí-lo, como já aconteceu aos montes.
Para chegarmos mesmo ao âmago das coisas, precisamos perder a pretensão. Nos livrarmos do ego falastrão. Descascar os significados instituídos das palavras. As palavras mortas pelos usos mecânicos e repetitivos. O cara que faz um cartão de apresentação dizendo que é poeta já revela que não sabe do que está falando. A poesia não é uma instituição e ser poeta não é um cargo que possa ser ostentado. Pode ser um grande fardo, principalmente numa sociedade fadada ao desastre, consumista e imediatista como a nossa. Por isso precisamos cada vez mais de poetas e de boa poesia. E, devo dizer, da má poesia também.
11. ¿Cómo se siente el poeta en la sociedad?
Um pouco já respondi acima. Falando um pouco mais sobre isso, eu diria que o poeta quase sempre é um desajustado e inconformado com o que vê na sociedade. Ele vai aprendendo a identificar o que é ideologia onde todos vêem manifestação natural. É um chato, estraga prazeres. Está longe de ser aquele sentimentalóide que embala os namoricos e festas de altas sociedades. Ele, quando é autêntico, pôe o dedo em sua própria ferida, que fica exposta e sangrando sem dó… e muitas vezes, faz isso de uma forma bem musical… Veja este meu artigo.
12. ¿Por qué escribes poesía? ¿Qué te inspiro a hacerlo?
Me fascina a sonoridade das palavras e o discurso da inteligência que a poesia permite realizar. Creio que cheguei na poesia através da música. E aos poucos fui percebendo que levo jeito, intuitivamente, depois estudando e lendo outros poetas, buscando meu próprio jeito de fazê-la, etc. Aliás, a música é a musa de todos nós. Tudo conspira para se tornar música. Já escrevi sobre isso. Confira.
13. ¿Por qué se llama “Sortilegio” tu libro de poesía?
Sortilégio tanto pode ser uma coisa boa como má. É quase que sinônimo para feitiço, magia. Algo que está intrínseco em toda poesia que se preze, de todos os tempos, desde as culturas orais até as escritas e agora as que se utilizam dos recursos da web.
Uma definição de Sortilégio pode ser a seguinte: “Sedução ou fascinação exercida por dotes naturais ou por artifícios.” É a própria definição de poesia. Claro que na chave, clave, do artifício. Da construção. Da poiésis.
14. ¿Has escrito más libros? Cuéntame algo de ellos.
Estou com meu segundo livro de poesia pronto. Quero lançar por alguma editora que tenha um sistema de distribuição mais profissional, para que ele possa chegar ao maior número de pessoas possível. Você pode conferir em meu blog, vários poemas que certamente estarão neste segundo livro.
Preparo, também, uma adaptação para prosa do grande épico indiano, Mahabharata. Um trabalho hercúleo que está além de minhas capacidades, mas o farei.
15. Me llamó la atención del material que es hecho “Sortilégio” ¿Lo elegiste tú?
Sim. Sortilégio, como primeiro livro, é o sumo do que produzi nestes últimos 30 anos. Vários poemas foram reescritos, retrabalhados, retocados, como nosso querido João Gilberto retrabalha suas canções eleitas, com esmero. De mero José a impossível João. Aliás, meu primeiro nome é José. Você sabia?
A parte denominada “Parabolês”, são adaptações que fiz de parábolas budistas escritas em prosa.
16. ¿El símbolo que posee en la carátula tiene un significado especial?
Sim. É o símbolo do Oroboros. Tem muitos significados. Um deles é o eterno retorno. O ciclo transmigratório de Samsara. Paul Valery usou-o como símbolo do próprio pensamento que consome a si mesmo no ato de fazê-lo. Representa, também, a manifestação da linguagem, que se volta sobre si mesma em metalinguagem, que é uma característica essencial de toda poesia moderna.
17. ¿Cómo es concebida la literatura en la realidad brasileña?
A literatura brasileira é muito complexa, com inúmeras tendências, vertentes, igrejinhas, apóstolos e santos padroeiros. Geralmente quem se afina a uma tendência, ou igreja poética, tende a menosprezar e até a demonizar os autores que praticam outro tipo de poesia.
Por outro lado, devido ao grande poder cultural e econômico da região sudeste brasileira, impera a influência do modernismo (instigado pela “Semana de 22”, que aconteceu em São Paulo) e pelo retumbante e merecido sucesso mundial da “poesia concreta” (movimento poético que, também, surgiu em São Paulo, com os irmãos Haroldo e Augusto de Campo e Décio Pgnatari). Por conta disso, outras poéticas e práticas, principalmente aquelas que se desenvolviam em regiões do Brasil fora do eixo sul, não tiveram a recepção e crítica adequada, gerando uma multidão de consistentes poetas (outros incipientes) que simplesmente não são conhecidos, nem estudados no resto do país.
Os poetas jovens, que fazem a poesia brasileira atual, se ressentem dessa conjuntura toda. Muitos simplesmente são, ou epígonos da poesia concreta e modernista, ou reativos (a meu ver de forma não esteticamente saudável) a estas poéticas. Ambos procedimentos desastrosos para a linha evolutiva da poesia brasileira contemporânea.
Por outro lado, o Brasil teve/tem poetas tão grandiosos (como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Ferreira Gullar, Augusto de Campos, Manoel de Barros, Cecília Meireles, Mário Faustino, Haroldo de Campos, Paulo Leminski) que parecem sombrear os novos autores e seus respectivos projetos poéticos que demoram para mostrar uma dicção própria e interessante. A meu ver, muitos conseguiram e a cada mês novos poetas surgem aos borbotões. Os nomes que parecem ter conseguido seus leitores e uma boa recepção de seus projetos poéticos são: Renata Pallottini, Régis Bonvicino, Carlos Ávila, Fabrício Carpinejar, Frederico Barbosa, Bruno Tolentino, Armando Freitas Filho, Ivan Junqueira, Claudio Willer, Adélia Prado, Orides Fontella, Alexei Bueno, Ana Cristina César, Mario Quintana, entre outros que me fogem agora.
Concluindo, há poesia para todos os gostos. Aqueles que se dedicam as formas fixas, como sonetos, etc; aqueles que fazem uma poesia temática, urbana; aqueles que experimentam com a linguagem e com as formas; os que fazem uma poesia que se aproxima de aforismos; os que fazem poesia que parece prosa, a tão (mal) falada por aqui, prosa poética, e por aí vai. Poesia para todos os credos e adeptos…
18. ¿Cuál es el comportamiento que tiene la sociedad brasileña ante la literatura?
Literatura no Brasil é para poucos. Alta literatura, então, é para bem poucos: a elite pensante deste país. Os livros são caros. O escritor, normalmente, está distante de seu leitor. Talvez a Internet mude um pouco essa história. O Brasil é um país de analfabetos em todos os níveis.
19. Podrías decirme las cifras de cómo es el consumo de la literatura en el Brasil.
Bem… já que você pediu. Veja se me acompanha: 12% de nossa população é composta de Não Alfabetizados (21.269.591). 95,6 milhões de brasileiros declararam ter lido pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses. Sendo que 47,4 milhões leram livros indicados nas escolas e didáticos. 30% dos Alfabetizados, estão em um nível rudimentar de alfabetização, ou seja, só lêem e entendem o título de uma revista, um anúncio não muito complexo, data do início de vacinação, etc.
Temos, aproximadamente, 2.676 livrarias no país, sendo que 53% delas estão na região sudeste que lhe falei, a mais rica do país.
Engraçado é que o centro do poder, aparentemente lê pouco, ou vai pouco a livraria. Em nosso Distrito Federal só há 71 livrarias (3% do montante).
Com esse quadro acima dá para deduzir que o consumo de literatura é muito baixo. Lê-se muito auto-ajuda (ou melhor, compra-se muito, que é diferente de ler…), bestseller e Paulo Coelho (que é um fenômeno e nosso maior orgulho, he he…).
20. ¿Cómo concibes al mundo?
Estes dias estive assistindo ao filme “Quem somos nós” (título em português), que trata justamente de nossa visão de mundo, baseado nas novas idéias e experimentos da física quântica. É bom saber que o mundo/a realidade é o que nós queremos que ela seja. Claro que um querer relativo, pois está limitado pela nossa capacidade de ver com maior amplidão. Resta-nos, então, quebrar paradigmas e tentar com nossa transformação pessoal e ações interferir positivamente no mundo. Ele urge ser transformado para melhor. Enquanto o mundo não for uma sociedade pacífica e próspera pouco poderá ser efetivamente criado (pelo menos não tanto quanto potencialmente poderíamos…).
21. ¿Cambiarías algo de él? ¿Cómo?
Para mudarmos o mundo (que se faz necessário) é preciso mudarmos inicialmente a nós mesmos. O mundo é o que nós somos. Há um conceito no budismo que pratico (o budismo de Nitiren Daishonin) que chama-se Esho Funi, a inseparabilidade do ser e seu meio ambiente. Diz ele que, quando o ser muda o ambiente também se transforma e não ao contrário como imaginamos ou fomos ensinados. A física quântica mostrou que a afirmação budista de 3 mil anos atrás está certíssima.
Enquanto ficarmos esperando que algo mude lá fora, socialmente, políticamente, ou mesmo que a natureza se ajuste por um passe de mágica, nada mudará.
22. ¿Qué piensas de la poesía concreta? ¿Sabes algo de ella?
Gosto muito da poesia concreta. Ela é importantíssima para o Brasil, para os brasileiros e para o mundo. Talvez, seja nossa única criação de vanguarda estética, com uma fundamentação teórica e prática admirável. Ela tem consistência do início ao fim. A poesia concreta inovou em vários aspectos: depois de trazer para o primeiro plano o verbal e o visual, inovou no campo semântico, sintético, no léxico, no campo fonético, morfológico e no campo topográfico (o uso construtivo dos espaços brancos da página, a abolição do verso e a não-linearidade).
Agora, ela foi uma experiência estética inovadora e incubadora e não podemos fazer dela (nós, leitores ou autores) uma camisa de força. Precisamos seguir adiante, incorporando o que ela tem de melhor, aprendendo e descartando o que já não nos serve mais, ou o que virou instituição. A poesia tem que renascer sempre.
23. ¿Por qué tienes un site de literatura y un blog? ¿Tienes alguna finalidad en especial?
O site Cronópios é um projeto que visa mapear e dar espaço para a literatura contemporânea feita no Brasil, em um momento de efervescência criativa não assimilada pelas editoras e que a Internet veio desengavetar. É uma experiência muito rica. Para mim valeu como duas universidades de letras. Abri minha cabeça e expandi meu conhecimento da produção literária brasileira de uma maneira exponencial, além de estar fazendo muitos amigos e interlocutores.
O Blog é algo pessoal. Para exercitar a escrita, mostrar e sentir como se dá a recepção do que escrevo. Para me forçar a escrever. Estou gostando muito da experiência. Meu próximo livro foi construído basicamente a partir da escrita no blog.
[Entrevista para Carina Loyarte, Estudiante de Profesorado de Lengua y Literatura en el Centro Regional de Profesores del Este, en la ciudad de Maldonado, Uruguay, que faz monografia sobre meu livro Sortilégio. E-mail: carinaloyarte@hotmail.com]
Nasci em Ilhéus, no sul do estado da Bahia. Uma terra que foi palco de vários romances famosos de Jorge Amado (o escritor brasileiro mais conhecido no mundo, antes do fenômeno Paulo Coelho). Sou quase um velho, mas não aparento. Deve ser a herança genética misturada com africanos, holandeses e portugueses. Nasci em 1959, um ano depois da Bossa-Nova. Moro em São Paulo, cidade cosmopolita, desde os anos sessenta. Quando veio o golpe militar, em 1964, já estava por aqui. Vi os milicos de perto. Não sabia do que se tratava.
2. ¿Cómo fue tu infancia y tu adolescencia? ¿Quiénes son tus padres?
De minha infância não lembro muita coisa. Acho que não foi nada boa, nada aconchegante. Sempre em lugares que não eram meus. Minha mãe, Laurinda, se separou de meu pai, João, e veio para São Paulo. Ela diz que meu pai era militar e à noite cantava e tocava em boates pela cidade. Chegava em casa cheirando a álcool e a outras mulheres. Minha mãe não aguentou e pediu ajuda para sua irmã, Maria, que trabalhava em São Paulo, numa casa de família, como empregada doméstica. Eles nos hospedaram por dois anos. Eram ricos. Depois, minha mãe, que chegou grávida e teve meu irmão Luiz em São Paulo, arrumou um emprego e nos deixou morando em um bairro da periferia, na casa de seu irmão João. Não tenho boas lembranças deste período, pois minha tia não gostou nada da idéia de cuidar de mais dois pirralhos, fora os que ela já tinha. Minha mãe trabalhava durante a semana toda como empregada e só aparecia aos domingos, às vezes no sábado. Sofri muito neste período, mas fui crescendo.
Aos cinco anos minha mãe se casa novamente e, finalmente, a família se reune. Vamos morar todos juntos. Me lembro até hoje do trajeto que fizemos de trem da periferia até a Estação da Luz, onde descemos e fomos a pé até nossa casa. Era uma sensação de que algo que havia se quebrado estava começando a se recompor. Se fosse possível queria ser feliz. Foram anos de pobreza, mas de felicidade. Fui crescendo, entrei na escola, minha família aumentou. Lembro-me da quantidade imensa de pulgas que havia em casa. Depois, ratos, mas era tudo estimulante. Eu tinha minha família agora. Tinha amigos, gostava de estudar, de aprender.
Lembro-me que logo que aprendi a escrever fiz uma redação para o curso primário que a professora gostou muito. Leu em voz alta na classe. Tinha um trecho que dizia que era manhã de sábado, e no ar havia um cheiro de felicidade. A classe toda não entendeu. Como é que a felicidade pode ter cheiro. A professora entendeu e explicou para a moçadinha. Eu vibrei. Ali vislumbrei que poderia ser diferente e me expressar da forma que quisesse.
Quando estava entrando na adolescência, um padre (sim, eu frequentava as missas aos domingos… nem sei como cheguei lá… acho que foi através da primeira comunhão, curso de catecismo, estas coisas…) perguntou se eu não queria estudar no Seminário para me tornar um Padre. Me seduziu com as coisas boas que haveria por lá, como por exemplo, um pomar, uma biblioteca, um campo de futebol, uma piscina, etc.
Fiquei fascinado com a idéia de aprender Latim, Francês, ter uma biblioteca onde pudesse ler o que quisesse, conhecer outras coisas fora da pobreza de minha família. Topei.
Minha família adorou a idéia. Sim, eles pensavam, agora ele seria alguém. Se não pode ser médico ou advogado, pelo menos vai ser Padre.
Fui. Vi. Gostei de muitas coisas e detestei outras. Amadureci um pouco tendo que cuidar de minhas coisas, competir com os outros meninos, estar sozinho, ter que fazer amizades estratégicas, etc. Estudei bastante, li muita coisa da biblioteca. Aprendi a nadar e o principal, aprendi a tocar violão. O violão foi meu grande companheiro por toda a adolescência e na vida adulta. Quase virei músico profissional. Cheguei a estudar música muito tempo, composição, regência, violão erudito, cantar na noite, etc. A música me salvou. Me aproximou das pessoas e expandiu meu círculo de influência e minha percepção do mundo. Sou o que sou hoje graças as minhas leituras e a música. A escrita veio depois, ou melhor, acompanhou este processo todo, mas despreocupadamente, sem compromissos.
3. ¿Qué estudios realizaste?
Estudei alguns anos em Seminário, colégio para formação de padres, que me proporcionou o contato com muitas coisas: um pouco de espanhol, latim, francês, música. Depois, já fora do Seminário, fiz quase o curso completo de Psicologia; depois um pouco de formação em terapia reichiana. Estudei um pouco de composição e regência na Universidade e também um pouco de violão erudito e canto, com professores particulares. Também estudei um pouco de estética e misticismo com um professor genial aqui de São Paulo. Atualmente, termino o curso de Letras na Universidade de São Paulo – USP.
4. ¿Influencias filosóficas?
Sim. Várias. Nada muito aprofundado, mas sempre fui um leitor voraz e indisciplinado. Li muito Nietzsche e um pouco de Schopenhauer. Li, também, muita coisa do Oriente. Budismo. Taoismo. Pratico o budismo de Nitiren Daishonin há 15 anos e leio com frequência o filósofo, poeta e pacifista Daisaku Ikeda, que vem iluminando meu caminho e de minha esposa. Em suma, busco cada vez mais o humanismo e uma ação diária que gere valor, sempre embasado na consciência de causa e efeito.
5. ¿Algún poeta o persona que te haya inspirado en tu labor poética?
Todos os poetas que admiro me inspiraram ou inspiram de alguma forma: Carlos Drummond de Andrade, Augusto de Campos, Manoel de Barros, Rabindranath Tagore, Manuel Bandeira, Matsuo Bashô, Fernando Pessoa, Baudelaire, Jorge Luis Borges, Paulo Leminski e tantos outros…
6. ¿Cuál es tu hobby?
Assistir filmes em DVD, ouvir música e tocar violão.
7. ¿Podes contarme algo de un gran amor que hayas tenido en tu vida?
Meu grande amor é a mulher com que estou casado desde 2002 e com quem tenho uma pérola chamada Sophia. Foi com ela, Eliane, que decidi e senti o desejo de constituir uma família — algo que nunca havia sentido em relacionamentos anteriores. Veja o texto que escrevi quando do nascimento de Sophia.
8. ¿Qué es la poesía para ti?
Em cada momento de minha vida a poesia representou alguma coisa. Descobrimento de mim mesmo. Descobrimento do outro e de outras formas de encarar e dizer a vida. Hoje, ela representa um caminho que sigo lapidando; uma constante labuta com a palavra, com a forma e com o inesperado da expressão alinhavada em um poema. Tudo pode ser motivo ou tema da poesia, pois ela representa um sentimento do mundo que nos irmana, ao mesmo tempo que nos delimita enquanto diferenças. É pura magia, quando ela realmente acontece. Feitiço, como digo em um de meus poemas…
Feitiço
algo assim tão
inatural
que chega a ser
outra natureza
algo sim não
mais factício
por demais tal
coisa feita
que de tão artifício
vira arte
vira livro
vira ofício
9. ¿Qué es el poeta para ti? ¿Qué rol cumple en la sociedad si lo cumple? ¿o que rol cumple?
O poeta é um fazedor de inutensílios que tornam-se cada vez mais necessários. O poema em si não serve para nada. Não tem finalidade alguma. Nem mesmo emocionar como querem alguns. Ele apenas existe, como uma flor ou uma pedra. Nós é que damos finalidade para ele. A cultura é que precisa, eventualmente, de sua existência para nutrir-se e oxigenar-se. O poeta é alguém que decide, por vontade ou por imperiosa necessidade, dedicar-se à revelação que pode ressignificar o uso das palavras. A música inscrita na partitura dos fonemas e da semântica. Veja meu poema “Palimpsesto”:
palimpsesto
toda poesia já
escrita
não se equipara
a toda poesia
inscrita
a poesia jaz
10. ¿Cómo es la vida del poeta?
Como a de outro ser humano qualquer. O poeta não tem nada de especial. Ele pode até, como já existiram alguns, ser um assassino e usar muito bem as palavras. O poeta não está livre de seu carma. E quando ele se manifesta não há sentimento poético que possa encobri-lo. Mas é claro que a poesia pode salvar a vida do poeta, e talvez de algumas poucas pessoas. Assim como pode destruí-lo, como já aconteceu aos montes.
Para chegarmos mesmo ao âmago das coisas, precisamos perder a pretensão. Nos livrarmos do ego falastrão. Descascar os significados instituídos das palavras. As palavras mortas pelos usos mecânicos e repetitivos. O cara que faz um cartão de apresentação dizendo que é poeta já revela que não sabe do que está falando. A poesia não é uma instituição e ser poeta não é um cargo que possa ser ostentado. Pode ser um grande fardo, principalmente numa sociedade fadada ao desastre, consumista e imediatista como a nossa. Por isso precisamos cada vez mais de poetas e de boa poesia. E, devo dizer, da má poesia também.
11. ¿Cómo se siente el poeta en la sociedad?
Um pouco já respondi acima. Falando um pouco mais sobre isso, eu diria que o poeta quase sempre é um desajustado e inconformado com o que vê na sociedade. Ele vai aprendendo a identificar o que é ideologia onde todos vêem manifestação natural. É um chato, estraga prazeres. Está longe de ser aquele sentimentalóide que embala os namoricos e festas de altas sociedades. Ele, quando é autêntico, pôe o dedo em sua própria ferida, que fica exposta e sangrando sem dó… e muitas vezes, faz isso de uma forma bem musical… Veja este meu artigo.
12. ¿Por qué escribes poesía? ¿Qué te inspiro a hacerlo?
Me fascina a sonoridade das palavras e o discurso da inteligência que a poesia permite realizar. Creio que cheguei na poesia através da música. E aos poucos fui percebendo que levo jeito, intuitivamente, depois estudando e lendo outros poetas, buscando meu próprio jeito de fazê-la, etc. Aliás, a música é a musa de todos nós. Tudo conspira para se tornar música. Já escrevi sobre isso. Confira.
13. ¿Por qué se llama “Sortilegio” tu libro de poesía?
Sortilégio tanto pode ser uma coisa boa como má. É quase que sinônimo para feitiço, magia. Algo que está intrínseco em toda poesia que se preze, de todos os tempos, desde as culturas orais até as escritas e agora as que se utilizam dos recursos da web.
Uma definição de Sortilégio pode ser a seguinte: “Sedução ou fascinação exercida por dotes naturais ou por artifícios.” É a própria definição de poesia. Claro que na chave, clave, do artifício. Da construção. Da poiésis.
14. ¿Has escrito más libros? Cuéntame algo de ellos.
Estou com meu segundo livro de poesia pronto. Quero lançar por alguma editora que tenha um sistema de distribuição mais profissional, para que ele possa chegar ao maior número de pessoas possível. Você pode conferir em meu blog, vários poemas que certamente estarão neste segundo livro.
Preparo, também, uma adaptação para prosa do grande épico indiano, Mahabharata. Um trabalho hercúleo que está além de minhas capacidades, mas o farei.
15. Me llamó la atención del material que es hecho “Sortilégio” ¿Lo elegiste tú?
Sim. Sortilégio, como primeiro livro, é o sumo do que produzi nestes últimos 30 anos. Vários poemas foram reescritos, retrabalhados, retocados, como nosso querido João Gilberto retrabalha suas canções eleitas, com esmero. De mero José a impossível João. Aliás, meu primeiro nome é José. Você sabia?
A parte denominada “Parabolês”, são adaptações que fiz de parábolas budistas escritas em prosa.
16. ¿El símbolo que posee en la carátula tiene un significado especial?
Sim. É o símbolo do Oroboros. Tem muitos significados. Um deles é o eterno retorno. O ciclo transmigratório de Samsara. Paul Valery usou-o como símbolo do próprio pensamento que consome a si mesmo no ato de fazê-lo. Representa, também, a manifestação da linguagem, que se volta sobre si mesma em metalinguagem, que é uma característica essencial de toda poesia moderna.
17. ¿Cómo es concebida la literatura en la realidad brasileña?
A literatura brasileira é muito complexa, com inúmeras tendências, vertentes, igrejinhas, apóstolos e santos padroeiros. Geralmente quem se afina a uma tendência, ou igreja poética, tende a menosprezar e até a demonizar os autores que praticam outro tipo de poesia.
Por outro lado, devido ao grande poder cultural e econômico da região sudeste brasileira, impera a influência do modernismo (instigado pela “Semana de 22”, que aconteceu em São Paulo) e pelo retumbante e merecido sucesso mundial da “poesia concreta” (movimento poético que, também, surgiu em São Paulo, com os irmãos Haroldo e Augusto de Campo e Décio Pgnatari). Por conta disso, outras poéticas e práticas, principalmente aquelas que se desenvolviam em regiões do Brasil fora do eixo sul, não tiveram a recepção e crítica adequada, gerando uma multidão de consistentes poetas (outros incipientes) que simplesmente não são conhecidos, nem estudados no resto do país.
Os poetas jovens, que fazem a poesia brasileira atual, se ressentem dessa conjuntura toda. Muitos simplesmente são, ou epígonos da poesia concreta e modernista, ou reativos (a meu ver de forma não esteticamente saudável) a estas poéticas. Ambos procedimentos desastrosos para a linha evolutiva da poesia brasileira contemporânea.
Por outro lado, o Brasil teve/tem poetas tão grandiosos (como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Ferreira Gullar, Augusto de Campos, Manoel de Barros, Cecília Meireles, Mário Faustino, Haroldo de Campos, Paulo Leminski) que parecem sombrear os novos autores e seus respectivos projetos poéticos que demoram para mostrar uma dicção própria e interessante. A meu ver, muitos conseguiram e a cada mês novos poetas surgem aos borbotões. Os nomes que parecem ter conseguido seus leitores e uma boa recepção de seus projetos poéticos são: Renata Pallottini, Régis Bonvicino, Carlos Ávila, Fabrício Carpinejar, Frederico Barbosa, Bruno Tolentino, Armando Freitas Filho, Ivan Junqueira, Claudio Willer, Adélia Prado, Orides Fontella, Alexei Bueno, Ana Cristina César, Mario Quintana, entre outros que me fogem agora.
Concluindo, há poesia para todos os gostos. Aqueles que se dedicam as formas fixas, como sonetos, etc; aqueles que fazem uma poesia temática, urbana; aqueles que experimentam com a linguagem e com as formas; os que fazem uma poesia que se aproxima de aforismos; os que fazem poesia que parece prosa, a tão (mal) falada por aqui, prosa poética, e por aí vai. Poesia para todos os credos e adeptos…
18. ¿Cuál es el comportamiento que tiene la sociedad brasileña ante la literatura?
Literatura no Brasil é para poucos. Alta literatura, então, é para bem poucos: a elite pensante deste país. Os livros são caros. O escritor, normalmente, está distante de seu leitor. Talvez a Internet mude um pouco essa história. O Brasil é um país de analfabetos em todos os níveis.
19. Podrías decirme las cifras de cómo es el consumo de la literatura en el Brasil.
Bem… já que você pediu. Veja se me acompanha: 12% de nossa população é composta de Não Alfabetizados (21.269.591). 95,6 milhões de brasileiros declararam ter lido pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses. Sendo que 47,4 milhões leram livros indicados nas escolas e didáticos. 30% dos Alfabetizados, estão em um nível rudimentar de alfabetização, ou seja, só lêem e entendem o título de uma revista, um anúncio não muito complexo, data do início de vacinação, etc.
Temos, aproximadamente, 2.676 livrarias no país, sendo que 53% delas estão na região sudeste que lhe falei, a mais rica do país.
Engraçado é que o centro do poder, aparentemente lê pouco, ou vai pouco a livraria. Em nosso Distrito Federal só há 71 livrarias (3% do montante).
Com esse quadro acima dá para deduzir que o consumo de literatura é muito baixo. Lê-se muito auto-ajuda (ou melhor, compra-se muito, que é diferente de ler…), bestseller e Paulo Coelho (que é um fenômeno e nosso maior orgulho, he he…).
20. ¿Cómo concibes al mundo?
Estes dias estive assistindo ao filme “Quem somos nós” (título em português), que trata justamente de nossa visão de mundo, baseado nas novas idéias e experimentos da física quântica. É bom saber que o mundo/a realidade é o que nós queremos que ela seja. Claro que um querer relativo, pois está limitado pela nossa capacidade de ver com maior amplidão. Resta-nos, então, quebrar paradigmas e tentar com nossa transformação pessoal e ações interferir positivamente no mundo. Ele urge ser transformado para melhor. Enquanto o mundo não for uma sociedade pacífica e próspera pouco poderá ser efetivamente criado (pelo menos não tanto quanto potencialmente poderíamos…).
21. ¿Cambiarías algo de él? ¿Cómo?
Para mudarmos o mundo (que se faz necessário) é preciso mudarmos inicialmente a nós mesmos. O mundo é o que nós somos. Há um conceito no budismo que pratico (o budismo de Nitiren Daishonin) que chama-se Esho Funi, a inseparabilidade do ser e seu meio ambiente. Diz ele que, quando o ser muda o ambiente também se transforma e não ao contrário como imaginamos ou fomos ensinados. A física quântica mostrou que a afirmação budista de 3 mil anos atrás está certíssima.
Enquanto ficarmos esperando que algo mude lá fora, socialmente, políticamente, ou mesmo que a natureza se ajuste por um passe de mágica, nada mudará.
22. ¿Qué piensas de la poesía concreta? ¿Sabes algo de ella?
Gosto muito da poesia concreta. Ela é importantíssima para o Brasil, para os brasileiros e para o mundo. Talvez, seja nossa única criação de vanguarda estética, com uma fundamentação teórica e prática admirável. Ela tem consistência do início ao fim. A poesia concreta inovou em vários aspectos: depois de trazer para o primeiro plano o verbal e o visual, inovou no campo semântico, sintético, no léxico, no campo fonético, morfológico e no campo topográfico (o uso construtivo dos espaços brancos da página, a abolição do verso e a não-linearidade).
Agora, ela foi uma experiência estética inovadora e incubadora e não podemos fazer dela (nós, leitores ou autores) uma camisa de força. Precisamos seguir adiante, incorporando o que ela tem de melhor, aprendendo e descartando o que já não nos serve mais, ou o que virou instituição. A poesia tem que renascer sempre.
23. ¿Por qué tienes un site de literatura y un blog? ¿Tienes alguna finalidad en especial?
O site Cronópios é um projeto que visa mapear e dar espaço para a literatura contemporânea feita no Brasil, em um momento de efervescência criativa não assimilada pelas editoras e que a Internet veio desengavetar. É uma experiência muito rica. Para mim valeu como duas universidades de letras. Abri minha cabeça e expandi meu conhecimento da produção literária brasileira de uma maneira exponencial, além de estar fazendo muitos amigos e interlocutores.
O Blog é algo pessoal. Para exercitar a escrita, mostrar e sentir como se dá a recepção do que escrevo. Para me forçar a escrever. Estou gostando muito da experiência. Meu próximo livro foi construído basicamente a partir da escrita no blog.
[Entrevista para Carina Loyarte, Estudiante de Profesorado de Lengua y Literatura en el Centro Regional de Profesores del Este, en la ciudad de Maldonado, Uruguay, que faz monografia sobre meu livro Sortilégio. E-mail: carinaloyarte@hotmail.com]
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