04 julho 2009

Oniá: oO Murmurador na noite



[poema inédito de Vicente Franz Cecim]


Como uma Construção erguida para baixo


rio em Silêncio, e serpentes: A Palavra
interminavel

mente
calada

mente de Aves Profundas

e um Carrilhão de Luz

soando na Penumbra dos Seus Olhos,

dAquilo que escurece
as manhãs de cinzas
as pedras dos dedos da Oração

quando o mais Alto se ergue

e depõe o Muro Branco das Idades
como Transparência

no deserto Inundado
dos Teus sonhos: Cílio

da Carne,

e Rumor de Bosque Escuro

Curva dos Lábios
que não dizem - Rio

lá, onde
a Água Escura de um Abismo


Aquele que teve os olhos Selados
já não aguarda a Aurora das Virtudes: o Guardião de Sombras


Aurora das virtudes

Quando a terra se abre aos nossos pés,
quando a terra se abriu aos nossos pés

e vindo a ausência da Ausente, veio a Ausência
do ausente

e A que devorávamos na Sombra estava atrasada, e vindo


a que esperávamos estava atrasada


Caminho lento
que a terra ainda não abrira aos nossos pés

ainda Tantas vezes O teu silêncio e a Pálpebra
que não quis nos ver


Tantas vezes o Conselho: Soluça sem espreitas


Tu me nutriste de Escombros,
como uma construção erguida para baixo
não eram os passos

Vocação de Olhos mais Escuros
quando a mão se abriu

para tocar O céu


Não eram os Passos dos que vieram antes


Sim


Quando a Árvore sem tréguas descer do céu

como saber: Se um homem vem por degraus

no coração da nave submersa nos Seus Olhos,


antes
que a Inquietante fale as Palavras
mas não após o silêncio das Virtudes

indo
ao Encontro das lápides Flutuantes e das Águas
se erguendo para a Sede

e na penumbra oh na Penumbra
de um Encanto

e
da Esfera tombada no Caminho
por Onde ainda Passam os que passaram antes
Na penumbra oh na Penumbra,

enquanto espera a tempestade, a: Tempestade

nos


Repousos

dos

Teus

Passos


Lodo das espécies


As Catedrais de Luzes já foram semeadas
no Centeio Negro

e não te voltas para colher a Sombra

O
Que Ora está ausente
onde murmura Silêncio a Serpente

Agora aquele que aguardou a Alvura
despertou na névoa e sem olhos

Agora, Aquilo se lançou nas Águas e
sem guelras
Nenhum Cílio

desvia o Pó de um homem das Visões
do Florescer
ao Fenecer
da vida,

indo


tu serás o Escombro de Lágrimas

Canto Mais Impuro
O
cantando
Se um Oceano de pedras descesse
uma palavra Não te espera



Reino que Se curva


Quando a Mente, sem espinhos,
torturou Teu Sangue

veio a lágrima

e O orvalho te doou


O Lago


Na Solidão
se tinge o Lodo


Ainda é a carne a Submersa na pedra
que o teu Dom adormece



Estação das seivas


Não era a Infância ainda,
pois foi antes

Instante

sem tempo, O cancelado instante
de Ressurreições

do Pó


enteNoite
ente de murmúrios: uma semente,
apenas Uma bastaria, Escura

Se
no Silêncio de Seivas em que nasceste

o teu Luar acolhesse a serpente



Corpo nu da Demanda profunda


aquele que Tomba,

quando virá à Tona coberto de Cinzas

quando dará às Fontes suas mãos de Encantos em ruínas até
à Seca folha lágrima Raiz da Desfolhada não nascida

quando dirá ao outroO
nascendo do seu Lado Esquerdo com a ferrugem
das Catedrais partidas
- Busca

O ourO Escuro


para onde, para onde


Irá
indo,
indo

com sua imortalidade de lençóis de Alvura: O naufragado em terra,
caminhando sobre águas brancas que não vê


de despedidas de reencontros de Trevas murmurantes
Pedra de Queda como um fruto; o Fruto O

que alcança a outra margem: Oo

Fervor de Limo
Levanta vôo para baixo


Quando obterá a recusa da Envolvente?

e o Não lhe será um Dom
de Indiferença

que poupará, por Desprezo
que poupará, pelo silêncio



VICENTE FRANZ CECIM nasceu e vive em Belém do Pará, na Amazônia, Brasil. Desde que iniciou em 1979 a invenção de Viagem a Andara oO livro invisível, se devota unicamente a essa obra imaginária, que chama de literatura fantasma e diz escrever com tinta invisível. Os livros visíveis que escreve emergem dessa Viagem, ou, segundo o autor, não-livro, ambientados no território metafísico e físico de Andara, transfiguração da Amazônia em região-metáfora da vida. Em 1980, recebeu o prêmio Revelação de Autor da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte, por sua segunda obra, Os animais da terra. Ao longo dos sete primeiros livros de Andara prosseguiu abolindo as fronteiras entre prosa e poesia. Publicados inicialmente pela Iluminuras no volume Viagem a Andara, receberam, em 1988, o Grande Prêmio da Crítica da APCA, nessa década somente atribuído também a Hilda Hilst, Cora Coralina, Mario Quintana e, na seguinte, a Manoel de Barros. Em novas versões, transcriados pelo autor e reunidos nos volumes A asa e a serpente e Terra da sombra e do não, foram reeditados em edição comemorativa, pela Cejup, em 2004. Em 1994, Silencioso como o Paraíso, lançado pela Iluminuras com mais quatro livros de Andara, em que o autor reafirma sua disposição de converter a literatura em pura escritura, foi aclamado por Leo Gilson Ribeiro como “um dos mais perfeitos livros surgidos no Brasil nos últimos dez anos.” Desde então, suas novas obras passaram a ser publicados apenas em Portugal. Em 2001, a Íman lançou Ó Serdespanto, livro duplo, em que a palavra cada vez mais aprofunda o seu dialogo com o silêncio, aqui reeditado em 2006 pela Bertrand Brasil. Apontado pela crítica portuguesa, no jornal Público, como o segundo melhor lançamento do ano, Cecim foi saudado por Eduardo Prado Coelho como “Uma revelação extraordinária!” K O escuro da semente, que saiu em Portugal pela Ver o Verso em 2005 e tem lançamento previsto, no Brasil, pela Bertrand, inaugurou uma outra fase em sua linguagem, que o autor denomina Iconescritura. Fase que se prolonga em seu livro mais recente, lançado em 2008 pela Tessitura, de Minas Gerais: oÓ: Desnutrir a pedra. Nesta obra, o autor aprofunda sua demanda de uma nova escritura, mesclando palavra, silêncio da página em branco e imagem. Diz que durante esses anos todos, Andara lhe desvelou que “o natural é sobrenatural, o sobrenatural é natural.” Em 2009, a invenção de Andara atinge 30 anos de criação. E-mail: andara@nautilus.com.br

2 comentários:

  1. Caro Edson, muito prazer em conhecê-lo. Há tempos leio e desfruto do cronópios e do sambaquis. Agradeço e parabenizo. Agora cinquentenário, resolvi assumir a poesia de forma mais concreta e dou o saldo exatamente daqui. Nos veremos pela net. Sucesso e força sempre. Abraço, Sidnei

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  2. Olá poeta, tudo bem? Estou reunindo um grupo para uma antologia. Gostaria de participar esse seu poema ou outro trabalho de mesmo nível?
    Por favor, entre em contato! Qualquer dúvida, entre na LITERATURA CLANDESTINA.
    Abraço
    Elenilson
    elenilsonascimento@ig.com.br
    http://www.literaturaclandestina.blogspot.com/
    http://poemasdemilcompassos.blogspot.com/

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