Mostrando postagens com marcador poesia à queima-roupa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poesia à queima-roupa. Mostrar todas as postagens

02 abril 2010

DiOli à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

poemas
são como vaga-lumes
são sensações dispersas
- brilham -
ora grandes
ora pequenas

vaga-lumes e pirilampos
são formas de poemas
:
quando cintilam
já se foram
pelos ares
pelos campos

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Ler: Ler: Ler.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que estas escolhas?

FERNANDO PESSOA – Pela vastidão e diversidade poética e principalmente por ensinar que a poesia simplesmente acontece “como dar-me o sol de fora”.
NICOLAS BEHR – Além de ser um expoente da famosa “geração mimeógrafo”, que abriu outros caminhos para a poesia além das estradas privativas da “camöenidade acadêmico-literária”, ler Nicolas Behr é conhecer as partes íntimas de Brasília sem ter que ir até lá.
DIETER ROOS – Filósofo, pintor e poeta universal/primitivista/africano nascido alemão, que escreve poesia para ser “pintada em paredes de cavernas urbanas” e que me ensinou que a poesia está em todas as coisas e que um homem pode ser grande sem perder a humildade.


David Willian de Oliveira, diOli, nasceu em Divinópolis-MG. É co-editor dos folhetos BARKAÇA de poesias e artes visuais (http://www.barkaca.blogspot.com/). Tem poemas, videopoemas e performances divulgados/publicados na internet e em jornais de literatura de Minas Gerais. E-mail: dioli@rocketmail.com

05 janeiro 2010

Reynaldo Bessa à queima-roupa



1) O que é poesia para você?


Prefiro começar citando um poeta brasileiro, Moacir Amâncio: “Ao tentar dizer, desdigo o não dito” Agora vamos lá. Já me sinto pisando o cadafalso: Poesia é o hino de uma nação inexistente. O buraco da fechadura que dá pra outro buraco de outra fechadura que dá pra outro buraco e outros tantos buracos. Poesia é o que paira entre o que foi captado (por um grande poeta, obviamente!) e o que vai ser escrito: Um vacilo, e já era o que ia ser dito. É como um tiro que parte de uma esquina deserta, bem no meio do peito. É como uma beldade caminhando solitária ao longe, dentro da escuridão e exalando um bom perfume que vez ou outra nos chega trazido pelo vento, mas é certo que nunca conheceremos essa beldade. A poesia nunca nasceu e, portanto nunca morre. Não dê ouvidos aos vaticinadores. Poesia é como o fígado de Prometeu. Poesia não é a Fênix, mas sim as cinzas de si mesma. Um homem se atira do décimo quinto andar: O que está entre o salto e o impacto é poesia. É o que oscila entre o que você foi, é e será. Mas esqueça tudo o que eu acabei de dizer. Poesia é. Apenas deixemo-la na varanda do infinito, esparramada em sua espreguiçadeira.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Que só há uma única oportunidade de se escrever a própria história, portanto não a desperdice contando a história dos outros. Borges dizia que o escritor é o leitor que escreve, mas não sei se um poeta se faz lendo muito, mas se você não é verdadeiramente um poeta, no final não terá perdido nada, ou seja, terá lido muito, isso é bom. Então, leia muito, mas só o que é bom (se você está lendo esse artigo, é porque sabe separar o bom do resto, não?) depois leia tudo de novo e se possível toque algum instrumento, de preferência um alaúde, uma cítara ou uma harpa, nunca um berimbau. Por diversos ângulos, tente dizer a mesmíssima coisa, a exaustão, e no final assoe o nariz com o resultado. Nunca se sinta pronto. Um poeta pronto é um poeta morto. E pra reforçar isso tudo, cito Quintana: Um poeta satisfeito não satisfaz. Depois saia pra dar algumas voltas, fazer amor e tomar uns tragos. Divirta-se, principalmente isso.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que estas escolhas?

Ah! Pessoa com suas desassossegadas semeaduras. Murilo Mendes e sua precisão com o dedo em riste, Gullar, ah! Gullar e seus Poemas Sujos com as páginas coladas umas nas outras de tanta poesia. Quintana com seus “desaforismos” e puta merda, Bukowski que me alertou para a poesia sob as saias das mulheres, nos balcões de botecos ensebados, na música de Mozart ou numa briga de rua. Mas tem mais. Pound, Verlaine, Rimbaud, Baudelaire, (não há como fugir desses. Tente?) Manoel imprescindível de Barros, Cacaso, Drummond. E ai tem uma geração de malucos geniais que leio e que depois, maravilhado vou tomar umas brejas com eles e falar sobre seus livros: Ademir Assunção, Carpinejar, Chacal, Edson Cruz, Frederico Barbosa, Nicolas Behr, Wilmar Silva, Ricardo Aleixo, Ricardo Corona, Ricardo Silvestrin, Victor Paes, Marcio-André, mas tem a prosa também: Reinaldo Moraes, Fante (“1933...foi um ano ruim” é meu predileto) , Kerouac, Henry Miller, Bukowski, Mirisola, Céline, Bataille, Philip Roth...(Complexo de Portnoy é um esporro de poesia...e mais...) blá, blá, blá,

Mas acho que perdi o fio da meada. Qual foi a primeira pergunta mesmo?



Reynaldo Bessa é cantor, compositor, violonista e poeta. Nasceu em Mossoró-RN e está radicado em São Paulo há vinte anos. Já lançou cinco cds. O mais recente é “Com os dentes...” músicas suas sobre poemas de diversos autores brasileiros que vai de Alphonsus de Guimaraens à Carpinejar, passando por Leminski e Drummond. Bessa tem poemas e contos publicados em diversas revistas e suplementos literários espalhados pelo país e exterior. Em 2008 lançou seu primeiro livro “Outros Barulhos” poemas. Este entrou na lista dos livros finalistas do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2009 e venceu o 51º Prêmio Jabuti na categoria poesia. Site: www.reynaldobessa.com.br E-mail: contato@reynaldobessa.com.br

27 novembro 2009

Gustavo Felicíssimo à queima-roupa



O que é poesia para você?

O conceito de poesia é muito amplo, o que se transformou em um problema para a grande arte. Parodiando Pessoa eu poderia dizer que há poesia bastante no pôr-do-sol em Itapuã da mesma forma que em um assassinato. Agora, transformar essas matérias em um poema é que são elas.

O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Eu acredito, como Mário de Andrade, que o poeta é um ser fatalizado. Ou seja: nasce-se poeta. E por mais que se leia, caso o leitor não seja um poeta, jamais chegará a sê-lo. No máximo ele poderá ser um grande leitor e, se insistir, um poeta irregular, como a maioria, aliás. Ao poeta, aquele que diz a si mesmo e acredita não poder viver sem poesia, como sugere Rilke, cabe ler de maneira atenta os grandes artesãos do verso de todos os tempos, escolas e nacionalidades. Também ao poeta se pede estudo e dedicação, conhecimento formal, inclusive de versificação. Isso vale, também, àqueles que se dizem vanguardistas ou iconoclastas, pois não se pode desconstruir o que não se sabe construir. Aos admiradores do modernismo paulista eu diria que o verso é livre, mas nunca fora frouxo.

Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que estas escolhas?

Os poetas que mais gosto e admiro são: o pernambucano Alberto da Cunha Melo, sobre o qual já produzi vários ensaios, alguns deles publicados pelo Cronópios. Toda a sua obra é importante para mim, mas se tiver que escolher algum poema dele eu escolheria “Casa Vazia”, onde ele diz: Poema nenhum, nunca mais,/ será um acontecimento:/ escrevemos cada vez mais/ para um mundo cada vez menos. Que porrada, hein! Outro poeta de minha admiração é o baiano Ildásio Tavares. Ildásio, além de excelente poeta, possui uma obra vastíssima e é um grande mestre. Muitos poetas aqui da Bahia marcham nos finais de semana para sua casa a fim de se instrumentalizarem. O “home” sabe muito e eu tenho o privilégio da sua amizade. Também escrevi sobre sua obra e de sua lavra eu destaco o poema “Canto do Homem Cotidiano”, do qual trago aqui um excerto: (...) Por isso eu canto a luta sem memória/ Desse homem que perde, e não se ufana/ De no rosário de derrotas várias/ E de omissões, e condições precárias/ Poder contar com uma só vitória/ Que não se exprime nas mentiras tantas/ Espirradas sem medo das gargantas/ Mas sim no que ele vence sem saber/ E não se orgulha, campeão na história/ Da eterna luta de sobreviver. E o que dizer de Bruno Tolentino? Um fora de série total. Um poeta que, como os grandes, sempre primou pela eufonia. Seu poema que mais me agrada é “Nihil Obstat”, que corre assim:

É preciso que a música aparente
no vaso harmonizado pelo oleiro
seja perfeitamente consistente
com o gesto interior, seu companheiro

e fazedor. O vaso encerra o cheiro
e os ritmos da terra e da semente
porque antes de ser forma foi primeiro
humildade de barro paciente.

Deus, que concebe o cântaro e o separa
da argila lentamente, foi fazendo
do meu aprendizado o Seu compêndio

de opacidades cada vez mais claras,
e com silêncios sempre mais esplêndidos

foi limando, aguçando o que escutara.


Como sou chegado à exegese, também leio alguns críticos, pelos mais variados motivos. Um livro fundamental para se prevenir contra a falta de valores que se alastra pela nossa poesia é “Gênios”, de Harold Bloom. Outro texto imperdível é ”A Arte de Escrever”, do Schopenhauer. A L&PM o lançou em versão de bolso. Também presto muita atenção no que diz Affonso Romano de Sant’Anna em seu blog: http://www.affonsoromano.com.br/. Acho que é o bastante.


Gustavo Felicíssimo é poeta, ensaísta e pesquisador. Trabalha com preparação de textos para editoras e poetas. Fundou em Salvador, juntamente com outros poetas, o tablóide literário SOPA, do qual foi seu editor. Edita o blog Sopa de Poesia: www.sopadepoesia.blogspot.com

21 julho 2009

Eunice Arruda à queima-roupa


[foto: Juan Esteves]


1 – O que é poesia para você?

A poesia, para mim, é uma das formas de viver. Que está incorporada em meus dias. Significa captar, no cotidiano (ou em outra dimensão que não ouso nomear), as emoções. Os pensamentos. Para depois devolvê-los ao mundo transformados em outra linguagem: a da poesia. Mas, muitas vezes, abandonei este caminho – a estrada real – para conhecer o atalho. Visitar a cor de outras ramagens.

2 – O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Um iniciante – que para mim são todos os poetas no momento que iniciam a escritura de um poema – é exatamente esta palavra: perseguir. Escrevendo, rescrevendo até encontrar a forma exata que o próprio poema reconhece. Também é necessário estabelecer um diálogo com os procedimentos artísticos do passado e do presente. E abraçar as múltiplas vozes que imploraram as nossas palavras.

3 – Cite 03 poetas e 03 poemas referências para o seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Os poetas referências para o meu trabalho são aqueles cujos poemas, ou trecho de poemas não consigo esquecer. Porque são poemas ou trechos de poemas que eu gostaria de ter escrito. Por exemplo, o de Lúcia Ribeiro da Silva:

“De tudo que tive na vida
Só levarei um pôr do sol
De tudo que tive do tudo
Só levarei um pôr do sol
De todas as coisas ardentes
Só levarei um pôr do sol
Só levarei
Sol levarei um por do sol.

( do livro “Jogo fixo”, Livraria José Olympio Editora, apresentação de Walmir Ayala, RJ/R/, 1966)

E também a última parte do poema “Natal” de Claudio Mello e Souza:

“Olhar sem susto para o fim.
No meu último passo,
Serei o último sujeito.
Deixarei vestígios.
A vida não é um crime perfeito.”

( do livro “Passageiro do tempo”, Editora Nova Fronteira, RJ/RJ, 1985)

No mais, há os outros poetas que me acompanharam e acompanham sempre, com maior ou menor intensidade os, digamos, clássicos, como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira: referências insubstituíveis.



Eunice Arruda nasceu em Santa Rita do Passa Quatro (SP). Pós-graduação em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP (1988). Prêmio no Concurso de Poesia PABLO NERUDA, organizado pela Casa Latinoamericana, Buenos Aires, Argentina, 1974. Presença em antologias, com poemas publicados no Uruguai, Colômbia, França, Estados Unidos, Canadá. Fez parte da diretoria da União Brasileira de Escritores e do Clube de Poesia de São Paulo. Ministra oficinas de criação poética desde l984, em locais como a Biblioteca Mário de Andrade e a Oficina da Palavra (Secretaria de Estado da Cultura). Coordenou os projetos Tempo de Poesia/Década de 60 em l995 e Poesia 96/97, promovidos pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Por tais iniciativas recebeu o prêmio de Mérito Cultural em 1997 conferido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, RJ. Foi homenageada com o prêmio Mulheres do Mercado, concedido pela Casa de Cultura de Santo Amaro – São Paulo/SP, 2005. Em 2006, fez leitura de poemas para o programa Momento do poeta –Instituto Moreira Sales (IMS) – SP, disponível na Rádio IMS: www.ims.com.br. Leitura de poesia no projeto “Mulheres do Planeta” (Casa das Rosas e Oca).

Lançou os seguintes livros: É tempo de noite. São Paulo, Massao Ohno, 1960. O chão batido. São Paulo, Coleção Literatura Contemporânea, n.7,1963. Outra dúvida. Lisboa, Panorâmica Poética Luso-Hispânica, 1963. As coisas efêmeras. São Paulo, Ed. do Brasil, 1964. Invenções do desespero. São Paulo, edição da autora, 1973. As pessoas, as palavras. São Paulo, Ed. de Letras e Artes, 1976 (1.ed); São Paulo, Ed. do Escritor, 1984 (2.ed). Os momentos. São Paulo, Nobel/Secretaria de Estado da Cultura, 1981. Mudança de lua. São Paulo, Scortecci, 1986 (1.ed.); 1989 (2.ed.) Gabriel: São Paulo, Massao Ohno, 1990. Risco. São Paulo, Nankin Editorial, 1998 (Prêmio “Fernando Pessoa” da União Brasileira de Escritores, RJ/RJ). À beira. Rio de Janeiro, Blocos, 1999. Há estações (haicai). São Paulo, Escrituras Editora, 2003 – selo do Programa Nacional do Livro Didático. Olhar (haicai). São Paulo, Dulcinéia Catadora, 2008. Dias contados (conto). São Paulo, RG Editores, 2009. Blog: www.poetaeunicearruda.blogspot.com Email: poetaeunicearruda@bol.com.br

16 julho 2009

Joana Ruas à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

A Poesia deve ao poeta alemão Novalis a sua melhor definição. Grata pela oportunidade de a recordar, num tributo à sua memória, aqui a deixo:
«A poesia é representação da alma, representação do mundo interior na sua totalidade. Os seus intermediários, as palavras, já o indicam, pois elas são a manifestação exterior deste reino profundo. O sentido poético tem muitos pontos comuns com o sentido místico. Trata-se do sentido de tudo aquilo que é particular, pessoal, desconhecido, misterioso, de tudo o que deve ser revelado, de tudo o que é ao mesmo tempo necessidade e acaso. O sentido poético representa o irrepresentável. Ele vê o invisível, sente o insensível... A crítica da poesia é um absurdo: já é difícil de dizer se uma coisa é poesia ou não, e isto é ainda a única distinção possível. O poeta é literalmente insensato, e, por outro lado, tudo se passa nele. Ele é, ao pé da letra, sujeito e objecto ao mesmo tempo, alma e universo. Daí o carácter infinito e eterno de um bom poema.
A poesia é o real absoluto. Quanto mais uma coisa é poética, mais ela é verdadeira.»

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Deve conviver com a poesia de outros poetas, adquirir o sentido da forma e partir, infinitamente partir para tudo o que o possa exprimir na sua singularidade e experiência pessoal.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Ao longo dos anos o meu contacto com as obras dos vários poetas de que tive conhecimento ajudou-me a progredir mental e moralmente. Através de uns encaminhei-me para outros que, na altura me pareceram mais próximos da minha própria demanda ou ainda, porque notava a existência entre nós de uma afinidade electiva. Sem esquecer a minha dívida para com todos eles, portugueses e estrangeiros, neste momento a minha escolha vai para Rimbaud, Bashô e José Ángel Leyva.

Rimbaud, inventou Khenghavar, um país mítico de uma geografia apócrifa , um país plein de lourds cieles ocreux et de fouet de fleurs en chair. Khenghavar era o país mítico onde todos os lugares eram poéticos, onde todas as viagens se faziam de homem para homem, de povo para povo. Para salvar a própria pele ,Rimbaud enterra a sua inspiração poética no negócio de marfim e peles de leopardo, de tigres e cabras, negócios baseados em ofícios sangrentos de matar, arrancar presas, esfolar animais. Estuda aGramática Somali e o Corão de que faz uma tradução bilingue, francês e árabe. Segundo escreveu, depois de abandonar a poesia, cumpriu a existência e, se condenado a viver durante bastante tempo ainda em França, não passaria ali de um estrangeiro.

L´Éternité

Elle est retrouvée.
Quoi? — L´éternité.
C’est la mer allée
Avec le soleil.
(do livro Une Saison en Enfer)

Matsuo Bashô
Este poeta japonês do século XVII escreveu num dos seus Diários:« Estou só e escrevo para minha alegria». Para mim, ele, perante as atribulações da sua existência de peregrino, alcança a sua maravilhosa serenidade através da sua arte, isto é, a arte do equilíbrio na desilusão.

Ervas do estio
Eis o que resta
Da ambição dos guerreiros

do livro O Gosto Solitário do Orvalho)

José Ángel Leyva, que só agora estou descobrindo, impressionou-me pelo seu dom de uma expressão directa que reflecte, não só o Real como a sua realidade subjectiva. O seu poema Marcha fúnebre para um anjinho narra a caminhada do indecifrável para o mundo do Humano tornado familiar pela acção de o nomear.

Marcha fúnebre para um anjinho

Assim que alce a escotilha
E veja o meu sangue exaltado
Fazendo remoinhos no crânio
Terei a infância à minha mercê
Poderei tocar-lhe com a mão
Reviverei ossaturas
Falarei com meus irmãos
De tantas coisas esquecidas
Sairemos a passear pelos campos
Um bosque de pinheiros e de fetos
Se abrirá como casca de árvore
Veremos regressar as chuvas
Com sol e num descampado
Resgataremos o véu dos nomes
A pedra permanecerá livre e será pedra
O musgo e o orvalho arroios
E ser e estar na estação do ano
O soçobro da água e das folhas
Quando abrir a escotilha da minha casa
Um menino como eu terá morrido
Não temerá a obscuridade a sua cara de anjo
Não hesitará em mostrar-me as cavidades
Comuns dos olhos
O seu verdadeiro rosto
assomará por essa porta

(do livro Duranguraños)


Finalmente, alguns haiku da minha autoria

Camélia

Camélia branca
Sorriso de névoa
Na milenar rocha
Da saudade


Carta

Verde, a folha
Voa
Por oceanos de Tempo
Para o Amado


Poente

Com raro esplendor
Qual taça de vinho quente
Ergue-se a frésia vermelha
Ao doirado sol do poente


Joana Ruas publicou os seguintes romances: Corpo Colonial, Centelha, Coimbra, 1981; O Claro Vento do Mar, Bertrand Editora, Lisboa, 1996; A Pele dos Séculos, Editorial Caminho, Lisboa, 2001; A Batalha das Lágrimas, Editora Calendário,2008. Em prosa publicou Na Guiné com o PAIGC, reportagem escrita nas zonas libertadas e Zona (ficção). Escreveu os ensaios: Amar a Uma só Voz, Colóquio Rilke, Edições Colibri, Lisboa, 1997; A Amante Judia de Stendhal e E Matilde Dembowski, e A Guerra Colonial e a Memória do Futuro, comunicação apresentada no Congresso Internacional sobre a Guerra Colonial. Participou na 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará onde proferiu uma palestra intitulada Aproximar o Distante, Do Estranho ao Familiar — duas experiências: Timor-Leste e Guiné-Bissau. A sua poesia encontra-se dispersa por publicações como NOVA 2 (1975), um magazine dirigido por Herberto Helder; o seu poema Primavera e Sono com música de Paulo Brandão foi incluído, pelo compositor Jorge Peixinho, no 5º Encontro de Música Contemporânea promovido pela Fundação Gulbenkian; Cartas a Ninguém de Lisa Flores e Ingrid Bloser Martins, Vega. Participou nas antologias: Antologia da Poesia Erótica, Universitária Editora; Na Liberdade, Garça Editores; Mulher e Um Poema para Fiama, Editora Labirinto. E-mail: joanaruas@sapo.pt

13 julho 2009

Luiz Roberto Guedes à queima-roupa


[foto: Akira Nishimura]


1) O que é poesia para você?

Poesia é certamente uma forma de conhecimento do mundo e da psique. É memória mágica da humanidade, um rito persistente na tentativa da arte de reencantar o mundo. Serve para celebrar os nomes de divindades extintas e majestades desaparecidas, ou para assinalar experiências sensoriais, como aquele simples e misterioso “gole de água bebido no escuro”, por exemplo, de que fala Mário Quintana num poema.


2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Eu creio que esse iniciante deve se esforçar para ler o maior número possível de poetas, de todos os séculos e culturas, para poder captar o espírito poético através das épocas e a vibração do poeta vivente em seu momento sob o sol. Creio que é simplesmente fundamental que a poesia diga algo e que, essencialmente, diga respeito à vida. Em meados dos anos 90, um tanto desapontado com a poesia norte-americana naquela altura, Lawrence Ferlinghetti recomendava aos poetas que fossem para a rua e fizessem “novas e frescas observações” da realidade ou do cotidiano.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Em termos de iniciação e formação, em minha adolescência, os numinosos Bandeira, Drummond e Jorge de Lima. Em Bandeira, o dizer exato e simples e a revolta contra “a vida que podia ter sido e que não foi”, mais a contínua evasão para Pasárgada, onde “tem prostitutas bonitas para a gente namorar”. Na cordilheira mineira de Drummond, sua investigação no reino obscuro das palavras, sua profundeza e seus calculados delírios, como aquela celebração de uma Fulana que “é toda dinâmica/tem um motor na barriga/suas unhas são elétricas/seus beijos refrigerados”. Em Jorge de Lima, essa catedral fantástica que é Invenção de Orfeu, que nos revela, por exemplo, a divindade como um cacho de faces, concepção surpreendente para um poeta confessadamente católico. Claro que Mário de Andrade e Oswald são santos no meu altar. Preciso acrescentar ao rol o buleversante Murilo Mendes e o poeta José Paulo Paes, por sua fina lição de concisão e humor. Das pessoas do Pessoa, talvez a poesia de Alberto Caeiro tenha se sedimentado mais, em mim. Naturalmente, outras influências se somam e se entrelaçam, como a práxis concretista, a poética beat, a música popular etc. Ou se faz magia... ou se faz mélange.


Luiz Roberto Guedes é paulistano, poeta, escritor e tradutor. Publicou, entre outros, Calendário Lunático/Erotografia de Ana K (Ciência do Acidente, 2000) e organizou Paixão por São Paulo – antologia poética paulistana (Editora Terceiro Nome, 2004). Lançou a aventura juvenil Armadilha para lobisomem (Cortez Editora, 2005) e a novela O Mamaluco Voador, pela Travessa dos Editores, de Curitiba. É, também, letrista de música popular sob o pseudônimo de Paulo Flexa. E-mail: lrguedes@hotmail.com

26 junho 2009

Jorge Rivelli à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Inundado de maravillosas metáforas de maravillosos poetas elijo hoy la de Joseph Brodsky: “la poesía es un espíritu que busca carne pero encuentra palabras”…puedo decir que es un cóctel pagano y partisano, cartesiano y místico; una interferencia cotidiana de sangre y tinta.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Leer, leer diferentes estilos poéticos, diferentes autores, leer y leer…sin miedo a quedar influenciado. La lectura es una herramienta que, junto con los hechos cotidianos, alimentan la creatividad. Además tomar el oficio como una tarea a largo plazo, que necesita de una disciplina. Trabajo diario.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

César Fernández Moreno toda su poesía provoca y elijo el poema más conocido de él “argentino hasta la muerte”. Nicanor Parra que también entra en la tendencia de César de la poesía existencial, también una obra difícil de elegir un poema “prédicas y sermones del cristo de Elqui” es un poemario como también me gusta “poemas y antipoemas” pero de elegir uno … “la víbora”. Charles Bukowski dentro de una obra irregular pero que desarma las alcantarillas para mostrar a los mortales más cerca del infierno. No sé que poema elegir pero “qué es lo que quieren” podría ser. Son sólo tres pero agrego uno sólo más Esteban Moore, su poesía escarba Buenos Aires hasta las más íntimas secuencias, además desarrolla una lírica que representa una poética de la generación de los ochenta. El poema: “ángeles caídos”.



Jorge Rivelli, Buenos Aires agosto de 1954. Publicó: Un tiempo para matar (1991), Movimiento en fuga (1992), Trompe l’oeil (1994), Hebra mojada –en colaboración con Alejandra Mendé-(1997), Matambre (2004) y Las calles terminan en los bares (2005)-Premio Fondo Nacional de las Artes-. Desde 1999 dirige la revista de poesía OMERO. E-Mail: rivelliom@gmail.com

22 junho 2009

Victor Paes à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Poesia é quando as coisas nos atingem com o fato de serem coisas... O poeta é aquele que tem a coragem de mostrar como esse mecanismo é arrebatador, mas indomável, apesar de negarmos isso diariamente, inclusive nos próprios poemas, a ponto de negarmos o próprio mecanismo. As palavras são poéticas quando nos atingem com o fato de serem palavras.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Existe muito, muito a fazer... ler, acima de tudo, buscar, desacreditar, acreditar, andar, ouvir, gritar, estar atento a absolutamente todos os gestos e ações. Mas tudo isso vai ser em vão se ele pensar a poesia apenas como crônica da poesia, pois aí só vai encontrar palavras velhas (cheias de fórmulas e celebrações), ou como poesia da poesia, pois aí pode acabar encontrando só palavras e mais nada. Nos dois casos vai estar sendo apressado, fazendo escolhas supostamente decisivas, e estacionando logo de saída. A primeira coisa é botar como meta entender como a poesia é tensão, desconforto real, com tudo. Buscando isso nas palavras, vai encontrar na vida e vice-versa (até porque são indissociáveis).

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Vou citar três poetas extremamente desconfortantes: Antonio Cisneros, que faz qualquer mágica parecer uma palavra das mais simples, como se fosse possível uma precisão cirúrgica para isso (e que ele alcança sempre)... e por saber usar como ninguém a palavra “como”; Manoel de Barros, por não separar homem e natureza, mas tensioná-los, e por seu constante embate nessa história das palavras serem palavras; e Mário Quintana, pelo seu ludismo desesperado e por buscar no poema sua “misteriosa condição de poema”.


Victor Paes é escritor, ator, editor da revista e da editora Confraria do Vento. Publicou em 2007 o livro de poesia O óbvio dos sábios e hoje prepara seu primeiro livro de contos. Tem publicados seus textos em revistas e sites como Cronópios, Germina, Polichinello, entre outros. É um dos 21 poetas da coletânea XXI Poetas de hoje em dia(nte), organizada por Priscila Lopes e Aline Gallina, pela editora Letras Contemporâneas. Escreve também para teatro e já teve montadas algumas de suas peças, dentre elas Mara em um quarto, As três Marias, e Os cálices do deus. Publica o blog http://victorpaes.blogspot.com. E-mail:

15 junho 2009

Luis Benítez à queima-roupa




1) O que é poesia para você?

Inicialmente, es un impulso que tenemos todos: el afán de expresar nuestras difusas sensaciones, de ponerlas en el papel para verlas frente a nosotros con alguna forma, examinarlas y creer que, así, comprenderemos algo de eso que somos; una idea errónea, sin duda, ya que las palabras transforman a las sensaciones… en palabras. En otra cosa que aquello que son, realmente, y que nunca comprenderemos cabalmente. Además, si es que uno va progresando un poco en poesía, llega el momento en que se da cuenta de que aquello que escribe le pertenece menos una vez que está escrito; se ha vuelto algo objetivo, externo, algo que puede compartir con los demás –cree uno- cuando en realidad los demás lo leerán desde sus propias ópticas, que difieren de la nuestra, desde luego y es bueno que así sea. Además, conspira contra esta idea primitiva de la “expresión del yo” el hecho de que descubrimos que lo escrito tiene sus propias reglas y su propio mundo, insertado en una tradición de 6.000 años de antigüedad. Eso es mucho tiempo y marca a lo escrito, lo quiera uno o no. Para la literatura lo importante no es el hombre que la escribe; a ella sólo le importa ella misma. Lo que nos suceda a nosotros sirve apenas –y en el mejor de los casos- como disparador del texto, es lo que acciona primariamente el gatillo. El arma tiene su propio blanco.
Surge inicialmente como una sensación difusa, lo que yo llamo “el fantasma” del poema que será después. Es algo sin límites claros, casi sin forma, y desde luego, no está hecho de palabras. Puede motivar su aparición una frase oída al pasar, más habitualmente algo que leo o que recuerdo. La memoria, que es caprichosa, resulta de gran ayuda para escribir, porque deforma a su gusto los recuerdos y así, aquello que fue un momento feliz, según creíamos, puede ser recordado años después con tintes sombríos u otras connotaciones, vaya uno entonces a saber cuáles. Estas deformaciones de la memoria también son un proceso creativo, no hay por qué subestimarlas. Luego, el fantasma del que hablo se vuelve impuro, se mezcla con otras impresiones, diferentes evocaciones, se le agregan partes ajenas, posteriores a su primer surgimiento, y allí, con muchísima suerte, ya se va volviendo parcialmente palabras: tenemos el comienzo o el final del futuro poemas, un verso o a veces, apenas una parte nuclear de él. El fantasma ha perdido peso, lo va ganando el lenguaje. Luego, los juegos del idioma: la tergiversación sucesiva, los cambios de rumbo del sentido inicial; las treguas, cuando nos olvidamos casi por completo del asunto; posteriormente, la retoma por parte de uno, nosotros, que ya no es el mismo de días atrás, uno que trae otros aportes… El poema es siempre colectivo: lo hacen los sucesivos señores que somos, según pasan los días. El tema, me parece a mí, en definitiva, es lo menos importante de un poema. Es, por así decirlo, una excusa que emplea el poema para referirse casi siempre a las mismas cosas.
No tengo una rutina, al menos cuando escribo las primeras versiones de un poema. Puede aparecer en cualquier momento el fantasma al que antes me refería. Me ha sucedido escribir en el autobús, en el tren subterráneo, en plena calle tuve a veces que entrar a una cafetería porque se producía el asalto. Otras veces, escribí versos aislados apoyando cualquier papel contra un árbol o un muro. Ahora que el proceso de las versiones finales sí tiene siempre otros escenarios de mayor recogimiento y en esto me pongo muy quisquilloso: tengo que estar en mi cuarto, o en un sitio aislado, sin ruidos, frente a un ordenador, porque si bien generalmente escribo las primeras versiones a mano, con bolígrafo, sobre papel sin renglones, las sucesivas versiones hasta arribar al poema final –lo poco que queda del fantasma- tengo que hacerlas sentado frente al teclado gris y la pantalla brillante, una y otra vez. ¿Antes de sentarme? Bien, siempre hay algunos ritos. Bacon sólo podía escribir vestido de etiqueta y con un gato persa sobre las rodillas; Hemingway y Camus escribían de pie frente a las Underwood de entonces; Scott Fitzgerald tenía que beberse una botella entera de champaña al comenzar y al terminar una novela. Yo, para escribir las versiones finales de un poema tengo que dar muchísimas vueltas por la casa, mascullando como un búho, mientras escucho música –particularmente tango, que es mi favorita- fumar tres o cuatro cigarrillos rubios, tomar whisky y renegar, antes de ponerme a trabajar. Son rituales propiciatorios; no significan nada en sí mismos, pero son necesarios e imprescindibles. Me estoy poniendo viejo y son mis manías, dan resultado y no veo necesidad alguna de cambiarlas.
Luego, el proceso de corrección, que es tan fastidioso como imprescindible. Tengo que sentarme muchas veces frente al texto antes de comprender finalmente que sí, que definitivamente está terminado, que es una obra acabada. Es que todo lleva a algo como “terminado”, “acabado”, “culminado”, que remiten obligadamente a la muerte. La verdad es que creo que está terminado / “muerto” para nuestro proceso interior, donde primero fue un fantasma, después un monstruo todavía sin forma, proteico, en constante transformación, pero también opino que una vez terminado el poema comienza a transitar por su segunda vida, pues sólo existe en el mundo cuando alguien lo lee o escucha. Hacia ello va el proceso de corrección: es como afilar un instrumento, un arma; la corrección es el procedimiento que le da filo, lo que le permite entrar en el lector. La corrección despoja al poema de los ripios, las rémoras que retrasarían su ingreso al espíritu del lector. Por ello es tan importante su proceso. Las joyas en bruto no brillan demasiado.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Debe perseguir fundamentalmente dos cosas, aparentemente contradictorias, en realidad, completamente complementarias: la primera es su propia voz, para lo que debe afrontar un largo proceso de formación, que según sus capacidades, puede durar toda la vida o no terminar nunca, truncarse en algún punto de su desarrollo por la desaparición física del autor antes de que éste haya alcanzado el punto más alto de sus posibilidades expresivas. En este proceso, debe ir el autor en dirección al meollo, la médula de aquello que quiere expresar, despojándose sucesivamente de todo aquello que sea superfluo, a fin de adensar su voz, de condensar su expresión particular. Debe ir quitándole las máscaras a sus palabras, hasta que queden desnudas, o semidesnudas, mejor dicho, pues nunca llegamos a quitarnos la última careta, que es nuestro mismo yo, nuestro ficticio ser individual, esa superstición necesaria, sin la cual, efectivamente, desaparecemos en el conjunto de lo sí, de veras, existente. Pero para llegar allí, a esa vecindad, el autor debe tener la ayuda de otros autores que lo han precedido en el camino de la creación poética. Esto es, debe aprender a escribir poesía ahondando en lo que escribieron otros antes que él. No para copiar sus recursos expresivos, sino para comprender para qué sirven y cómo se manejan esos recursos expresivos; fundamentalmente, si su camino es bien atinado, para comprender las analogías entre los procedimientos posibles en la escritura poética, para tratar de organizarlos de un modo diferente y propio. En ese punto estará más cerca de lo que podríamos definir como su voz personal. Para ello, deberá adaptar unos y descartar otros; ya en ese proceso comienza a comprender y a ejercitar su arte; debe buscar las influencias, debe contrarrestar una con el hallazgo de otra; debe combinar varias, las que estime como más afines a su voz personal, en una sinergia única, que sólo a él le pertenecerá y será, desde luego, absolutamente reconocible ante la simple e inmediata lectura. No todo el mundo consigue algo así, pero creo que el faro hacia el que debe dirigirse queda allí, en esa dirección. Es un punto brillante en la absoluta oscuridad, pero es lo único que brilla adelante, con luz propia.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

A comienzos de 2008, Peter Davis y Thomas Koontz, de la editorial Barnwood Press, de Seattle, Estados Unidos, publicaron el segundo tomo de “Poet´s Bookshelf”, un interesante volumen donde consultan a 100 poetas respecto de los libros que más influyeron en su formación. Tuvieron la gentileza de invitarme a participar junto a poetas como Robert Bly, David Shapiro, Alicia Ostriker, Dennis Schmitz y Reginald Sheperd, entre otros que aprecio y leo habitualmente y ello, además de ser un gran honor para mí, fue la ocasión de sistematizar un listado de esos libros y autores que me ayudaron desde sus obras a saber dónde buscar la mía, proceso en el que todavía sigo perseverando. Señalé entonces los 10 libros y autores que resultaron fundamentales para mi trabajo poético, pero ante su pregunta, reduciré a los tres más importantes mi listado y le diré por qué fueron tan fundamentales.
Thomas Sterns Eliot, “The Waste Land”: Desde mi primera lectura de The Waste Land, me atrajo el humor particularísimo de su autor, irónico hasta el sarcasmo, lo mismo que otro factor distintivo, su vanguardismo para la época en que fue escrito, tomando encuenta cómo su intelectualismo enfrentó la presencia de obras líricas de los alcances de las de Wystan Hugh Auden o Dylan Thomas, por ejemplo. También el hondo sentido religioso de sus versos me atrajo, pero pienso que fue la combinación de estos tres elementos, cómo cada uno de ellos potencia a los demás en The Waste Land, lo que me hizo sentir un profundo deseo de emular a Eliot, cosa que desde luego, no he logrado en absoluto. Sin embargo, tener presente que The Waste Land es una de las cumbres de la poesía universal alcanzada en el siglo XX me sirvió siempre como medida de comparación para discernir si un poema –mío o de otro- tenía más o menos kilates en su haber. Particularmente, de las cinco partes de The Waste Land, las que más captaron –y creo que para siempre- mi atención son dos: A Game of Chess y Death by Water. Posteriormente me impactó fuertemente Four Cuartets, donde el factor de la meditación religiosa se acentúa grandemente. Pese a que no soy un poeta religioso, la hondura abordada por Eliot me cautivó por lo que interpreté como un intento suyo de amalgamar el pensamiento religioso con la visión descarnada de lo contemporáneo para un hombre del siglo XX, del mismo modo que la escolástica intentara, en su tiempo, amalgamar las escuelas antiguas de la filosofía grecorromana con la convicción cristiana. Desde luego, creo que tanto los escolásticos como T.S. Eliot fracasaron en el intento, pero que éste tiene una grandeza tal que deja su impronta inevitablemente.

Dylan Thomas, "Poemas Completos": La figura del poeta y el hombre que fue Dylan Thomas es uno de los hitos señeros en mi poesía y además en mi vida personal. Fue quizás el menos literario de los poetas ingleses, según gustaba definirse a sí mismo, y ello porque no separaba –hasta las últimas consecuencias, como lo demostró cabalmente- su existencia como autor y como persona de los efectos de la aberración obligatoria de todo lo humano -ya en su época, la primera mitad del siglo XX- producida por la mecánica de un mundo que creamos –como cultura global- para destruirnos voluntaria/involuntariamente. Esto es, no se alienaba en literato célebre, pese a que era una de las figuras más importantes de la poesía inglesa de su tiempo, en esa sola condición de productor de bienes simbólicos a la que nos quiere reducir nuestro tiempo (que sigue siendo el suyo, pese al cambio de siglo), sino que sostuvo la última consigna a la que puede renunciar un poeta, la de administrador de uno de los sentidos posibles de la realidad –para mí la mejor, pero soy parcial- aun más allá del límite de sus fuerzas. Fue un revolucionario no sólo en poesía, sino en su correlato más inmediato: la vida misma del sujeto poeta. No era el borracho que todos creyeron imitar como si consiguieran algo de su talento y un gramo de lo que estaba diciendo. Fue la coherencia del sujeto que, enfrentado al mundo de la modernidad, siguió la batalla que se originó muy lejos, cuando un modelo de hombre que se resistió a morir enfrentó al modelo de hombre que parecía triunfante una y otra vez, y siguió peleando y muriendo, ignoto o célebre, para decir “sí, todavía era posible, yo fui la prueba viviente de que, en mi tiempo, todavía era posible”.
Sus Collected Poems fueron una revelación para mí e, indudablemente, la influencia de Thomas en mi poesía, particularmente en mis primeros libros editados, fue muy marcada. Me atrajeron irresistiblemente sus oscuridades y la magia inmediata de sus versos, su capacidad de condensar significados complejos y diversos en una sola línea y, a la vez, hacer que el verso fuera tan compacto y exacto, tan preciso. Hasta conocer la poesía de Dylan Thomas, yo había buscado –sin saberlo- algo que aunara complejidad conceptual y potencia expresiva, diversidad y exactitud, elementos a los que juzgaba antitéticos e imposibles de combinar. Leyendo a Thomas fue como comprendí no solamente en qué consistía mi búsqueda como autor primerizo, sino también que aquello que buscaba era posible.
La carnalidad presente en su poesía está indisolublemente unida a una poderosa pulsión interior, expresada con una riqueza extraordinaria, atenta a revelar el significado cósmico de la existencia humana, al mismo tiempo que sus miserias, sus oscuridades y su fragilidad constitutivas, el misterio profundo de la mortalidad inmanente de la conciencia.
Me causó una impresión muy potente su poesía, pero también algunas de sus afirmaciones respecto del trabajo que realiza un poeta; por ejemplo, cuando él dice: “la poesía debe ser tan orgiástica y orgánica como la cópula, divisoria y unificadora, personal pero no privada, propagando al individuo en la masa y a la masa en el individuo”. Formalmente, Dylan Thomas es, sin discusión posible, un maestro de los juegos de palabras, un experto en aliteraciones y en las más complicadas combinaciones de la métrica, así como en la invención de neologismos (emplea, entre otros recursos, sustantivos que se transforman en verbos). Erróneamente, se le han atribuido a Thomas deudas con los surrealistas y hasta los simbolistas, cuando su obra lleva decididamente hacia los metafísicos ingleses del siglo XVI y XVII y a William Blake y John M. Hopkins. En Thomas encontré –entre muchos otros hallazgos- una síntesis entre la libertad de la metáfora y su ceñida funcionalidad al meollo del poema.
Poemas de Thomas como "Should Lanterns Shine", "Hold Hard, These Ancient Minutes in the Cuckoo´s Month", "In the white giant´s thigh", "Fern Hill", "Poem in October", "Do not go gentle into that good night", "Elegy", "In country sleep" o "Poem on his birthday", "O Make me a Mask" o "If my Head Hurt a Hair´s Foot" fueron algunos de los más importantes para mí en esa etapa de mi vida como autor novel.
El regalo más valioso que me dejó la frecuentación de Mr. Thomas y sus Collected Poems fue, sin duda, la comprensión de los alcances de la metáfora funcional bien entendida, la noción de que, en poesía, se debe intentar expresar dos cosas en una, tres en dos y, también, uno de los mejores consejos que un poeta de su estatura podía darnos a todos los primerizos. “fundamentalmente, amen las palabras”.

Jorge Luis Borges, “Poemas Completos”: Al leer a Borges, particularmente sus poemas y cuentos, sentí la enorme fuerza de su escritura, que continúa la mejor tradición literaria occidental. Sin duda, es el mayor escritor de mi país, pero también uno de los fundadores de la literatura del siglo XX. Percibí claramente, en mis lecturas de la década del 80, cómo Borges lleva sus temas –inclusive los clásicamente argentinos- a una estatura universal, en un complejo ir y venir de lo particular a lo general, de lo característico de un individuo a lo que afecta a todos, refiriéndose continuamente a ese puente, revelándolo: es por ello que en sus personajes cualquier hombre, de cualquier época, puede reconocerse. Más allá de la mera situación temporal y espacial, los personajes borgeanos resultan intercambiables con otros de su posteridad o su anterioridad y aquella capacidad de su escritura me fascinó. De la misma manera que su concepción de la literatura, me fascinó su extraordinaria exactitud y precisión expresiva, en lo que hace a los aspectos formales de la escritura. En este último sentido, me atrajo enormemente esa imposibilidad de quitar una sola palabra –una acepción de una palabra- de un poema o un cuento de Borges sin desmoronarlo. No tardaría en convertirse en una fuerte influencia dentro de mi obra, la primera buscada, a diferencia de todas las anteriores, que vinieron a mí de un modo más casual, al ritmo de lecturas no siempre metódicamente organizadas.
Una década después de la muerte de Borges en 1984, encontré unas palabras de Harold Bloom que definen para mí muy exactamente la importancia de Borges: “…Borges emerge claramente como el único autor del siglo veinte que resulta más emblemático de los valores estéticos aún esenciales para la supervivencia de la literatura canónica universal. Ocupa esta posición, no sólo con respecto a las letras hispanoamericanas, sino a toda la literatura occidental y quizás, incluso, a la literatura mundial. No es exagerado decir que Borges, consciente y exitosamente, encarnaba la ´idea´ misma de literatura tradicional. A través de su obra, llegó a representar a Dante y a Shakespeare, a Cervantes y a Joyce, para nuestra era que, en el último tramo del siglo, sigue buscando detrás de su estandarte. Borges se volvió sinónimo de romance literario: es hoy su Caballero de la Triste Figura. Como Don Quijote, no puede ser derrotado, al menos no en su propio reino (Harold Bloom, El Canon Occidental).
Qué recibí de Jorge Luis Borges y estimo que quedó en mi obra: su concepción de la literatura como una tradición ininterrumpida, caracterizada por ejes conceptuales entre los que ocupa un sitial fundamental el de la equivalencia de lo individual con lo general, y la exigencia de una marcada precisión expresiva. Fue muy importante para mí en mis primeros libros y posiblemente la influencia de la que más me costó despegarme posteriormente, como le sucedió a muchos poetas y narradores argentinos de mi generación.


El poeta, narrador, ensayista y dramaturgo argentino Luis Benítez nació en Buenos Aires el 10 de noviembre de 1956. Es miembro de la Academia Iberoamericana de Poesía, Capítulo de New York, Estados Unidos, con sede en la Columbia University; de la World Poets Society (Grecia); de la International Society of Writers (Estados Unidos); del Advisory Board de World Poetry Press (India), Miembro Honorario de la sección argentina del IFLAC (International Forum for a Literature and a Culture of Peace, Israel) y de la Sociedad de Escritoras y Escritores de Argentina. Ha recibido el título de Compagnon de la Poèsie de la Association La Porte des Poétes, con sede en la Université de La Sorbonne, París, Francia. Sus 25 libros de poesía, narrativa, ensayo literario y teatro se publicaron en Argentina, Chile, España, Estados Unidos, Italia, México, Uruguay y Venezuela. E-mail: lben20032003@yahoo.com.ar

27 maio 2009

João Miguel Henriques à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

A poesia foi sendo para mim coisas diferentes ao longo dos anos. Mas algo que nunca deixou de ser é esse trabalho da memória sobre a linguagem. Ou será que é a linguagem que trabalha sobre a memória? É por vezes difícil distinguir...

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Dar conselhos não é de facto o meu forte, mas creio que um iniciante deve acima de tudo procurar alguma pureza. Dedicar-se ao labor da poesia sem se preocupar muito com publicações ou reconhecimento público. Não deixar-se contaminar pelas instituições da cultura. E nesse trabalho poético puro, não deve também descurar uma certa consciência do percurso histórico da própria poesia. Julgo que era T.S. Eliot quem afirmava que sem esse sentido histórico nenhum poeta poderia continuar a escrever após os vinte e cinco anos de idade.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Não sei se os que vou citar são textos referenciais, mas fazem seguramente parte das minha predilecções mais ou menos constantes. O Livro de Cesário Verde, de Cesário Verde, pela linguagem trabalhada, pelo requinte formal e pelas visões da cidade; Na Terra e no Inferno, de Thomas Bernhard, pelo exercício da memória acompanhado de um belíssimo sentido trágico da existência; e A Musa Irregular, reunião da poesia de Fernando Assis Pacheco, um poeta infelizmente não muito conhecido fora de Portugal, mas que tem poemas de amor extraordinários e um admirável sentido de equilíbrio entre o coloquial e o mais lírico ou erudito.



João Miguel Henriques nasceu em Cascais em 1978. Estudou Literatura em Lisboa, Jena (Alemanha) e Edimburgo (Escócia). Vive e trabalha em Lisboa. Estreou-se em poesia com o livro O Sopro da Tartaruga (Edição do Autor, 2005) e em 2007 participou no Tordesilhas, Festival Ibero-Americano de Poesia Contemporânea. Publicou também um conjunto de poemas no nº 12 da revista DiVersos e em publicações online como a Zunái ou a sèrieAlfa. Desde finais de 2003 que mantém o blogue Quartos Escuros (www.quartosescuros.blogspot.com).

23 maio 2009

Glauco Mattoso à queima-roupa



1. O que é poesia para você?

Já dei várias respostas a essa pergunta, mas acho que a melhor foi aquela que usei numa oficina que ministrei na Casa das Rosas: a poesia é uma metralhadora na mão dum palhaço. Seu poder de fogo pode ser apenas intencional, e seu efeito apenas hilário, mas o franco-atirador, ao expor-se em sua ridícula revolta, no mínimo consegue provocar alguma reação, ainda que meramente divertindo o público, e alguma reflexão sobre o papel patético dos idealistas e visionários, que, no fundo, somos todos nós.

2. O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Depende justamente da concepção poética que ele adotou. No meu caso, trata-se de vomitar algo visceral, de me expor, me devassar e desabafar uma biografia excêntrica para me identificar com outros excêntricos e tirar, dessa diversidade de individualidades, o traço de humanidade que nos une, isto é, o sofrimento e a revolta contra as opressões e repressões. Uma das "missões" do poeta - mas não a única - é ser porta-voz dos perseguidos, injustiçados, excluídos, rejeitados e humilhados, ainda que tais angústias sejam meramente sentimentais ou emocionais - frustrações amorosas, por exemplo. Voltando à questão do iniciante, eu recomendaria três coisas: primeiro, muita leitura, poesia de várias épocas e estilos, para estabelecer preferências e simpatias; segundo, fidelidade à própria biografia, nada de fingir demais, ainda que o poeta seja um fingidor, como dizia Pessoa; terceiro, estudar versificação, mesmo que o cara não pretenda fazer poesia rimada nem metrificada. Assim, ele estará minimamente instrumentado para o "ofício".

3. Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Isso é sempre muito pessoal e intransferível, mas vamos lá. Gregório de Matos, por ser pioneiro na nossa história e por ter praticado duas coisas que utilizo: os jogos verbais barrocos (antíteses, paradoxos, paronomásias, paródias, trocadilhos) e sátira desbocada (inclusive enveredando pelo fescenino); Bocage, por duas características que adotei: apuro formal do soneto e deboche obsceno; Bandeira, por uma única e fundamental razão: provar que é perfeitamente possível praticar todas as modalidades poéticas, desde o verso mais ritmado e rimado até o experimentalismo mais iconoclasta e anárquico, sem perder de vista o lado humano, confessional e emocional. Quanto aos textos referenciais, sugiro, primeiro, "Os Lusíadas", não para ler de cabo a rabo, mas para passear nele, viajar no ritmo, ir se acostumando a discorrer, raciocinar metrificando, pensar em decassílabo; segundo, "Eu", de Augusto dos Anjos, para, ao contrário dos "Lusíadas", percorrer, num único e curto livrinho, toda a obra duma vida, o que nos dá noção de que o poder de síntese pode ser essencial e suficiente; terceiro, "Poesia completa e prosa", a obra reunida do Manuel Bandeira, que tenho em papel-bíblia mas que existe em diferentes edições, incluindo o "Itinerário de Pasárgada", roteiro autobiográfico-intelectual, e a "Apresentação da poesia brasileira", que, embora incompleta e parcial, dá uma visão panorâmica.


Glauco Mattoso (paulistano de 1951) é um dos mais radicais representantes da ficção erótica e da poesia fescenina em língua portuguesa, descendente direto de Gregório, Bocage e, em prosa, de Sade e Masoch. Na década de 1980, celebrizou-se entre a "marginália" literária como autor do fanzine anarco-poético "Jornal Dobrabil" e do romance fetichista "Manual do podólatra amador" (reeditados, vinte anos depois, respectivamente pela Iluminuras e pela Casa do Psicólogo); após perder a visão, já na década de 1990, publicou mais de vinte volumes de poesia (entre os quais a antologia "Poesia digesta: 1974-2004", pela Landy), além do romance paródico "A planta da donzela" (editado pela Lamparina), que revisita "A pata da gazela" de Alencar. Adepto fervoroso da glosa decimal e do soneto clássico, destaca-se também como lexicógrafo no bilíngüe "Dicionarinho do palavrão" (pela Record) e como esticólogo numa "Teoria do soneto" e num tratado de versificação, "O sexo do verso: machismo e feminismo na regra da poesia", a sair em livro. Colaborador nas mídias impressa e virtual, assina colunas na revista "Caros Amigos" e no portal "Cronópios", entre outros veículos. Como letrista, tem sido musicado por nomes singulares do porte de Arnaldo Antunes, Itamar Assumpção, Falcão, Ayrton Mugnaini e outros experimentalistas independentes ou irreverentes. Seus livros mais recentes vêm saindo pela Dix Editorial (da Annablume), na série "Mattosiana", entre os quais uma história do rock e uma pesquisa do cancioneiro popular brasileiro, tudo em forma de soneto. Eis os endereços e contatos:
www.annablume.com.br
http://glaucomattoso.sites.uol.com.br
E-mail: glaucomattoso@uol.com.br

22 maio 2009

Ney Ferraz à queima-roupa




1. O que é a poesia para você?

Nunca tive como saber o que é a poesia. Para o poeta ela é uma estranha proximidade. Uma força anônima. Como poeta e como leitor sei que a poesia é muito rara. Tarda a acontecer. Abre-se o livro e é tão difícil encontrá-la ali. Mas se ela se manifesta, encontramos o poeta. Há um abismo que só faz crescer entre quem escreve e a poesia. Houve um tempo em que o poeta escrevia municiado pelos tratados de poética. Outro, em que ter uma máquina de escrever era ser criminoso. Hoje, a tecnologia governa a nossa vida. Mas nem por isso é mais fácil. Tanto que cada vez mais parece que ser poeta é um ofício antiquado. Inútil. Menosprezado. O poeta sumiu do assim chamado “discurso público”. E a poesia talvez já seja outra coisa que mais uma vez nos escapa.

2. O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Fazer coisas em desuso. Ler, observar, anotar, sair à rua. Ir ao encontro dos seus espectros. Surpreendentemente foi Vinícius de Moraes e não João Cabral de Melo Neto que viveu como poeta. A poesia tem também as suas leis e regras difíceis de serem perscrutadas. O poeta deve estar atento. Escolher. Fugir. Ir em frente. Sem que nada disso deixe de ser um recolhimento. Arder, arder, arder como um fogo de artifício, como diz Jack Kerouac.


3. Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Ana Cristina Cesar. Eu havia saído da universidade, início dos anos 1990, e dei de cara com ela numa livraria em Belém. Não era suicídio sobre a relva, título do meu primeiro livro publicado em 2000, é um conhecido verso dela. Depois veio meu encontro com Max Martins. Muitos papos. Muitas leituras. Redescobri Henry Miller. Lawrence Ferlinghetti. Os poetas beats. Paulo Plínio Abreu, Robert Stock, Mário Faustino. Nesse início dos anos 1990 inaugurou-se em Belém a Casa da Linguagem. Foram tempos agitados. Lá tínhamos a liberdade que o curso de letras da universidade não podia oferecer. O Max Martins dirigia a Casa da Linguagem. Tudo era misturado ali. Um Caldeirão. Vicente Franz Cecim. Benilton Cruz. Antônio Moura. Sérgio Wax. Uma sensibilidade sismográfica. Bem, não tem como ser três, o poeta é sempre cercado por uma legião. Outros autores e outros textos vieram e foram se impondo. Jorge Luis Borges, Herman Melville, Sylvia Plath, Thomas Bernhard, Blanchot. Mais recentemente descobri a poesia estonteante e sem rumo de Luís Serguilha, em suas Embarcações. Como poeta nada mais surpreendente que achar um autor e seu texto – é sempre deles que posso partir.



Ney Ferraz Paiva nasceu em Belém em 1962. Publicou dois livros pela Fundação de Cultura Cidade de Recife, como resultado do Prêmio Eugênio Coimbra Júnior: Não era suicídio sobre a relva (2000) e Nave do Nada (2004). Prepara o terceiro, Val-de-cães, para ser lançado este ano pela Pazulin. Reside em Palmas, Tocantins. E-mail: neyferrazpaiva@gmail.com

03 maio 2009

Ivaldo Ribeiro Filho à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Não possuo uma definição de poesia, mas lembro que Paulo Leminski enumerou mais de quinze definições de poesia. São tantas e tão variadas, geralmente dando relevo a algum aspecto, deixando os demais de fora, que não ouso.
Mesmo assim, adoro que estejam procurando estas definições. Valery, Jakobson, os românticos, os concretos procuraram uma definição para poesia. Com eles, algo se transformou e isso é ótimo.
Por enquanto, basta-me escrever.
Mas se fosse dar uma definição de poesia, por acaso não seria a definição da poesia que faço?

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Não sei o que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira, mas sei contar o meu caminho. Quando a necessidade de escrever poemas surgiu, procurei ler os autores do Modernismo, visto serem os mais divulgados e os que apareciam nos livros da escola.
Depois, passei a comprar revistas literárias e a passear pelos sites literários, na internet. Se alguém dizia que algum autor era importante, eu comprava o livro e ia ler aquele autor até saber por que ele era importante.
No começo foi difícil: alguns autores eram sentimentais demais e outros herméticos em demasia. Mesmo com estas dificuldades, continuei a ler.
Então, chegou o dia em que passei a ler os autores contemporâneos, visto que amigos, também apreciadores de poesia, me apresentavam esses autores. Aos poucos, fui encontrando o meu caminho.
Como não tenho formação em letras, nem em filosofia, passei a ler estes assuntos e isso muito me ajudou.
Após ter publicado o primeiro livro, continuei os estudos lendo livros direcionados à escrita, fiz cursos, mini-cursos, participei de eventos em universidades, continuei vasculhando textos pela internet, fui a centros culturais e aprendi um pouquinho de cinema, dança, teatro, fotografia, artes plásticas, música e a ver relação da literatura com essas outras linguagens.
Infelizmente, não fiz parte de oficinas literárias, visto não existir nenhuma em Fortaleza ou Teresina. No entanto, creio que muito me ajudariam.
Ainda hoje acompanho o que está sendo publicado, viajo em sites de universidades e busco entender as discussões em torno da literatura, o que os escritores dizem. Aliás, gosto, principalmente, de escutar o que eles têm a dizer.
Quase esqueço de falar que, no início, eu mostrava os meus textos a um amigo que estudava letras. Um grande amigo, o Marcelo Magalhães, que possuía uma paciência enorme comigo.
Quase esqueço de contar que eu possuía uma turma que me emprestava livros, discutia literatura comigo, a quem, mais tarde também mostrei meus textos. São poetas inteligentes e sensíveis, a quem eu dava a liberdade de dizerem quando não gostassem de um texto meu. Júlio Lira, Eduardo Jorge, Diego Vinhas, Eli Castro, Rodrigo Magalhães.
Era difícil escutar de alguém que não gostou de um poema meu, mas eu cresci muito com isso. O mais interessante é que nós, da turma, seguimos caminhos diferentes e que nossas maneiras de ver a poesia nunca foram iguais, mas que, mesmo assim, sempre nos respeitamos bastante.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Publiquei quatro livros e eles são tão distintos entre si que parecem não terem sido escritos pela mesma pessoa. Apesar disso, são meus e eu os adoro. Digo isso, porque eu me encontro em uma situação em que meus textos talvez não formem um conjunto. Tenho procurado trilhar sempre um novo caminho e me sinto já uma pessoa multifacetada.
O meu livro Cruviana, por exemplo, traz uma temática nordestina que destoa de tudo o que é produzido nos grandes centros, como São Paulo e Rio. É por isso que me pergunto sobre quais autores me influenciaram e que foram referenciais para o meu trabalho.
Leio os autores brasileiros da década de 90 para cá, principalmente. Sinto atração por certa poesia americana do século vinte como William Carlos Williams e Robert Creeley. Quanto aos modernistas, prefiro Drummond, Bandeira e Murilo Mendes.
Gosto de ler autores inventivos, experimentais e que trabalhem a linguagem. No entanto, acredito que nem as obras destes autores, muito menos eles, se reconheçam como referenciais ao meu trabalho.




Ivaldo Ribeiro Filho. Nasci em Picos, Piauí, em 1974. Como meu pai era bancário, morei em várias cidades do interior do nordeste, durante a infância. A maior parte no Ceará. Residi durante dezoito anos em Fortaleza, e moro pela segunda vez em Teresina, onde estou desde 2006.
Sou graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará e tio da Marina.
Publiquei quatro livros: "O Chão Visitado" (2003), "No Intuito de Nenhuma via" (2005), "Cruviana" (2005) e "Quebranto" (2007). Publiquei a reunião "Poesia até Agora" (2007) e participei de três antologias.
Estive na Bienal Internacional do Livro do Ceará de 2006, no Primeiro Encontro de Revistas Literárias do Brasil, como debatedor.
Escrevi artigos que foram publicados nos sites Corsário (CE), Cronópios (SP) e Poema Show (RJ), além de outros.
Atuei como jornalista cultural no Portal de Internet Tribuna do Sol (PI), nos anos de 2006 e 2007.
Tenho textos na internet que podem ser encontrados ao colocar o meu nome completo (ivaldo ribeiro filho), entre aspas, no google – gerando uma pesquisa específica.
Participo do site Clicfolio. Um site voltado para portfólios de trabalhadores do setor criativo. Basta por Clicfolio no google e procurar escritores do estado do estado do Piauí. Lá são encontradas informações detalhadas das atividades que desenvolvi. E-mail: ivaldoribeirofilho@gmail.com

28 abril 2009

Micheliny Verunschk à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

A poesia para mim é a forma mais eficaz de alcançar algo inatingível, a essência do real ou, antes, o real em essência. É também o único modo pelo qual posso enxergar o mundo. Ela está um degrau acima da filosofia e um degrau abaixo do amor.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Ter uma dicção própria apesar de todas as referências que o acompanham.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

João Cabral de Melo Neto
Ezra Pound
Sophia de Mello Breyner Andresen

Os três, em diferentes momentos da minha vida, me ensinaram (e continuam a ensinar) os caminhos não só para um bom poema, como para a poesia. Isso é tudo e não é pouco.



Micheliny Verunschk é autora de Geografia Íntima do Deserto (Landy, 2003), indicado ao prêmio Portugal Telecom de 2004, e O Observador e o Nada (Edições Bagaço, 2003). Escreve o blog Ovelha Pop (www.ovelhapop.blogspot.com).

24 abril 2009

Alfredo Fressia à queima-roupa




1. O que é poesia para você?

Caro Edson, elétrico e aceso, primeiro minhas desculpas pelo meu atraso (três meses?) em responder as tuas perguntinhas sapecas. Confesso que não gosto dessas perguntas gigantes –o que é a vida, o mundo, para que existe o homem-. Uma resposta “ontológica” está condenada a ser incompleta. Idem as respostas fenomenológicas. Eu prefiro dar uma “resposta” –gigante também- assumidamente incompleta, a saber, a poesia é o melhor, mais profundo e mais denso espaço de reflexão da experiência humana. Por isso ela não é simpática ao capitalismo (assim dizia um verso de Gelman), nem aos tempos que correm, regidos pela pressa, pelo sumiço do homem nas multidões e pelas manipulações mediáticas. Ela é sabidamente perigosa e rebelde, uma teimosa mosca na sopa.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Iniciante ou velho de guerra, o poeta deve lembrar dessa rebeldia da poesia. O trabalho poético é artesanal, e não é vendável. A unidade da poesia é o poema, eventualmente até o verso, por isso o suporte livro não é absolutamente da sua natureza intrínseca. A poesia pode existir em qualquer mídia e qualquer paisagem humana, o jornal, a tela do computador, ou nessa “mídia” chamada memória. Ou na lua, lembraria o peruano Jorge Eduardo Eielson, onde queria ser enterrado e queria enterrar um poema dele, coitadinho.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Não, meu caro Edson, só três textos de só três poetas eu não escolho. A poesia é feita por todos, dizia meu patrício, o Isidoro Ducasse (e olha que ele se dizia Conde), ela é um tecido infinitamente polifônico, até pelo avesso do avesso o poeta é referência. Não há lugar para a penumbra em se falando de poetas. Quanto aos meus poetas mais amados, não somente eles são “íntimos” como também a obra deles quase não ilumina os poemas que me tocou escrever. Juro, é assim.

Caso Edson, não acho uma fichinha em português. Não tem tu vai tu mesmo em espanhol:


Alfredo Fressia nació en Montevideo en 1948. Radica en Saõ Paulo, Brasil, desde 1976, donde ha sido profesor y periodista cultural. Su trabajo literario, que incluye la traducción de poesía, la crítica y la crónica, se centra sin embargo en la creación poética. Su obra, traducida a varias lenguas, se compone hasta el presente de los siguientes poemarios:

Un esqueleto azul y otra agonía. Ediciones de la Banda Oriental. Montevideo. 1973. Premio del Ministerio de Educación y Cultura.
Clave final (Montevideo-Niterói 1975-1979). Ediciones del Mirador. Montevideo. 1982.
Noticias extranjeras. Ediciones del Mirador. Montevideo. 1984.
Destino: Rua Aurora. Edición del Autor. São Paulo. Primera y segunda ediciones. 1986.
Cuarenta poemas. Ediciones de UNO. Montevideo. 1989.
Frontera móvil. Aymara. Colección Arequita. Montevideo. 1997. Premio del Ministerio de Educación y Cultura.
El futuro/O futuro. Edición bilingüe. Versión portuguesa a cargo de Hermínio Chaves Fernandes. Edições Tema. Lisboa (Portugal). 1998.
Amores impares. Collage de poesía sobre la obra de nueve poetas uruguayos. Aymara. Colección Cuestiones. Montevideo. 1998.
Veloz eternidad. Vintén Editor. Montevideo. 1999. Premio del Ministerio de Educación y Cultura.
Eclipse. Cierta poesía 1973-2006. Civiles iletrados. Montevideo-Maldonado. 2003. Reeditado por Alforja Conaculta-Fonca, Colección Azor, México D.F., 2006.
Senryu o El árbol de las sílabas. Linardi y Risso. Col. La hoja que piensa. Montevideo, 2008. Premio Bartolomé Hidalgo 2008.

E-mail: alfress@uol.com.br

22 abril 2009

Marcelo Ariel à queima-roupa




1) O que é poesia para você?

A busca do Real fora da ficção do eu, onde a linguagem renasce como uma luz e um mapa para a descoberta do mundo.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Deve perseguir a renúncia ao eu através da linguagem, mesmo que para isso esbarre na incompreensibilidade e na obscuridade, aliás, a obscuridade limpa. Deve ler muito e sempre, principalmente os antigos que tinham a elegância de não assinar, ler os livros sagrados: Os Vedas, o I-Ching, a Bíblia (Nas versões de Martin Buber e André Chouraqui), O Tao Te King, o Dhammpada, o Alcorão, o Masnavi, enfim a leitura dos livros sagrados é a fonte da melhor poesia , não existiria Shakespeare sem a Bíblia do Rei James.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Herberto Helder e sua Poesia Toda, Helder abriu para mim um campo vasto de significados para a imagem como o acontecimento mágico, no sentido mais profundo e menos metafísico dessa palavra.

Wittgenstein e seu Tractatus Lógicus Filosoficus, um livro que me emociona até as lágrimas, porque seu autor tenta recuperar a dignidade do silêncio e desmontar a grande falcatrua do iluminismo, que até hoje serve de base para uma visão equivocada da vida e do mundo.

Fernando Pessoa e sua Obra Poética, Pessoa me mostrou a possibilidade que temos de criar universos quando nos afastamos um pouco da ficção do eu ou o reviramos pelo avesso, a poesia é a essência da magia e só a magia é real, aprendi isso com Pessoa.



Marcelo Ariel, nasceu em Santos-SP em 1968, Poeta, autodidata e perfomer. Autor dos livros: ME ENTERRE COM A MINHA AR 15 (Coletivo Dulcinéia catadora-SP-2007), TRATADO DOS ANJOS AFOGADOS (Letraselvagem-SP-2008) e O CÉU NO FUNDO DO MAR (a ser lançado pelo Coletivo Dulcinéia Catadora). E-mail: marceloahriel@yahoo.com.br

18 abril 2009

Jairo Pereira à queima-roupa




1) O que é poesia para você?

Até tempos atrás sustentava que poesia era produto fenomênico do pensamento, extrato de experiências cósmicas... extrema liberdade das linguagens. Hoje fujo de qualquer definição da dita.
Na verdade, poesia é mistério apreendido por um milagre das linguagens. Nem sempre acontece, mas com técnica (tipo um método subjetivo detido pelo verdadeiro poeta) o milagre tende a se repetir inúmeras vezes.
Poesia supera a filosofia na inauguração dos novos espaços do pensar, que o próprio visionarismo possibilita. Poesia, acata a dinâmica das linguagens que sempre se renovam, e atrás do poeta devem correr antropólogos, filósofos, exegetas e toda sorte de pensadores.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Considerar a poesia quase como um ofício, do qual não se pode esperar retorno financeiro. É missão na vida do sujeito criador. Missão de fé e descoberta das linguagens. Ninguém se mantém poeta por que quer, mas algo misterioso o faz poeta pra toda vida.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Angusto dos Anjos, me marcou com sua poesia forte. Não pela forma, mas sempre pelo conteúdo.

Edgar Allan Poe, pelo poema “O corvo” que lia e relia abismado.

Manuel Bandeira q. me emocionou quando li na escola o poema “A última canção do beco”.

Os poetas que cito, apenas me chamaram a atenção pra poesia, numa época em que sequer escrevia poemas, dos 17 aos 21. Comecei a escrever em poesia somente aos 24 anos, embora já tivesse alguns manuscritos bem amadores.


jAirO pEreIra. Nascido em 23/03/56 em Passo Fundo-RS. vive e trabalha em Quedas do Iguaçu-PR há mais de vinte anos. editou sete livros, sendo: O artista de quatro mãos – contos - ; O antilugar da poesia – manifesto poético - ; Signo de minha prática – poesia - ; Meus dias de trabalho – poesia - ; O abduzido – romance/ensaio e o livro-poema Capimiã pela Editora Medusa, Coleção Ruptura Réptil e ESPIRITH OPÉIA, Editora dos Recusados, poesia. Tem ensaios e artigos publicados em várias revistas e jornais (revistas escritas e eletrônicas como TANTO, EM TEMPO, A ARTE DA PALAVRA, BLOCOS, VERBO 21, COYOTE, PALAVREIROS,ONTEM CHOVEU NO FUTURO, REVISTA ZUNÁI, CRONÓPIOS, CAPITU, as últimas três de São Paulo e outras.
E-mail: jairopereiraadv@hotmail.com
Site: www.jairopereira.com.br

16 abril 2009

Affonso Romano Sant'Anna à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Poesia é o espanto transverberado.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

A mesma coisa que qualquer iniciante em qualquer matéria ou profissão. Iniciar sempre, até o fim. Ou, no caso da poesia, desconfiar dos que oferecem a receita da “verdadeira” poesia.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

O rei Davi, salmista
Camões, o lírico
Drummond

A Bíblia
Cartas e ensaios de Mário de Andrade
Introdução à metafísica - Heidegger



Affonso Romano de Sant’Anna: Um dia dizendo seus poemas no Festival Internacional de Poesia Pela Paz, na Coréia (2005), ou fazendo uma série de leituras de poemas no Chile, por ocasião do centenário de Neruda ( 2004), ou na Irlanda, no Festival Gerald Hopkins(1996), ou na Casa de Bertold Brecht, em Berlim(1994), outro dia no Encontro de Poetas de Língua Latina(1987), no México, ou presente num encontro de escritores latino-americanos em Israel(1986), ou participando o International Writing Program, em Iowa(1968), Affonso Romano de Sant’Anna tem reunido através de sua vida e obra, a ação à palavra . Nos anos 90 foi escolhido pela revista "Imprensa" um dos dez jornalistas que mais influenciam a opinião pública. Em 1973 organizou na PUC/RJ a EXPOESIA, que congregou 600 poetas desafiando a ditadura e abrindo espaço para a poesia marginal; foi assim quando em 1963, no início de sua vida literária, tornou-se um dos organizadores da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte. Com esse mesmo espírito de aglutinar e promover seus pares criou, em1991, a revista “Poesia Sempre” que divulgou nossa poesia no exterior e foi lançada tanto na Dinamarca, quanto em Paris, tanto em São Francisco quanto New York, incluindo também as principais capitais latino-americanas. Atento à inserção da poesia no cotidiano, produz poemas para rádio, televisão e jornais. Tendo vários poemas musicados (Fagner, Martinho da Vila), foi por essa e outras razões convidado a desfilar na Comissão de Frente da Mangueira na homenagem a Carlos Drummond de Andrade, em 1987. Apresentou-se falando seus poemas, em concerto, ao lado do violonista Turíbio Santos. Tem também quatro CDs de poemas: um gravado por Tônia Carrero, outro comparticipação especial de Paulo Autran, outro na sua voz editado pelo Instituto Moreira Salles e o mais recente outro pela Luzdacidade, com a participação de atrizes e escritoras. Seu CD de crônicas, tem participação especial de Paulo Autran. Escreveu dezenas de livros de ensaios e crônicas. Como cronista, aliás, substituiu Carlos Drummond de Andrade no “Jornal do Brasil” (1984). E-mail: santanna@novanet.com.br

10 abril 2009

Ana Elisa Ribeiro à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Eu não sei bem o que é, mas certamente é algo necessário em minha vida. A poesia é um aspecto das coisas que só alguns conseguem transformar em texto. Talvez isso. E esse texto precisa ter certas características. Umas delas são óbvias, formais; outras são mais sutis. João Cabral de Melo Neto dizia que o poeta sabe quando o poema está pronto porque o texto faz um clique, algo parecido com o clique dos estojos quando se fecham. O pulo do gato da poesia, para o poeta, é esse clique. Para o leitor, o texto precisa provocar um outro clique desses.


2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Ele deve perseguir a precisão. Não é engraçado? Geralmente, associamos a poesia à subjetividade, à abstração. Essas coisas têm um quê de vaguidão. Mentira. O poema precisa ser exato, justo. Não pode ter palavra demais.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Não são exatamente escolhas. São cliques. A gente lê um poeta, um dia, e calha de ele fazer clique na gente. Foi assim com Paulo Leminski, que me deixou perplexa por uns dias. Conheci os poemas dele no colégio. João Cabral de Melo Neto me deixava perplexa de um outro jeito. E, por fim, a Adília Lopes, que tem uma ironia que me causa muito estranhamento.



Ana Elisa Ribeiro nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, em 1975. Graduou-se em Letras, língua portuguesa, e desenvolve tese de doutoramento sobre a formação de leitores de textos na Internet. Publicou Poesinha (Poesia Orbital, 1997) e Perversa (Ciência do Acidente, 2002), além de minicontos e poemas em revistas e jornais, no Brasil e em Portugal. É cronista do site Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com). Tem dois livros prontos para serem publicados: Meu amor é puro sangue, de contos, e Portáteis, de poemas. E-mail: escrevaquerida@gmail.com

08 abril 2009

Anibal Beça à queima-roupa




1) O que é poesia para você?

A poesia se há uma função para ela, é a de ter o poder de transformar o irreal no real e o real no imaginário. Tem o poder de humanizar um mundo que está zangado consigo. Este mundo em que vivemos em meio a tanta barbárie.
Creio no poder da poesia, que me dá razões para ver adiante e identificar um clarão de luz. Eu sou um trabalhador de metáforas, não um trabalhador de símbolos.
Eu considero a poesia uma medicina espiritual. Posso criar com palavras o que não encontro na realidade. É uma tremenda ilusão, mas positiva: não tenho outra ferramenta com que encontrar um sentido para minha vida ou para a vida daqueles do meu chão (vide “Filhos da Várzea”). Tenho o poder de outorgar-lhes beleza por meio de palavras e plasmar um mundo belo expressando também sua situação. No feio também há beleza. Tudo é matéria para o poema.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Ler muita poesia. No café, no almoço, no jantar. Ler sobre poesia. Imitar os mestres num primeiro momento. Depois saber cortar o umbigo. Poderia sugerir algumas leituras como pré-requisito: A poética de Aristóteles, Poesia de Massaud Moisés, As Vanguardas e seus manifestos de Gilberto Mendonça Teles, Poesia experiência de Mario Faustino, Poesia de T.S. Eliot, ABC da literatura e poesia Ezra Pound, Cartas a um jovem poeta de Rainer Maria Rilke, “Itinerário de Pasárgada” de Manuel Bandeira, entre muitos outros.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Mario Quintana, Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Jorge de Lima. O primeiro, pela descoberta da poesia, pela criatividade e por saber manejar com o mínimo um vasto universo poético. O segundo, pela musicalidade, pelo ritmo do verso, aliados às imagens, às ideias e pensamentos de modo singular O terceiro, pelo lirismo do cotidiano, das coisas banais, tratados na simplicidade com maestria. E por último, não nessa condição, senão o primeiro dos primeiros, pela genialidade.

"O modernismo e três de seus poetas", "Razão do poema", "A volta do poema", "O fantasma romântico" ensaios críticos de José Guilherme Merquior; "Signo e Sibila" e os dois volumes de "Ensaios escolhidos" de Ivan Junqueira e "Poesia e desordem", "Romantismo", "João Cabral - a poesia de menos" e "Escritos sobre poesia e alguma ficção", de Antonio Carlos Secchin. Pelo rigor, pela atualidade, pela discussão de idéias centradas na modernidade sem perder o seu vínculo com a tradição.


ANIBAL BEÇA é o nome literário de ANIBAL AUGUSTO FERRO DE MADUREIRA BEÇA NETO, poeta, tradutor, compositor, teatrólogo e jornalista, nasceu em Manaus, na Amazônia brasileira, em 13 de setembro de 1946. Trabalhou como repórter, redator e editor, em todos os jornais de Manaus. Foi diretor de produção da TV Cultura do Amazonas, Conselheiro de Cultura, consultor da Secretaria de Cultura do Amazonas. Vice-presidente da UBE-AM União Brasileira de Escritores, presidente da ONG “Gens da Selva”, onde atualmente exerce o cargo de vice-presidente, bem como de presidente do Sindicato de Escritores do Estado do Amazonas e presidente do Conselho Municipal de Cultura;.é membro da Academia Amazonense de Letras. Neste ano de 2009, completa 43 anos de atividade literária e 45 de atuação na música popular, tendo vencido inúmeros festivais de MPB por todo o Brasil. Em 1994 recebeu o Prêmio Nacional Nestlé, em sua sexta versão, com o livro "Suíte para os Habitantes da Noite", concorrendo com 7.038 livros de todo o Brasil.
Ao lado de seus afazeres literários e musicais, tem se destacado em prol da causa da integração cultural latino-americana, seja traduzindo escritores de países vizinhos, ou participando e organizando festivais e encontros de poesia. Representou o Brasil no IX Festival Internacional de Poesia de Medellín, no III Encontro Ulrika de escritores em Bogotá e no VI Encuentro Internacional de Escritores de Monterrey. Sua produção poética tem sido contemplada em importantes revistas: “Poesia Sempre” (Brasil), “Casa de las Américas” (Cuba), “Prometeo” (Colômbia), “Ulrika” (Colômbia), “Revista Armas & Letras” da Universidade de Nuevo León ( México), “Tinta Seca”( México), “Lectura” (Argentina), “Frogpond Haiku”( Estados Unidos), “Amazonian Literary Review” (Estados Unidos), “Mississippi review” (Estados Unidos).

LIVROS PUBLICADOS: Convite Frugal, Edições Governo do Amazonas (1966), Filhos da Várzea, Editora Madrugada (1984), Hora Nua, Editora Madrugada (1984), Noite Desmedida, Editora Madrugada (1987), Mínima Fratura, Editora Madrugada (1987), Quem foi ao vento, perdeu o assento, Edições Muraquitã (teatro, 1988), Marupiara – Antologia de novos poetas do Amazonas, Edições Governo do Amazonas (organizador, 1989), Suíte para os habitantes da noite, Paz e Terra (1995), Ter/na Colheita, Sette Letras (1999), Banda da Asa – poemas reunidos, Sette Letras, (1999), Ter/na Colheita, Editora Valer (2006, segunda edição), Noite Desmedida, Editora Valer (2006, segunda edição), e Folhas da Selva, Editora Valer (2006). Chá das quatro, Editora Valer (2006) Águas de Belém, Editora Muhraida(2006); Águas de Manaus, Editora Muhraida( 2006). PALAVRA PARELHA reunindo os livros Cinza dos Minutos, Chuva de Fogo, Lâmina aguda, Cantata de cabeceira e Palavra parelha, Edições Galo Branco, Rio, 2008.

CD – MÚSICA: ANIBAL BEÇA – O Poeta solta a voz (2001) e DUAS ÁGUAS – 2006
E-mail: anibal.beca@vivax.com.br