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12 abril 2009

O culto ao amador e aos amantes



A reação começou há algum tempo. E vai gerar muita discussão, polêmica, defesas e táticas de guerra.

Na Ilustrada deste sábado (11/04/2009) podemos conferir a “crítica” de colunista da Folha sobre o livro de Andrew Keen, O culto do amador, recém-lançado no Brasil pela Jorge Zahar. Keen, que foi professor da universidade de Massachusetts e de Berkeley (EUA) e um dos pioneiros do Vale do Silício, já se tornou figurinha carimbada com suas opiniões medrosas e amedrontadoras que vaticinam o fim de nossa cultura se a liberdade e a facilidade da web 2.0 continuar com os seus milhões de blogueiros e “pseudo-editores” gerando e postando conteúdos e informações na Net. O subtítulo de seu livro em inglês já diz tudo: “como a internet de hoje está matando a nossa cultura”.

Você pode acompanhar e conhecê-lo mais acessando o seu blog (sim, claro, ele também bloga), http://andrewkeen.typepad.com/.

O colunista [João Pereira Coutinho], em sua “crítica”, não deixa de se colocar e tomar partido (pois o texto está sem aspas...): “A internet, e o culto do amadorismo que ela promove, ameaça as instituições culturais que fizeram o nosso mundo. Jornais, música, literatura ou cinema estão sendo assaltados por milhões de internautas que não respeitam os direitos autorais e roubam conteúdos sem um pingo de vergonha. Sem falar do resto: exércitos de blogueiros em pijama que acreditam e professam um radical igualitarismo de opiniões. Na cacofonia da internet, um Ph.D. de Harvard, que passou os melhores anos da sua vida enfiado em bibliotecas, não tem mais valor intrínseco do que um autodidata adolescente, que plagia ou inventa na cave do seu subúrbio. Será possível suportar este assalto?”

O mesmo jornal já havia publicado uma entrevista com ele, Keen, em 2007. Se você tiver acesso ao UOL ou a Folha poderá conferi-la aqui. Nela ele diz que “Há um legado hippie na filosofia libertária da blogosfera, no desprezo à autoridade, à mídia tradicional. Acho que a autoridade do Estado, da mídia, são coisas que devemos prezar, porque têm valores significantes que, se minados, criariam a anarquia. A rejeição da autoridade vista nos blogs não é progressista, é anarquista.”

Para mim é justamente este o ponto de inflexão e de possibilidade inovadora gerada pela Net — pelos sites e pelos blogues. Principalmente, em se tratando de Cultura. São vozes alternativas e não viciadas que, justamente por não se afinarem ao establishment, poderão romper paradigmas e criar caminhos novos e insuspeitados.

Os blogues surgiram em 1999 e hoje estão longe de serem simples diários umbigóides e sem interesse geral. Estima-se que existam mais de 10 milhões de blogues na rede e a cada instante milhares de novos blogues são criados. O crescimento é assustador e não pode ser ignorado. E não está sendo. A reação da mídia tradicional toma corpo e desloca-se para o campo das idéias, e das noções de autoria/autoridade e de direitos.

Já houve um debate sobre o livro no Prosa Online. Confira.

O jornal O Estado de S. Paulo, também, já faz parte da história deste confronto com sua campanha que “insinuava” serem os blogueiros meros macacos. Veja aqui.

Acabo de ler o livro de Hugh Hewitt, BLOG – Entenda [entendendo] a revolução que vai mudar seu mundo. Esperava mais, bem mais... No entanto, para quem se preocupa com a questão, ou está no meio dela, é um livro que precisa ser lido. O cara é um republicano autodenominado de centro-direita, professor de Direito na Chapman University e já foi apresentador de TV e agora de rádio.

Quando escreveu o livro, havia em torno de quatro milhões de blogues na rede e ele conta, de seu ponto de vista e de outros blogueiros, a invasão dos blogues na “seara da política e do jornalismo”. A partir daí, os blogues e blogueiros começaram a chamar atenção e, alguns, a serem mais respeitados do que os comentaristas e jornalistas da mídia tradicional.

Apesar de todo papo republicano e antiesquerdista (pré-Barack Obama, que usou como ninguém a Net e a blogosfera) de Hewitt ele acerta o alvo quando diz: “O que permitiu que Lutero fosse bem-sucedido em sua reforma quando outros tinham fracassado? O que permitiu a Calvino moldar o pensamento de todas as gerações que vieram depois? A imprensa. Em 1449, Gutenberg amplificou a voz humana de tal modo que ela pôde ser ouvida em todo o mundo. Ele forneceu os meios pelos quais uma pessoa pode se comunicar com as massas sem a interferência das estruturas institucionais. Finalmente os indivíduos podiam falar, e ninguém podia silenciá-los.
Para a mídia hegemônica, estamos ao mesmo tempo em 1449 e 1517.”

Em outro momento do livro ele diz: “Os blogs são feitos de velocidade e confiança e a mídia tradicional hegemônica é lenta demais e tem confiança de menos.”

Em outras palavras, o que concluo baseado em meu próprio trabalho e incursões na Net é que a autoridade do Estado, da mídia, das grandes corporações, das editoras, da Academia, não deve ser menosprezada e sim levada em consideração na “cruzada” por uma nova cultura mais aberta, mais solidária (com o reconhecimento e valorização das inúmeras diferenças) e “verdadeira” — com consciência e sem ingenuidade. Uma Cultura onde os fundamentos possam ser questionados e, quiçá, redirecionados. Se queremos um novo mundo, precisamos interferir nele. Conhecer e utilizar suas amplas ferramentas.