ano que
vem não irei ao Japão
nem visitarei
Jerusalém
estarei por
aí recolhendo
os
pedaços de meu coração americano
mas enviarei
cartões-postais
para os
amigos
e para
mim mesmo
decalcarei
neles selos comemorativos
comprados
em algum mercado de Istambul
o
envelope exalará um odor de milho
e em
letras miúdas grafarei meu nome
o
sobrenome e também o local
de
alguma visitação histórica ou religiosa
no cartão
se lerá: queridos, saudades, fico por aqui
não
visitei templos budistas nem sinagogas
vi de
relance a Mona Lisa
mas não
era a original
as
catedrais daqui são inigualáveis
mas só
as vi de fora
as entradas
estão proibidas
os
monitores dos museus foram desligados
há muita
“gente” na rua buscando bares
os
branquelos passeiam com suas bermudas
e os que
ali éramos morenos
fingem
que são mouros
pois há
gringos da Califórnia e eles parecem
que são
louros
fico do
lado de fora a observar a encenação
de um
mundo que já não é o mesmo
quero
crer que minha visão é privilegiada
uma serenata
sem metáforas
me
azucrina as noites
não há
palavras para o som metálico
das
castanholas que vibram
sob a tensão
que se instaurou
no velho e bizarro mundo.