22 junho 2009

Victor Paes à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Poesia é quando as coisas nos atingem com o fato de serem coisas... O poeta é aquele que tem a coragem de mostrar como esse mecanismo é arrebatador, mas indomável, apesar de negarmos isso diariamente, inclusive nos próprios poemas, a ponto de negarmos o próprio mecanismo. As palavras são poéticas quando nos atingem com o fato de serem palavras.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Existe muito, muito a fazer... ler, acima de tudo, buscar, desacreditar, acreditar, andar, ouvir, gritar, estar atento a absolutamente todos os gestos e ações. Mas tudo isso vai ser em vão se ele pensar a poesia apenas como crônica da poesia, pois aí só vai encontrar palavras velhas (cheias de fórmulas e celebrações), ou como poesia da poesia, pois aí pode acabar encontrando só palavras e mais nada. Nos dois casos vai estar sendo apressado, fazendo escolhas supostamente decisivas, e estacionando logo de saída. A primeira coisa é botar como meta entender como a poesia é tensão, desconforto real, com tudo. Buscando isso nas palavras, vai encontrar na vida e vice-versa (até porque são indissociáveis).

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Vou citar três poetas extremamente desconfortantes: Antonio Cisneros, que faz qualquer mágica parecer uma palavra das mais simples, como se fosse possível uma precisão cirúrgica para isso (e que ele alcança sempre)... e por saber usar como ninguém a palavra “como”; Manoel de Barros, por não separar homem e natureza, mas tensioná-los, e por seu constante embate nessa história das palavras serem palavras; e Mário Quintana, pelo seu ludismo desesperado e por buscar no poema sua “misteriosa condição de poema”.


Victor Paes é escritor, ator, editor da revista e da editora Confraria do Vento. Publicou em 2007 o livro de poesia O óbvio dos sábios e hoje prepara seu primeiro livro de contos. Tem publicados seus textos em revistas e sites como Cronópios, Germina, Polichinello, entre outros. É um dos 21 poetas da coletânea XXI Poetas de hoje em dia(nte), organizada por Priscila Lopes e Aline Gallina, pela editora Letras Contemporâneas. Escreve também para teatro e já teve montadas algumas de suas peças, dentre elas Mara em um quarto, As três Marias, e Os cálices do deus. Publica o blog http://victorpaes.blogspot.com. E-mail:

Um comentário:

  1. Victor Paes é guerra fuderosa, ou melhor, tuberosa. Que a Terra lhe seja leve, Atlas!

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