Corria o ano de 1978. Um ano que também não terminou. Milton Nascimento arregimenta seu time de amigos e parceiros, organiza o lado musical e, com a produção de Ronaldo Bastos, presenteia-nos com mais um disco histórico: o Clube da Esquina 2. Diferentemente do trabalho coletivo realizado no Clube da Esquina, que podemos considerar como um projeto marginal e alternativo, feito em parceria com o jovem Lô Borges e a liberdade criativa de músicos e letristas amigos, o Clube 2 foi um álbum inteiramente idealizado e concebido por Milton. A EMI ODEON deu carta branca e o nosso Bituca fez o disco como bem quis. O resultado firmou de vez Milton e seus confrades talentosos no primeiro time do caudaloso rio da Música Popular Brasileira. A essa altura do campeonato o som nutrido e sintetizado por Milton e seus parceiros entre as montanhas maviosas de Minas tinha gerado afluentes que entraram de vez na corrente sanguínea da música mundial.
Nesse disco duplo, produção muito difícil de ser repetida nos dias bicudos do mercado fonográfico atual, um verdadeiro rosário de belas e marcantes canções, parcerias cristalizadas, novos talentos e grandes nomes da MPB se fizeram presentes — Chico Buarque de Hollanda, Elis Regina e Gonzaguinha, entre outros. Como esquecer de “Nascente” — uma das músicas mais tocadas do disco —, parceria de Flávio Venturini e Murilo Antunes, uma pequena pérola da música popular brasileira de todos os tempos? E o que falar da música “Cancion por la unidad de Latino América”, composição de Pablo Milanês adaptada por Chico, cantada por Milton e o próprio Chico Buarque no disco?
Vivíamos no país um momento de esperança pelo que ficou conhecido de “distensão lenta e gradual” de um regime que havia paralisado a todos e a tudo. Era o momento de, por um lado, fazer um balanço das vivências e ganhos até então e, por outro, abrir-se a novos caminhos que exigiam serem percorridos.
Milton chamou seus dois principais letristas, Fernando Brant e Márcio Borges, e os instruiu a contabilizar em cima de uma mesma melodia tudo o que eles haviam vivenciado desde o Clube da Esquina inaugural. O resultado é a música, com duas letras, “O que foi feito devera/O que foi feito de Vera”. O que havia sido feito de nós? O que havia sido feito do Brasil? O que havia sido feito de nossos sonhos de meninos? De certa forma o disco todo é uma resposta abrangente para essas perguntas. Uma resposta que apontava para a certeza de que “outros outubros virão, outras manhãs plenas de sol e de luz”.
[Texto para edição especial do site do Museu Clube da Esquina. Confira fotos e depoimentos sobre o disco em http://www.museudapessoa.net/clube/expo_clube2/]
Nesse disco duplo, produção muito difícil de ser repetida nos dias bicudos do mercado fonográfico atual, um verdadeiro rosário de belas e marcantes canções, parcerias cristalizadas, novos talentos e grandes nomes da MPB se fizeram presentes — Chico Buarque de Hollanda, Elis Regina e Gonzaguinha, entre outros. Como esquecer de “Nascente” — uma das músicas mais tocadas do disco —, parceria de Flávio Venturini e Murilo Antunes, uma pequena pérola da música popular brasileira de todos os tempos? E o que falar da música “Cancion por la unidad de Latino América”, composição de Pablo Milanês adaptada por Chico, cantada por Milton e o próprio Chico Buarque no disco?
Vivíamos no país um momento de esperança pelo que ficou conhecido de “distensão lenta e gradual” de um regime que havia paralisado a todos e a tudo. Era o momento de, por um lado, fazer um balanço das vivências e ganhos até então e, por outro, abrir-se a novos caminhos que exigiam serem percorridos.
Milton chamou seus dois principais letristas, Fernando Brant e Márcio Borges, e os instruiu a contabilizar em cima de uma mesma melodia tudo o que eles haviam vivenciado desde o Clube da Esquina inaugural. O resultado é a música, com duas letras, “O que foi feito devera/O que foi feito de Vera”. O que havia sido feito de nós? O que havia sido feito do Brasil? O que havia sido feito de nossos sonhos de meninos? De certa forma o disco todo é uma resposta abrangente para essas perguntas. Uma resposta que apontava para a certeza de que “outros outubros virão, outras manhãs plenas de sol e de luz”.
[Texto para edição especial do site do Museu Clube da Esquina. Confira fotos e depoimentos sobre o disco em http://www.museudapessoa.net/clube/expo_clube2/]
Belo texto, Edson, para um belo disco (um dos mais importantes da música brasileira). E é também ótimo o especial sobre o Clube da Esquina no site do Museu da Pessoa.
ResponderExcluirO Clube da Esquina representa muita coisa para mim. Eu, que sou mais novo e não vivi a época em que ele foi lançado, sinto um inexplicável saudosismo misturado com uma sensação de frescor, de mudança, toda vez que ouço as músicas do Milton, dos irmãos Borges, do Fernando Brant, do Flávio Venturini e toda aquela turma.
Mas toda vez que ponho os cds do Clube para tocar (tenho a caixa com os três cds), acabo tão enfeitiçado pelo Clube da Esquina 1 que poucas vezes consigo ouvir o 2, duplo. Não que seja melhor que o segundo, mas é que fico tão emocionado com "Tudo que você podia ser", "Um girassol da cor do seu cabelo", "Paisagem da janela" e todas as outras que só consigo mandar repetir o disco e acabo deixando os outros dois de lado. Mas já decidi inverter a ordem, ouvir antes os cds do Clube da Esquina 2, para ficar tão viciado neles quanto fiquei no primeiro (que tem sido o disco mais tocado aqui em casa por muitos e muitos meses).
Ah, e aproveitando o espaço: hoje, aniversário de SP, tem Flávio Venturini no Parque da Independência, em seguida tem Milton e Lô. Eu vou, nem que seja de bote.
Edson, um abraço pra você.
Oi, Edson,
ResponderExcluirEu vivi isso na minha pré-adolescência e adolescência. Este disco, "Meus caros Amigos", do Chico, aquele do show no Canecão com o Chico e a Bethania. Sinto saudades destes tempos tão esperançosos. Eu continuo perguntando: "O que fizeram com o Brasil?", "O que fizeram com os nossos sonhos de meninos?".
Pensei que só eu lembrasse destes tempos.
Bela homenagem.
Bjs
Uma pequena história.
ResponderExcluirQuando foi lançado O Clube da Esquina 1, eu era um moleque, e me recordo bem que estava passando em frente a loja de disco (Discoteca do Messias) aqui em Vitória - parei e fiquei ouvindo o disco. Quando completei 13 anos, foi lançado o número 2. No natal, meu pai me deu um trocado para comprar o que quisesse. Fui na discoteca e comprei o Clube da Esquina 2. Disco marcante e fundamental para nossa geração.
Bela lembrança Edson.
Lembro que "O Clube da Esquina 1" foi o primeiro disco que comprei quando a vida me levou a montar de novo minha discoteca pessoal. O 2 também tem grande importância. Música boa é prá sempre.
ResponderExcluirOi, Edson. O texto sobre as rosáceas de Proust está ótimo.
ResponderExcluir