Mostrando postagens com marcador Augusto de Campos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Augusto de Campos. Mostrar todas as postagens

17 janeiro 2009

Augusto de Campos à queima-roupa

 
[foto: Pipol] 



O Soulman da poesia brasileira responde: 

  1) O que é poesia para você? 

 De preferência, a poesia dos outros. E o que é poesia? Respondendo à pergunta “o que é música?”, Schoenberg saíu-se com esta historinha: Um cego perguntou ao seu guia: — Como é o leite? O outro: — O leite é branco. O cego: — E o que é esse “branco”? Me dê um exemplo de algo que seja “branco“! O guia: — Um cisne. Ele é totalmente branco e tem um pescoço longo e curvo. O cego: — Pescoço curvo? Como é isso? O guia, imitando a forma do pescoço do cisne com o braço, fez com que o cego o apalpasse. O cego: “Ah! agora eu sei como é o leite…” Bom, para não desanimar o leitor, dou duas definições de poesia de dois outros cegos: Paul Valéry: “Hesitação entre o som e o sentido.” Ezra Pound: “Uma espécie de matemática inspirada que nos dá equações não para imagens abstratas, triângulos, esferas, etc, mas equações para as emoções humanas.” 

  2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira? 

 Perseguir implacavelmente a si próprio. Jamais perseguir o sucesso. 

  3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas? 

 Um Lance de Dados Jamais Abolirá o Acaso, de Stéphane Mallarmé. Inaugurou a poesia do século 20 e continua a presidir o espaço poético-cyberal. Finnegans Wake, de Joyce, panAroma das flores da fala, telescopagem vocabular, racionalidade do caos. Os Cantos, de Pound, montagem-colagem-ideograma, estratégias básicas para a poesia de nosso tempo. 





  Augusto de Campos nasceu em São Paulo, em 1931. Poeta, tradutor, ensaísta, crítico de literatura e música. Em 1951, publicou o seu primeiro livro de poemas, O REI MENOS O REINO. Em 1952, com seu irmão Haroldo de Campos e Décio Pignatari, lançou a revista literária "Noigandres", origem do Grupo Noigandres que iniciou o movimento internacional da Poesia Concreta no Brasil. O segundo número da revista (1955) continha sua série de poemas em cores POETAMENOS, escritos em 1953, considerados os primeiros exemplos consistentes de poesia concreta no Brasil. O verso e a sintaxe convencional eram abandonados e as palavras rearranjadas em estruturas gráfico-espaciais, algumas vezes impressas em até seis cores diferentes, sob inspiração da Klangbarbenmelodie (melodia de timbres) de Webern. Em 1956 participou da organização da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta (Artes Plásticas e Poesia), no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Sua obra veio a ser incluída, posteriormente, em muitas mostras, bem como em antologias internacionais como as históricas publicações Concrete Poetry: an International Anthology, organizada por Stephen Bann (London, 1967), Concrete Poetry: a World View, por Mary Ellen Solt (University of Bloomington, Indiana, 1968), Anthology of Concrete Poetry, por Emmet Williams (NY, 1968). Sua poesia está coligida principalmente em Viva Vaia (1979, 4ª ed. 2008), Despoesia (1994) e Não (2003, 2ª ed. 2008). Últimos estudos e traduções: Poesia da Recusa (2006), Quase-Borges (2006) e Emily Dickinson: Não sou Ninguém (2008). Site: www2.uol.com.br/augustodecampos