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29 janeiro 2009
Bárbara Lia à queima-roupa
1) O que é poesia para você?
A poesia é o meu ar. Minha forma de expressão. Meu jeito de dizer e narrar e questionar e transformar a realidade ao redor e assim alumbrar almas. Manoel de Barros fala deste – deslumbrar – que a poesia deve causar. Para mim a poesia se apresentou com muitas faces e de diversas maneiras. Na infância era um assombro em forma de épicos que meu pai recitava pela casa bem como a mãe dele - minha avó fantasmagórica - que tinha o dramático atado ao ombro em fragmentos de Camões e versos de Alan Poe. Não me via capaz de escrever um épico. Eu jamais seria Castro Alves ou Gonçalves Dias, penso que isto distraiu meu destino. Confesso que sentia um fascínio incrível por aquilo e meu pensamento menino, a primeira idéia de – o que vou fazer quando crescer? – era mesmo ser escritora. Narrar belas histórias que tocasse as pessoas, como eu me sentia tocada pelos versos e livros. Décadas de sonho engavetado e a poesia veio ao meu encontro, eu já passava dos trinta e cinco anos - alguns versos rabiscados aos vinte se perderam, um único foi salvo por uma amiga que o guardou por 25 anos. Já vivi meio século e a poesia esteve sempre ao lado. A poesia está em lugares inimagináveis. Posso dizer que ela tornou minha vida suportável.
2)O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?
Penso que cada qual faz o seu caminho. A poesia é universal, mas, cada poeta é único.
Todo poeta não pode fugir, no entanto, da realidade que o cerca e nem da dureza deste ofício. “A terra é sempre sua negra algema” diz Cruz e Sousa aos Assinalados. E ser assinalado tem mais peso que glória e mais dor que alegria. Ainda assim, a poesia pede e ela é uma amante exigente.
O que o poeta deve perseguir de qualquer maneira? O poema. O resto é acréscimo.
3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?
Hilda Hilst, toda a poesia dela. É uma poesia construída com refinamento, mas, tem dentro o humano. Esta aspereza que o amor tem e que ela traduz de forma amorável. Sem nuances piegas ou palavras melosas. Linho antigo e áspero. Pura Arte.
Dos heterônimos de Fernando Pessoa foi Alberto Caeiro que lavou o excesso de seriedade que eu sempre trouxe colado a mim por conta de uma vida burocrática - Há metafísica bastante em não pensar em nada – O guardador de rebanhos. E talvez por comungar com estes versos:
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E Maiakóvski. Li um livro traduzido por Boris Schnaiderman, faz muito tempo. Apanhei na Biblioteca e não guardei o nome. Fiquei totalmente apaixonada por Maiakóvski. Pela poesia revolucionária e pela fragilidade de um homem que escreve uma poesia como aquela para Lila Brik, em lugar de uma carta.
Bárbara Lia nasceu em Assaí, norte do Paraná. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Revista Germina, Cronópios, Blocosonline, Zunái, Editora Ala de Cuervo, La Lupe – Centro Internacional de Literatura Vanguardista entre outros. Foi por duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura: em 2004 com o romance Cereja & Blues (inédito em livro) e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada (publicado em 2008 pela Secretária de Estado da Cultura.
Livros:
O sorriso de Leonardo (Poema – Kafka ed. Baratas, 2.004)
Noir (Poema – ed do autor – 2.006)
O sal das rosas (Poema, Lumme editor – 2.007)
A última chuva (Poema, ME – ed. alternativas – MG – 2.007)
Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná - 2008)
Email: barbaralia@gmail.com
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