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13 outubro 2010

A poesia diz SIM



Vem aí mais um evento SIMPOESIA 2010. A poeta pernambucana Micheliny Verunschk lançará seu 3º livro, "Cartografia da Noite" durante o evento. Confira e participe.



Um suicídio

A aranha
delicada
lambe-me
entre os dedos
e uma luva
de veludo negro
se espalha por todo o braço.

Do outro lado,
a outra mão,
pálida como a neve
sangra maçãs
sobre um bilhete
inacabado.

Não há espelho
ou beijo
que as despertem.

Paralisia.

***

Coliseu

Os carros rugem.

Espera de arenas, o círculo das batalhas.

A cidade se oferece: carne.

Abre a sua guarda
e os leões colidem,
esfomeados.

Hostes e dentes,
o seu nome é Legião.

***

Naufrágio

Silêncio,
agora me destroço,
mastro retorcido,
casco arrebentado.

Meu nome encontra
o rosto da sereia cega
e decepada.

Meu nome encontra o nome
desse país provisório
entre a vida e a água.

Vértebras.

Pele furada.

Olho de baleia.

Agora é a minha deixa.

Coluna dolorida
tocando o abismo
desse céu inverso.

Incisão de agulhas de tricô.

Silêncio.
Agora me atravessam
pregos,
travessões.

Silêncio,
agora começou.



Micheliny Verunschk,  escritora pernambucana, escreveu Geografia Íntima do Deserto (Landy Editora), livro finalista do Portugal Telecom de 2004,  e O Observador e o Nada (Edições Bagaço). Tem trabalhos publicados nos Estados Unidos, Canadá, França e Portugal.

28 abril 2009

Micheliny Verunschk à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

A poesia para mim é a forma mais eficaz de alcançar algo inatingível, a essência do real ou, antes, o real em essência. É também o único modo pelo qual posso enxergar o mundo. Ela está um degrau acima da filosofia e um degrau abaixo do amor.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Ter uma dicção própria apesar de todas as referências que o acompanham.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

João Cabral de Melo Neto
Ezra Pound
Sophia de Mello Breyner Andresen

Os três, em diferentes momentos da minha vida, me ensinaram (e continuam a ensinar) os caminhos não só para um bom poema, como para a poesia. Isso é tudo e não é pouco.



Micheliny Verunschk é autora de Geografia Íntima do Deserto (Landy, 2003), indicado ao prêmio Portugal Telecom de 2004, e O Observador e o Nada (Edições Bagaço, 2003). Escreve o blog Ovelha Pop (www.ovelhapop.blogspot.com).