Qual foi o norte de seu livro? Poderia fazer uma pequena sinopse?
O livro foi se fazendo, no corpo a corpo com a palavra e com o amadurecimento de minhas vivências e questionamentos atuais. Apesar de gostar do ser humano, vejo suas (e minhas) ações no mundo com muito estranhamento. Depois da seleção feita, percebi que o tema da morte e da epifania perpassa o livro como uma névoa bem sólida. O poeta e compositor Antonio Cicero soube captar e pontuar bem o lance do livro quando diz, na apresentação, que “o autor de Sambaqui tornou-se capaz de reconhecer e aceitar, olho no olho, a estranheza que de fato se abate sobre tudo o que é humano. Nesse reconhecimento e nessa aceitação, Sambaqui atinge seus mais admiráveis momentos, em diversos poemas de estranha, concisa e tensa beleza.”
Eu ainda acredito no ser humano. Estou no time daqueles que creem (talvez ingenuamente) que, depois de Auschiwtz e dos milhões que morrem de fome na África, a poesia ainda precisa ser praticada e ainda é de extrema importância e eficácia para recuperarmos nossa humanidade perdida. Para o que mais serviria a linguagem?
As poesias são de lavra recente? Ou há poemas antigos que se mesclam a novos?
Meu livro anterior de poemas é de 2007. De lá pra cá, escrevi muito e amadureci sobremaneira minha escrita. Estive sempre dialogando, além da tradição, com grandes poetas ainda vivos., devido ao meu trabalho como editor do site Capitu e depois do Cronópios. Foi uma pós-graduação em literatura e poesia.
Há sempre um poema ou outro que pescamos na memória ou na gaveta de guardados e o retrabalhamos até que ele efetivamente faça o clique da caixinha se fechando, como já disse João Cabral de Melo Neto.
Como percebe a recepção da poesia no mundo atual, tão conturbado?
A recepção da poesia atualmente quase não acontece. Isso é uma questão de mercado, e você sabe que a poesia é um inutensílio, indispensável, mas ainda assim um inutensílio. Ela não tem valor de mercado.
Infelizmente, a crítica ou está morta ou dedicada apenas aos mortos. E pra arrematar o desastre, o jornalismo cultural vigente está mais preocupado com o que está rolando nos reality shows por aí, ou com aquele autor americano que ganha anualmente mais de 80 milhões de dólares em direitos autorais.
Se não fosse a web, talvez, não estivéssemos mais falando de poesia contemporânea.
No evento haverá recitação?
Não. Será um lançamento nos moldes antigos, sem performances nem desmaios na fila de espera.
[Diálogo com a jornalista Patrícia Cassese do jornal Hoje em Dia - Belo Horizonte]