
[
Carlos Emílio C. Lima por 
Charles Bicalho]
Escrever diário sobre os modos 
de autoconstrução dos rabiscos, 
transformar pedra em mente útil 
ao reacender grito solar de pássaros 
em busca por fogueiras, 
descrevendo formas de aldeias, 
remotas, no ar. 
Cada pássaro de forças 
aqui tracejado, 
garoto cósmico emblemático de clareiras 
em um diário de procedimentos gráficos, 
inícios riscados com força, 
meio desesperados, 
à procura do ideograma em transe 
da letra copiosa, 
rio de peregrinação até à forma 
que o pronunciado ovo-som deseja, 
novo, nasal silêncio de habitação sonora, 
vento da vocalização escrito, 
inscrições rupestres em desenho tridimensional 
de pré-letra sobre musgosa superficie 
de pedra refrescada por um rio 
quando um raio em segredo 
come no futuro velhas alpercatas de plástico 
com fome de meandros de milênios... 
Continua a soprar 
força de correnteza aérea 
sem intervalos 
do rio de poder 
da letra futura. 
Tipologia inovada de rios arcaicos 
cria etapas de dobras infinitas 
em  flutuante branca camisa de algodão 
pendurada no varal da propiciatória varanda 
durante a procura da exata forma fluvial 
da letra a acrescentar a todos os alfabetos, 
vento, vento, vento, prosperação. 
Na padaria quente, de manhã, 
o sol esconde-se dos arados. 
Dissolvido em  líqüidos e pães 
viceja o leopardo da revolta. 
Enquanto degusta o espaço-ambiente 
o elixir da nova forma, 
o leopardo é o trânsito. 
Carros urbanos não levam a lugar algum, 
sopram  vozes-avós do futuro. 
Comidas, tortas de moscas, cremes silenciosos de estampido, 
cifras inodoras, gestos, gananciosos ruídos. 
Oca cerimonial dos universos-flautas, 
diziam as espumas do mar. 
Inversas palavras ouvidas na padaria torta: 
mortas, desafiadas, sempre 
desfiadas pelo azul crescente 
do mar próximo, 
de vozes esvoaçadas, 
vindo do por vir, 
atacadas pelo Azul comedor, 
“azul” com fome de ar, 
inoculando sua força contrária. 
Anti-matemática.  
A criança  bebendo um líquido 
de localização de antiouro das caixas registradoras 
não pronuncia língua interminável 
recebida das nuvens do cocar da montanha. 
Arara, amarela arara, dedicada à decifração 
da teia delicada dos rios do invisível 
não pousara no topo da cumeeira 
arcomida de madeira da abafada padaria, ainda? 
Tribo que ela é a não ser adivinhada 
por nuas mastigações centrífugas do nada... 
Escre-vendo na mesa sedenta 
setenta rabiscos, 
indeterminações gráficas fluentes 
da futura letra-forma trazida do Orenoco, 
cunhada agora sobre chumbo fervente 
na oficina tipográfica do porão do casarão 
no centro da cidade atlântica, 
solidificada em seu tablete lunar, 
repetidamente desenhador, 
bebendo refrigerantes antiequinociais, 
que certo tom de ouro inventa-se 
antes do meio-dia. 
Um estilo tipológico preciso 
a se forjar 
que 
invade o ar. 
Mais buscas-rabiscos 
extraídas do contínuo 
ecoar permanente da faminta vogal, 
Afluentes próximos dos condutos da bilabiação 
da vogal atratora de entre-entes, 
primícias, arquétipos, rebentam. 
O som sem serifas 
no belvedere circular 
octogonal 
do telhado da tipografia 
soara 
desde os lábios natatórios de peixe 
do índio, desatando antes de beijar-me 
de repente, atenuando 
a compleição do azul vespertino, 
côncavo, sobre a cidade, 
retendo-a, em seu arco, para sempre, 
seu centro ancorado na lagoa 
parada do tempo. A cidade 
assaltada por torvelinho de pronunciação, 
sopro infinito antes do inesperado 
beijo selvagem, masculino, 
telhas mexidas tipograficamente 
em telhados de casas baixas a uma só voz, 
na onda de calor da energia 
de nova vogal tingindo o céu com estrias 
de tigre mais profundo. 
Desenhando o achar 
com os modos em torno 
à fôrma de letra de amor 
do beijo circular. 
Os três naturais emissários da desconhecida língua 
que parece desejar tudo, 
(pelas indicações atmosféricas 
se organizar em gramática, ventania, 
dar-se a descobrir em sintaxe floreal), 
dançavam o silêncio recém-habitado 
no pátio do terraço sobre o piso quase vivo 
da materna cerâmica colorida, 
pulsando formas geométricas mântricas,
(antigás), 
intensionada mesmo a fecundação ritual do som 
acrescentando-se aos outros sonemas 
colecionados no mundo, 
vogal evolucionária, 
vento pós-significado, 
inserindo sua lentidão alerta 
do espaço nos acontecimentos, 
próprio sopro unificado dos lábios do índio 
antes de beijar-me um beijo de língua, 
beijo-selo de poder, pré-furacão, 
letra desejante ardente de floresta: 
coisas, seres,fatos modificados 
pela súbita vogal que, nova, retinge  o céu 
e , com a força de seu amarelo-arara, 
dele se apodera 
ENTÃO 
Escrever, escrever bem, sempre, 
sempre ir além, 
desvestindo-se das vozes antigas 
que não pronunciavam o gê. 
Se elas, estas vozes-ventos, 
se elas vêm do mar, 
à procura de suas delicadas inumeráveis nozes, 
anteriormente perdidas, 
você talvez acaso encontre os sentidos, 
as casas do som, 
a grande base-tom, 
e as pautas de rota, 
estes invólucros móveis do Leste, 
para seu canto-nutriz voador 
nestas agora outras mesmas escritas palavras 
abertas mágicas no ar 
diretas à mente. 
Inovadas - vindas da distância - 
pelo sopro da pedra 
que escondia o centro de todos os dias no céu. 
Carlos Emílio C. Lima é autor de nove livros de prosa de ficção e de um longo ensaio literário e, também, de três livros de poesia ainda inéditos, constando esse poema-conto do livro intitulado 
Culinária Venusiana. Mestre em Litertura Brasileira pela UFC, editor de diversas publicações culturais, entre elas 
Arraia Pajéurbe, 
O Saco Cultural, 
Cadernos RioArte e o jornal 
Letras&Artes. Fundador do 
CEP 20 000, Centro de Experimentação Poética do Rio de Janeiro, das Rodas de Poesia e das 
ZPLs, Zonas Poéticas Liberadas. E-mail: 
carlosemiliobarretocorrealima@yahoo.com.br