08 abril 2009

Anibal Beça à queima-roupa




1) O que é poesia para você?

A poesia se há uma função para ela, é a de ter o poder de transformar o irreal no real e o real no imaginário. Tem o poder de humanizar um mundo que está zangado consigo. Este mundo em que vivemos em meio a tanta barbárie.
Creio no poder da poesia, que me dá razões para ver adiante e identificar um clarão de luz. Eu sou um trabalhador de metáforas, não um trabalhador de símbolos.
Eu considero a poesia uma medicina espiritual. Posso criar com palavras o que não encontro na realidade. É uma tremenda ilusão, mas positiva: não tenho outra ferramenta com que encontrar um sentido para minha vida ou para a vida daqueles do meu chão (vide “Filhos da Várzea”). Tenho o poder de outorgar-lhes beleza por meio de palavras e plasmar um mundo belo expressando também sua situação. No feio também há beleza. Tudo é matéria para o poema.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Ler muita poesia. No café, no almoço, no jantar. Ler sobre poesia. Imitar os mestres num primeiro momento. Depois saber cortar o umbigo. Poderia sugerir algumas leituras como pré-requisito: A poética de Aristóteles, Poesia de Massaud Moisés, As Vanguardas e seus manifestos de Gilberto Mendonça Teles, Poesia experiência de Mario Faustino, Poesia de T.S. Eliot, ABC da literatura e poesia Ezra Pound, Cartas a um jovem poeta de Rainer Maria Rilke, “Itinerário de Pasárgada” de Manuel Bandeira, entre muitos outros.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Mario Quintana, Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Jorge de Lima. O primeiro, pela descoberta da poesia, pela criatividade e por saber manejar com o mínimo um vasto universo poético. O segundo, pela musicalidade, pelo ritmo do verso, aliados às imagens, às ideias e pensamentos de modo singular O terceiro, pelo lirismo do cotidiano, das coisas banais, tratados na simplicidade com maestria. E por último, não nessa condição, senão o primeiro dos primeiros, pela genialidade.

"O modernismo e três de seus poetas", "Razão do poema", "A volta do poema", "O fantasma romântico" ensaios críticos de José Guilherme Merquior; "Signo e Sibila" e os dois volumes de "Ensaios escolhidos" de Ivan Junqueira e "Poesia e desordem", "Romantismo", "João Cabral - a poesia de menos" e "Escritos sobre poesia e alguma ficção", de Antonio Carlos Secchin. Pelo rigor, pela atualidade, pela discussão de idéias centradas na modernidade sem perder o seu vínculo com a tradição.


ANIBAL BEÇA é o nome literário de ANIBAL AUGUSTO FERRO DE MADUREIRA BEÇA NETO, poeta, tradutor, compositor, teatrólogo e jornalista, nasceu em Manaus, na Amazônia brasileira, em 13 de setembro de 1946. Trabalhou como repórter, redator e editor, em todos os jornais de Manaus. Foi diretor de produção da TV Cultura do Amazonas, Conselheiro de Cultura, consultor da Secretaria de Cultura do Amazonas. Vice-presidente da UBE-AM União Brasileira de Escritores, presidente da ONG “Gens da Selva”, onde atualmente exerce o cargo de vice-presidente, bem como de presidente do Sindicato de Escritores do Estado do Amazonas e presidente do Conselho Municipal de Cultura;.é membro da Academia Amazonense de Letras. Neste ano de 2009, completa 43 anos de atividade literária e 45 de atuação na música popular, tendo vencido inúmeros festivais de MPB por todo o Brasil. Em 1994 recebeu o Prêmio Nacional Nestlé, em sua sexta versão, com o livro "Suíte para os Habitantes da Noite", concorrendo com 7.038 livros de todo o Brasil.
Ao lado de seus afazeres literários e musicais, tem se destacado em prol da causa da integração cultural latino-americana, seja traduzindo escritores de países vizinhos, ou participando e organizando festivais e encontros de poesia. Representou o Brasil no IX Festival Internacional de Poesia de Medellín, no III Encontro Ulrika de escritores em Bogotá e no VI Encuentro Internacional de Escritores de Monterrey. Sua produção poética tem sido contemplada em importantes revistas: “Poesia Sempre” (Brasil), “Casa de las Américas” (Cuba), “Prometeo” (Colômbia), “Ulrika” (Colômbia), “Revista Armas & Letras” da Universidade de Nuevo León ( México), “Tinta Seca”( México), “Lectura” (Argentina), “Frogpond Haiku”( Estados Unidos), “Amazonian Literary Review” (Estados Unidos), “Mississippi review” (Estados Unidos).

LIVROS PUBLICADOS: Convite Frugal, Edições Governo do Amazonas (1966), Filhos da Várzea, Editora Madrugada (1984), Hora Nua, Editora Madrugada (1984), Noite Desmedida, Editora Madrugada (1987), Mínima Fratura, Editora Madrugada (1987), Quem foi ao vento, perdeu o assento, Edições Muraquitã (teatro, 1988), Marupiara – Antologia de novos poetas do Amazonas, Edições Governo do Amazonas (organizador, 1989), Suíte para os habitantes da noite, Paz e Terra (1995), Ter/na Colheita, Sette Letras (1999), Banda da Asa – poemas reunidos, Sette Letras, (1999), Ter/na Colheita, Editora Valer (2006, segunda edição), Noite Desmedida, Editora Valer (2006, segunda edição), e Folhas da Selva, Editora Valer (2006). Chá das quatro, Editora Valer (2006) Águas de Belém, Editora Muhraida(2006); Águas de Manaus, Editora Muhraida( 2006). PALAVRA PARELHA reunindo os livros Cinza dos Minutos, Chuva de Fogo, Lâmina aguda, Cantata de cabeceira e Palavra parelha, Edições Galo Branco, Rio, 2008.

CD – MÚSICA: ANIBAL BEÇA – O Poeta solta a voz (2001) e DUAS ÁGUAS – 2006
E-mail: anibal.beca@vivax.com.br

5 comentários:

  1. Edson, hoje tirei o dia para nutrir a alma. E Sambaquis faz alma. Obrigada.

    ResponderExcluir
  2. Uma delícia esse 'à queima-roupa'! Parabéns a ambos: adorei ler.
    Um beijinho especial no Aníbal
    da Sonia

    ResponderExcluir
  3. Bom, muito bom.

    É como diz a Sónia uma delícia, ou mais do que isso.

    Obrigada ao autor e aos poetas entrevistados.
    Obrigada, Aníbal! um abraço do lado angolano do altântico


    um abraço a todos
    maria

    ResponderExcluir
  4. Poeta, de onde me olhas
    com duas idades na face?
    Metade, negros cabelos,
    olhos de moço vivace.
    Metade, cabelos brancos,
    olhos de águia rapace.
    Nos lábios sorri o menino,
    da fronte debandam rugas,
    enquanto a Rainha Luzia
    no rosto faz o entrelace:
    não deixa que passe o tempo
    ainda que o tempo passse...

    Paes Loureiro

    ResponderExcluir
  5. Faltou dizer na biografia "e muito boa gente". O Aníbal é gente, e tenho profundos adimiração e respeito por ele e seu trabalho. Lhe sou eternamente grato pelas aulinhas de métrica há muitos anos atrás.

    ResponderExcluir