CATRÂMBIAS!
Diacho ando meio angurriado metade descrente metade arrufadiço totalmente afuazado apre há algo de podre no reino da dinamarca-mídia-literária em que vivemos; dois anos atrás escrevi livrinho de minicontos huifa baba-ovo daqueles louvaminhas cousalousa de todos os tipos-naipes quejandos; gostei claro; sou escritor; pobre-diabo estólido hã careço deles tapinhas nas costas; mas convenhamos dito-cujo puh muita-abelha-pouco-mel diriam amigos malandros dantanho eh-eh; oportuno dizer tertuliamente que elas vespas também fazem favos; retomando assunto digo-repito estou estupidificado com o digamos desprezo amplo-total-irrestrito deles jornalões de todos os quadrantes brasilísticos ao livro CERTEZA DO AGORA de Juliano Garcia Pessanha – autor que contraria meu (como direi?) malthusianismo literário: população-escritor e texto-consistência crescem em proporções diferentes; bangalafumenga aqui nada-neca-neres talento nenhum para costuras ensaísticas; pena; senão escreveria texto à la Carpeaux dizendo a flux: o numem de Juliano é um numem tremendum; a religião de Juliano não é a religião fácil dos bem-pensantes, a quem o seu Deus garante todas as ordens do mundo; o Deus de Juliano faz estremecer os fundamentos do céu e da terra; pena; estou anos-luz dele Otto Maria; mas Juliano Pessanha não; vejamos: Engana-se quem diz que o horror é inominável, o horror só é inominável para quem só conhece as palavras dóceis, para quem só conhece as palavras meios-termos, mas o horror é dizível na hipótese em que você foi visto por um olho-Auschwitz e você, tendo percebido que estava sendo visto-e-dito por um olho-boca-Auschwitz e você, simultaneamente, assistiu tudo isso acontecer. Com uma voz-frieza-de-objeto você pode descrever-mimetizar o que assistiu enquanto era visto e no-me-a-do como algo exterminável; li muito muito mesmo nos últimos tempos; mas não sei escrever sobre livros; Hermann Broch Gontcharov Bruno Schulz Lobo Antunes Jens Peter Jacobsen Hilda Hilst Manganelli mais tantos outros escritores que não vieram ao mundo para agradar a ortodoxia; sabiam-sabem que viver é garimpar pechisbeque hã são os áditos schopenhauerianos da vida; mas diacho nenhum deles me comoveu tanto feito ele Juliano Pessanha; nenhum deles havia sido literalmente taquicárdico; sim páginas tantas toque toque toque arre lá! Coração recauchutado pimba! Exigiu incontinenti auxílio dele Isordil; susto daqueles; finalmente entendia porque Tirésias perdeu a vista por ter olhado Atena; tarde toda quieto dentro de casa andando a furta-passo; vez em quando eh-eh olhava a revezes azabumbado CERTEZA DO AGORA fechado sobre criado-mudo me espreitando heiddegerianamente; abri não apre incor never more; dois dias depois sim enfrentei altivo livro-quase-letal dele magnífico Juliano Garcia Pessanha; huifa; texto traz nelas entrelinhas loucura simulada à la Ulisses aquele que semeava pedra em vez de trigo; texto dele transmigra verbo-presente-eclesiástico pro pretérito; nada havia de novo debaixo do Sol; texto dele Juliano deixa claro-claríssimo-da-silva que não há ensalmos que dê jeito nela insensatez humana; CERTEZA DO AGORA é comovente; é magistral; é devastador; diacho se eu soubesse escrever feito ele Carpeaux terminaria assim: uma vez Heidegger fez uma tentativa de traduzir seu pensamento citando versos de Hölderlin; ele se reconhecia no poeta; Juliano se reconhece no filósofo.
(Trecho do livro Zaratempô, editora 34, 2005, de Evandro Affonso Ferreira)
Pastagem verdejante a olhos fatigados
ResponderExcluirEncontrei casualmente o grande romancista (apesar da baixa estatura) no café do shopping Higienópolis. Evandro, imensa alma literária, deu a boa notícia: vai publicar o próximo romance pela Record. O título é genial: "Vim, vi e perdi". Detona geral, Evandro!
ResponderExcluirBoa notícia, Nelson. O título é demais...
ResponderExcluirAdorei o título e a boa notícia. Bom saber que o Evandro continua fervendo.
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