Amigos,
como vocês devem saber, Rubem Fonseca mudou de editora e acaba de lançar pela Agir, O Seminarista.
A assessora de imprensa da Agir me perguntou se eu queria receber o livro para uma possível resenha no Cronópios. Sem entrar em detalhes, nem atualizá-la sobre o embróglio cronopiano, falei que gostaria de receber o livro sim.
Estou na página 99 e lá pela 76 o romance pareceu desandar. Até então estava adorando. Escrita direta, seca, sem firulas e muitas citações em latim. Sigo a leitura torcendo pra que a metade final do livro me surpreenda.
No entanto, como é véspera de Natal, o começo do livro me pareceu espetacular. Vejam só:
“Sou conhecido como o Especialista, contratado para serviços específicos. O Despachante diz quem é o freguês, me dá as coordenadas e eu faço o serviço. Antes de entrar no que interessa – Kirsten, Ziff, D.S., Sangue de Boi – eu vou contar como foram alguns dos meus serviços.
O último foi na véspera do Natal. O Despachante deu-me um endereço e disse onde encontrar o freguês, que estava dando uma festa para um monte de gente. Bastava chegar com um embrulho de papel colorido que eu entrava na casa. O Despachante era um cara magro e alto, muito branco, louro, e estava sempre de terno preto, camisa branca, gravata e óculos escuros. Ele me pagava bem.
‘O freguês está vestido de Papai Noel e tem uma berruga no rosto ao lado direito do nariz.'
Sempre odiei, desde criança, esses papais-noéis fazendo Ô! Ô! Ô! Sei que o ódio é um surto de insanidade, como disse Horácio, Ira furor brevis est, mas ninguém está livre dele. Vesti uma roupa alinhada, peguei uma caixa vazia e fiz um enorme embrulho de presente. Coloquei sob a camisa a minha Beretta com silenciador e toquei a campainha da casa do freguês.
Por sorte minha quem abriu a porta foi o Papai Noel. ‘Entra, entra’, ele disse, ‘feliz Natal!’
‘Faz Ô! Ô! Ô! pra mim’, pedi, enquanto constatava a berruga ao lado do nariz.
‘Ô! Ô! Ô!’, ele fez. Dei um tiro na sua cabeça. Sempre dou um tiro na cabeça. Com esses coletes novos à prova de bala, aquela técnica de atirar no terceiro botão da camisa para furar o coração pode não funcionar.”
Animador, não?
putz, já daria um puta conto!
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