18 junho 2010

José Saramago (memórias e depoimentos de 5 portugueses)
















O regenerador

Por Luis Serguilha

José saramago projectou e vascularizou o sublime da semanturgia. A sua correnteza radical-imagética-fulgurante reactualiza a heterogeneidade das transgressões da língua que proporcionam a potência estética da metamorfose contínua, da dramatização da condição humana. A linguagem de josé saramago surge da força afectiva e da transposição do imaginário subvertendo a totalidade racionalizadora.
José saramago potencializou singularmente a transmigração ibérica e nas encruzilhadas humanas elevou incomensuravelmente a liberdade criadora.
Encontro em josé saramago a vivacidade inovadora da linguagem. Relembro saramago numa transmigração entre-infra caio valério catulo, marçal, horácio, gregório de matos..,....
José saramago dinamizou a antropologia filosófica. A sua intensidade pulsional-vocabular-sintáctica regenerou a literatura portuguesa. Um escritor da ética, corajosamente aberto ao mundo.


Luis Serguilha nasceu em Vila Nova de Famalicão, Portugal. Coordenador de uma Academia de Motricidade-Humana. Poeta e ensaísta, suas obras são: O périplo do cacho<(1998), O outro (1999), Lorosa´e Boca de Sândalo (2001), O externo tatuado da visão (2002), O murmúrio livre do pássaro (2003), Embarcações (2004), A singradura do capinador (2005), Hangares do Vendaval (2007), As processionárias (2008), Roberto Piva e Francisco dos Santos: na sacralidade do deserto, na autofagia idiomática-pictórica, no êxtase místico e na violenta condição humana (2008), KORSO9 2010) estes últimos em edições brasileiras. Seu livro de prosa intitula-se Entre nós, de 2000, ano em que recebeu o Prémio de Literatura Poeta Júlio Brandão. Participou em vários encontros internacionais de literatura e possui textos publicados em diversas revistas de literatura no Brasil, Espanha e em Portugal, além de outros trabalhos traduzidos em língua espanhola, inglesa,francesa,italiana,alemã e catalão. Responsável por uma colecção de poesia contemporânea Brasileira na Editora Cosmorama. Curador do encontro innternacional de literatura e arte PORTUGUESIA

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A minha memória de Saramago
Por José do Carmo Francisco

José Saramago é um «caso» típico em que o autor e o indivíduo sendo a mesma pessoa se separam e tomam caminhos opostos. O autor conquista a pulso um público cada vez mais numeroso; o indivíduo vai perdendo passo a passo muitos amigos e admiradores. O seu livro mais importante para mim foi «Levantado do Chão». Escrito para homenagear José Adelino dos Santos e Germano Vidigal, dois militantes do PCP assassinados pela PIDE na GNR de Montemor-o-Novo, o livro nasceu em casa de João Basuga onde José Saramago viveu perto de 6 meses, ouvindo com atenção e tomando notas das histórias das gentes do Lavre. Menino da Penha de França (Rua Carlos Ribeiro), filho de um subchefe da PSP e de uma doméstica, agradeceu as histórias contadas na dedicatória com os 16 nomes dos homens e mulheres do Lavre. Como no evangelho mas agora no evangelho da Terra, aqui os mortos vão ter uma ressurreição e estar de novo com os vivos no dia levantado e principal – o 25 de Abril de 1974.

Do ponto de partida («O que mais há na terra, é paisagem») ao ponto de chegada («Este sol é de justiça») o livro passa por dentro dos homens e dos dias: «Todos os dias são iguais e nenhum se parece») e prova que, tal como nos outros evangelhos, a morte pode ser salva e resgatada. E a vida triunfar, tal como a alegria, a justiça, a luz, a paz, a lucidez, a virtude e a bondade de intenções. Aqueles homens que andam de noite de bicicleta de «monte» em «monte», a avisar os companheiros, sem luz no volante, continuam na nossa vida. Tal como continuam os 16 da dedicatória entretanto apagada na primeira página das edições recentes do seu livro «Levantado do Chão».


José do Carmo Francisco nasceu em Santa Catarina (Caldas da Rainha), Portugal. Frequentou o Instituto Comercial de Lisboa e o Instituto Britânico. É jornalista – carteira profissional nº 4149. Estreou-se no «Diário Popular» em 1978 e em «A Bola» em 1979. Foi colaborador do «Sporting» desde 1988 («As palavras em jogo») e seu redactor de Janeiro de 1997 a Novembro de 2006. Entre 1992 e 1996 entrevistou na revista «Bola Magazine» figuras nacionais das Artes e das Letras na rubrica «Um cafezinho com». Colabora no mensário «Voz de Alcobaça» com a coluna «O lugar do poema» e no semanário «Gazeta das Caldas» com a rubrica semanal «Um livro por semana» e a coluna quinzenal «Estrada de Macadame». Colabora na revista «Desporto sem Paralelo» e nos jornais «Diário Insular» e «Notícias da Amadora». Colaborou nos jornais «O Mirante», «Diário Popular», «Diário de Lisboa», «República», «O Ponto», «O Remate», «Correio dos Açores», «O distrito de Portalegre» e nas revistas «Ler», «PC Win», «Mulheres», «Revista Alentejana», «Colóquio Letras» e «Seara Nova». Desempenhou funções da direcção da Associação Portuguesa de Escritores e é secretário da Associação Portuguesa de Críticos Literários. É co-autor do livro «Glória e vida de três gigantes» sobre o Sporting C. de Portugal, o Benfica e o F.C.Porto editado em 1995 por «A Bola». É autor dos seguintes livros: «Iniciais» (1981), «Universário» (1982), «Transporte Sentimental» (1987), «Jogos Olímpicos» (1988), «1983 – Um resumo» (1991), «Leme de luz» (1993), «Mesa dos Extravagantes» (1997), «As emboscadas do esquecimento» (1999), «De súbito (2001), «Os guarda-redes morrem ao Domingo» (2002), «O Saco do Adeus» (2003), «Pedro Barbosa, Jesus Correia, Vítor Damas e outros retratos» (2005) e «Mansões Abandonadas» (2007). «Iniciais» venceu em 1980 o prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores atribuído por um júri constituído por Armando Silva Carvalho, Fernando J.B. Martinho e Pedro Támen. Tem poemas, entrevistas e notas de leitura nos sites e blogs «aspirinab.com.», «triplov.com», «escritacriativa.com», «ofogareiro.blogspot.com» «alicerces1.blogspot.com», «casariodoginjal.blogspot.com», «cabradeservico.blogspot.com» e «viagenspelooeste.blogspot.com» E-mail: jcfrancisco@mail.pt

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José Saramago, um lutador solitário
Por Maria Estela Guedes

O que mais aprecio em José Saramago, do lado da literatura, é a sua capacidade metamórfica: ele tanto escreve romances colossais, embrenhados em si mesmos, difíceis de seguir na sua minúcia histórica, como se abre aos leitores ingénuos numa escrita larga e despretensiosa, facílima de acompanhar até pelos mentalmente mais preguiçosos; ele ora escreve ensaio, ora teatro ora romance. A poesia, menor talvez dos seus feitos curriculares, foi a primeira literatura de José Saramago que conheci, ainda estudante na Faculdade de Letras de Lisboa. José Saramago, Ruy Belo, Herberto Helder, Carlos de Oliveira, Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, eram poetas que eu alinhava uns ao lado dos outros na mesma prateleira.

A sua têmpera é sempre a mesma, mas a personalidade varia consoante a necessidade da obra vertente. Nada daquela monotonia, mono-tonia, o único tom de grandes escritores a quem essa pobreza escamoteamos sob o rótulo de "estilo".


Poucos escritores são dotados desta flexibilidade que ultrapassa a do polígrafo. Poderá haver escritas mais encantatórias do que as dele, ah, sim, lembremos Agustina Bessa-Luís!, mas são mono-escrita, geradora de livros únicos, no sentido de tais autores escreverem sempre o mesmo livro. Saramago não é autor de uma obra única, ele deu à estampa dezenas de obras absolutamente singulares e distintas umas das outras. Toda aquela diferença que levou Fernando Pessoa a gabar-se de ter escrito uma biblioteca.


Do lado da pessoa que foi, e eu mal conheci - lembro-me apenas dos seus olhos curiosos, fortemente concentrados em mim, de uma vez em que nos encontrámos na Associação Portuguesa de Escritores, na Rua de S. Domingos à Lapa, em Lisboa - do lado da pessoa, repito, admirei e admiro ainda a capacidade de luta, a coragem de dizer as verdades mais chãs, que todos sabemos de cor mas calamos por medo, por comodismo, e com isso conseguir o prodígio de gerar polémicas até à beira do caixão, aos 86 ou 87 anos! Ainda no ano passado Saramago era atacado por se ter atrevido a dizer em voz alta o que todos estamos fartos de saber mas fingimos que não, e obriga-se um homem daquela idade a pedir desculpa por ter mandado à merda ou coisa assim, senhores, não são os Papas quem pede desculpa por crimes bem odiosos e nauseabundos? Metamos a mão bem dentro das tripas e sejamos honestos: quem, desse lado ou do outro, merece mais credibilidade?


E o que mais me confrange no perímetro da ação desencadeada por José Saramago é a facilidade com que todos falam dele, dizendo mal ou bem, tanto faz, sem nunca terem entrado numa livraria para comprarem um dos seus livros. Sem nunca o terem lido.



Maria Estela Guedes (1947). Escritora. Membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE), do Instituto S. Tomás de Aquino (ISTA), e do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL). Dirige o TriploV (www.triplov.com ), um portal multidisciplinar e multilingue, primacialmente dedicado ao estudo do Naturalismo e à divulgação de literaturas de língua portuguesa e espanhola. Tem publicadas várias centenas de títulos, em revistas e jornais. A maior parte da sua produção recente, e alguns textos antigos mais importantes, encontram-se em linha no TriploV. A sua actividade desdobra-se por diversas áreas: poesia, ficção, teatro, ensaio literário e sobre História, Crítica e Filosofia das Ciências. Dirige duas colecções de cadernos sobre temas do Naturalismo, “Lápis de Carvão” e “Naturarte”, na Apenas Livros Editora (Lisboa). Tem desenvolvido projectos de cooperação com colegas espanhóis do CSIC (Madrid) e de várias entidades científicas brasileiras. Mantinha acordo de cooperação literária entre o TriploV e a revista electrónica “Agulha”, dirigida por Claudio Willer e Floriano Martins. E-mail: estela@triplov.com

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Da hipocrisia como uma das Belas Artes
Por Nicolau Saião

Morreu Saramago e, como sempre, os habituais hipócritas ou interesseiros, vêm-lhe festejar o cadáver. Nunca o apreciaram, mas dizem-se pesarosos. É o habitual. Eu também nunca o apreciei - quer como escritor, quer como pessoa. Como escritor, a despeito dos galardões, achei-o sempre limitado. Como pessoa era envinagrado e pedante (leiam-se as memórias do comunista, mas consistente, Orlando Neves, um dos melhores poetas lusos, e ficar-se-á esclarecido sobre o personagem). Mas nunca o ofendi, como muitos que agora fingem desgosto. Outros, por dever militante, tentam forçá-lo a prestar um último serviço... à "causa". Chamam-lhe homem livre. De facto, foi um estalinista, um apreciador de ditadores (quem esqueceu o elogio a Fidel e ao Stalin, que segundo ele foi um homem de pulso?) e um homem de obediencias cegas.

Mas era um ser humano, que merecia que não lhe babujassem o cadáver com fingimentos.



Nicolau Saião (Monforte do Alentejo - Portalegre, 1946) é poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico. Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc. Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995). Tem colaboração diversa na imprensa cultural em vários países: “DiVersos” (Bruxelas), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, “Jornal de Poesia” (Brasil), Mele (Honolulu), Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), TriploV, revista Bíblia, “Saudade”, “Callipolle”, “A cidade”, “Petrínea”, revista “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Jornal de Poetas e trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”… Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões), um dos mais conceituados e ouvidos no ranking do Alentejo. Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007). Com João Garção e R. Ventura coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. Até se aposentar recentemente, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre. E-mail: nicolau19@yahoo.com

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Depoimento
Por Joana Ruas

José Saramago, a quem devo a publicação do meu livro, A Pele dos Séculos na sua editora, a Caminho, assinou e comigo apresentou aos órgãos da comunicação social, com Natália Correia e Sophia de Mello Breyner, a Carta ao Secretário-geral da ONU por ocasião do massacre de Santa Cruz em Timor-Leste. Partilhei com José Saramago algumas tardes nas Feiras do Livro de Lisboa e na Festa do Avante. O seu legado é de facto um dos monumentos literários mais notáveis de toda a nossa história literária. O seu combate voluntário e constante quer na sua vida cívica como militante comunista quer na sua escrita, dirige-se à humanidade, na sua vida real, vida feita de instinto de sobrevivência e de inocente coragem. A obra de José Saramago tem como horizonte o objectivo de mudar as convenções, os preconceitos e maneiras de viver que afectam a atitude moral dos homens na sua vida em sociedade.

José Saramago era um homem fraterno cuja sensibilidade e delicadeza teve, devido à dureza dos combates que travou, de se amparar nas austeras virtudes da coragem, da determinação e da exigência. Foram estes dois componentes ― a de uma sensibilidade cheia de matizes e a da coragem perante agressões e confrontos políticos e ideológicos que surgiram devido à assunção, na sua obra, de temas fracturantes na nossa sociedade ― que enformaram tantos personagens das suas obras e que moldaram um pouco o seu modo de ser perante os outros, enfim, o seu parecer ser.

Para José Saramago não havia povos significantes e povos insignificantes. A sua obra proclama-o assim como o proclama o seu discurso na cerimónia em que lhe foi entregue o Prémio Nobel: «é mais fácil ao homem chegar a Marte do que chegar ao seu semelhante». O escritor José Saramago entendia que o caminho para o nosso semelhante pressupunha uma revolução mundial. A partir deste ponto de vista, para que se alcance uma saudável vida social nas nações, os seus líderes políticos vêm-se não raras vezes coagidos a a ter por vezes que assumir os terríveis deveres, aqueles que muitas vezes nos indignam nos regimes em que se pratica a diversidade económica, diversidade económica intransigentemente combatida através de sucessivos bloqueios por parte do velho mundo. Contudo, a sua sensibilidade, inteligência e coragem constituíram a base sobre a qual se concretizou o milagre da sua existência como escritor, não apenas entre nós escritores, mas entre nós portugueses, entre nós falantes da língua portuguesa, entre nós e o género humano tomado na sua universalidade.


Joana Ruas (Portugal, 1945) publicou os seguintes romances: Corpo Colonial, Centelha, Coimbra, 1981; O Claro Vento do Mar, Bertrand Editora, Lisboa, 1996; A Pele dos Séculos, Editorial Caminho, Lisboa, 2001; A Batalha das Lágrimas, Editora Calendário, 2008. Em prosa publicou Na Guiné com o PAIGC, reportagem escrita nas zonas libertadas e Zona (ficção). Escreveu os ensaios: Amar a Uma só Voz, Colóquio Rilke, Edições Colibri, Lisboa, 1997; A Amante Judia de Stendhal e E Matilde Dembowski, e A Guerra Colonial e a Memória do Futuro, comunicação apresentada no Congresso Internacional sobre a Guerra Colonial. Participou na 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará onde proferiu uma palestra intitulada Aproximar o Distante, Do Estranho ao Familiar — duas experiências: Timor-Leste e Guiné-Bissau. A sua poesia encontra-se dispersa por publicações como NOVA 2 (1975), um magazine dirigido por Herberto Helder; o seu poema Primavera e Sono com música de Paulo Brandão foi incluído, pelo compositor Jorge Peixinho, no 5º Encontro de Música Contemporânea promovido pela Fundação Gulbenkian; Cartas a Ninguém de Lisa Flores e Ingrid Bloser Martins, Vega. Participou nas antologias: Antologia da Poesia Erótica, Universitária Editora; Na Liberdade, Garça Editores; Mulher e Um Poema para Fiama, Editora Labirinto. E-mail: joanaruas@sapo.pt

2 comentários:

  1. Gostei de estar lendo estas declarações. E uma frase da escritora Joana Ruas me chamou a minha atenção,pois a vejo como frase muito bem perfilada,os seus líderes políticos vêem-se não raras vezes coagidos a ter por vezes que assumir os terríveis deveres, aqueles que muitas vezes nos indignam nos regimes em que se pratica a diversidade económica.
    No Brasil se diria repressão, prisões e mesmo pior, mas Dona Joana o diz duma maneira elegante e ao mesmo tempo muito justa, deliciosamente europeia e me sinto feliz pela metáfora.
    Sérgio Bessa

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  2. Pessoalmente não posso testemunhar mas através de um amigo íntimo, ex-governante num país africano que se interrogava sobre os “campos de reeducação” promovidos pelo seu partido,em conversa com Saramago se interrogava da humanidade de tais actos. A que Saramago lhe respondeu que era pouco e que as condições (sub-humanas) eram muito boas para “tal gente” e que “povo” não deveria sequer dar-se ao trabalho de os “reeducar”.
    Não sei se entende o que está implícito nas palavras que usei.
    Este era o homem muito humano de dona Joana?

    Menotti de Carvalho

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