22 março 2011

BANZO




















carrego em meu lombo
várias máculas onomásticas

sou Zé, filho de Edward
um desterro sem quilombo
e sobre o nome
a Cruz

sou nenhum
mulato negro índio
      ninguém tingido d’água
salgada vindo

mesmo depois de liberto
sapatos a luzir
— inédita condição —
um ilhéu
que o destino não quis
soteropolitano

um grapiúna no sul-
maravilha quase
impecável
sem marcas
       cicatrizes
não ungido
sem excesso
       de melanina

algo assim próximo à matéria
alva que se tinge o mundo
visão última
dos que erram o alvo
e encontram
a morte


[foto: Pierre Verger]

3 comentários:

  1. bacana o poema, edson!
    qdo leio a palavra banzo, lembro da biografia do cruz e souza escrita pelo leminski. ele fala dos negros que, qdo sofriam o banzo, comiam a terra.
    abbracci

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  2. Muito bom esse autorretrato!!!!!! beijo

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  3. Bacana o autorretrato, neguinho no ponto certo...rs O título, preciso, diz tudo.

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