21 junho 2015

Trecho do romance "Áurea" (inédito)


A Teoria do Caos, embora inicialmente não tivesse essa intenção, parece servir às mais estapafúrdias conclusões. Inclusive para mostrar a inexistência do acaso. Poderia o bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadear um tornado em São Francisco? Pequenas mudanças em variáveis de um determinado acontecimento, percebeu-se, poderiam produzir efeitos desproporcionais. O que tornaria legítima a seguinte questão: o que a burocracia militar americana teria a ver com a maior capital gay do planeta? O tema daria uma ótima tese com cálculos holísticos avançados. Durante a Segunda Guerra Mundial, todo militar americano que fosse suspeito de homossexualidade teria que passar por uma avaliação feita por uma junta militar em São Francisco. Conta-se que, entre 1941 e 1945, passaram por lá e foram mal avaliados para o exercício da profissão, quase 10 mil militares gays e lésbicas. No final das contas, os reprovados acabavam por ficar na cidade. Os militares e sua homofobia, mesmo sem o querer, contribuíram para criar a base da maior colônia gay do planeta. Poderíamos chamar a esse caso específico não de manifestação do Efeito Borboleta e sim do Efeito Arco-Íris, o que mudaria toda a terminologia pseudocientífica da teoria. Álvaro riu de seu próprio raciocínio. No fundo, nenhuma teoria científica conseguiria suprir o buraco negro em seu peito. Porém, ele perseverava, não sem uma boa pitada de banzo.

Um comentário:

  1. Há uma virada interessante ao final do parágrafo, atiçando a curiosidade. E fazendo o leitor querer mais. Isto é muito bom.

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