26 junho 2015

PATOS MANDARINS




    Marido e mulher, duas asas
    que garantem o voo do pássaro.
    Dois camarões fidelíssimos
    jurando compartilhar o mesmo buraco 
    enquanto vivos, jamais se separar.

    Cunham palavras para nomear
    o que talvez seja mais amplo e misterioso
    que o universo.

    Fiquemos com a mais bonita e perigosa: ‘Amor’.

    Por muitos e muitos anos
    compartilham camas e travesseiros,
    divertem-se sob mantas com delicados bordados
    de patos mandarins,
    festejam muitos aniversários,
    saúdam variados pores-do-sol,
    fotografam flores e bebês.

    No entanto, a travessia pós-vida 
    é inevitável. 
    Jamais poderá ser compartilhada.
    Nesse percurso solitário,

    o que poderia confortá-los?



    Obs.: Os patos mandarins são símbolos da felicidade conjugal. Acredita-se que o casal de patos se mantém fiel durante toda a vida. Citado por Nichiren Daishonin em seu escrito “As Catorze Calúnias”.

21 junho 2015

Trecho do romance "Áurea" (inédito)


A Teoria do Caos, embora inicialmente não tivesse essa intenção, parece servir às mais estapafúrdias conclusões. Inclusive para mostrar a inexistência do acaso. Poderia o bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadear um tornado em São Francisco? Pequenas mudanças em variáveis de um determinado acontecimento, percebeu-se, poderiam produzir efeitos desproporcionais. O que tornaria legítima a seguinte questão: o que a burocracia militar americana teria a ver com a maior capital gay do planeta? O tema daria uma ótima tese com cálculos holísticos avançados. Durante a Segunda Guerra Mundial, todo militar americano que fosse suspeito de homossexualidade teria que passar por uma avaliação feita por uma junta militar em São Francisco. Conta-se que, entre 1941 e 1945, passaram por lá e foram mal avaliados para o exercício da profissão, quase 10 mil militares gays e lésbicas. No final das contas, os reprovados acabavam por ficar na cidade. Os militares e sua homofobia, mesmo sem o querer, contribuíram para criar a base da maior colônia gay do planeta. Poderíamos chamar a esse caso específico não de manifestação do Efeito Borboleta e sim do Efeito Arco-Íris, o que mudaria toda a terminologia pseudocientífica da teoria. Álvaro riu de seu próprio raciocínio. No fundo, nenhuma teoria científica conseguiria suprir o buraco negro em seu peito. Porém, ele perseverava, não sem uma boa pitada de banzo.

18 junho 2015

2015 promete...


Retomanos o site/revista Musa Rara, iniciamos colaboração com resenhas críticas no jornal Rascunho e vários outros projetos estão se concretizando. Um deles será supimpa. Começa em setembro na CASA DAS ROSAS. Dê uma conferida, em primeira mão.


DIÁLOGOS CRÍTICOS


O que torna algo uma obra de arte? O que é a literatura? Para que serve a arte? A crítica literária é importante? Como ela se realiza? O que é cultura relevante? Como distinguir Natureza de Ideologia? Como lidar com a indústria cultural sem ser devorado por ela? Ler traz alguma contribuição benéfica para o ser humano? A cibercultura veio destruir a cultura como a conhecemos? Homo Sapiens ou Homo Ludens? O que é mais importante: o bem, o belo ou o benefício?


Dialogar talvez seja a forma suprema de conhecimento. Desde Sócrates é assim. Convidamos algumas de nossas melhores cabeças para nos ajudar a refletir sobre essas e tantas outras questões pertinentes ao homem contemporâneo. Venha participar conosco, ao vivo ou com suas questões pela internet.


25/9/2015 – Sexta-Feira, às 19h30

Convidado de estreia:

João Adolfo Hansen é doutor em literatura brasileira pela USP e, atualmente, professor titular da mesma instituição. Tem 13 livros publicados e dezenas de artigos em periódicos especializados, assim como capítulos de livros. Já orientou 24 dissertações de mestrado, 17 teses de doutorado e inúmeros trabalhos de iniciação científica. Recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Ensaio (1990) e o Grande Prêmio da Crítica da APCA (2014). Sua área de atuação são os Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa.

Mediador e provocador:

Edson Cruz é escritor e editor do portal MUSA RARA (www.musarara.com.br). Graduado em Letras pela USP, publicou três livros de poesia, uma adaptação em prosa do clássico indiano Mahâbhârata e um livro de depoimentos sobre o que seria a Poesia. Seu poemário mais recente, Ilhéu (Editora Patuá), foi semifinalista do Prêmio Portugal Telecom 2014. 


Se você quer saber quem é o Hansen, veja este papo que tive com ele alguns anos atrás:


                                                                Conversa com João Adolfo Hansen


08 outubro 2013

NOSTALGIA


De tudo restará o gosto
da amora.
os trevos azedinhos que recolhemos
no caminho da escola.
os piqueniques e o lambe-lambe
no Jardim da Luz.

Dois patinhos na lagoa.
Nós dois, pombinhos
na gamboa.

Aquela matemática inspirada
a música das estrelas,
os desejos e suas faíscas
cadentes.

A soma dos catetos
do quadrado da Bruna Lombardi.

O pulsar de luzes na memória
pontos luminosos
a nos lembrar
que a vida foi boa
que a vida tem sido boa
mas que deve haver mais
sim, tem que haver mais.

22 fevereiro 2013



O que é a poesia? Partindo da questão que ele fomentou e instigou vários poetas a responder, o escritor e editor do Portal Musa Rara, Edson Cruz, elaborou uma oficina que tem como centro a criação poética abordada na perspectiva triádica que a fundamenta e a justifica: o poema, a poesia e o poeta.
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O curso é formado sobre dois eixos:
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1. Características da poesia: do que é feita? (material); Com o que se parece? (aspectos formais); Para que serve? (causa final); Quem a faz? (causa poiética).
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• As distinções fundamentais entre a prosa e a poesia.
• As formas fixas na poesia. A estrutura do soneto. A canção. A oralidade.
• Definições para quem gosta delas. O que os poetas dizem sobre o fazer poético.
• Exemplos práticos (análise e construção). Sonetos de Petrarca, Camões, Augusto dos Anjos e Glauco Mattoso.
• A poesia moderna. Temática. A métrica. O Verso branco. O enjambement.
• Análise de alguns poemas emblemáticos (Ferreira Gullar, Drummond, Manuel Bandeira, Augusto de Campos, Fernando Pessoa, João Cabral, Manoel de Barros, Leminski, Borges)
• Haicai: uma homenagem a síntese. O caso Matsuo Bashô.
• A Poesia Concreta e a Internet.
• Função poética e Jakobson.
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2. Exercícios e discussões em grupo: a abordagem do módulo é iminentemente prática, mas sem prescindir dos aspectos teóricos. Escrever é antes de mais nada aprender a pensar e a questionar.
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• Como analisar um poema. Exemplos e exercícios.
• O soneto como a forma fixa mais tradicional. Exercitar.
• Transformando um texto de jornal em poema.
• Criação de metáforas. O som e o sentido.
• Concisão. O haicai como exercício poético. A renga.
• Composição de poemas a partir de sugestões imagéticas.
• Poema com repetição de uma definição.
• Fazer um poema do sonho alheio.
• A importância do blogue como exercício de criação.
• O mercado editorial: sua lógica e especificidade.
• Dicas para a primeira edição.

Será publicada uma coletânea dos melhores poemas compostos pelos alunos pela Terracota editora.
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A quem se destina:
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Escritores, redatores publicitários, jornalistas e blogueiros interessados em saber mais sobre o gênero e trabalhar intensivamente em seus textos.
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Vagas disponíveis: 18
Quando: 2 meses, 8 encontros. Início: 23 de fevereiro de 2013.
Horário: Sábados, das 10h às 13h.
Investimento: 1+2 R$225,00 (boleto, cheque) ou em 6 vezes no cartão.
(desconto para ex-alunos e pagamento à vista).
Onde: Espaço Terracota – Av. Lins de Vasconcelos, 1886 – Vila Mariana.
(saiba como chegar aqui)
Inscrições: Clique aqui.



21 junho 2012

RICARDO CORONA, na Casa das Rosas





1) O que é poesia para você?

Tenho pensado na poesia como um lugar (ou não-lugar) de sentidos incessantes, palimpsestos do sensível na frincha da significação, um lugar em que a poesia resiste independentemente do “poético”, do “poema” e do “poeta”. Poesia furtada da literatura, não figurada, mas que assume o seu sentido de ‘poesia’ como um sentido sempre por fazer. Esse lugar é antes da própria poesia, sem sê-lo propriamente poesia, mas distendido em todas as artes. Um lugar de tartamudez e prenhe de silêncios, na fresta da língua: ali, aqui...

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Bashô disse algo sobre isso (veio-me isso, aceito e cito de memória): procure o que os mais velhos não encontraram.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Hoje (também no sentido de “agora”) uma resposta para essa pergunta:

1) Arturo Carrera (poeta argentino), por causa do seu escrito con un nictógrafo, poema-livro que se compõe na escuridão para o leitor e deseja oferecer-lhe instantes luminosos, iniciando-se com uma entrega: “el escriba ha desaparecido”. Desorbitado, no lugar em que a linguagem está para todos, lugar vazio, no qual também estão as palavras, talvez distraídas, talvez atentas, mas na sua condição ante todos nós, na inadequação permanente entre significado e significante, no embaraço quando se quer atribuir significado ao desconhecido, conforme Lévi-Strauss: “o universo significou bem antes que se começasse saber o que ele significava...”.

2) Édouard Glissant, poeta, antropólogo e filósofo antilhano, autor de um livro-conferência bastante intrigante chamado Introdução a uma poética da diversidade (o único com tradução brasileira, feita por Enilce Albergaria Rocha) e, principalmente, Poétique de la Relation. Glissant, autor que discutimos muito esse ano em aulas instigantes com o professor e tradutor Maurício Mendonça Cardozo. Glissant põe em jogo muitas questões, mas o que mais repercutiu no meu trabalho poético, talvez pelo livro que escrevo no momento, foram suas idéias em relação ao épico. Ajudaram-me a concluir que pode ser possível escrever um épico hoje, mas não um épico no seu formato clássico, cujo movimento, segundo Glissant, movimento auto-afirmativo de culturas e línguas que apreendeu (cooptou) e, portanto, centralizou nesta forma quase todas as expressões e gêneros da antiguidade. Pode-se com isso perceber esta formação “atávica” das culturas, ao lado de procedimentos que levaram ao aniquilamento das línguas, por exemplo. E hoje, em meio à multiplicidade, à diversidade de expressões e formas, fora o que isso tenha de simulacro, de mentira, de ninho de nadas, e por isso, só por isso, tem que ser dito com cautela o que disse em relação ao épico, pois faz parte da formação histórica das culturas, mas, enfim, quero dizer que hoje não faz mais sentido um épico clássico, a feitura de um épico clássico, e abandonemo-lo à legitimidade histórica. Um épico contemporâneo, no meu entender, só pode ser de força centrífuga, num movimento para o fora, para o depois dos gêneros e da unidade, um épico fractal, feito de múltiplas implosões descentralizadoras – talvez eu o chamasse épico por amor ao épico clássico.

3) Raul Bopp, certamente um precursor da etnopoesia no mundo, lançou mão de procedimentos que merecem estudo mais cuidadoso, verdadeiras filigranas da fala. Bopp era um mestre na seqüência de imagens, espécie de orquestração imagética que propicia o clima ideal para o ouvido pensante, tanto na oralidade imagética de “Cobranorato” quanto na genialidade dos jogos sonoros em poemas de menor fôlego. Basta ver/ouvir “Caboclo”: (...) “O escuro apaga as árvores / Fogo desanimou na cozinha / Mia um gatinho magro no terreiro: M-i-s-é-r-i-a” (...). A sugestão da onomatopéia (“miau”) da voz do gato, mas não inscrita, revela a cena cabocla miserável. É a semântica do som. E som é para ouvir.


Dia 24/06, domingo, das 16h às 18h
RICARDO CORONA  
Ricardo Corona atua nos seguintes campos: poesia contemporânea brasileira e hispano-americana, estudos de relação entre as áreas artísticas (performance, poesia sonora, artes visuais), tradução, linguagem e cultura. É autor dos livros ¿Ahn? (Madri, Poetas de Cabra, 2012), Ahn? (Jaraguá do Sul, Editora da Casa, 2012), Curare (Iluminuras, 2011 – Premio Petrobras), Amphibia (Portugal, Cosmorama, 2009), Corpo sutil (2005), Tortografia, com Eliana Borges (2003) e Cinemaginário (1999), publicados pela Editora Iluminuras. Na área de poesia sonora, gravou o CD Ladrão de fogo (2001, Medusa) e o livro-disco Sonorizador (Iluminuras, 2007). Organizou a antologia bilíngue (português-inglês) de poesia Outras praias / Other Shores (Iluminuras, 1997). Com Joca Wolff, traduziu o livro-dobrável aA Momento de simetria (Medusa, 2005) e a coletânea Máscara âmbar (Lumme, 2008), de Arturo Carrera (com posfácio de Raúl Antelo) e, esparsamente, publicou traduções de Henry Michaux, Gary Snyder e William Carlos Williams. Com Mario Cámara, Daniel Link, Reinaldo Laddaga, Romina Freschi, Nora Domínguez, entre outros estudiosos da literatura hispano-americana, participa do livro La poesía de Arturo Carrera – Antología de la obra y la crítica, organizado por Nancy Fernández e Juan Duchesne Winter (Instituto Internacional de Literatura Iberoamericana/Universidade de Pittsburgh, 2010). Tem ensaios e poemas publicados nas revistas Poiésis (Brasil), Tsé-tsé (Argentina), Rattapallax (USA), Caligramme (França), Separata (México) e nos jornais Suplemento Literário de Minas Gerais (Brasil) e caderno Mais! (Folha de S. Paulo). Com Eliana Borges criou as revistas de poesia e arte Medusa (1998-2000) e Oroboro (2004-2006) e com Joana Corona o jornal Vagau (2011). Desde 1996, apresenta trabalhos performativos que envolvem música eletroacústica, artes visuais e poesia sonora, dos quais, destacam-se Carretel curare (2011) e as parcerias com Eliana Borges, Tsantsa (2011), Alfabeto móvel (2010), Nomos (2009), Tambaka (2008) e Jolifanto (2007).

23 maio 2012

O que é a Poesia?







O QUE É A POESIA?

A poesia é de longe a linguagem de maior potência de significação – “a mais condensada forma de expressão verbal”, no dizer de Pound –, e não é de espantar a variedade de leituras, de idiossincrasias, de práticas que permeiam a poética contemporânea e, evidente, a sua recepção. Tão diversas como o são os próprios seres e seus interesses.

O poeta e editor Edson Cruz instigou a possibilidade dessa reflexão e constatação convidando poetas de várias linhagens e calibres a refletirem sobre o fazer poético e as referências fundamentais para o trabalho de cada um deles.

O resultado transformou-se em livro que será o mote para os diálogos que a Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura tem o prazer de oferecer (todo o último domingo do mês) a partir de maio.

A cada encontro, um grande poeta em atividade falará sobre sua visão de poesia, sobre suas influências, sobre a recepção de seu trabalho e o mercado editorial, além de responder a questões do mediador e do público presente.



PROGRAMAÇÃO

Dia 27/05, domingo, das 16h às 18h:
AUGUSTO DE CAMPOS
Augusto de Campos nasceu em 1931. É poeta, advogado, tradutor, crítico e publicitário. Estreou em fevereiro de 1949 na Revista de Novíssimos e logo depois publica nas páginas da Revista Brasileira de Poesia, ligada ao clube de Poesia de São Paulo, da geração de 1945. Em 1951 edita por conta própria o livro O Rei Menos o Reino. No ano seguinte funda o Grupo Noigandres, com seu irmão Haroldo e o poeta Décio Pignatari . Participando do lançamento da revista Noigandres, publica no primeiro número os poemas “Ad Augustum per augusta” e o “Sol por natural”. Iniciou em 1953 a série “Poetamenos”, que seria publicada em 1955, no n.2 da revista Noigandres. Começa a publicar seus primeiros artigos teóricos em 1955, já em outubro cunhava para a nova poesia que surgia o termo poesia concreta. Em novembro vê seu “Poetamenos” ser oralizado pelo grupo Ars Nova, ao mesmo tempo que realizou conferência sobre as correspondências estéticas entre as novas artes que surgiam. Em 1956 inicia correspondência com e.e.cummings. Finaliza com Haroldo de Campos a tradução de 17 cantares de Pound e entrega para publicação 10 poemas de e.e.cummings. No final do ano ajuda a organizar a I Exposição Nacional de Arte Concreta, em São Paulo e em fevereiro do ano seguinte no Rio. Publica Noigandres n.3. Em 57 lança, como articulista do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, textos que seriam base do Plano Piloto para Poesia Concreta, lançado pelo grupo em 1958. Publica nesse ano Noigandres n.4. Em 1959 entra em contato com a poesia de Sousândrade, Em 1906 participa da realização da página Invenção no Correio Paulistano. Publica a tradução de cummings e de Ezra Pound. Publica em invenção estudos sobre Sousândrade. Nos anos 60 transfere sua atenção para a cultura de massa, em especial a música popular, publicando o Balanço da Bossa, em 1968. Em 1995 lançou com seu filho, o músico Cid Campos, o CD “poesia é risco” (Polygram). A performance criada a partir do CD, em parceria com Walter Silveira, já foi apresentada em diversos eventos, no Brasil e no Exterior. Nos últimos anos, Augusto de Campos vem se dedicando à feitura de poemas “verbovocovisuais” em mídia digital. Trabalhando com um computador Macintosh e programas de multimídia, desenvolve poemas novos, bem como releituras de obras anteriores, com recursos de som, animação e interatividade. Em 1996, participa da exposição Utopia como poeta do mês. Atualmente desenvolve um trabalho de poesia utilizando-se da linguagem do computador, exibindo-os via internet. Vive e trabalha em São Paulo.

Dia 24/06, domingo, das 16h às 18h:
RICARDO CORONA

Ricardo Corona atua nos seguintes campos: poesia contemporânea brasileira e hispano-americana, estudos de relação entre as áreas artísticas (performance, poesia sonora, artes visuais), tradução, linguagem e cultura. É autor dos livros ¿Ahn? (Madri, Poetas de Cabra, 2012), Ahn? (Jaraguá do Sul, Editora da Casa, 2012), Curare (Iluminuras, 2011 – Premio Petrobras), Amphibia (Portugal, Cosmorama, 2009), Corpo sutil (2005), Tortografia, com Eliana Borges (2003) e Cinemaginário (1999), publicados pela Editora Iluminuras. Na área de poesia sonora, gravou o CD Ladrão de fogo (2001, Medusa) e o livro-disco Sonorizador (Iluminuras, 2007). Organizou a antologia bilíngue (português-inglês) de poesia Outras praias / Other Shores (Iluminuras, 1997). Com Joca Wolff, traduziu o livro-dobrável aA Momento de simetria (Medusa, 2005) e a coletânea Máscara âmbar (Lumme, 2008), de Arturo Carrera (com posfácio de Raúl Antelo) e, esparsamente, publicou traduções de Henri Michaux, Gary Snyder e William Carlos Williams. Com Mario Cámara, Daniel Link, Reinaldo Laddaga, Romina Freschi, Nora Domínguez, entre outros estudiosos da literatura hispano-americana, participa do livro La poesía de Arturo Carrera – Antología de la obra y la crítica, organizado por Nancy Fernández e Juan Duchesne Winter (Instituto Internacional de Literatura Iberoamericana/Universidade de Pittsburgh, 2010). Tem ensaios e poemas publicados nas revistas Poiésis (Brasil), Tsé-tsé (Argentina), Rattapallax (USA), Caligramme (França), Separata (México) e nos jornais Suplemento Literário de Minas Gerais (Brasil) e caderno Mais! (Folha de S. Paulo). Com Eliana Borges criou as revistas de poesia e arte Medusa (1998-2000) e Oroboro (2004-2006) e com Joana Corona o jornal Vagau (2011). Desde 1996, apresenta trabalhos performativos que envolvem música eletroacústica, artes visuais e poesia sonora, dos quais, destacam-se Carretel curare (2011) e as parcerias com Eliana Borges, Tsantsa (2011), Alfabeto móvel (2010), Nomos (2009), Tambaka (2008) e Jolifanto (2007).


Dia 29/07, domingo, das 16h às 18h:
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA

Affonso Romano de Sant’Anna: Um dia dizendo seus poemas no Festival Internacional de Poesia Pela Paz, na Coréia (2005), ou fazendo uma série de leituras de poemas no Chile, por ocasião do centenário de Neruda ( 2004), ou na Irlanda, no Festival Gerald Hopkins(1996), ou na Casa de Bertold Brecht, em Berlim(1994), outro dia no Encontro de Poetas de Língua Latina(1987), no México, ou presente num encontro de escritores latino-americanos em Israel(1986), ou participando o International Writing Program, em Iowa(1968), Affonso Romano de Sant’Anna tem reunido através de sua vida e obra, a ação à palavra . Nos anos 90 foi escolhido pela revista “Imprensa” um dos dez jornalistas que mais influenciam a opinião pública. Em 1973 organizou na PUC/RJ a EXPOESIA, que congregou 600 poetas desafiando a ditadura e abrindo espaço para a poesia marginal; foi assim quando em 1963, no início  de sua vida literária, tornou-se um dos organizadores da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte. Com esse mesmo espírito de aglutinar e promover seus pares criou, em1991, a revista “Poesia Sempre” que divulgou nossa poesia no exterior e foi lançada tanto na Dinamarca, quanto em Paris, tanto em São Francisco quanto New York, incluindo também as principais capitais latino-americanas. Atento à inserção da poesia no cotidiano, produz poemas para rádio, televisão e jornais. Tendo vários poemas musicados (Fagner, Martinho da Vila), foi por essa e outras razões convidado a desfilar na Comissão de Frente da Mangueira na homenagem a Carlos Drummond de Andrade, em 1987.  Apresentou-se falando seus poemas, em concerto, ao lado do violonista Turíbio Santos. Tem também quatro CDs de poemas: um gravado por Tônia Carrero, outro comparticipação especial de Paulo Autran, outro na sua voz editado pelo Instituto Moreira Salles e o mais recente outro pela Luzdacidade, com a participação de atrizes e escritoras. Seu CD de crônicas, tem participação especial de Paulo Autran. Escreveu dezenas de livros de ensaios e crônicas. Como cronista, aliás, substituiu Carlos Drummond de Andrade no “Jornal do Brasil” (1984).



Curador e Mediador:

EDSON CRUZ (Ilhéus, BA) é poeta e editor do site de Literatura e Adjacências, MUSA RARA (www.musarara.com.br). E-mail: sonartes@gmail.com Blogue: http://sambaquis.blogspot.com



Casa das Rosas Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Av. Paulista, 37 - Bela Vista
CEP.: 01311-902 - São Paulo - Brasil
(11) 3285.6986 / 3288.9447
contato.cr@poiesis.org.br

09 fevereiro 2012

Cidade Poema - Poesia na Cidade


A poesia vai à escola, ao cinema e ao shopping. Ainda frequenta livrarias, mas também se apresenta em restaurantes e laboratórios, passeia de ônibus, anda de elevador, se olha no espelho.

Lançado em abril de 2009, o Cidade Poema chega ao seu terceiro ano unindo a poesia às demais artes no objetivo de colocar a literatura na vitrine, em iniciativas que vão de outdoors a pequenos imãs de geladeira, de minimetragens poéticos a bolachas de chope, de performances teatrais a adesivos ilustrados.

Projeto capitaneado pela amiga gaúcha, Laís Chaffe.
51 91 21 77 07
51 3407 8223

09 dezembro 2011

Rumo ao Sol

Em janeiro irei ao Japão. Com certeza, captarei os efeitos que a poesia escrita com os pés pode deixar em seres tão delicados e reverentes à estética como os japoneses. Não há tsunami que os façam perder a compostura. Espero que não sejam os espanhóis, e muito menos um argentino, que nos façam perder a nossa.




25 novembro 2011


  
NOSTALGIA

como voltar a um lar
que nem sequer existiu
fazer o movimento pendular
recuperar a mãe
que me pariu?





17 novembro 2011

Adrienne Myrtes lança livro na Balada

















Leia um capítulo do livro:


II

           
            A xilocaína não serve para digestivo. Cheguei a essa conclusão após meu quase suicídio. Compreendi que ao tentar me esquivar da dor eu tentava mastigar a vida, ter dentes, sei lá. Coisa pra doido esquecer, não pensar, não especular. Porque de especulação em especulação posso dar de cara com minhas tripas, meus motivos subliminares e não sei se agüento, se quero ter olhos para me ver. Sou hipermetrope e gosto disso.
            Irene diz que nos salvamos pela dor, que ela nos mantém vivos. Quando pergunto de que poderíamos ser salvos ela sentencia: De nossa estupidez. Irene diz muitas coisas, nem sempre escuto, o vento fala mais alto e eu me distraio. Talvez Irene esteja certa, talvez a vida seja essa sucessão de cortes e recortes que sonhamos e que sangram. Talvez só exista verdade no sangue e na respiração. Talvez a vida seja uma engrenagem com vontade própria. Talvez eu seja um idiota cem por cento. Existe ainda a possibilidade de que minha idiotice também faça parte dessa engrenagem e como tal eu esteja enquadrado, inserido à revelia.
            Na verdade gostaria de ser salvo pela distância. Ficar afastado da vida, receber uma suspensão. Não estar com algumas pessoas, não precisar contar histórias, enredar fatos, encantar palavras para dar explicações. Explicações que não tenho nem para mim.
            Não há justificativa para o desejo de morrer, ou mesmo para a incerteza de que tenha sido ele o que moveu minha mão direita sobre o pulso esquerdo. Com a lâmina. Não. Tenho certeza de que era a morte minha meta, não poderia ser diferente. Cortar o pulso não é coisa que se faça assim, por impulso. A lâmina na mão e o gesto nervoso tateando o pensamento. E a xilocaína? Acovardamento frente à morte? Acanhamento diante da vida? Porque a dor só é possível aos vivos. Não tenho certeza de que era a meta, minha morte. E Irene? Sorte. Irene é meu demônio particular, tem força pra me proteger. Da minha estupidez. Irene é minha dor de dente.
            Não sei, meu raciocínio é um cachorro correndo atrás do rabo, em eterna desconfiança. Tenho preguiça de pensar, às vezes. Ou apenas penso que tenho, porque a maior parte do tempo penso e repenso. Dispenso comentários, sei que estou sendo contraditório e redundante, se é que é possível ser as duas coisas ao mesmo tempo.
Estou refém, cativo na cama, converso com meu travesseiro, enfronho-me em minha dor.
 Pode ser que eu esteja ficando louco ou pode ser que essa seja a sanidade possível para mim. Para a vida como ela se instala, porque minha vida é uma senhora gorda e preguiçosa espalhada no sofá da sala, sem a menor intenção de ir embora. A vida é a possibilidade que tenho no momento, o que me resta. Por isso o que tenho a fazer é me levantar da cama e começar o meu dia.
O dia caminha sem mim, não precisa de mim.
Eu adoraria não precisar de ninguém. Do amor de ninguém. Para não ter que me sentir assim, um fraco e sem Raul. Raul é meu ponto fraco, meu calcanhar. Mas não sou forte nem belo, não sou Aquiles. Luis é um nome sem rosto, um personagem que ignora seu papel. Não sou ninguém, sou um ator. Para os gregos e romanos, o papel do ator era um rolo de madeira em torno do qual se enrolava um pergaminho contendo o texto a ser dito e as instruções de sua interpretação.
Estou atrasadíssimo no grego e no latim.
Sou os personagens que tenho deixado de encenar, as possibilidades misturadas nas coxias. Raul deve ter razão. Razões que não encontro agora, entre os lençóis, onde procuro me dissolver. Entregar-me à liquidez de não saber o que fazer de mim e do resto de desejo que balbucia em meu ouvido. Raul. Provavelmente tem razão. Eu bem posso estar misturando as histórias, mas não. O que encenamos no palco foi ação teatral, sei disso, mas a reação que ele acorda em meus músculos é meu corpo quem me conta, não um script. Quero escrever uma história na pele dele, com suor e sêmen.
            Suor.
Não sei se estou com febre ou se vivo em delírio.
            Irene precisa voltar para me ajudar a acordar. Não quero me levantar, não quero tirar o pijama, menos ainda vestir uma roupa, não quero me preocupar com comida, não quero procurar um novo trabalho, não quero encontrar diretores, autores, outros atores, não quero a vida de volta. Não quero essa prática da qual a vida nos incumbe porque ela me pesa. Dá trabalho. Quero rolar na cama até Irene chegar e tomar conta de mim.
Ela achará um jeito de me fazer continuar.




                                                   by Andrea del Fuego

ADRIENNE MYRTES nasceu no Recife/Pernambuco e vive em São Paulo desde 2001. É também artista plástica. Publicou o livro de contos: A Mulher e o Cavalo e outros contos (Editora Alaúde, EraOdito Editora, 2006), a novela juvenil: A Linda História de Linda em Olinda (Editora Escala educacional, 2007) este último em parceria com o escritor Marcelino Freire e participou, das antologias Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século (Ateliê Editorial, 2004) e 35 Segredos para Chegar a Lugar Nenhum – Literatura de Baixo-Ajuda (Bertrand Brasil, 2007) entre outras. Eis o Mundo de Fora é seu primeiro romance e foi contemplado com o Prêmio Petrobras edição 2008/2009.