07 maio 2020

PERIFERIA


libélulas de fogo.
helicópteros e seu metralhar
de hélices.
o descaso de novo
a espalhar o vírus renitente
da morte.

05 maio 2020

CRIPTOGRAFIAS



não há nada que se faça
letra muda.
alfabeto que não possa
ser desnudo.
caractere que em cifra
se transmude.
inscrição seja no Sutra
ou no Talmude.

marcas d´água
que se mostram indeléveis.
garatujas
desenhadas sobre peles.
rasuras
em um livro tuaregue.
união
em uma língua extraterrestre.




23 janeiro 2020

Literatura, leitura e cultura em tempos digitais (para professores)


Agradeço a oportunidade de expor e dialogar com vocês sobre assuntos que me interessam muito e que envolvem o meu dia a dia nos últimos anos.

Pra começar, tenho que deixar claro que não falo como um especialista, nem como autoridade sobre o assunto. Sou movido pela minha curiosidade de poeta e de leitor que me fez correr e comprar o meu primeiro computador logo que me foi possível financeiramente, em 1999.

Sempre fui aberto a novidades. E assim foi com o computador pessoal. De lá para cá, por uma série de contingências e oportunidades práticas me inseri de cabeça no olho do furacão.

Em pouco tempo, estava editando sites relevantes de Literatura. O site CAPITU e, posteriormente, meu próprio site, o CRONÓPIOS, de onde saí em 2009 e que acabou se tornando referência de literatura contemporânea na internet.

Este 2012, montei outro site dedicado a circulação e divulgação da literatura contemporânea, o site MUSA RARA.

Com alguns livros publicados, tenho trafegado com prazer e curiosidade nestes dois mundos: o impresso e o digital. Mas, apesar disso, como boa parte dos presentes aqui hoje, posso dizer que sou um emigrante em um ambiente onde os mais jovens são nativos. E isso, no final das contas, faz muita diferença.

Apesar dessa aparente dicotomia, a meu ver, a primeira coisa que devemos firmar em nosso modo de enxergar o que está acontecendo é que estes mundos não estão mais separados. Vivemos, quer queiramos ou não. Quer saibamos ou não. Quer aceitemos ou não, em uma CIBERCULTURA e urge que a reconheçamos e a entendamos nem que seja um pouco. Ou que façamos o salto histórico que alguns já vem fazendo pelo mundo.

Precisamos fazer um BURACO NO MURO de nossos preconceitos e paradigmas, saltar séculos sem medo. Convido-os a assistir comigo a experiência reveladora feita pelo pesquisador indiano Sugata Mitra.



Que fantástica experiência essa, não? Ao conhecer o trabalho deste pesquisador sério, fiquei mais otimista ainda com as possibilidades da cibercultura.

Para compreendermos a cultura digital de nossa época é sempre bom relacioná-la com as anteriores. As denominadas de cultura oral, cultura escrita, cultura impressa, cultura de massas, cultura das mídias e, por fim, a cultura digital. Ao lado desta continuidade sequencial de períodos, vistos do ponto de vista histórico, há uma coexistência geradora de hibridismos e convivências culturais, no dizer da professora Lucia Santaella.

Nas sociedades orais, as mensagens discursivas são sempre recebidas no mesmo contexto em que são produzidas.

Após o surgimento da escrita, os textos se separam do contexto vivo em que foram produzidos. É possível ler uma mensagem escrita cinco séculos antes ou redigida a cinco mil quilômetros de distância – o que muitas vezes gera problemas de recepção e de interpretação.

Para vencer essas dificuldades, algumas mensagens foram concebidas para preservar o mesmo sentido, qualquer que seja o contexto de recepção: são as mensagens ‘’universais’’ (ciência, religiões do livro, direitos do homem etc.).

A cibercultura leva a co-presença das mensagens de volta a seu contexto como ocorria nas sociedades orais, mas em outra escala, em uma órbita completamente diferente.

A questão sobre a expansão das novas tecnologias e sua influência na cultura deu as caras no século passado, mas suas exigências se fizeram incontornáveis de alguns anos para cá. O computador e o campo de significações da Internet são todos colocados no mesmo saco, melhor dizendo, na mesma rede. A parte mais popular desse processo é a World Wide Web, o conhecido WWW, que a rigor é apenas a interface gráfica da Internet. É através dela que nos conectamos com os sites, sítios, blogues e demais páginas com o intuito de divulgar, de criar ou apenas de nos relacionarmos.

Aqui abro um parênteses para explicitar este conceito que poderia ser a síntese de nosso diálogo de hoje: CIBERCULTURA.

Para Pierre Lévy, Cibercultura é um neologismo que especifica o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de attitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.

Ciberespaço, que ele também chama de rede, é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas tbém o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo.

Voltando a questão da interface nessa confluência de informações em rede, lembremos, Segundo Pierre Lévy, que a noção de interface não deve ser limitada às técnicas de comunicação contemporâneas. Ele lembra que o próprio advento da impressão gerou uma interface padronizada e original com seus cabeçalhos, páginas de títulos, numeração regular e referências cruzadas.
Em última instância eu penso que a própria palavra é uma interface com o plano das ideias, das informações e dos sentimentos e, para discordar de Saussure, não totalmente arbitrária, enquanto signo, como nos mostrou as experiências do psicólogo Wolfgang Köhler registradas em seu livro Psicologia da Forma.

O que dizer, então, da literatura com sua galáxia de sentidos que, no dizer do escritor cearense Carlos Emílio C. Lima, cria “cinemas mentais” em fluxo não linear e em várias dimensões?

Com o advento da linguagem digital, inesperadamente, a escrita impressa e a linguagem habitual do livro, a literária, feita de letras, sintaxe, sintagmas, morfologia e conotações ganhou em importância. Jovens educados e criados em um ambiente predominantemente visual, saturados de imagens e ícones da cultura contemporânea, começaram a se voltar para a linguagem escrita estimulados pelo correio eletrônico, MSNs e outros diálogos entre suas comunidades sociais. Os que chegaram à fase do consumo de informações na última década, por bem ou por mal, estão utilizando da expressão literária, rudimentar ainda (calcada ainda mais em sua função fática do que poética), mas sujeita ao aprimoramento natural determinado pela própria necessidade de se exprimir.

Chegamos, então, a uma palavrinha que está na moda no meio virtual e que se configura como característica essencial dessa nova era, ou da cibercultura: o hipertexto. Blocos de informações conectados por meio de elos ou links, capazes de permitir aos navegadores que se movam livremente aí dentro e que nos colocam diante de uma nova máquina de ler, que faz de cada leitor-navegante um editor em potencial redirecionando os paradigmas que balizavam as antigas formas de produção e recepção de discursos.

O texto, nessa baliza, passa a ser efetivamente uma galáxia de significantes, não uma estrutura de significados. Segundo George Landow, em seu livro Hipertext 2.0, os textos não têm mais início, são irreversíveis e possibilitam acesso por diversas entradas das quais nenhuma poderia ser autoritariamente declarada única, como queria Roland Barthes em suas análises da escritura.
E a pergunta que interessa a nós todos e que não quer calar:

Como formar leitores em uma sociedade que sofreu a mudança drástica da cultura impressa para a digital e do paradigma da leitura para o de navegação. Como a escola pode formar leitores nessa contemporaneidade, quando impera uma cultura na qual os professors aderem como emigrantes, enquanto os alunos são os nativos?

E como fazer desse leitor, que passou a ser chamado de leitor imersivo, típico da cibercultura, um leitor que não é mais um solitário que segue as sequências de linhas, páginas e capítulos até o limite do livro, imaginando ou refletindo, um leitor zapper que ziguezagueia como um pássaro, torná-lo um leitor intérprete e produtor de sentidos?

E como potencializar as possibilidades de interatividade e multilinearidade da internet em favor da apreensão de saberes mais complexos em sociedade de lan house, onde reina o sensorial, o efêmero e a superficialidade dos chats e jogos virtuais?

Em primeiro lugar, penso, que deixando de pensar que tudo é efêmero e superficial na linguagem digital, na internet e na cultura digital. Precisamos suspender o preconceito e imergir no universo dos adolescentes para aprender com eles, compartilhando as várias visões de leituras que já adquirimos.
A postura de aprendiz e a convicção de que nenhuma forma de leitura é superior à outra, pode ser uma boa estratégia para nosotros de outra geração. É justamente na tangência entre as culturas – digital e impressa – que reside a riqueza do momento contemporâneo e é nessa troca que se abrem novas possibilidades de ensino e diálogo.

Não se trata mais de ensinar a ler na concepção clássica, mas de ‘ler’ além da linguagem verbal, a visual, a auditiva, olfativa, gustativa, bem como os gestos, as cores, a moda, o comportamento.
Sabemos que, no sistema eletrônico, imagem, palavra e som são articulados e provocam uma percepção sensorial sinestésica, imediata e móvel. Essa forma de interação distancia-se daquela contemplativa, reflexiva para tornar-se dinâmica, com possibilidades de metamorfoses, desvios, labirintos sem volta, em que a leitura não tem mais um início, meio e fim.

Preparar-se e preparar o outro para viver em tempos de cibercultura é estar aberto para aprender sempre. Para lidar com o conhecimento como algo sempre inacabado e passível de ser compartilhado sem hierarquias. Já não sou mais o sabedor. O conhecimento está dado. As pessoas chegam a ele sozinhas e muitas vezes mais rápido se eu não atrapalhar.

Talvez o que possamos fazer é problematizar um aspecto ou outro. Já que o leitor imersivo atua como editor ao escolher o que quer ler, talvez seja mais importante agora ensinar a ter critérios de escolha de fontes de leitura no mundo virtual.

Por exemplo, nas novas formas de leitura interativa, os blogues são essenciais. Podemos indicar os blogues de escritores, que se preocupam em não usar indiscriminadamente o internetês, e até propõem interatividade na construção de suas narrativas. A popularização dos escritores nos blogs, com sua presença e diálogo que as próprias editoras já recomendam, com conferências virtuais, etc, pode ser capaz de alterar o padrão de consumo intelectual e interferir nas escolhas de livros dos leitores em formação.

Calcula-se que em um ano ou dois a venda de PCs seja superada pela de tablets, formato no qual a interação é explorada ainda mais. Os jornais e revistas impressas praticamente irão desaparecer e migrarão para os tablets que já permitem visualização confortável e bonita e com muito mais atrativos.

Do ponto de vista da língua, observamos que, com a internet, ao contrário do que muitos apregoavam, ocorreu um crescimento da diversidade, com regionalismos, nacionalismos e expressões de minorias. Escreve-se cada vez mais e não é o inglês que domina como poderíamos supor observando um “universo”, que até 2006, era dominado por sistemas operacionais da Microsoft.
No entanto, a língua é um organismo vivo, mutante e, claro, já sofre as contaminações dos novos suportes. Apesar disso, não acredito no que diz o linguista norte-americano Steven Fisher quando afirma que o português brasileiro vai ser extinto em mais ou menos 300 anos. O argumento dele tem uma lógica linguística, a partir do conhecimento que temos da dinâmica de outras línguas e outras análises diacrônicas. Para ele, o português brasileiro não resistirá a influência econômica e cultural do espanhol (afinal, o espanhol já é a segunda língua mais falada no Ocidente) e se transformará em uma espécie de portunhol.

Por outro lado, já flertamos com a Web 3.0, visto que a anterior — a Web 2.0 — banalizou-se como sinônimo de sites e ferramentas interativas que revelaram um leitor ativo na produção e gerenciamento de conteúdos. O resto é nuvem. Ou melhor, está na Nuvem. Ou pior, estamos nas nuvens.

Falamos agora em webliteratura. A literatura em si já não basta. Estamos, os escritores, imersos e fascinados pelas novas mídias e suas facilidades de distribuição e possibilidades ficcionais. E não há como fugir disso. Mesmo que intuídos em pixels e bits, os deuses continuam “hóspedes fugidios da literatura”. Deixam agora seus rastros em rizomas de links e hipertextos que trafegam em diálogo intersemiótico nos chamados i-pads, e-readers, E-books e outros écrans mais ordinários.

Muitos dos que se levantam contra a tecnologia, nos alertando de seus perigos, fazem-no de uma forma muito parecida com a que fez Nietzsche ao declarar sua guerra particular ao cristianismo, ou a Deus, e que acabou revelando muito de sua incapacidade de viver sem eles.

O mito de Narciso usado pelo vovô Marshal Macluhan, quando nos falava sobre os meios como extensão do homem, aponta para o entorpecimento e fascínio que nos atingem quando nos deparamos com extensões em qualquer material que não seja nós próprios. E não por acaso a palavra Narciso originou-se da grega narcosis que gerou a palavra narcótico.

É neste estado paradoxal de dopping cibernético que nos pegamos a pensar e a questionar sobre o que está acontecendo em nossos dias. Não é fácil ter clareza e projetar alguma coisa. Mal estamos dando conta do presente. O que revela que estamos, realmente, despreparados para o futuro, qualquer que seja ele. Paradigmas. Velhas chaves para novas fechaduras.

No diálogo publicado recentemente entre Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, “Não contem com o fim do livro”, discute-se com propriedade a efemeridade dos suportes duráveis que pode ser justificada pelo fato de a cada instante surgirem novos suportes e aparelhos que exigem um novo tipo de conhecimento para que possamos utilizá-los. É verdade, nós da geração analógica formada com os livros, e entre os livros, não temos fôlego para tanto. Mas, como podemos observar, a nova geração tira isso de letra.

Os dois belos representantes de nossa cultura impressa, colecionadores de pergaminhos e incunábulos, apontam para uma “ansiedade de produção” e para uma proliferação de romances contemporâneos de autores tão efêmeros quanto a tecnologia que deve atender às necessidades de consumo.

Jean-Claude afirma que “às vezes é útil relativizar nossas pretensas proezas técnicas” ao lembrar que os livros de Victor Hugo chegavam mais rapidamente a outros países do que os best-sellers nos dias de hoje. Por outro lado, podemos concluir também que este fato só revela a incompetência das editoras atuais em se abrirem às possibilidades que as novas mídias nos oferecem.

Mas até elas, as editoras lobodinossáuricas, estão se mexendo. No início do ano retrasado, a gigante editorial americana Simon&Schuster ditou novas regras para seus escritores. E quais eram elas? Abrir um blogue. Criar uma página no Facebook. Gerar conteúdo em redes sociais literárias. Interagir. Contaminar-se. Sair dos escritórios empoeirados ou da pretensa redoma criativa. Abrir-se para as novas exigências e imperativos de uma época de cibercultura.

E no sétimo dia, Deus observando novamente sua criação rejubilar-se-á. No oitavo, o Google, possivelmente, chegará e se apoderará de tudo.



(Confira, também, a imperdível palestra de Sugata Mitra no Brasil: http://www.youtube.com/watch?v=BBzDOS5UrG0).


(Palestra feita para alguns professores da Coordenadoria Educacional da BSGI

13 novembro 2015

Literatura e Formação do Brasil



O Sesc Pinheiros organiza esta série de diálogos sobre a formação do Brasil, da identidade brasileira e da cultura do ponto de vista da Literatura e dos escritores. Me pediram pra mediar o diálogo destas duas figuras tão diferentes e tão sedutoras (cada um a seu modo). Cristovão Tezza é uma simpatia, bem-humorado e muito bem informado. O Marcelo Rubens Paiva, que eu não conhecia pessoalmente, foi uma bela surpresa. Irônico, questionador e educado. O papo poderia seguir tranquilamente em uma mesa de bar, ou na sala de casa.

O Sesc, na figura do brother André Dias - idealizador e instigador do belo projeto -, me pediu também que eu introduzisse o tema com um texto. Compartilho, então, com quem se interessar o texto que li na abertura:

"Dizem que a Literatura no Brasil nasceu a partir dos primeiros escritos de viajantes e missionários europeus que documentavam as informações sobre a terra recém-colonizada. Podemos dizer que o próprio Brasil e os brasileiros foram forjados por esses escritos testemunhais. Sempre pelo olhar do colonizador.

Embora esses primeiros escritos não possam ser considerados como Literatura de fato, por estarem demasiadamente presos à crônica histórica, são compreendidos como o ponto de partida para a formação de nossa identidade literária e cultural.

Sabemos, também, que há várias visões e narrativas sobre o que seria e o que poderia vir a ser o Brasil, o brasileiro e a sua cultura em formação.

Para um escritor, tudo não passa de narrativas.

Será interessante ouvir o que escritores pensam sobre essas narrativas; narrativas que não foram forjadas só pelos historiadores, mas também pelos próprios escritores no afã de entender o que seria este país que abraça povo tão exuberante e contraditório.

Alguns de nossos escritores se rebelaram contra o argumento de que nós seríamos a projeção de uma utopia europeia; aquela Visão do Paraíso descrita por Sérgio Buarque de Hollanda. Outros construíram seu olhar narrativo buscando formatar esta utopia projetada pelos europeus. Outros ainda diziam: “Não há o que desculpar. Todas as colonizações são más, mas esta resultou em algo extraordinário que chamamos Brasil.”

O filósofo Paul Ricoeur compara o homem contemporâneo e o historiador com o sonhador e o narrador do sonho.

O contemporâneo é o sonhador; seu vivido é como o sonho. Ele vive e convive com a noite, entre eventos desconexos e desarticulados. Vive o mistério de um espetáculo desconhecido que é a sua própria vida e ele a sua própria expressão.

O historiador é o sonhador no dia seguinte: um narrador do seu sonho. Acordado, ele tentará se lembrar do que sonhou e fará uma narrativa do sonho. A narrativa não é o sonho ou a sua vivência exatamente, mas sim, um esforço de organização e atribuição de sentido.

Os escritores, eu acrescentaria para complicar, são uma soma de tudo isso: além de sonharem e serem exímios em narrativas sonhadas ou vividas, narram o que ninguém ousou sonhar ou viver. Inventam e, às vezes, suas invenções são mais reais do que o rei.

Eles seguem observando, idealizando e gerando novas e extraordinárias narrativas. Não necessariamente nesta ordem:

José de Alencar e sua lenda fundadora da nacionalidade: a imagem majestosa do ameríndio Peri.

Euclides da Cunha e sua construção da figura do sertanejo (aquele que é, antes de tudo, um forte).

Gilberto Freire e sua visualização de um novo mundo nos trópicos: segundo ele, a mais bem-sucedida experiência da colonização portuguesa.

Mário de Andrade, suas pesquisas etnográficas e sua identificação do brasileiro essencial: Macunaíma, o sonso sabido, o herói irresponsável, o consequente-inconsequente, aquele sedutor que não sustenta nenhum projeto.

Sergio Buarque de Hollanda e sua busca pela alma da terra brasileira nas raízes da lusitanidade; as relações patrimoniais escoradas no favor e revelando o verdadeiro caráter do “homem cordial” brasileiro. E concluindo que o futuro só poderá ser construído com o rompimento com parte do passado aprisionador.

Caio Prado interpretando de forma materialista os ciclos econômicos do Brasil.

Antonio Candido que, enquanto a elite se empenhava em formar uma nação, se empenha com a sua Formação da Literatura Brasileira, sua identificação de momentos decisivos.

Alfredo Bosi e sua dialética da colonização. Percebendo e iluminando-nos a respeito das relações entre as palavras ‘colônia’, ‘culto’ e ‘cultura’ (colo-cultus-cultura), ou seja, que na raiz do nome ‘colônia’ e do verbo ‘colonizar’ está o verbo latino ‘colo’, de cujas formas participais derivam os termos ‘culto’ e ‘cultura’.

Roberto Schwarz e a identificação de nossas ideias fora do lugar, onde tenta elucidar como se deu a leitura de uma sociedade na qual as ideias liberais foram solapadas pela realidade de um país escravocrata e socialmente atrasado, em que o favor era a moeda corrente.


E, por falar em país escravocrata, não podemos esquecer do escritor modelo e copiado, idealizador da Academia Brasileira de Letras, seu primeiro presidente, o negro enrustido Machado de Assis. Pai, em alguma medida, de todos nós.”

13 agosto 2015

Diálogos Críticos

Há muito tempo que projeto esses diálogos. Uma oportunidade de conversar com calma com algumas pessoas-pensantes que admiro sobre temas diversos (reais ou imaginários) e que, imagino, nos acrescentarão muito. Bom começar com o Hansen. Suas aulas na Letras da USP foram as mais concorridas e das mais intrigantes que já assisti. Com certeza, o papo será muito bom.

O lance todo será transmitido pelo canal da Casa das Rosas no Youtube e com possibilidades de recebermos perguntas do Brasil todo via twitter. Imperdível.




26 junho 2015

PATOS MANDARINS




    Marido e mulher, duas asas
    que garantem o voo do pássaro.
    Dois camarões fidelíssimos
    jurando compartilhar o mesmo buraco 
    enquanto vivos, jamais se separar.

    Cunham palavras para nomear
    o que talvez seja mais amplo e misterioso
    que o universo.

    Fiquemos com a mais bonita e perigosa: ‘Amor’.

    Por muitos e muitos anos
    compartilham camas e travesseiros,
    divertem-se sob mantas com delicados bordados
    de patos mandarins,
    festejam muitos aniversários,
    saúdam variados pores-do-sol,
    fotografam flores e bebês.

    No entanto, a travessia pós-vida 
    é inevitável. 
    Jamais poderá ser compartilhada.
    Nesse percurso solitário,

    o que poderia confortá-los?



    Obs.: Os patos mandarins são símbolos da felicidade conjugal. Acredita-se que o casal de patos se mantém fiel durante toda a vida. Citado por Nichiren Daishonin em seu escrito “As Catorze Calúnias”.

21 junho 2015

Trecho do romance "Áurea" (inédito)


A Teoria do Caos, embora inicialmente não tivesse essa intenção, parece servir às mais estapafúrdias conclusões. Inclusive para mostrar a inexistência do acaso. Poderia o bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadear um tornado em São Francisco? Pequenas mudanças em variáveis de um determinado acontecimento, percebeu-se, poderiam produzir efeitos desproporcionais. O que tornaria legítima a seguinte questão: o que a burocracia militar americana teria a ver com a maior capital gay do planeta? O tema daria uma ótima tese com cálculos holísticos avançados. Durante a Segunda Guerra Mundial, todo militar americano que fosse suspeito de homossexualidade teria que passar por uma avaliação feita por uma junta militar em São Francisco. Conta-se que, entre 1941 e 1945, passaram por lá e foram mal avaliados para o exercício da profissão, quase 10 mil militares gays e lésbicas. No final das contas, os reprovados acabavam por ficar na cidade. Os militares e sua homofobia, mesmo sem o querer, contribuíram para criar a base da maior colônia gay do planeta. Poderíamos chamar a esse caso específico não de manifestação do Efeito Borboleta e sim do Efeito Arco-Íris, o que mudaria toda a terminologia pseudocientífica da teoria. Álvaro riu de seu próprio raciocínio. No fundo, nenhuma teoria científica conseguiria suprir o buraco negro em seu peito. Porém, ele perseverava, não sem uma boa pitada de banzo.

18 junho 2015

2015 promete...


Retomanos o site/revista Musa Rara, iniciamos colaboração com resenhas críticas no jornal Rascunho e vários outros projetos estão se concretizando. Um deles será supimpa. Começa em setembro na CASA DAS ROSAS. Dê uma conferida, em primeira mão.


DIÁLOGOS CRÍTICOS


O que torna algo uma obra de arte? O que é a literatura? Para que serve a arte? A crítica literária é importante? Como ela se realiza? O que é cultura relevante? Como distinguir Natureza de Ideologia? Como lidar com a indústria cultural sem ser devorado por ela? Ler traz alguma contribuição benéfica para o ser humano? A cibercultura veio destruir a cultura como a conhecemos? Homo Sapiens ou Homo Ludens? O que é mais importante: o bem, o belo ou o benefício?


Dialogar talvez seja a forma suprema de conhecimento. Desde Sócrates é assim. Convidamos algumas de nossas melhores cabeças para nos ajudar a refletir sobre essas e tantas outras questões pertinentes ao homem contemporâneo. Venha participar conosco, ao vivo ou com suas questões pela internet.


25/9/2015 – Sexta-Feira, às 19h30

Convidado de estreia:

João Adolfo Hansen é doutor em literatura brasileira pela USP e, atualmente, professor titular da mesma instituição. Tem 13 livros publicados e dezenas de artigos em periódicos especializados, assim como capítulos de livros. Já orientou 24 dissertações de mestrado, 17 teses de doutorado e inúmeros trabalhos de iniciação científica. Recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Ensaio (1990) e o Grande Prêmio da Crítica da APCA (2014). Sua área de atuação são os Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa.

Mediador e provocador:

Edson Cruz é escritor e editor do portal MUSA RARA (www.musarara.com.br). Graduado em Letras pela USP, publicou três livros de poesia, uma adaptação em prosa do clássico indiano Mahâbhârata e um livro de depoimentos sobre o que seria a Poesia. Seu poemário mais recente, Ilhéu (Editora Patuá), foi semifinalista do Prêmio Portugal Telecom 2014. 


Se você quer saber quem é o Hansen, veja este papo que tive com ele alguns anos atrás:


                                                                Conversa com João Adolfo Hansen


08 outubro 2013

NOSTALGIA


De tudo restará o gosto
da amora.
os trevos azedinhos que recolhemos
no caminho da escola.
os piqueniques e o lambe-lambe
no Jardim da Luz.

Dois patinhos na lagoa.
Nós dois, pombinhos
na gamboa.

Aquela matemática inspirada
a música das estrelas,
os desejos e suas faíscas
cadentes.

A soma dos catetos
do quadrado da Bruna Lombardi.

O pulsar de luzes na memória
pontos luminosos
a nos lembrar
que a vida foi boa
que a vida tem sido boa
mas que deve haver mais
sim, tem que haver mais.

22 fevereiro 2013



O que é a poesia? Partindo da questão que ele fomentou e instigou vários poetas a responder, o escritor e editor do Portal Musa Rara, Edson Cruz, elaborou uma oficina que tem como centro a criação poética abordada na perspectiva triádica que a fundamenta e a justifica: o poema, a poesia e o poeta.
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O curso é formado sobre dois eixos:
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1. Características da poesia: do que é feita? (material); Com o que se parece? (aspectos formais); Para que serve? (causa final); Quem a faz? (causa poiética).
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• As distinções fundamentais entre a prosa e a poesia.
• As formas fixas na poesia. A estrutura do soneto. A canção. A oralidade.
• Definições para quem gosta delas. O que os poetas dizem sobre o fazer poético.
• Exemplos práticos (análise e construção). Sonetos de Petrarca, Camões, Augusto dos Anjos e Glauco Mattoso.
• A poesia moderna. Temática. A métrica. O Verso branco. O enjambement.
• Análise de alguns poemas emblemáticos (Ferreira Gullar, Drummond, Manuel Bandeira, Augusto de Campos, Fernando Pessoa, João Cabral, Manoel de Barros, Leminski, Borges)
• Haicai: uma homenagem a síntese. O caso Matsuo Bashô.
• A Poesia Concreta e a Internet.
• Função poética e Jakobson.
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2. Exercícios e discussões em grupo: a abordagem do módulo é iminentemente prática, mas sem prescindir dos aspectos teóricos. Escrever é antes de mais nada aprender a pensar e a questionar.
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• Como analisar um poema. Exemplos e exercícios.
• O soneto como a forma fixa mais tradicional. Exercitar.
• Transformando um texto de jornal em poema.
• Criação de metáforas. O som e o sentido.
• Concisão. O haicai como exercício poético. A renga.
• Composição de poemas a partir de sugestões imagéticas.
• Poema com repetição de uma definição.
• Fazer um poema do sonho alheio.
• A importância do blogue como exercício de criação.
• O mercado editorial: sua lógica e especificidade.
• Dicas para a primeira edição.

Será publicada uma coletânea dos melhores poemas compostos pelos alunos pela Terracota editora.
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A quem se destina:
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Escritores, redatores publicitários, jornalistas e blogueiros interessados em saber mais sobre o gênero e trabalhar intensivamente em seus textos.
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Vagas disponíveis: 18
Quando: 2 meses, 8 encontros. Início: 23 de fevereiro de 2013.
Horário: Sábados, das 10h às 13h.
Investimento: 1+2 R$225,00 (boleto, cheque) ou em 6 vezes no cartão.
(desconto para ex-alunos e pagamento à vista).
Onde: Espaço Terracota – Av. Lins de Vasconcelos, 1886 – Vila Mariana.
(saiba como chegar aqui)
Inscrições: Clique aqui.



21 junho 2012

RICARDO CORONA, na Casa das Rosas





1) O que é poesia para você?

Tenho pensado na poesia como um lugar (ou não-lugar) de sentidos incessantes, palimpsestos do sensível na frincha da significação, um lugar em que a poesia resiste independentemente do “poético”, do “poema” e do “poeta”. Poesia furtada da literatura, não figurada, mas que assume o seu sentido de ‘poesia’ como um sentido sempre por fazer. Esse lugar é antes da própria poesia, sem sê-lo propriamente poesia, mas distendido em todas as artes. Um lugar de tartamudez e prenhe de silêncios, na fresta da língua: ali, aqui...

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Bashô disse algo sobre isso (veio-me isso, aceito e cito de memória): procure o que os mais velhos não encontraram.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Hoje (também no sentido de “agora”) uma resposta para essa pergunta:

1) Arturo Carrera (poeta argentino), por causa do seu escrito con un nictógrafo, poema-livro que se compõe na escuridão para o leitor e deseja oferecer-lhe instantes luminosos, iniciando-se com uma entrega: “el escriba ha desaparecido”. Desorbitado, no lugar em que a linguagem está para todos, lugar vazio, no qual também estão as palavras, talvez distraídas, talvez atentas, mas na sua condição ante todos nós, na inadequação permanente entre significado e significante, no embaraço quando se quer atribuir significado ao desconhecido, conforme Lévi-Strauss: “o universo significou bem antes que se começasse saber o que ele significava...”.

2) Édouard Glissant, poeta, antropólogo e filósofo antilhano, autor de um livro-conferência bastante intrigante chamado Introdução a uma poética da diversidade (o único com tradução brasileira, feita por Enilce Albergaria Rocha) e, principalmente, Poétique de la Relation. Glissant, autor que discutimos muito esse ano em aulas instigantes com o professor e tradutor Maurício Mendonça Cardozo. Glissant põe em jogo muitas questões, mas o que mais repercutiu no meu trabalho poético, talvez pelo livro que escrevo no momento, foram suas idéias em relação ao épico. Ajudaram-me a concluir que pode ser possível escrever um épico hoje, mas não um épico no seu formato clássico, cujo movimento, segundo Glissant, movimento auto-afirmativo de culturas e línguas que apreendeu (cooptou) e, portanto, centralizou nesta forma quase todas as expressões e gêneros da antiguidade. Pode-se com isso perceber esta formação “atávica” das culturas, ao lado de procedimentos que levaram ao aniquilamento das línguas, por exemplo. E hoje, em meio à multiplicidade, à diversidade de expressões e formas, fora o que isso tenha de simulacro, de mentira, de ninho de nadas, e por isso, só por isso, tem que ser dito com cautela o que disse em relação ao épico, pois faz parte da formação histórica das culturas, mas, enfim, quero dizer que hoje não faz mais sentido um épico clássico, a feitura de um épico clássico, e abandonemo-lo à legitimidade histórica. Um épico contemporâneo, no meu entender, só pode ser de força centrífuga, num movimento para o fora, para o depois dos gêneros e da unidade, um épico fractal, feito de múltiplas implosões descentralizadoras – talvez eu o chamasse épico por amor ao épico clássico.

3) Raul Bopp, certamente um precursor da etnopoesia no mundo, lançou mão de procedimentos que merecem estudo mais cuidadoso, verdadeiras filigranas da fala. Bopp era um mestre na seqüência de imagens, espécie de orquestração imagética que propicia o clima ideal para o ouvido pensante, tanto na oralidade imagética de “Cobranorato” quanto na genialidade dos jogos sonoros em poemas de menor fôlego. Basta ver/ouvir “Caboclo”: (...) “O escuro apaga as árvores / Fogo desanimou na cozinha / Mia um gatinho magro no terreiro: M-i-s-é-r-i-a” (...). A sugestão da onomatopéia (“miau”) da voz do gato, mas não inscrita, revela a cena cabocla miserável. É a semântica do som. E som é para ouvir.


Dia 24/06, domingo, das 16h às 18h
RICARDO CORONA  
Ricardo Corona atua nos seguintes campos: poesia contemporânea brasileira e hispano-americana, estudos de relação entre as áreas artísticas (performance, poesia sonora, artes visuais), tradução, linguagem e cultura. É autor dos livros ¿Ahn? (Madri, Poetas de Cabra, 2012), Ahn? (Jaraguá do Sul, Editora da Casa, 2012), Curare (Iluminuras, 2011 – Premio Petrobras), Amphibia (Portugal, Cosmorama, 2009), Corpo sutil (2005), Tortografia, com Eliana Borges (2003) e Cinemaginário (1999), publicados pela Editora Iluminuras. Na área de poesia sonora, gravou o CD Ladrão de fogo (2001, Medusa) e o livro-disco Sonorizador (Iluminuras, 2007). Organizou a antologia bilíngue (português-inglês) de poesia Outras praias / Other Shores (Iluminuras, 1997). Com Joca Wolff, traduziu o livro-dobrável aA Momento de simetria (Medusa, 2005) e a coletânea Máscara âmbar (Lumme, 2008), de Arturo Carrera (com posfácio de Raúl Antelo) e, esparsamente, publicou traduções de Henry Michaux, Gary Snyder e William Carlos Williams. Com Mario Cámara, Daniel Link, Reinaldo Laddaga, Romina Freschi, Nora Domínguez, entre outros estudiosos da literatura hispano-americana, participa do livro La poesía de Arturo Carrera – Antología de la obra y la crítica, organizado por Nancy Fernández e Juan Duchesne Winter (Instituto Internacional de Literatura Iberoamericana/Universidade de Pittsburgh, 2010). Tem ensaios e poemas publicados nas revistas Poiésis (Brasil), Tsé-tsé (Argentina), Rattapallax (USA), Caligramme (França), Separata (México) e nos jornais Suplemento Literário de Minas Gerais (Brasil) e caderno Mais! (Folha de S. Paulo). Com Eliana Borges criou as revistas de poesia e arte Medusa (1998-2000) e Oroboro (2004-2006) e com Joana Corona o jornal Vagau (2011). Desde 1996, apresenta trabalhos performativos que envolvem música eletroacústica, artes visuais e poesia sonora, dos quais, destacam-se Carretel curare (2011) e as parcerias com Eliana Borges, Tsantsa (2011), Alfabeto móvel (2010), Nomos (2009), Tambaka (2008) e Jolifanto (2007).

23 maio 2012

O que é a Poesia?







O QUE É A POESIA?

A poesia é de longe a linguagem de maior potência de significação – “a mais condensada forma de expressão verbal”, no dizer de Pound –, e não é de espantar a variedade de leituras, de idiossincrasias, de práticas que permeiam a poética contemporânea e, evidente, a sua recepção. Tão diversas como o são os próprios seres e seus interesses.

O poeta e editor Edson Cruz instigou a possibilidade dessa reflexão e constatação convidando poetas de várias linhagens e calibres a refletirem sobre o fazer poético e as referências fundamentais para o trabalho de cada um deles.

O resultado transformou-se em livro que será o mote para os diálogos que a Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura tem o prazer de oferecer (todo o último domingo do mês) a partir de maio.

A cada encontro, um grande poeta em atividade falará sobre sua visão de poesia, sobre suas influências, sobre a recepção de seu trabalho e o mercado editorial, além de responder a questões do mediador e do público presente.



PROGRAMAÇÃO

Dia 27/05, domingo, das 16h às 18h:
AUGUSTO DE CAMPOS
Augusto de Campos nasceu em 1931. É poeta, advogado, tradutor, crítico e publicitário. Estreou em fevereiro de 1949 na Revista de Novíssimos e logo depois publica nas páginas da Revista Brasileira de Poesia, ligada ao clube de Poesia de São Paulo, da geração de 1945. Em 1951 edita por conta própria o livro O Rei Menos o Reino. No ano seguinte funda o Grupo Noigandres, com seu irmão Haroldo e o poeta Décio Pignatari . Participando do lançamento da revista Noigandres, publica no primeiro número os poemas “Ad Augustum per augusta” e o “Sol por natural”. Iniciou em 1953 a série “Poetamenos”, que seria publicada em 1955, no n.2 da revista Noigandres. Começa a publicar seus primeiros artigos teóricos em 1955, já em outubro cunhava para a nova poesia que surgia o termo poesia concreta. Em novembro vê seu “Poetamenos” ser oralizado pelo grupo Ars Nova, ao mesmo tempo que realizou conferência sobre as correspondências estéticas entre as novas artes que surgiam. Em 1956 inicia correspondência com e.e.cummings. Finaliza com Haroldo de Campos a tradução de 17 cantares de Pound e entrega para publicação 10 poemas de e.e.cummings. No final do ano ajuda a organizar a I Exposição Nacional de Arte Concreta, em São Paulo e em fevereiro do ano seguinte no Rio. Publica Noigandres n.3. Em 57 lança, como articulista do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, textos que seriam base do Plano Piloto para Poesia Concreta, lançado pelo grupo em 1958. Publica nesse ano Noigandres n.4. Em 1959 entra em contato com a poesia de Sousândrade, Em 1906 participa da realização da página Invenção no Correio Paulistano. Publica a tradução de cummings e de Ezra Pound. Publica em invenção estudos sobre Sousândrade. Nos anos 60 transfere sua atenção para a cultura de massa, em especial a música popular, publicando o Balanço da Bossa, em 1968. Em 1995 lançou com seu filho, o músico Cid Campos, o CD “poesia é risco” (Polygram). A performance criada a partir do CD, em parceria com Walter Silveira, já foi apresentada em diversos eventos, no Brasil e no Exterior. Nos últimos anos, Augusto de Campos vem se dedicando à feitura de poemas “verbovocovisuais” em mídia digital. Trabalhando com um computador Macintosh e programas de multimídia, desenvolve poemas novos, bem como releituras de obras anteriores, com recursos de som, animação e interatividade. Em 1996, participa da exposição Utopia como poeta do mês. Atualmente desenvolve um trabalho de poesia utilizando-se da linguagem do computador, exibindo-os via internet. Vive e trabalha em São Paulo.

Dia 24/06, domingo, das 16h às 18h:
RICARDO CORONA

Ricardo Corona atua nos seguintes campos: poesia contemporânea brasileira e hispano-americana, estudos de relação entre as áreas artísticas (performance, poesia sonora, artes visuais), tradução, linguagem e cultura. É autor dos livros ¿Ahn? (Madri, Poetas de Cabra, 2012), Ahn? (Jaraguá do Sul, Editora da Casa, 2012), Curare (Iluminuras, 2011 – Premio Petrobras), Amphibia (Portugal, Cosmorama, 2009), Corpo sutil (2005), Tortografia, com Eliana Borges (2003) e Cinemaginário (1999), publicados pela Editora Iluminuras. Na área de poesia sonora, gravou o CD Ladrão de fogo (2001, Medusa) e o livro-disco Sonorizador (Iluminuras, 2007). Organizou a antologia bilíngue (português-inglês) de poesia Outras praias / Other Shores (Iluminuras, 1997). Com Joca Wolff, traduziu o livro-dobrável aA Momento de simetria (Medusa, 2005) e a coletânea Máscara âmbar (Lumme, 2008), de Arturo Carrera (com posfácio de Raúl Antelo) e, esparsamente, publicou traduções de Henri Michaux, Gary Snyder e William Carlos Williams. Com Mario Cámara, Daniel Link, Reinaldo Laddaga, Romina Freschi, Nora Domínguez, entre outros estudiosos da literatura hispano-americana, participa do livro La poesía de Arturo Carrera – Antología de la obra y la crítica, organizado por Nancy Fernández e Juan Duchesne Winter (Instituto Internacional de Literatura Iberoamericana/Universidade de Pittsburgh, 2010). Tem ensaios e poemas publicados nas revistas Poiésis (Brasil), Tsé-tsé (Argentina), Rattapallax (USA), Caligramme (França), Separata (México) e nos jornais Suplemento Literário de Minas Gerais (Brasil) e caderno Mais! (Folha de S. Paulo). Com Eliana Borges criou as revistas de poesia e arte Medusa (1998-2000) e Oroboro (2004-2006) e com Joana Corona o jornal Vagau (2011). Desde 1996, apresenta trabalhos performativos que envolvem música eletroacústica, artes visuais e poesia sonora, dos quais, destacam-se Carretel curare (2011) e as parcerias com Eliana Borges, Tsantsa (2011), Alfabeto móvel (2010), Nomos (2009), Tambaka (2008) e Jolifanto (2007).


Dia 29/07, domingo, das 16h às 18h:
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA

Affonso Romano de Sant’Anna: Um dia dizendo seus poemas no Festival Internacional de Poesia Pela Paz, na Coréia (2005), ou fazendo uma série de leituras de poemas no Chile, por ocasião do centenário de Neruda ( 2004), ou na Irlanda, no Festival Gerald Hopkins(1996), ou na Casa de Bertold Brecht, em Berlim(1994), outro dia no Encontro de Poetas de Língua Latina(1987), no México, ou presente num encontro de escritores latino-americanos em Israel(1986), ou participando o International Writing Program, em Iowa(1968), Affonso Romano de Sant’Anna tem reunido através de sua vida e obra, a ação à palavra . Nos anos 90 foi escolhido pela revista “Imprensa” um dos dez jornalistas que mais influenciam a opinião pública. Em 1973 organizou na PUC/RJ a EXPOESIA, que congregou 600 poetas desafiando a ditadura e abrindo espaço para a poesia marginal; foi assim quando em 1963, no início  de sua vida literária, tornou-se um dos organizadores da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte. Com esse mesmo espírito de aglutinar e promover seus pares criou, em1991, a revista “Poesia Sempre” que divulgou nossa poesia no exterior e foi lançada tanto na Dinamarca, quanto em Paris, tanto em São Francisco quanto New York, incluindo também as principais capitais latino-americanas. Atento à inserção da poesia no cotidiano, produz poemas para rádio, televisão e jornais. Tendo vários poemas musicados (Fagner, Martinho da Vila), foi por essa e outras razões convidado a desfilar na Comissão de Frente da Mangueira na homenagem a Carlos Drummond de Andrade, em 1987.  Apresentou-se falando seus poemas, em concerto, ao lado do violonista Turíbio Santos. Tem também quatro CDs de poemas: um gravado por Tônia Carrero, outro comparticipação especial de Paulo Autran, outro na sua voz editado pelo Instituto Moreira Salles e o mais recente outro pela Luzdacidade, com a participação de atrizes e escritoras. Seu CD de crônicas, tem participação especial de Paulo Autran. Escreveu dezenas de livros de ensaios e crônicas. Como cronista, aliás, substituiu Carlos Drummond de Andrade no “Jornal do Brasil” (1984).



Curador e Mediador:

EDSON CRUZ (Ilhéus, BA) é poeta e editor do site de Literatura e Adjacências, MUSA RARA (www.musarara.com.br). E-mail: sonartes@gmail.com Blogue: http://sambaquis.blogspot.com



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