11 janeiro 2008
A BUREKA TAIWANESA
O paulistano Denny Yang está em Taiwan, trabalhando e estudando. Os pais dele são de lá e ele, desde criança que não pisa por lá. Diz que vai tocar um pouco de bossa nova para os chineses e escrever o máximo possível. Talvez, aprender a ler os impossíveis ideogramas. Já sabe uns 50. O cara é rápido. Abaixo um recado de Taipei.
Dizem que escritor adora café, seja com ou sem cigarro. Não sei se é verdade, mas para mim, é um fato. Adoro um bom café, aprecio tomar um café bem tirado, com grãos honestos, e que seja um café barato.
Ainda no Brasil, havia um Café – que creio que ainda está lá – chamado Bureka, bem, ao menos assim eu o chamava, sempre ia tomar café por ali, uma a duas vezes por dia. Conhecia todo mundo lá, a gerente, as meninas que trabalhavam ali, e sempre conversava muito com elas. Tive que abandoná-las em prol de uma viagem a Taiwan, a fim de tirar um pouco de “férias” do Brasil, reabastecer minhas baterias, e resgatar e descobrir de onde vieram os valores que nortearam a minha família e a mim (consequentemente), ao longo de minha vida.
Quando vim para Taiwan, dois meses atrás, pensei que não havia nada que fosse insubstituível, pois com a internet a distância e a saudade dos amigos e contatos profissionais diminui muito, mas eu sabia que não haveria mais uma Bureka por aqui. Surpresa foi a minha quando vi que aqui em Taipei há – e muitos – Cafés pelas ruas e calcadas da cidade, e o café, surpreendentemente, é tão bom quanto o brasileiro. Starbucks, Barista, Dante, tem um monte de redes de Cafés por aqui, e do lado do escritório onde estou trabalhando há um Café que, no meu primeiro dia de trabalho, comecei a freqüentar. A dona do Café, ainda no primeiro dia, achou muito estranho eu não saber falar chinês, apenas um inglês mixado com algumas parcas palavras que eu sabia, de tanto ouvir meus pais falando entre si. E, mesmo depois de entender que eu era estrangeiro, ainda ficava desconfiada, ela e sua garçonete.
Ao longo desses dois meses, trabalhando e também estudando - numa escola de língua chinesa -, freqüentando o Café, comecei a fazer amizade com o pessoal deste Café em Taiwan, e o combinado era que eu ensinasse inglês para elas, e elas chinês para mim. Começamos a conversar muito, e meu chinês, graças a Deus, deu uma crescida que hoje já posso dizer que falo a língua, muito embora ainda não saiba ler nem escrever os ideogramas chineses, apenas alguns mais básicos. Falando muito a respeito do Brasil, expliquei o que significava a palavra “saudade”, que, dizem os lingüistas, não tem tradução para outra língua. Expliquei o problema de desigualdade social, racismo, e violência que acomete o Brasil. Disse a quantidade de amigos que deixei na terra-pátria, e a saudade que era quando chegava o sábado, quando, vivendo em São Paulo, eu sempre saía com uma grande turma.
Na semana passada, elas – a Tou Tou e a Mei Mei – me convidaram para sair num sábado, fomos no cinema, e depois num bar onde se tocava música taiwanesa. Agora, vou todos os dias no Café, na minha Bureka taiwanesa, duas vezes por dia, como se eu estivesse conversando com as meninas da Bureka de São Paulo. Ontem, novamente, fomos todos num bar e restaurante de jazz, ao que bebemos cerveja e voltamos de táxi, todos um pouco altos... As coisas aqui, felizmente, ainda são muito baratas, a empregabilidade é alta, o custo de vida baixo, e (surpreendentemente!), o café, além de barato, é muito bom e saboroso...
um abraco,
Denny Yang
http://acasadacolina.blogspot.com/
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