30 maio 2009

BlablaBlogue <=> Blooks



Tinha que ser o Nelson de Oliveira. O cara sai na frente mais uma vez mostrando um apanhado de textos literários que circulam febrilmente na net. Tudo isso, a partir de logo mais, no suporte livro de papel. De pijama ou sem pijama, o que importa é o texto e o se o cara que batuca no teclado tem o que dizer e sabe como fazê-lo.

De certa forma a exposição no Sesc Pinheiros, com curadoria de Heloisa Buarque de Hollanda, a tal de BLOOKS, diáloga com este lançamento do Nelson e da Terracota Editora. Seria um outro bom nome para a antologia. A síntese de livro+blogue=BLOOKS. Voltarei ao assunto da exposição, depois.

27 maio 2009

João Miguel Henriques à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

A poesia foi sendo para mim coisas diferentes ao longo dos anos. Mas algo que nunca deixou de ser é esse trabalho da memória sobre a linguagem. Ou será que é a linguagem que trabalha sobre a memória? É por vezes difícil distinguir...

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Dar conselhos não é de facto o meu forte, mas creio que um iniciante deve acima de tudo procurar alguma pureza. Dedicar-se ao labor da poesia sem se preocupar muito com publicações ou reconhecimento público. Não deixar-se contaminar pelas instituições da cultura. E nesse trabalho poético puro, não deve também descurar uma certa consciência do percurso histórico da própria poesia. Julgo que era T.S. Eliot quem afirmava que sem esse sentido histórico nenhum poeta poderia continuar a escrever após os vinte e cinco anos de idade.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Não sei se os que vou citar são textos referenciais, mas fazem seguramente parte das minha predilecções mais ou menos constantes. O Livro de Cesário Verde, de Cesário Verde, pela linguagem trabalhada, pelo requinte formal e pelas visões da cidade; Na Terra e no Inferno, de Thomas Bernhard, pelo exercício da memória acompanhado de um belíssimo sentido trágico da existência; e A Musa Irregular, reunião da poesia de Fernando Assis Pacheco, um poeta infelizmente não muito conhecido fora de Portugal, mas que tem poemas de amor extraordinários e um admirável sentido de equilíbrio entre o coloquial e o mais lírico ou erudito.



João Miguel Henriques nasceu em Cascais em 1978. Estudou Literatura em Lisboa, Jena (Alemanha) e Edimburgo (Escócia). Vive e trabalha em Lisboa. Estreou-se em poesia com o livro O Sopro da Tartaruga (Edição do Autor, 2005) e em 2007 participou no Tordesilhas, Festival Ibero-Americano de Poesia Contemporânea. Publicou também um conjunto de poemas no nº 12 da revista DiVersos e em publicações online como a Zunái ou a sèrieAlfa. Desde finais de 2003 que mantém o blogue Quartos Escuros (www.quartosescuros.blogspot.com).

23 maio 2009

Glauco Mattoso à queima-roupa



1. O que é poesia para você?

Já dei várias respostas a essa pergunta, mas acho que a melhor foi aquela que usei numa oficina que ministrei na Casa das Rosas: a poesia é uma metralhadora na mão dum palhaço. Seu poder de fogo pode ser apenas intencional, e seu efeito apenas hilário, mas o franco-atirador, ao expor-se em sua ridícula revolta, no mínimo consegue provocar alguma reação, ainda que meramente divertindo o público, e alguma reflexão sobre o papel patético dos idealistas e visionários, que, no fundo, somos todos nós.

2. O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Depende justamente da concepção poética que ele adotou. No meu caso, trata-se de vomitar algo visceral, de me expor, me devassar e desabafar uma biografia excêntrica para me identificar com outros excêntricos e tirar, dessa diversidade de individualidades, o traço de humanidade que nos une, isto é, o sofrimento e a revolta contra as opressões e repressões. Uma das "missões" do poeta - mas não a única - é ser porta-voz dos perseguidos, injustiçados, excluídos, rejeitados e humilhados, ainda que tais angústias sejam meramente sentimentais ou emocionais - frustrações amorosas, por exemplo. Voltando à questão do iniciante, eu recomendaria três coisas: primeiro, muita leitura, poesia de várias épocas e estilos, para estabelecer preferências e simpatias; segundo, fidelidade à própria biografia, nada de fingir demais, ainda que o poeta seja um fingidor, como dizia Pessoa; terceiro, estudar versificação, mesmo que o cara não pretenda fazer poesia rimada nem metrificada. Assim, ele estará minimamente instrumentado para o "ofício".

3. Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Isso é sempre muito pessoal e intransferível, mas vamos lá. Gregório de Matos, por ser pioneiro na nossa história e por ter praticado duas coisas que utilizo: os jogos verbais barrocos (antíteses, paradoxos, paronomásias, paródias, trocadilhos) e sátira desbocada (inclusive enveredando pelo fescenino); Bocage, por duas características que adotei: apuro formal do soneto e deboche obsceno; Bandeira, por uma única e fundamental razão: provar que é perfeitamente possível praticar todas as modalidades poéticas, desde o verso mais ritmado e rimado até o experimentalismo mais iconoclasta e anárquico, sem perder de vista o lado humano, confessional e emocional. Quanto aos textos referenciais, sugiro, primeiro, "Os Lusíadas", não para ler de cabo a rabo, mas para passear nele, viajar no ritmo, ir se acostumando a discorrer, raciocinar metrificando, pensar em decassílabo; segundo, "Eu", de Augusto dos Anjos, para, ao contrário dos "Lusíadas", percorrer, num único e curto livrinho, toda a obra duma vida, o que nos dá noção de que o poder de síntese pode ser essencial e suficiente; terceiro, "Poesia completa e prosa", a obra reunida do Manuel Bandeira, que tenho em papel-bíblia mas que existe em diferentes edições, incluindo o "Itinerário de Pasárgada", roteiro autobiográfico-intelectual, e a "Apresentação da poesia brasileira", que, embora incompleta e parcial, dá uma visão panorâmica.


Glauco Mattoso (paulistano de 1951) é um dos mais radicais representantes da ficção erótica e da poesia fescenina em língua portuguesa, descendente direto de Gregório, Bocage e, em prosa, de Sade e Masoch. Na década de 1980, celebrizou-se entre a "marginália" literária como autor do fanzine anarco-poético "Jornal Dobrabil" e do romance fetichista "Manual do podólatra amador" (reeditados, vinte anos depois, respectivamente pela Iluminuras e pela Casa do Psicólogo); após perder a visão, já na década de 1990, publicou mais de vinte volumes de poesia (entre os quais a antologia "Poesia digesta: 1974-2004", pela Landy), além do romance paródico "A planta da donzela" (editado pela Lamparina), que revisita "A pata da gazela" de Alencar. Adepto fervoroso da glosa decimal e do soneto clássico, destaca-se também como lexicógrafo no bilíngüe "Dicionarinho do palavrão" (pela Record) e como esticólogo numa "Teoria do soneto" e num tratado de versificação, "O sexo do verso: machismo e feminismo na regra da poesia", a sair em livro. Colaborador nas mídias impressa e virtual, assina colunas na revista "Caros Amigos" e no portal "Cronópios", entre outros veículos. Como letrista, tem sido musicado por nomes singulares do porte de Arnaldo Antunes, Itamar Assumpção, Falcão, Ayrton Mugnaini e outros experimentalistas independentes ou irreverentes. Seus livros mais recentes vêm saindo pela Dix Editorial (da Annablume), na série "Mattosiana", entre os quais uma história do rock e uma pesquisa do cancioneiro popular brasileiro, tudo em forma de soneto. Eis os endereços e contatos:
www.annablume.com.br
http://glaucomattoso.sites.uol.com.br
E-mail: glaucomattoso@uol.com.br

22 maio 2009

Ney Ferraz à queima-roupa




1. O que é a poesia para você?

Nunca tive como saber o que é a poesia. Para o poeta ela é uma estranha proximidade. Uma força anônima. Como poeta e como leitor sei que a poesia é muito rara. Tarda a acontecer. Abre-se o livro e é tão difícil encontrá-la ali. Mas se ela se manifesta, encontramos o poeta. Há um abismo que só faz crescer entre quem escreve e a poesia. Houve um tempo em que o poeta escrevia municiado pelos tratados de poética. Outro, em que ter uma máquina de escrever era ser criminoso. Hoje, a tecnologia governa a nossa vida. Mas nem por isso é mais fácil. Tanto que cada vez mais parece que ser poeta é um ofício antiquado. Inútil. Menosprezado. O poeta sumiu do assim chamado “discurso público”. E a poesia talvez já seja outra coisa que mais uma vez nos escapa.

2. O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Fazer coisas em desuso. Ler, observar, anotar, sair à rua. Ir ao encontro dos seus espectros. Surpreendentemente foi Vinícius de Moraes e não João Cabral de Melo Neto que viveu como poeta. A poesia tem também as suas leis e regras difíceis de serem perscrutadas. O poeta deve estar atento. Escolher. Fugir. Ir em frente. Sem que nada disso deixe de ser um recolhimento. Arder, arder, arder como um fogo de artifício, como diz Jack Kerouac.


3. Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Ana Cristina Cesar. Eu havia saído da universidade, início dos anos 1990, e dei de cara com ela numa livraria em Belém. Não era suicídio sobre a relva, título do meu primeiro livro publicado em 2000, é um conhecido verso dela. Depois veio meu encontro com Max Martins. Muitos papos. Muitas leituras. Redescobri Henry Miller. Lawrence Ferlinghetti. Os poetas beats. Paulo Plínio Abreu, Robert Stock, Mário Faustino. Nesse início dos anos 1990 inaugurou-se em Belém a Casa da Linguagem. Foram tempos agitados. Lá tínhamos a liberdade que o curso de letras da universidade não podia oferecer. O Max Martins dirigia a Casa da Linguagem. Tudo era misturado ali. Um Caldeirão. Vicente Franz Cecim. Benilton Cruz. Antônio Moura. Sérgio Wax. Uma sensibilidade sismográfica. Bem, não tem como ser três, o poeta é sempre cercado por uma legião. Outros autores e outros textos vieram e foram se impondo. Jorge Luis Borges, Herman Melville, Sylvia Plath, Thomas Bernhard, Blanchot. Mais recentemente descobri a poesia estonteante e sem rumo de Luís Serguilha, em suas Embarcações. Como poeta nada mais surpreendente que achar um autor e seu texto – é sempre deles que posso partir.



Ney Ferraz Paiva nasceu em Belém em 1962. Publicou dois livros pela Fundação de Cultura Cidade de Recife, como resultado do Prêmio Eugênio Coimbra Júnior: Não era suicídio sobre a relva (2000) e Nave do Nada (2004). Prepara o terceiro, Val-de-cães, para ser lançado este ano pela Pazulin. Reside em Palmas, Tocantins. E-mail: neyferrazpaiva@gmail.com

19 maio 2009

Revelação



[Videopoema de Mardônio França sobre meu poema "Revelação". Mardônio edita a bela revista cearense/mundial, CORSÁRIO.]

03 maio 2009

Ivaldo Ribeiro Filho à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Não possuo uma definição de poesia, mas lembro que Paulo Leminski enumerou mais de quinze definições de poesia. São tantas e tão variadas, geralmente dando relevo a algum aspecto, deixando os demais de fora, que não ouso.
Mesmo assim, adoro que estejam procurando estas definições. Valery, Jakobson, os românticos, os concretos procuraram uma definição para poesia. Com eles, algo se transformou e isso é ótimo.
Por enquanto, basta-me escrever.
Mas se fosse dar uma definição de poesia, por acaso não seria a definição da poesia que faço?

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Não sei o que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira, mas sei contar o meu caminho. Quando a necessidade de escrever poemas surgiu, procurei ler os autores do Modernismo, visto serem os mais divulgados e os que apareciam nos livros da escola.
Depois, passei a comprar revistas literárias e a passear pelos sites literários, na internet. Se alguém dizia que algum autor era importante, eu comprava o livro e ia ler aquele autor até saber por que ele era importante.
No começo foi difícil: alguns autores eram sentimentais demais e outros herméticos em demasia. Mesmo com estas dificuldades, continuei a ler.
Então, chegou o dia em que passei a ler os autores contemporâneos, visto que amigos, também apreciadores de poesia, me apresentavam esses autores. Aos poucos, fui encontrando o meu caminho.
Como não tenho formação em letras, nem em filosofia, passei a ler estes assuntos e isso muito me ajudou.
Após ter publicado o primeiro livro, continuei os estudos lendo livros direcionados à escrita, fiz cursos, mini-cursos, participei de eventos em universidades, continuei vasculhando textos pela internet, fui a centros culturais e aprendi um pouquinho de cinema, dança, teatro, fotografia, artes plásticas, música e a ver relação da literatura com essas outras linguagens.
Infelizmente, não fiz parte de oficinas literárias, visto não existir nenhuma em Fortaleza ou Teresina. No entanto, creio que muito me ajudariam.
Ainda hoje acompanho o que está sendo publicado, viajo em sites de universidades e busco entender as discussões em torno da literatura, o que os escritores dizem. Aliás, gosto, principalmente, de escutar o que eles têm a dizer.
Quase esqueço de falar que, no início, eu mostrava os meus textos a um amigo que estudava letras. Um grande amigo, o Marcelo Magalhães, que possuía uma paciência enorme comigo.
Quase esqueço de contar que eu possuía uma turma que me emprestava livros, discutia literatura comigo, a quem, mais tarde também mostrei meus textos. São poetas inteligentes e sensíveis, a quem eu dava a liberdade de dizerem quando não gostassem de um texto meu. Júlio Lira, Eduardo Jorge, Diego Vinhas, Eli Castro, Rodrigo Magalhães.
Era difícil escutar de alguém que não gostou de um poema meu, mas eu cresci muito com isso. O mais interessante é que nós, da turma, seguimos caminhos diferentes e que nossas maneiras de ver a poesia nunca foram iguais, mas que, mesmo assim, sempre nos respeitamos bastante.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Publiquei quatro livros e eles são tão distintos entre si que parecem não terem sido escritos pela mesma pessoa. Apesar disso, são meus e eu os adoro. Digo isso, porque eu me encontro em uma situação em que meus textos talvez não formem um conjunto. Tenho procurado trilhar sempre um novo caminho e me sinto já uma pessoa multifacetada.
O meu livro Cruviana, por exemplo, traz uma temática nordestina que destoa de tudo o que é produzido nos grandes centros, como São Paulo e Rio. É por isso que me pergunto sobre quais autores me influenciaram e que foram referenciais para o meu trabalho.
Leio os autores brasileiros da década de 90 para cá, principalmente. Sinto atração por certa poesia americana do século vinte como William Carlos Williams e Robert Creeley. Quanto aos modernistas, prefiro Drummond, Bandeira e Murilo Mendes.
Gosto de ler autores inventivos, experimentais e que trabalhem a linguagem. No entanto, acredito que nem as obras destes autores, muito menos eles, se reconheçam como referenciais ao meu trabalho.




Ivaldo Ribeiro Filho. Nasci em Picos, Piauí, em 1974. Como meu pai era bancário, morei em várias cidades do interior do nordeste, durante a infância. A maior parte no Ceará. Residi durante dezoito anos em Fortaleza, e moro pela segunda vez em Teresina, onde estou desde 2006.
Sou graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará e tio da Marina.
Publiquei quatro livros: "O Chão Visitado" (2003), "No Intuito de Nenhuma via" (2005), "Cruviana" (2005) e "Quebranto" (2007). Publiquei a reunião "Poesia até Agora" (2007) e participei de três antologias.
Estive na Bienal Internacional do Livro do Ceará de 2006, no Primeiro Encontro de Revistas Literárias do Brasil, como debatedor.
Escrevi artigos que foram publicados nos sites Corsário (CE), Cronópios (SP) e Poema Show (RJ), além de outros.
Atuei como jornalista cultural no Portal de Internet Tribuna do Sol (PI), nos anos de 2006 e 2007.
Tenho textos na internet que podem ser encontrados ao colocar o meu nome completo (ivaldo ribeiro filho), entre aspas, no google – gerando uma pesquisa específica.
Participo do site Clicfolio. Um site voltado para portfólios de trabalhadores do setor criativo. Basta por Clicfolio no google e procurar escritores do estado do estado do Piauí. Lá são encontradas informações detalhadas das atividades que desenvolvi. E-mail: ivaldoribeirofilho@gmail.com