31 outubro 2009

ELEGIA


levantei ferido por estilhaços
dados flamejantes do real

a morte acompanha-me
em vigília sorri com servos

em seus braços
um sol negro explode

com a fúria de Ísis
a recolher pedaços tenros

na manhã que inicia
mãe assassina cinco filhos

em busca de atenção
pai estupra a própria filha

e torna-se pai-avô
mãe deixa
bebê rolar

nos trilhos de um trem em movimento
pai esquece bebê no carro

e sob sol escaldante vai para academia
o tempo para por um átimo

atiraram no dramaturgo
metralharam a poesia do dia a dia

tudo o que é humano
me é estranho

os átomos todos foram maculados
agora só nos resta o vazio

com seus espaços povoados de dor
chorar em nada me alivia

devo acordar do pesadelo
que me atormenta

e lívido merecer o perdão
por pertencer à espécie humana?

7 comentários:

  1. Acuso o recebimento do link. Em muitos sentidos. O poema reclama sua própria carga de acomodação. A cena do Bergman flutua abstrata diante dessas intensidades.
    Abraço

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  2. No meu entendimento, a complascência ofertada pelo perdão abre, para muitos, a perigosa porta da permissividade.
    Fica muito claro o sentido de absurdo.

    Belo poema e imagem Edson.
    Cada vez mais admiro Bergman.

    Abraço

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  3. será que algumas pessoas merecem perdão?

    *****
    Adorei a entrevista que vc deu para o jornal do povo, eu não saberia escolher algum clássico de 50 anos pra cá.
    *****

    E sim, hipersexo é um dos textos que eu mais gosto daqui. E deve ter aparecido no google por causa do título.

    Beijo.
    Bom fim de semana.

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  4. Tentativa de compreensão e desencanto. Mas o que é o perdão quando a raça humana decai tanto?

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  5. Há humanos e humanos. Também fico pasma quando vejo estas atrocidades. Edson, que belas palavras! Quantas reflexões profundas! Gostaria de ter escrito isso.Lindo, triste, imenso e real.

    Bjs

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