26 dezembro 2008

Astrologia

não são os astros
que são mudos
nós é que somos
surdos, cegos
verdadeiros absurdos

04 dezembro 2008

Dona Aranha



Hoje eu tropecei pela primeira vez na dona aranha. É assim que meu pai a chama. Ele é muito respeitoso com as aranhas. Diz que elas são damas do reino animal e que algumas se tornam, depois, viúvas negras e alegres. Não entendi direito, mas rimos um bocado. Meu pai sempre me enche de pipoca para que eu assista o filme do homem-aranha com ele. Eu tenho medo de aranha, pai, digo, mas ele não me ouve. Repara no uniforme dele, insiste.
Realmente, a roupa do homem-aranha é bem bacana. Meu amiguinho José já foi com ela para a escolinha. Não queriam deixar ele entrar, pois só nas segundas-feiras é que podemos levar brinquedos, mas não vir vestido de brinquedo. O José não entendeu, chorou, esperneou e acabou conseguindo, ficou o dia todo sendo o próprio homem-aranha. Se bem que no meio da tarde ele já estava todo molhado. Acho que ser o homem-aranha deve ser muito cansativo.
Mas a aranha que eu esbarrei é menina e tem muitas perninhas. Eu pensava que elas tinham muitas perninhas para piscar a gente mais vezes. Meu pai fez uma careta e disse “ah, picar, você quer dizer... mas não é bem assim”. As perninhas eram para se segurar e correr mais rápido. Assim como as baratas. Arrgh. Não vamos falar delas agora não, pai. Que nojo! Mamãe, o papai está falando de baratas!
Ufa, meu pai mudou de assunto. Ele está dizendo que todos os miúdos têm algo muito precioso que é a vida. Hum... Miúdos é como ele chama tudo que é pequeno, bebês, plantinha, bichinhos e até eu que já não sou mais um bebê. Aliás, minha mãe perguntou outro dia se eu gostaria de ter um miudinho. Ela queria dizer um irmãozinho. Ah, seria bom mais um miúdo nesta casa.
Mas papai, a dona aranha tem outra coisa bem preciosa? Não sabe? É que eu acabei de esmagar aquele algo muito preciso da dona aranha. E todas as suas perninhas. Foi sem querer, papai!


[Meu primeiro texto infantil, que fará parte do livro MIÚDOS, histórias de gente e seres miúdos, tudo do ponto de vista de uma menina politicamente quase incorreta]

18 novembro 2008

Distâncias


Leitura de distância from virna teixeira on Vimeo.

[Apresentação da versão em espanhol do livro Distancia (lunarena editorial, 2007) pela poeta Virna Teixeira e os tradutores Berenice Huerta e Jair Cortés. Jornadas Lopezvelardeanas. Zacatecas, México, junho de 2008.]

Sopa de Poesia

Gustavo Felicíssimo - O que o contato com a música traz de relevante para a sua poesia?

Edson Cruz – O contato com a música para mim foi a própria abertura para a poesia e para a vida. Com ela (a música) apurei meus sentidos, meu ouvido, minha sensibilidade em relação às palavras e aos sentidos. Como já disse Shakespeare em O mercador de Veneza, “Todo homem que em si não traga música... É de traições, pilhagens, armadilhas. ... Não se confie em homem tal...”.

Por outro lado, embora saibamos que o isomorfismo entre o som e o signo tenha limites, não podemos desconsiderar o fato de que a própria comunicação através de palavras começou com onomatopéias, gestos vocais imitando a natureza das coisas, etc.

O psicólogo Wolfgang Köhler fez aquela famosa experiência para descobrir se ocorria para as pessoas uma ligação entre algumas formas visuais e certos sons. Inventou as palavras “takete” e “maluma”, que são foneticamente opostas, e apresentou-as a indivíduos de línguas diferentes com duas figuras geometricamente opostas. Uma figura era angulosa (parecia uma estrela), a outra curvilínea (como círculos concêntricos). A pergunta fatal era: qual das figuras poderia ser chamada “takete” e qual “maluma”? A maior parte das pessoas inquiridas (embora falassem línguas totalmente diferentes) associou a palavra “takete” à figura angulosa, estrelada e “maluma” à figura curvilínea. Coincidência? Não, de forma (de som) alguma (algum).

O que eu quero dizer com isso? Simples. A musicalidade é tudo em poesia. Se não houver ritmo, sonoridades encantatórias permeando o texto poético, poderá até haver tema, discurso, sentido, mas sempre faltará alguma coisa, a música, que para mim tende ao essencial. Isso não quer dizer que precisemos, necessariamente, de rimas.

Aquelas categorias aventadas por Ezra Pound são importantes: o enfoque nas imagens (a fanopéia), nas idéias (a logopéia) e nos sons (a melopéia). Um poema que permanecerá, em minha opinião, deverá ter os três elementos dialogando entre si. Mas há grandes poemas que privilegiam aspectos de um dos três enfoques. Agora, o poema pode até não contemplar as imagens, ou as idéias, mas, para mim, se não tiver melopéia, meu ser simplesmente o rejeita. É instintivo.

Isso, que não é nenhuma novidade desde os gregos, foi a maior influência que a música teve sobre mim e sobre a minha poesia — se é que eu a tenho.



GF – Você vê o poeta como um ser deslocado perante a sociedade prática em que vivemos?

EC – De certa forma isso já se tornou um clichê, e também deve ser combatido, como todos os clichês. O poeta, e todos os seres criativos, terão que desenvolver as habilidades necessárias para interferir e alterar o estado das coisas, gerado pelas pessoas que se dizem práticas e pragmáticas. Ele não deve aceitar passivamente ser colocado (ou colocar-se, o que é pior...) de escanteio no jogo da vida com a desculpa de que não sabe lidar com as coisas práticas do mundo. O poema de Baudelaire O Albatroz é lindo. Constata uma verdade que se relacionava ao mundo romântico.

...O Poeta se compara ao príncipe da altura [ao Albatroz] / Que habita os vendavais e ri da seta no ar; / Exilado no chão, em meio à turba obscura, / As asas de gigante impedem-no de andar. [em tradução de Ivan Junqueira]

É uma verdade relativa que não nos cabe mais. O mundo precisa ser transformado e não será com uma atitude “canhestra e envergonhada”, digna de um monarca em meio à turba obscura, que faremos a diferença.

É justamente por estarmos nessa sociedade pragmática, egoísta e desumana, que o poeta deve recolocar-se com voz e atitude dignas. Com consistência do princípio ao fim. Levar o potencial revolucionário da poesia para as coisas práticas da vida.

GF – Que sentido você atribui a esses seus versos: “o que não sei/ eu intuo/ o que sei/ é entulho”?

EC – Esse é um dos grandes trunfos/triunfos da poesia. Poder dizer em poucas palavras, com certa graça, o que de outra forma seria necessário um tratado, uma tese, uma dissertação. E há, com certeza, inúmeros textos, tanto na tradição oriental quanto na ocidental, que buscam esclarecer o que tento dizer com estes quatros versos: o excesso de conhecimento, de informação, não é sabedoria. Esse acúmulo de pretensos saberes, nas horas cruciais podem muitas vezes atrapalhar, mais do que ajudar. A intuição é o que nos salva, se ela não for completamente obliterada pela pretensa erudição.

Na hora em que você for atacado por uma onça, ou estiver na iminência de ser atropelado, ou de se apaixonar, se parar para pensar, já era. E muitos já foram salvos (ou criaram coisas novas, inovaram, atingiram a iluminação, acertaram na mega-sena, conquistam o amor) justamente porque deixaram a massa de informação de lado e permitiram que outra coisa atuasse. É como se deixar levar pela música. Não dá pra pensar muito em qual seria o próximo passo. Tem que se entregar e, de repente, surge uma estrela cintilante, um gesto, um passo jamais realizado, o poema, a dança, a saída, a resolução do problema, a beleza, enfim, a vida.


[Publicado no blog de Gustavo Felicíssimo, http://sopadepoesia.zip.net/]

16 novembro 2008

Viajes

Cuando los famas salen de viaje, sus costumbres al pernoctar en una ciudad son las siguientes: Un fama va al hotel y averigua cautelosamente los precios, la calidad de las sábanas y el color de las alfombras. El segundo se traslada a la comisaría y labra un acta declarando los muebles e inmuebles de los tres, así como el inventario del contenido de sus valijas. El tercer fama va al hospital y copia las listas de los médicos de guardia y sus especialidades.
Terminadas estas diligencias, los viajeros se reúnen en la plaza mayor de la ciudad, se comunican sus observaciones, y entran en el café a beber un aperitivo. Pero antes se toman de las manos y danzan en ronda. Esta danza recibe el nombre de "Alegría de los famas".
Cuando los cronopios van de viaje, encuentran los hoteles llenos, los trenes ya se han marchado, llueve a gritos, y los taxis no quieren llevarlos o les cobran precios altísimos. Los cronopios no se desaniman porque creen firmemente que estas cosas les ocurren a todos, y a la hora de dormir se dicen unos a otros: "La hermosa ciudad, la hermosísima ciudad". Y sueñan toda la noche que en la ciudad hay grandes fiestas y que ellos están invitados. Al otro día se levantan contentísimos, y así es como viajan los cronopios.
Las esperanzas, sedentarias, se dejan viajar por las cosas y los hombres, y son como las estatuas que hay que ir a verlas porque ellas ni se molestan.

[Do livro Historias de Cronopios y de Famas, de Julio Cortázar]

01 novembro 2008

Diálogo com o Uruguai

1. ¿Dónde naciste y en que año?
Nasci em Ilhéus, no sul do estado da Bahia. Uma terra que foi palco de vários romances famosos de Jorge Amado (o escritor brasileiro mais conhecido no mundo, antes do fenômeno Paulo Coelho). Sou quase um velho, mas não aparento. Deve ser a herança genética misturada com africanos, holandeses e portugueses. Nasci em 1959, um ano depois da Bossa-Nova. Moro em São Paulo, cidade cosmopolita, desde os anos sessenta. Quando veio o golpe militar, em 1964, já estava por aqui. Vi os milicos de perto. Não sabia do que se tratava.

2. ¿Cómo fue tu infancia y tu adolescencia? ¿Quiénes son tus padres?
De minha infância não lembro muita coisa. Acho que não foi nada boa, nada aconchegante. Sempre em lugares que não eram meus. Minha mãe, Laurinda, se separou de meu pai, João, e veio para São Paulo. Ela diz que meu pai era militar e à noite cantava e tocava em boates pela cidade. Chegava em casa cheirando a álcool e a outras mulheres. Minha mãe não aguentou e pediu ajuda para sua irmã, Maria, que trabalhava em São Paulo, numa casa de família, como empregada doméstica. Eles nos hospedaram por dois anos. Eram ricos. Depois, minha mãe, que chegou grávida e teve meu irmão Luiz em São Paulo, arrumou um emprego e nos deixou morando em um bairro da periferia, na casa de seu irmão João. Não tenho boas lembranças deste período, pois minha tia não gostou nada da idéia de cuidar de mais dois pirralhos, fora os que ela já tinha. Minha mãe trabalhava durante a semana toda como empregada e só aparecia aos domingos, às vezes no sábado. Sofri muito neste período, mas fui crescendo.
Aos cinco anos minha mãe se casa novamente e, finalmente, a família se reune. Vamos morar todos juntos. Me lembro até hoje do trajeto que fizemos de trem da periferia até a Estação da Luz, onde descemos e fomos a pé até nossa casa. Era uma sensação de que algo que havia se quebrado estava começando a se recompor. Se fosse possível queria ser feliz. Foram anos de pobreza, mas de felicidade. Fui crescendo, entrei na escola, minha família aumentou. Lembro-me da quantidade imensa de pulgas que havia em casa. Depois, ratos, mas era tudo estimulante. Eu tinha minha família agora. Tinha amigos, gostava de estudar, de aprender.
Lembro-me que logo que aprendi a escrever fiz uma redação para o curso primário que a professora gostou muito. Leu em voz alta na classe. Tinha um trecho que dizia que era manhã de sábado, e no ar havia um cheiro de felicidade. A classe toda não entendeu. Como é que a felicidade pode ter cheiro. A professora entendeu e explicou para a moçadinha. Eu vibrei. Ali vislumbrei que poderia ser diferente e me expressar da forma que quisesse.
Quando estava entrando na adolescência, um padre (sim, eu frequentava as missas aos domingos… nem sei como cheguei lá… acho que foi através da primeira comunhão, curso de catecismo, estas coisas…) perguntou se eu não queria estudar no Seminário para me tornar um Padre. Me seduziu com as coisas boas que haveria por lá, como por exemplo, um pomar, uma biblioteca, um campo de futebol, uma piscina, etc.
Fiquei fascinado com a idéia de aprender Latim, Francês, ter uma biblioteca onde pudesse ler o que quisesse, conhecer outras coisas fora da pobreza de minha família. Topei.
Minha família adorou a idéia. Sim, eles pensavam, agora ele seria alguém. Se não pode ser médico ou advogado, pelo menos vai ser Padre.
Fui. Vi. Gostei de muitas coisas e detestei outras. Amadureci um pouco tendo que cuidar de minhas coisas, competir com os outros meninos, estar sozinho, ter que fazer amizades estratégicas, etc. Estudei bastante, li muita coisa da biblioteca. Aprendi a nadar e o principal, aprendi a tocar violão. O violão foi meu grande companheiro por toda a adolescência e na vida adulta. Quase virei músico profissional. Cheguei a estudar música muito tempo, composição, regência, violão erudito, cantar na noite, etc. A música me salvou. Me aproximou das pessoas e expandiu meu círculo de influência e minha percepção do mundo. Sou o que sou hoje graças as minhas leituras e a música. A escrita veio depois, ou melhor, acompanhou este processo todo, mas despreocupadamente, sem compromissos.


3. ¿Qué estudios realizaste?
Estudei alguns anos em Seminário, colégio para formação de padres, que me proporcionou o contato com muitas coisas: um pouco de espanhol, latim, francês, música. Depois, já fora do Seminário, fiz quase o curso completo de Psicologia; depois um pouco de formação em terapia reichiana. Estudei um pouco de composição e regência na Universidade e também um pouco de violão erudito e canto, com professores particulares. Também estudei um pouco de estética e misticismo com um professor genial aqui de São Paulo. Atualmente, termino o curso de Letras na Universidade de São Paulo – USP.

4. ¿Influencias filosóficas?
Sim. Várias. Nada muito aprofundado, mas sempre fui um leitor voraz e indisciplinado. Li muito Nietzsche e um pouco de Schopenhauer. Li, também, muita coisa do Oriente. Budismo. Taoismo. Pratico o budismo de Nitiren Daishonin há 15 anos e leio com frequência o filósofo, poeta e pacifista Daisaku Ikeda, que vem iluminando meu caminho e de minha esposa. Em suma, busco cada vez mais o humanismo e uma ação diária que gere valor, sempre embasado na consciência de causa e efeito.

5. ¿Algún poeta o persona que te haya inspirado en tu labor poética?
Todos os poetas que admiro me inspiraram ou inspiram de alguma forma: Carlos Drummond de Andrade, Augusto de Campos, Manoel de Barros, Rabindranath Tagore, Manuel Bandeira, Matsuo Bashô, Fernando Pessoa, Baudelaire, Jorge Luis Borges, Paulo Leminski e tantos outros…

6. ¿Cuál es tu hobby?
Assistir filmes em DVD, ouvir música e tocar violão.

7. ¿Podes contarme algo de un gran amor que hayas tenido en tu vida?
Meu grande amor é a mulher com que estou casado desde 2002 e com quem tenho uma pérola chamada Sophia. Foi com ela, Eliane, que decidi e senti o desejo de constituir uma família — algo que nunca havia sentido em relacionamentos anteriores. Veja o texto que escrevi quando do nascimento de Sophia.

8. ¿Qué es la poesía para ti?
Em cada momento de minha vida a poesia representou alguma coisa. Descobrimento de mim mesmo. Descobrimento do outro e de outras formas de encarar e dizer a vida. Hoje, ela representa um caminho que sigo lapidando; uma constante labuta com a palavra, com a forma e com o inesperado da expressão alinhavada em um poema. Tudo pode ser motivo ou tema da poesia, pois ela representa um sentimento do mundo que nos irmana, ao mesmo tempo que nos delimita enquanto diferenças. É pura magia, quando ela realmente acontece. Feitiço, como digo em um de meus poemas…

Feitiço

algo assim tão
inatural
que chega a ser
outra natureza

algo sim não
mais factício
por demais tal
coisa feita

que de tão artifício
vira arte
vira livro
vira ofício


9. ¿Qué es el poeta para ti? ¿Qué rol cumple en la sociedad si lo cumple? ¿o que rol cumple?
O poeta é um fazedor de inutensílios que tornam-se cada vez mais necessários. O poema em si não serve para nada. Não tem finalidade alguma. Nem mesmo emocionar como querem alguns. Ele apenas existe, como uma flor ou uma pedra. Nós é que damos finalidade para ele. A cultura é que precisa, eventualmente, de sua existência para nutrir-se e oxigenar-se. O poeta é alguém que decide, por vontade ou por imperiosa necessidade, dedicar-se à revelação que pode ressignificar o uso das palavras. A música inscrita na partitura dos fonemas e da semântica. Veja meu poema “Palimpsesto”:

palimpsesto

toda poesia já
escrita

não se equipara
a toda poesia

inscrita
a poesia jaz


10. ¿Cómo es la vida del poeta?
Como a de outro ser humano qualquer. O poeta não tem nada de especial. Ele pode até, como já existiram alguns, ser um assassino e usar muito bem as palavras. O poeta não está livre de seu carma. E quando ele se manifesta não há sentimento poético que possa encobri-lo. Mas é claro que a poesia pode salvar a vida do poeta, e talvez de algumas poucas pessoas. Assim como pode destruí-lo, como já aconteceu aos montes.
Para chegarmos mesmo ao âmago das coisas, precisamos perder a pretensão. Nos livrarmos do ego falastrão. Descascar os significados instituídos das palavras. As palavras mortas pelos usos mecânicos e repetitivos. O cara que faz um cartão de apresentação dizendo que é poeta já revela que não sabe do que está falando. A poesia não é uma instituição e ser poeta não é um cargo que possa ser ostentado. Pode ser um grande fardo, principalmente numa sociedade fadada ao desastre, consumista e imediatista como a nossa. Por isso precisamos cada vez mais de poetas e de boa poesia. E, devo dizer, da má poesia também.

11. ¿Cómo se siente el poeta en la sociedad?
Um pouco já respondi acima. Falando um pouco mais sobre isso, eu diria que o poeta quase sempre é um desajustado e inconformado com o que vê na sociedade. Ele vai aprendendo a identificar o que é ideologia onde todos vêem manifestação natural. É um chato, estraga prazeres. Está longe de ser aquele sentimentalóide que embala os namoricos e festas de altas sociedades. Ele, quando é autêntico, pôe o dedo em sua própria ferida, que fica exposta e sangrando sem dó… e muitas vezes, faz isso de uma forma bem musical… Veja este meu artigo.

12. ¿Por qué escribes poesía? ¿Qué te inspiro a hacerlo?
Me fascina a sonoridade das palavras e o discurso da inteligência que a poesia permite realizar. Creio que cheguei na poesia através da música. E aos poucos fui percebendo que levo jeito, intuitivamente, depois estudando e lendo outros poetas, buscando meu próprio jeito de fazê-la, etc. Aliás, a música é a musa de todos nós. Tudo conspira para se tornar música. Já escrevi sobre isso. Confira.

13. ¿Por qué se llama “Sortilegio” tu libro de poesía?
Sortilégio tanto pode ser uma coisa boa como má. É quase que sinônimo para feitiço, magia. Algo que está intrínseco em toda poesia que se preze, de todos os tempos, desde as culturas orais até as escritas e agora as que se utilizam dos recursos da web.
Uma definição de Sortilégio pode ser a seguinte: “Sedução ou fascinação exercida por dotes naturais ou por artifícios.” É a própria definição de poesia. Claro que na chave, clave, do artifício. Da construção. Da poiésis.

14. ¿Has escrito más libros? Cuéntame algo de ellos.
Estou com meu segundo livro de poesia pronto. Quero lançar por alguma editora que tenha um sistema de distribuição mais profissional, para que ele possa chegar ao maior número de pessoas possível. Você pode conferir em meu blog, vários poemas que certamente estarão neste segundo livro.
Preparo, também, uma adaptação para prosa do grande épico indiano, Mahabharata. Um trabalho hercúleo que está além de minhas capacidades, mas o farei.

15. Me llamó la atención del material que es hecho “Sortilégio” ¿Lo elegiste tú?
Sim. Sortilégio, como primeiro livro, é o sumo do que produzi nestes últimos 30 anos. Vários poemas foram reescritos, retrabalhados, retocados, como nosso querido João Gilberto retrabalha suas canções eleitas, com esmero. De mero José a impossível João. Aliás, meu primeiro nome é José. Você sabia?
A parte denominada “Parabolês”, são adaptações que fiz de parábolas budistas escritas em prosa.

16. ¿El símbolo que posee en la carátula tiene un significado especial?
Sim. É o símbolo do Oroboros. Tem muitos significados. Um deles é o eterno retorno. O ciclo transmigratório de Samsara. Paul Valery usou-o como símbolo do próprio pensamento que consome a si mesmo no ato de fazê-lo. Representa, também, a manifestação da linguagem, que se volta sobre si mesma em metalinguagem, que é uma característica essencial de toda poesia moderna.

17. ¿Cómo es concebida la literatura en la realidad brasileña?
A literatura brasileira é muito complexa, com inúmeras tendências, vertentes, igrejinhas, apóstolos e santos padroeiros. Geralmente quem se afina a uma tendência, ou igreja poética, tende a menosprezar e até a demonizar os autores que praticam outro tipo de poesia.
Por outro lado, devido ao grande poder cultural e econômico da região sudeste brasileira, impera a influência do modernismo (instigado pela “Semana de 22”, que aconteceu em São Paulo) e pelo retumbante e merecido sucesso mundial da “poesia concreta” (movimento poético que, também, surgiu em São Paulo, com os irmãos Haroldo e Augusto de Campo e Décio Pgnatari). Por conta disso, outras poéticas e práticas, principalmente aquelas que se desenvolviam em regiões do Brasil fora do eixo sul, não tiveram a recepção e crítica adequada, gerando uma multidão de consistentes poetas (outros incipientes) que simplesmente não são conhecidos, nem estudados no resto do país.
Os poetas jovens, que fazem a poesia brasileira atual, se ressentem dessa conjuntura toda. Muitos simplesmente são, ou epígonos da poesia concreta e modernista, ou reativos (a meu ver de forma não esteticamente saudável) a estas poéticas. Ambos procedimentos desastrosos para a linha evolutiva da poesia brasileira contemporânea.
Por outro lado, o Brasil teve/tem poetas tão grandiosos (como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Ferreira Gullar, Augusto de Campos, Manoel de Barros, Cecília Meireles, Mário Faustino, Haroldo de Campos, Paulo Leminski) que parecem sombrear os novos autores e seus respectivos projetos poéticos que demoram para mostrar uma dicção própria e interessante. A meu ver, muitos conseguiram e a cada mês novos poetas surgem aos borbotões. Os nomes que parecem ter conseguido seus leitores e uma boa recepção de seus projetos poéticos são: Renata Pallottini, Régis Bonvicino, Carlos Ávila, Fabrício Carpinejar, Frederico Barbosa, Bruno Tolentino, Armando Freitas Filho, Ivan Junqueira, Claudio Willer, Adélia Prado, Orides Fontella, Alexei Bueno, Ana Cristina César, Mario Quintana, entre outros que me fogem agora.
Concluindo, há poesia para todos os gostos. Aqueles que se dedicam as formas fixas, como sonetos, etc; aqueles que fazem uma poesia temática, urbana; aqueles que experimentam com a linguagem e com as formas; os que fazem uma poesia que se aproxima de aforismos; os que fazem poesia que parece prosa, a tão (mal) falada por aqui, prosa poética, e por aí vai. Poesia para todos os credos e adeptos…


18. ¿Cuál es el comportamiento que tiene la sociedad brasileña ante la literatura?
Literatura no Brasil é para poucos. Alta literatura, então, é para bem poucos: a elite pensante deste país. Os livros são caros. O escritor, normalmente, está distante de seu leitor. Talvez a Internet mude um pouco essa história. O Brasil é um país de analfabetos em todos os níveis.


19. Podrías decirme las cifras de cómo es el consumo de la literatura en el Brasil.
Bem… já que você pediu. Veja se me acompanha: 12% de nossa população é composta de Não Alfabetizados (21.269.591). 95,6 milhões de brasileiros declararam ter lido pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses. Sendo que 47,4 milhões leram livros indicados nas escolas e didáticos. 30% dos Alfabetizados, estão em um nível rudimentar de alfabetização, ou seja, só lêem e entendem o título de uma revista, um anúncio não muito complexo, data do início de vacinação, etc.
Temos, aproximadamente, 2.676 livrarias no país, sendo que 53% delas estão na região sudeste que lhe falei, a mais rica do país.
Engraçado é que o centro do poder, aparentemente lê pouco, ou vai pouco a livraria. Em nosso Distrito Federal só há 71 livrarias (3% do montante).
Com esse quadro acima dá para deduzir que o consumo de literatura é muito baixo. Lê-se muito auto-ajuda (ou melhor, compra-se muito, que é diferente de ler…), bestseller e Paulo Coelho (que é um fenômeno e nosso maior orgulho, he he…).


20. ¿Cómo concibes al mundo?
Estes dias estive assistindo ao filme “Quem somos nós” (título em português), que trata justamente de nossa visão de mundo, baseado nas novas idéias e experimentos da física quântica. É bom saber que o mundo/a realidade é o que nós queremos que ela seja. Claro que um querer relativo, pois está limitado pela nossa capacidade de ver com maior amplidão. Resta-nos, então, quebrar paradigmas e tentar com nossa transformação pessoal e ações interferir positivamente no mundo. Ele urge ser transformado para melhor. Enquanto o mundo não for uma sociedade pacífica e próspera pouco poderá ser efetivamente criado (pelo menos não tanto quanto potencialmente poderíamos…).


21. ¿Cambiarías algo de él? ¿Cómo?
Para mudarmos o mundo (que se faz necessário) é preciso mudarmos inicialmente a nós mesmos. O mundo é o que nós somos. Há um conceito no budismo que pratico (o budismo de Nitiren Daishonin) que chama-se Esho Funi, a inseparabilidade do ser e seu meio ambiente. Diz ele que, quando o ser muda o ambiente também se transforma e não ao contrário como imaginamos ou fomos ensinados. A física quântica mostrou que a afirmação budista de 3 mil anos atrás está certíssima.
Enquanto ficarmos esperando que algo mude lá fora, socialmente, políticamente, ou mesmo que a natureza se ajuste por um passe de mágica, nada mudará.

22. ¿Qué piensas de la poesía concreta? ¿Sabes algo de ella?
Gosto muito da poesia concreta. Ela é importantíssima para o Brasil, para os brasileiros e para o mundo. Talvez, seja nossa única criação de vanguarda estética, com uma fundamentação teórica e prática admirável. Ela tem consistência do início ao fim. A poesia concreta inovou em vários aspectos: depois de trazer para o primeiro plano o verbal e o visual, inovou no campo semântico, sintético, no léxico, no campo fonético, morfológico e no campo topográfico (o uso construtivo dos espaços brancos da página, a abolição do verso e a não-linearidade).
Agora, ela foi uma experiência estética inovadora e incubadora e não podemos fazer dela (nós, leitores ou autores) uma camisa de força. Precisamos seguir adiante, incorporando o que ela tem de melhor, aprendendo e descartando o que já não nos serve mais, ou o que virou instituição. A poesia tem que renascer sempre.

23. ¿Por qué tienes un site de literatura y un blog? ¿Tienes alguna finalidad en especial?
O site Cronópios é um projeto que visa mapear e dar espaço para a literatura contemporânea feita no Brasil, em um momento de efervescência criativa não assimilada pelas editoras e que a Internet veio desengavetar. É uma experiência muito rica. Para mim valeu como duas universidades de letras. Abri minha cabeça e expandi meu conhecimento da produção literária brasileira de uma maneira exponencial, além de estar fazendo muitos amigos e interlocutores.
O Blog é algo pessoal. Para exercitar a escrita, mostrar e sentir como se dá a recepção do que escrevo. Para me forçar a escrever. Estou gostando muito da experiência. Meu próximo livro foi construído basicamente a partir da escrita no blog.


[Entrevista para Carina Loyarte, Estudiante de Profesorado de Lengua y Literatura en el Centro Regional de Profesores del Este, en la ciudad de Maldonado, Uruguay, que faz monografia sobre meu livro Sortilégio. E-mail: carinaloyarte@hotmail.com]

25 setembro 2008

saudade de nada



de nada resta uma saudade
tempo sedimentado em gotas
idade turva de dias vividos

me acostumo com os fatos
desfile de horrores entrevisto
a certeza de que certos atos
existem fora de meu alcance

a beleza da vida vista
em relance não me tira
a ciência do nada

dificilmente verei um primitivo
homem nu a comer carne crua
no seio de uma selva desconhecida

não aprenderei mandarim
nem lerei os Vedas no original
não sei quase nada sobre o sim
meus pecados nada têm de natural

nenhuma saudade resta
de nada apenas a mesma dor
a mesma convicção de que não
há o que me impeça
de seguir adiante sem olhar
para trás

18 setembro 2008

O que pode me fazer feliz em Washington D.C.?



No dia em que eu fiz 40 anos, 12 de janeiro de 2008, você sabe, acordei meio baleada. Eram seis e cinquenta e um da matina. Minha tia me disse um dia que eu havia nascido em torno das cinco e meia. Mas isso, além de ter determinado meu ascendente, sagitário, já não importava mais. Sim, dizem que depois dos quarenta é o ascendente que toma conta de seus auspícios astrológicos. Então, quer dizer que consegui me livrar da influência do teimoso e determinado capricórnio? Mas isso, também não importava mais.

O que importa é que eu não consegui dar certo em quase nada, mãe. Quase. Parece pouco, mas pode ser muito. Depende do ponto de vista, claro. Tudo é uma questão de ponto de vista. Deve ter alguma coisa a ver com a teoria da relatividade. Maldito Einstein. Sempre ele. Não segui adiante em meus estudos por conta dele e de sua física incompreensível. Mas a prolixidade ainda me mata, mãe, pois não era isso que eu queria estar escrevendo agora. Queria dizer é que ninguém tem mais ouvidos e olhos para a Arte. Aliás, parece que quanto mais Arte menos olhos e ouvidos. Isso, também, não é nenhuma novidade, você sabe.

A única coisa que consegui, e esse é o quase que pode ser tudo, é estar um pouco mais atenta às minúsculas coisas da vida. Isso você me ensinou como ninguém. Bem, nem tão minúsculas assim. Afinal, não é todo dia que se pode tropeçar com um Stradivarius numa estação de Metrô. E ainda mais ouvi-lo? Dizem que há pouquíssimos no mundo. E são muito caros. Lembro daquela foto de Einstein tocando violino. Será que era um Stradivarius? Einsten, sempre ele. E quantos Paganinis ainda jovens você poderia encontrar pela frente neste mundão cheio de fronteiras e de catracas do Metrô?

Você, que nunca teve estudo nenhum, sempre se emocionou com um violino bem tocado. Queria que você estivesse aqui. O tempo parou. Tudo em volta ficou silencioso. Eu fiquei petrificada. Sei que você choraria. Eu não consigo mais, mas foi por pouco. Valeu a pena ter saído daí, mãe, e ter penado esses anos todos em Washington D.C. Afinal, pra alguma coisa deve servir estar no centro do poder. Mesmo que seja limpando os banheiros. Você mesmo me disse: “Se você não pode ser o poder, pelo menos esteja no centro dele”. Segui seu sábio conselho à risca. E foi arriscado. Mas, mãe, nestas duas últimas semanas meu futuro se iluminou. Conheci a Biblioteca do Congresso. E por um lapso da sorte, consegui entrar sem pagar numa apresentação de música clássica. Foi fantástico. Havia um jovem se apresentando ao violino. Divino. Era como sinos angelicais soando em meus ouvidos. Joshua era o nome dele. Belo nome para um netinho, né?

Mas, mãe, o que aconteceu é que meu presente de aniversário não poderia ser melhor. Não se preocupe. Eu que devo e vou presenteá-la. Mas hoje foi o meu dia. Estava um pouco atrasada. Às oito e meia deveria estar chegando no batente. Não deu. Atrasei-me um pouquinho, mas valeu a bronca. Pois não é que aquele anjo estava lá na estação. Sim, de boné, querendo disfarçar. Mas eu fui atraída por ele. Primeiro pela sua música. Depois pelo Stradivarius. Depois pelos seus olhos. Sim, mãe. Acho que seu netinho vai se chamar Joshua. E o sobrenome dele será Bell.

Por favor, não chore!



[Numa iniciativa do jornal Washington Post, o violinista Joshua Bell, com o seu Stradivarius de 1713 avaliado em 3,5 milhões de dólares, tocou durante 45 minutos na estação L`Enfant Plaza no centro de Washington entre as 07.15 e as 08:00. A apresentação não despertou a atenção de quase ninguém, com exceção dela que parou petrificada...]

12 setembro 2008

Nam-myoho-rengue-kyo



Meus caros, escutem a maravilhosa música acima. Parece que a moça, Olívia Newton-John (sim, aquela dos tempos da brilhantina), gravou-a depois de se recuperar de um câncer maligno. Ela recita, no que parece ser um refrão, o mantra que recito há 15 anos. Realmente é um mantra magnífico e regenerador em todos os sentidos. Recomendo-o. Se quiser saber mais sobre ele é só clicar aqui.

E mais não digo, embora seja a voz que executa o trabalho do Buda.

No labirinto com o Minotauro



Confira um bate-papo comigo e o simpático Marcelo Maluf em seu blog, http://www.labirintosnosotao.com/

08 agosto 2008

Web Literária




12 terça 19h
As zonas de exclusão do mercado literário e o papel da internet

Heloísa Buarque de Hollanda * Fabrício Carpinejar * Carlos Emílio C. Lima * Vicente Franz Cecim * Raimundo Carrero
Moderador: Edson Cruz - portal cronópios


Leitura de textos inéditos com os escritores

13 quarta 19h
Publicação e distribuição da literatura em tempos digitais

Clarah Averbuck * Ana Paula Maia * Cardoso (André Czarnobai) * Artur Rogério * Lima Trindade
Moderador: Fabrício Carpinejar

leitura de textos e discotecagem com DJ Malásia


14 quinta 19h
Interfaces da literatura na web

André Vallias * Pipol * Mardônio França * Fábio Oliveira Nunes

Moderador: Lúcio Agra

apresentação de André Vallias com vídeo-poemas intermeado com traduções de obras de Hölderlin, Khlèbnikov, Gottfried Benn, Mandelstam, Trakl, entre outros / Performance apresentada por Lúcio Agra.



15 sexta 19h
Apreciação/crítica dos conteúdos de literatura veiculados na internet

Ivan Marques * Paulo Franchetti * Márcio-André * Linaldo Guedes * Floriano Martins *

Moderador: Leda Tenório da Motta


Márcio-André apresenta uma roldana de palavras-poesia-máquina de desautomatizar munido de vozes, violino e outros objetos sonoros.

16 sábado 15h
Sarau Cartográfico

Participação de autores, blogueiros, editores de sites de literatura, poetas, performers, dj e convidados do evento. Leituras de textos e apresentações de performances literárias.

Você poderá acompanhar on-line todas as mesas do Cartografia Web Literária. Elas serão transmitidas Ao Vivo pela TV Cronópios que faz parte do Portal Cronópios.

Além disso o Cronópios disponibilizará na ocasião um CHAT onde você poderá enviar suas perguntas para o mediador de cada mesa do Cartografia em tempo real.

Acesse www.cronopios.com.br e acompanhe a programação.


Local: Sesc Consolação

17 julho 2008

touché

(para Jorge Tufic)

o diabo é a greve
dos Correios
ainda bem
que Deus trafega
em meus emeios

16 julho 2008

préstito negro

o carnaval acabou
mas o desfile continua
em todo caso a morte
sempre chega mesmo
mansa e nua em macios
passos de porta-bandeira
a equilibrar o mastro
em suas ancas de ossos
carcomidos pelos olhos
vorazes da avenida
corsos ensandecidos

09 julho 2008

No ponto



Esse poema foi trabalhado em Flash pelo craque Pipol. Como não sei colocar isso no blog, passo o link da Folha onde ele primeiramente apareceu. Lá você poderá conferir, também, trabalhos do Pipol, do André Vallias, do Augusto de Campos, do Ferreira Gullar, entre outros.

Clique aqui: E-Poemas

05 julho 2008

santo




após receber
a plenitude
os sacramentos
a fé no criador
lambuzou-se
até o fim
nas águas
da vida delfim

04 julho 2008

Comportamento do Autor

Estive navegando por alguns sites de editoras e encontrei estas dicas e comentários primorosos no site da Editora Novo Século. Recebo muitos e-mails pedindo dicas e contatos com editoras para uma possível publicação (como se eu mesmo não precisasse delas, no caso de querer editar em papel...). As dicas são mais pertinentes se você já tiver sido abraçado por uma editora. Mas no caso de ainda não, o bom-senso talvez seja mais importante ainda... ou não?


"O livro é um produto que carrega consigo um rótulo de prestígio, de elite e de trabalho de toda uma vida. Essa é uma visão distorcida. Apesar de os medos serem absolutamente normais como parte do processo de publicação de um livro, é bom lembrar que os profissionais de uma editora são da área da cultura, e não psicólogos. Desse modo, ter ataques de ansiedade, telefonemas diários ao editorial ou à produção, reclamações insistentes sobre atrasos e uma presença constante na editora sem que você tenha sido chamado, em vez de ajudar acaba atrapalhando a produção de seu livro, tendo em vista que você deixará os funcionários encarregados pela produção de seu livro muito irritados e de mau-humor, podendo isso até interferir no resultado final do trabalho. Tenha sempre muito bom senso e equilíbrio nestas horas, para que o trabalho possa ser produtivo para ambos os lados: autor e editora. Os dois têm interesse em um único objetivo: que o livro seja um sucesso e atinja ótimas vendas. Outro ponto importante é o fato de o autor confundir um editor com um empresário ou agente, e isso não é correto. O editor é o responsável por analisar a viabilidade de publicação de um livro e, depois de este ter sido aprovado, formalizar o contrato, dando andamento ao processo de produção. Para isso, ele tem pessoas que trabalham com ele, auxiliando-o, cada uma em seu respectivo setor, neste processo de produção. Desse modo, o autor deve se dirigir sempre ao funcionário responsável por cada departamento em que sua obra estiver passando, e não exigir que o editor o atenda, pois ele não tem disponibilidade para isso. Já o empresário ou o agente, estes sim têm a função de cuidar de uma outra parte, até em nível pessoal, no que diz respeito ao autor ou sua obra. Cabem a eles ajudar o autor a decidir sobre questões do tipo: faça isso, não faça aquilo; vá por este caminho, não por aquele; vamos mudar de estratégia, pois esta não está funcionando; haja desta forma, não daquela; coisas assim. Eles são um tipo de conselheiro pessoal/comercial do autor. Portanto, não adianta o autor querer atribuir o papel de "conselheiro" ao editor, pois sua função é exatamente outra. Outro lembrete: uma editora não é uma empresa em que o autor pode entrar e sair quando bem lhe convier. Jamais vá até a editora sem ter marcado um horário, pois isso pode atrapalhar toda a rotina dos funcionários, que procuram planejar minuciosamente seu dia-a-dia. E mesmo marcando um horário, não é de bom tom "alugar" o funcionário. Tenha bom senso e converse sobre tudo o que necessitar, no menor espaço de tempo possível. Isso vale também para horários agendados com o editor."

22 junho 2008

cortes





há um rio que nos separa
dos outros
rio

lethos de esquecimento
encalhes
duplos

o mundo é outro
segundo a dualidade
do ser

a margem que nos divide
é a pele
que nos irmana

quem vislumbra o tu
é nutriente
da relação

aquele que comunga
o isso não é

está

21 junho 2008

sim



um poema
de amor poderia
assim começar:
amo porque
pressinto
fim


[Quadro de Karel Šafář]