26 março 2009

Beatriz Bajo à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Poesia é o tesão da inteligência, é o orgasmo que provoca a recuperação da alma. Poesia é algo que me salva do afogamento ou do incêndio. Lembro que desde quando comecei a escrever e fazia isso com certa frequência (sem trema, agora, mas tremendo ao acaso...rs), o ato de produzir era imperativo... porque não podia dormir, era como estar engasgada de nuvem, tropeçando no sol das palavras que se acenderiam se eu pegasse o caderninho... somente se vomitasse os versos que atravessavam meu sono. Depois, gozava de espelhamento e a leveza deixa-me em outro movimento eufórico e em seguida mais brando, até a singeleza. Tem sido assim, desde sempre. Posteriormente vieram os estudos, o aprofundamento, a academia e os “papas” do lirismo insistentemente desmentindo o que sinto de antes: de que poesia é o blablablá do trabalho (sim de parto), da transpiração (ora, o orgasmo). Nada disso me pega porque leio poemas que não me transformam, mas são apadrinhados pelo cânone, então, fodam-se as teorias e os intelectualismos poéticos. Quero comover-me. Para mim, poesia é uma morte, por isso, uma salvação... um resgate da gente, um perdoar-se.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Deve perseguir a espontaneidade... técnicas para impressionar leitor não valem de nada... é necessário que a poesia incendeie... é imprescindível provocar dores, espasmos, estupefações.
O segredo é sempre caminhar ainda mais pra dentro... escrever de olhos fechados para o mundo, construir imagens impossíveis e que representem os sentimentos que impulsionaram o ato... não levar preocupações para o poema... não se importar com escolas e oficinas, obedecer o que caminha bem dentro e que nunca ninguém leu ainda... respeitar as palavras, não as escravizar, sobretudo, respeitar os assuntos de cada um.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Engraçado isso, mas a poesia primeira veio de Clarice Lispector... desesperei quando li Água viva, lá estava tudo o que procurava há tempos. O maior de todos é Drummond, por tudo que me atormenta ainda hoje, o que mais vem me tocando é “Tarde de maio”. Brecht mudou muita coisa em mim com “Poemas de um manual para habitantes das cidades”. Bem, para não ficar muita extensa a lista, cito um último poeta que me atordoou, Fabiano Calixto. Seu livro, Sangüínea (agora com trema e tudo...rs), é maravilhoso, mas destaco “versos de circunstância”.

beijo no ventre dos versos





Beatriz Bajo (São Paulo/SP, 1980). Poeta, escritora, professora de língua portuguesa e literatura, especialista em Literatura Brasileira (UERJ) e aluna especial do mestrado em Letras (UEL). Editora da seção literária do site Armadilha Poética (http://www.armadilhapoetica.com/) e membro do conselho editorial do Projeto Macabéa (http://www.trapiches.com.br/). Participou de antologias e mantém publicações frequentes em revistas literárias e espaços virtuais como Portal Cronópios, Germina Literatura, Confraria do Vento, Conexão Maringá, Minguante, Lasanha e Coyote (impressa). Insiste em cultivar o blogue http://lindagraal.blogspot.com/. Morou por 17 anos no Rio de Janeiro (RJ) e vive há 2 em Londrina. E-mail: beahbajo@hotmail.com

3 comentários:

  1. olá! eu mandei há um tempo a entrevista, mas fiz um ajuste na última resposta que e não solicitei a modificação. então, coloco aqui:

    Bem, para não ficar muita extensa a lista, cito os 3 últimos poetas que me atordoaram, Marcelo Ariel (a água-primeira), Léo Mackellene (o silêncio da árvore) e Fabiano Calixto - Sangüínea (agora com trema e tudo...rs), destaco “versos de circunstância”.

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  2. Caramba, desde que acompanho o Sambaqui (há pouco tempo) esta é a entrevista mais apaixonada(nante).
    Tem que ser assim!
    Deu muito gosto de ler.

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  3. Grato Edson, por nos oferecer olhares tão extremos sobre a poesia.

    Jorge Elias

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