08 junho 2010

Curso de Letras



Qual o livro mais chato da literatura brasileira? Não vamos perder tempo com os autores mais chatos, pois a lista seria infinda. Nem com os pseudoautores. Nos famigerados cursos de letras que desandam por aí, os alunos [será q ainda os há ou seriam meros esquentadores de bancos. ouvintes, ocos, das palavras instituídas?] são obrigados a ler um monte de livros e autores que são um pé e desviam a atenção do essencial. Mas, como saber o que é essencial em literatura sem ler e desler [pergunta boa. só me ocorreu agora]?

Um curso de Letras, assim em caixa alta, deveria servir para isso. Ou não?

Depois que nosso Mamaluco [claro que me refiro a Sebastião Nunes, mas, aliás, leiam o originalíssimo livro de Luiz Roberto Guedes, O Mamaluco Voador, com projeto gráfico e diagramação primorosa de Tereza Yamashita e Nelson de Oliveira. não tem nada a ver com o que estou falando, mas tudo a ver com o que estou escrevendo] ousou desbancar Machado de Assis de seu trono, o caminho ficou mais fácil [cara peitudo esse Tião. disse com todas as letras q Machado era leitura obrigatória de velhinhas carolas. rumor na arquibancada].

Felizmente não li todos os livros que poderiam ser adequados a esta categoria do liso, plano, sem elevação, rasteiro, sem relevo, sem elegância e maçante [definição de chato. faltou a coceira e a preguiça macunaímica q eles nos geram]. 



Por comparação, ou justaposição, ficou mais fácil ainda. O acaso [êta palavrinha mal compreendida por nós todos. leiam um pouco do budismo. não, não precisa raspar a cabeça, nem se internar em um templo seja em Cotia ou no Himalaia. um buda do século 13 deixou escrito que, vejam só, “até o esbarrar da manga de nossa camisa em outra no meio da rua confusa é regida por relações cármicas (relações não determinadas de causa e efeito), nada tendo a ver com acaso” uau! a rua confusa é por minha conta] possibilitou que eu estivesse lendo o instigante romance de Evandro Affonso Ferreira, Erefuê [o cara é maluco, no bom sentido, já teve vários sebos impecavelmente sem poeira e parece q não gosta muito de vender livros. enxotava aqueles que vinham buscando Coelhos e outros bichos da mesma subespécie literária], e ao mesmo tempo A Escrava Isaura de Bernardo Guimarães [alguém o leu por aí ou só lembra da Lucélia Santos, ou nem isso, talvez, da ex-paquita-qse-atriz, Bianca Rinaldi? confesso q nunca o havia lido e minha memória é da Lucélia].

Tudo bem que a comparação, a rigor, não possa ser feita sem correr o risco de se tornar esdrúxula e até incabível devido as variáveis históricas e sociais. Não vou fazê-la [mesmo porque não saberia como], então, mas confesso aguçou-se meu interesse pela construção da ficção brasileira. 



O romance de Bernardo Guimarães com sua construção melodramática que a telenovela soube aproveitar tão bem, me deixou um pouco irritado pela pieguice dos argumentos e a dissimulação da(s) ideologia(s) por trás dos argumentos. Um romance construído como uma fábula amorosa e ancorado em dados ‘historiográficos’ tão caros ao romantismo tupiniquim em seus primórdios. 



Cheio de ‘boas intenções’ em seu desejo de mostrar ao público de 1875 os crimes da escravidão e as questões de distinção de classe, destila – com uma adjetivação excessiva – preconceitos e valores que não escapam à tentativa de escamoteação: a escrava que é branca, bela, fina, culta e mais pura do que qualquer branca poderá almejar [ops! a palavra coube bem, né?].

A escrava submissa que, apesar de seus dotes, sabe reconhecer seu lugar e suporta resignada o assédio e os maus tratos que surgem de todos os lados. Um primor de chatice e melosidade que parece agradar, brasileiros, portugueses e até chineses.

Cruzes cristãs!!! [ah... se você quer ser escritor, corra dos cursos de letras...]!!

4 comentários:

  1. Edson, o Bernardo Guimarães gostosamente legível é o dos poemas eróticos. O romancista é um chato de galocha.
    Mas esta implicância com os cursos de letras já está anacrônica, meu amigo. E há sim muita gente interessante lecionando e estudando nos nossos cursos de Letras. E ser escritor se aprende nos cursos de Letras sim: há a consciência de linguagem derivada das análises e interpretações de textos, da leituras teóricas e principalmente das leituras de livros de ficção e de poesia.
    Duvida? Entre numa aula do curso de Letras da PUC-SP, PUC Rio, PUC-RS, PUC-Minas, USP, UFRJ, UFMG, UFAL, UFPB entre tantas.
    Abraço amigo do Amador.

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  2. Cândido, ou Amador, ou Anônimo...
    estou falando de minha experiência... o curso de Letras é um pé. claro q aprendi (e ainda aprendo) muito lá, e q há excelentes professores e até alguns 'mestres', mas daí dar condições pra alguém se tornar escritor, isso não dá... aliás, desanima alguns possíveis...
    a questão não é anacrônica, o curso de Letras é que é.
    falo de minha experiência de 8 anos de Usp. e ainda não saí de lá... pq sei o q quero e não dependo dela pra isso...

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  3. ah, Amador... e não foram os poemas eróticos q tive q ler para o trabalho de conclusão, infelizmente na grade tem muitos chatos de galocha..

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  4. Oi Edson, eu também fiz 8 anos de USP: graduação e mestrado. Felizmente tive lucidez e culhões suficientes pra chutar o pau da barraca das Letras-USP e me mudar pra contemporaníssima, deliciosa e antenada PUC-SP! Lá fiz meu doutorado. Delicioso curso de doutorado, com excelentes disciplinas e uma orientadora (Lucia Santaella) que não está no mapa, não está no gibi, porque caiu do ciber-sky, rs... Uma inteligência e sensibilidade a toda prova) de tirr o chapéu. Além de ótimos professores como Décio Pignatari, Irlemar Chiampi, Cecília Almeida Salles, Boris Schnaiderman e tantos outros...
    De fato o curso em si de Letas é dois pés no saco. Nisto vc tem toda razão.
    Abraço forte. Amador

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