28 setembro 2010
Cultivando engenhos
As oficinas literárias vieram pra ficar. São necessárias e em certa medida até imprescindíveis, principalmente se os autores que as procuram têm algum talento.
Sim, talento não se pode aprender. Não se pode dar, nem ensinar. Mas, quando há talento, a magia da literatura pode acontecer com mais eficácia, cultivada pelas trocas, questionamentos, sugestões, senso crítico, escrita consciente, releituras e faíscas emanadas pelo grupo e incentivadas pelo coordenador que, ao final do milagre, desaparece enquanto todos estão se olhando maravilhados.
Parece-me que é isso que o escritor e coordenador das oficinas literárias “Erro mas escrevo”, Marne Lucio Guedes, nos oferece com esta seleta de contos de seus engenhosos oficinandos. Autores talentosos, manejando com graça e sem ingenuidade as ferramentas da criação literária.
O que mais poderíamos pedir? Todos eles já poderiam estar com seus livros de contos na praça. Agora é só uma questão de tempo e de persistência.
Podemos gostar mais da pegada de um autor do que a de outro. Isso é esperado e antologias tendem a realçar, por contraste, tal característica. Neste caso, a fatura está liquidada e o saldo é extremamente positivo.
Carlos Kieffer é um dramaturgo de mão cheia. Escreve com um bisturi entre os dedos e uma consciência dramática rara. Seus contos são os mais coesos do livro.
Livia Lima arrisca-se em busca de sua voz narrativa. Esparrama-se feminina, quase barroca, mesmo quando seu narrador é masculino.
Walter Solon é um garoto que escreve como gente grande. Tem fôlego e imaginação de romancista. Seu conto “Linhagem”, embora ainda calcado no mestre Graciliano Ramos, é uma pequena pérola construída com esmero.
Maria Maximo tece as relações humanas com sutileza em seus contos. “Fendas” talvez seja o melhor resolvido e mostra um caminho de ousadia muito bem-vindo, com seu artifício poético-visual na caracterização do sonho da personagem.
O milagre foi feito. Agora é desaparecer enquanto os leitores folheiam estas páginas. E que edição, hein? Tudo preto no branco. Ou será o contrário?
[Texto escrito para a "orelha" do livro Seiva e Risco, Terracota Editora]
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Creio que a voz oculta do coordenador deve permanecer de alguma forma, ecoando, na memória (ou no coração?) de cada oficinando. Com certeza, uma experiência sempre marcante para ambos. E que belo título, não? Abraço!
ResponderExcluir