Mecanismos precários é uma coletânea de dezessete poderosos contos sobre a turbulenta existência na metrópole. São narrativas intensas e vigorosas, que contemplam os muitos lados da vida em sociedade: a poesia e a violência, a fraternidade e o medo, o humor e o amor etc.
Do realista ao alegórico, passando pelo subjetivista e pelo nonsense, uma ampla gama de registros literários sustenta essa reunião de vozes narrativas.
Participam do livro alguns dos melhores ficcionistas brasileiros da nova geração (Edson Cruz, Marcelino Freire, Nelson de Oliveira, Luís Marra e Marcelo Maluf) ao lado de jovens promessas não menos talentosas.
Autores: Ábia da Silva Gomes, Alexandre Heredia, Claudio Brites, Edson Cruz, Eduardo Sigrist, Laura Fuentes, Marcelino Freire, Marcos Roma, Nelson de Oliveira, Nelson Lourenço, Patricia Cytrynowicz, Ricardo Delfin, Tiago Araújo, Valéria Piassa Polizzi, Deborah Panachão, Luís Marra e Marcelo Maluf.
Prefácio:
Contos cortantes e perfurantes
A pintura mais famosa de Pablo Picasso retrata uma cidadezinha basca — Guernica y Luno — bombardeada pelos nazistas a pedido dos nacionalistas espanhóis, durante a Guerra Civil.
A grande tela em preto e branco, em estilo primitivista e cubista, mostra corpos mutilados e incendiados, de pessoas e animais. Terrível.
Dizem que um oficial nazista, horrorizado com a feiúra da tela, perguntou ao pintor: “Foi você quem fez isso?”
Picasso respondeu: “Não. Foram vocês.”
Toda a arte e toda a literatura modernas tratam da feiúra do mundo. Essa é sua forma de protesto: denunciar as injustiças e a crueldade, mostrando-as.
Os contos reunidos nesta antologia, fiéis a esse princípio, incomodam, inquietam. Podem até chocar. Mas não culpem os autores por isso. Culpem a própria sociedade.
Mecanismo (substantivo: “combinação de peças que fazem funcionar uma estrutura orgânica ou mecânica”) precário (adjetivo: “que está em más condições e não cumpre a contento seus propósitos”) é tudo o que funciona mal na sociedade. Tudo o que corta e fura, provocando angústia e dor.
Mecanismos precários somos todos nós: tesouras na própria carne.
A função da literatura é revelar isso, por meio do mergulho estético. E assim nos salvar de nós mesmos.
Os organizadores
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