28 setembro 2009
Amador Ribeiro Neto à queima-roupa
1) O que é poesia para você?
Embora seja professor de teoria da poesia e poeta, eu não sei o que é poesia.
Por isto me valho de 2 grandes pensadores:
poesia é palavra na sua mais condensada dimensão (Pound) e
é som, sentido e imagem numa interação semiótica (Jakobson).
2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?
Clareza de pensamentos e consciência de linguagem. Neca de pitibiribas de inspiração. Muito tutano, no duro.
3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?
Poetas: Augusto de Campos, João Cabral de Melo Neto e Caetano Veloso.
Escolhi estes 3 poetas porque o que fazem/fizeram me provocam, me instigam e me incomodam sempre.
Amador Ribeiro Neto é autor, em parceria com Roberto Coura, de "imagens & poemas" (ed. UFPB, joão pessoa, 2008). É organizador e co-autor de "muitos – textos sobre caetano veloso" (ed. orobó, montes claros-mg, no prelo). É autor de “Poemail”, livro de poemas, inédito. Também organizou e é co-autor de "literatura na universidade" (ed. UFPB, joão pessoa). É co-autor de "chico buarque do brasil", organizado por rinaldo de fernandes, rio, garamond; de "quartas histórias", organizado por rinaldo de fernandes, rio, garamond e de "capitu mandou flores", organizado por rinaldo de fernandes, s. paulo: geração editorial, 2008. E-mail: amador.ribeiro@uol.com.br
25 setembro 2009
Poeta Radioativo
Se você ainda não conhece o Márcio-André, corra! O cara tá mandando bem e contaminando tudo que passa pelo seu caminho. Eu já fui contaminado e cooptado: faço parte do conselho da bela revista da Confraria do Vento e logo, logo, sai, pela editora da Confraria, o livro que organizei com poetas contemporâneos respondendo àquelas três questões ingênuas mas nem tanto: o que é poesia? etc.
Confira: www.marcioandre.com e www.confrariadovento.com/
11 setembro 2009
A GRAVIDADE SEM PESO [apontamentos - I]
O ficcionista italiano Italo Calvino deu o mote ao que deverá ser a busca de qualquer projeto literário contemporâneo consistente: a leveza. Calvino coloca a literatura como uma função existencial e a busca da leveza como uma reação ao peso de viver. A leveza como um valor a ser buscado na carpintaria da literatura, na poiésis diária que subtrai com afinco o peso do que é pesado, seja de figuras humanas, corpos celestes, cidades, estruturas da narrativa, ou da própria linguagem.
A leveza poderá emergir quando o autor, associado à precisão e à determinação (nunca ao vago ou aleatório), despojar a linguagem de seu excesso de indumentária e tecer uma escritura sem suspensórios — como diz o poeta Manoel de Barros. Ela poderá ser encontrada nas narrações e descrições que comportem um alto grau de abstração ou pela criação de imagens figurativas da leveza que possam assumir um valor emblemático e gerar possíveis epifanias.
A força do autor contemporâneo reside na recusa da visão direta, assim como a força de Perseu — para decepar a cabeça da Medusa sem se deixar petrificar — sustentou-se sobre o que há de mais leve, as nuvens e o vento e, sobretudo, ao dirigir seu olhar para aquilo que só pode se revelar por uma visão indireta, uma imagem capturada no espelho de seu escudo.
Uma bela alegoria da relação do poeta com o mundo, revelou-nos Calvino, e uma lição definitiva do processo de continuar escrevendo, apesar de tudo e de todos.
No século passado, século de duas guerras mundiais, duas bombas atômicas, de Auschwitz-Birkenau, de tantas guerras civis e devastações, se tornou categórica a “missão” do escritor em refletir, questionar e problematizar a vida e o seu mundo. Muitos se transformaram em estátuas no processo e não puderam escapar ao olhar inexorável da Medusa, deixando que o pesadume, a inércia e a opacidade do mundo aderissem à sua escrita, sem encontrar meios de driblá-los.
Na primeira de suas seis propostas para o próximo milênio, Calvino diz:
“Cada vez que o reino do humano me parece condenado ao peso, digo para mim mesmo que à maneira de Perseu eu devia voar para outro espaço. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou o irracional. Quero dizer que preciso mudar de ponto de observação, que preciso considerar o mundo sob uma outra ótica, outra lógica, outros meios de conhecimento e controle. As imagens de leveza que busco não devem, em contato com a realidade presente e futura, dissolver-se como sonhos...”
Deixa bem claro, Calvino, que esta busca não é uma fuga da realidade do mundo, nem o abraçar inconsciente do sonho e do devaneio. A busca da leveza está associada à agilidade e à capacidade de revelar o imprevisível, de sobrelevar o peso do mundo, demonstrando que sua gravidade detém a chave da leveza.
Calvino lembra uma citação do poeta Paul Valéry que diz: “É preciso ser leve como o pássaro, e não como a pluma”.
Uma pluma é tão leve que é levada por qualquer sopro, enquanto o pássaro depende da gravidade do mundo para pairar sobre ele e dirigir o seu bico para o horizonte que lhe aprouver.
Buscar o antigo instante mais leve que o próprio pássaro, como no poema de Cecília Meireles:
Leveza
Cecília Meireles
Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.
E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.
E o que lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.
E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.
E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.
O escritor contemporâneo, na construção de seu projeto literário, deve ter um plano de vôo (um projeto) com uma estrutura leve como a ossada de um passarinho, cujo objetivo maior seja o de fazer com que o leitor e o texto decolem juntos e, por que não, o próprio autor.
Algumas dicas práticas, referentes ao trabalho com o texto, são sempre bem-vindas. Façamos bom proveito delas:
1) O toque de leveza transforma as frases explícitas do texto em sutilezas que surpreendem e cativam o leitor impelindo-o a continuar na viagem.
2) Aparar as pontas das palavras gastas pelo uso, das frases vazias, das observações desnecessárias e das descrições muito longas.
3) Saber a hora de evitar um adjetivo desnecessário.
4) Saber eliminar um advérbio cujo sentido já está implícito no verbo da frase. Evitar as explicações. O leitor deverá compreender, por si mesmo, a trajetória do texto em voo.
5) Mantê-lo (o leitor) ligado no texto, evitando repetições e remissões.
6) O excesso de gordura e peso de um texto advém de nosso medo pessoal (a escritura não é lugar de uma terapia pessoal), de nossa ansiedade, da pressa (o afã de ser reconhecido, de publicar, de marcar presença) ou da pressão externa (aceitar prazos que não sejam os de sua própria criação).
7) Esvaziar a linguiça (enchê-la qualquer um faz, esvaziá-la com estilo é o desafio). Frases extras diminuem o ritmo e tornam o texto enfadonho.
8) Aprender a reescrever o texto quantas vezes forem necessárias (não esquecer a prática ensinada por João Cabral ou por João Gilberto) para deixá-lo respirar aliviado e airoso. Sim, leveza não é só cortar, mas, também, reescrever, redistribuir palavras, frases, ideias, enfim, reorganizar.
9) Ouvir a melodia do texto e buscar a harmonia necessária. Onde está a tônica, a terça e a quinta de seu texto? A terça é menor ou maior? O acorde precisa de uma sétima menor, uma nona? Você quer realçar o trítono?
10) O ritmo do texto entra em consonância e no compasso da tônica, seja ela uma imagem, uma ideia, uma palavra. Ao ler em voz alta os sons do tecido textual poderão nos alertar para cacofonias e inadequações em vários níveis.
11) Literatura busca ambiguidade, mas não a confusão. De confusão o mundo está cheio. O escritor, assim como o músico, surge para colocar ordem no caos, mesmo que seja uma ordem não reconhecida em um primeiro momento, uma ordem caótica.
12) Ter consciência de que técnica e background (um autor sem vivências, sem leitura, sem o sofrimento, sem a alegria, sem o desespero, pode ser facilmente substituído por uma máquina de produzir textos sem ossatura) são duas coisas totalmente diferentes e igualmente importantes para um escritor.
13) Nunca deixar de buscar um estilo próprio e pessoal de escrita. Parece redundância, mas é a coisa mais difícil de se alcançar. Estar só sem desprezar o mundo e os seres é um exercício digno de um Buda.
Os ossos da escrita são colosso.
08 setembro 2009
LOS 500 AÑOS
a
ARNULFO ROMERO
HELDER CAMARA
LEONARDO BOFF.
Fragmento de la carta que un grupo de indígenas andinos entregó a Juan Pablo II cuando visitó el Perú en 1985.
“Nosotros, indios de los Andes y de América, decidimos aprovechar la visita de Juan Pablo II para devolverle su Biblia, porque en cinco siglos ella no nos dio ni amor, ni paz, ni justicia. Por favor, tome de nuevo su Biblia y devuélvala a nuestros opresores, porque ellos necesitan sus preceptos morales más que nosotros. Porque, desde la llegada de Cristóbal Colón, se impuso a América, por la fuerza, una cultura, una lengua, una religión y valores propios de Europa...”
Allí quedaron, esperando respuesta:
Máximo Flores, del Movimiento Indio
De Kollasuyo (aimara) y Ramiro Reynaga
Del Movimiento Indio Tupac Katari (quechua),
Y Emmo Valeriano, del Partido Indio (aimara),
Quienes fueron los chasques ante Wojtyla.
Imagino que allí quedaron, como Martín
Fierro esperando la paga (que nunca llegó).
En antesalas silenciosas y ante discretos
Secretarios locales o importados con sonrisas
(y una furia absoluta) que defendieron la paciencia.
Ramiro Reynaga, en conferencia de prensa
Explicó la misiva:
“La Biblia llegó a nosotros como parte
del proyecto colonial impuesto.
Ella fue el arma ideológica de este asalto
Colonialista. La espada española,
Que de día atacaba y asesinaba el cuerpo
De los indios, de noche se convertía en cruz
Que atacaba el alma india.”
Eso dijo.
Otra cosa escribió Stefan Sweig
Apasionado memorialista del Nuevo Mundo
(que en Brasil decidiera apagar su luz)
cuando apuntó: “En el principio fueron
las especias...”
Tomas Diego Bernard (h) escritor
Y cronista argentino, por 1969, escribió
Una razón diferente, cuando, parafraseando
Al evangelista dictaminó: ”En el principio
Fue el indio...”
Las intenciones comerciales del oro
Y de la plata, de las maderas o la especiería,
Se vieron reforzadas con la mano de obra
Barata (llámese: el indio), que luego continuara
(fue error tuyo,Fray Bartolomé de Las Casas)
con el inmundo barco del negrero.
El primer texto escrito en América Latina
De Fray Ramón Pané (en 1498)
Satanizaba las religiones indias.
Por más que Fray Francisco de Vitoria
Afirmase que “los indios son los verdaderos
Dueños de sus tierras y haciendas; como eran
Legítimos sus príncipes, pues, por naturaleza
Nadie es siervo o esclavo...”
Nosotros, al parafrasear escritores,
Indios, sacerdotes, cronistas, lo hacemos
Con un notorio sentimiento de culpa.
Nosotros eliminamos de estas tierras
A los indios. Dígalo Don Frutos,
Dígalo su sobrino Bernab: díganlo
Los estancieros y comerciantes
Que exigieron la persecución y muerte
De todos los charrúas.
Allí quedaron,
Junto a los montes del Salsipuedes,
O exhibidos como fenómenos
En los circos de variedades de París.
En 1958 la Organización Internacional
Del Trabajo, informó: “En la región andina
De América del Sur, existen 7 millones
De indígenas aimarás y quechuas, cuyo nivel
De vida es mera subsistencia: seres
Humanos que han permanecido relegados
Durante siglos, aislados del resto
De sus compatriotas y ajenos a las
Estructuras sociales y económicas nacionales.”
En 1992, la cosa no ha cambiado mayormente.
(En Brasil rozan bosques y ultiman
a los indios). La iglesia sigue visitando “La Casa
Grande” e ignorando la senzala...
“En el principio era el indio..”
No menciones al Paraíso. Y no me vengas
Con el “bon sauvage” de Jean Jacques
Ni aquello de: ”Bienaventurados...”
El pan y el vino en cada mesa,
O haremos un paro general del Espíritu.
Washington Benavides.
16/4/91-6/10/92. Montevideo. Uruguay.
ARNULFO ROMERO
HELDER CAMARA
LEONARDO BOFF.
Fragmento de la carta que un grupo de indígenas andinos entregó a Juan Pablo II cuando visitó el Perú en 1985.
“Nosotros, indios de los Andes y de América, decidimos aprovechar la visita de Juan Pablo II para devolverle su Biblia, porque en cinco siglos ella no nos dio ni amor, ni paz, ni justicia. Por favor, tome de nuevo su Biblia y devuélvala a nuestros opresores, porque ellos necesitan sus preceptos morales más que nosotros. Porque, desde la llegada de Cristóbal Colón, se impuso a América, por la fuerza, una cultura, una lengua, una religión y valores propios de Europa...”
Allí quedaron, esperando respuesta:
Máximo Flores, del Movimiento Indio
De Kollasuyo (aimara) y Ramiro Reynaga
Del Movimiento Indio Tupac Katari (quechua),
Y Emmo Valeriano, del Partido Indio (aimara),
Quienes fueron los chasques ante Wojtyla.
Imagino que allí quedaron, como Martín
Fierro esperando la paga (que nunca llegó).
En antesalas silenciosas y ante discretos
Secretarios locales o importados con sonrisas
(y una furia absoluta) que defendieron la paciencia.
Ramiro Reynaga, en conferencia de prensa
Explicó la misiva:
“La Biblia llegó a nosotros como parte
del proyecto colonial impuesto.
Ella fue el arma ideológica de este asalto
Colonialista. La espada española,
Que de día atacaba y asesinaba el cuerpo
De los indios, de noche se convertía en cruz
Que atacaba el alma india.”
Eso dijo.
Otra cosa escribió Stefan Sweig
Apasionado memorialista del Nuevo Mundo
(que en Brasil decidiera apagar su luz)
cuando apuntó: “En el principio fueron
las especias...”
Tomas Diego Bernard (h) escritor
Y cronista argentino, por 1969, escribió
Una razón diferente, cuando, parafraseando
Al evangelista dictaminó: ”En el principio
Fue el indio...”
Las intenciones comerciales del oro
Y de la plata, de las maderas o la especiería,
Se vieron reforzadas con la mano de obra
Barata (llámese: el indio), que luego continuara
(fue error tuyo,Fray Bartolomé de Las Casas)
con el inmundo barco del negrero.
El primer texto escrito en América Latina
De Fray Ramón Pané (en 1498)
Satanizaba las religiones indias.
Por más que Fray Francisco de Vitoria
Afirmase que “los indios son los verdaderos
Dueños de sus tierras y haciendas; como eran
Legítimos sus príncipes, pues, por naturaleza
Nadie es siervo o esclavo...”
Nosotros, al parafrasear escritores,
Indios, sacerdotes, cronistas, lo hacemos
Con un notorio sentimiento de culpa.
Nosotros eliminamos de estas tierras
A los indios. Dígalo Don Frutos,
Dígalo su sobrino Bernab: díganlo
Los estancieros y comerciantes
Que exigieron la persecución y muerte
De todos los charrúas.
Allí quedaron,
Junto a los montes del Salsipuedes,
O exhibidos como fenómenos
En los circos de variedades de París.
En 1958 la Organización Internacional
Del Trabajo, informó: “En la región andina
De América del Sur, existen 7 millones
De indígenas aimarás y quechuas, cuyo nivel
De vida es mera subsistencia: seres
Humanos que han permanecido relegados
Durante siglos, aislados del resto
De sus compatriotas y ajenos a las
Estructuras sociales y económicas nacionales.”
En 1992, la cosa no ha cambiado mayormente.
(En Brasil rozan bosques y ultiman
a los indios). La iglesia sigue visitando “La Casa
Grande” e ignorando la senzala...
“En el principio era el indio..”
No menciones al Paraíso. Y no me vengas
Con el “bon sauvage” de Jean Jacques
Ni aquello de: ”Bienaventurados...”
El pan y el vino en cada mesa,
O haremos un paro general del Espíritu.
Washington Benavides.
16/4/91-6/10/92. Montevideo. Uruguay.
06 setembro 2009
A nova vogal no espaço
[Carlos Emílio C. Lima por Charles Bicalho]
Escrever diário sobre os modos
de autoconstrução dos rabiscos,
transformar pedra em mente útil
ao reacender grito solar de pássaros
em busca por fogueiras,
descrevendo formas de aldeias,
remotas, no ar.
Cada pássaro de forças
aqui tracejado,
garoto cósmico emblemático de clareiras
em um diário de procedimentos gráficos,
inícios riscados com força,
meio desesperados,
à procura do ideograma em transe
da letra copiosa,
rio de peregrinação até à forma
que o pronunciado ovo-som deseja,
novo, nasal silêncio de habitação sonora,
vento da vocalização escrito,
inscrições rupestres em desenho tridimensional
de pré-letra sobre musgosa superficie
de pedra refrescada por um rio
quando um raio em segredo
come no futuro velhas alpercatas de plástico
com fome de meandros de milênios...
Continua a soprar
força de correnteza aérea
sem intervalos
do rio de poder
da letra futura.
Tipologia inovada de rios arcaicos
cria etapas de dobras infinitas
em flutuante branca camisa de algodão
pendurada no varal da propiciatória varanda
durante a procura da exata forma fluvial
da letra a acrescentar a todos os alfabetos,
vento, vento, vento, prosperação.
Na padaria quente, de manhã,
o sol esconde-se dos arados.
Dissolvido em líqüidos e pães
viceja o leopardo da revolta.
Enquanto degusta o espaço-ambiente
o elixir da nova forma,
o leopardo é o trânsito.
Carros urbanos não levam a lugar algum,
sopram vozes-avós do futuro.
Comidas, tortas de moscas, cremes silenciosos de estampido,
cifras inodoras, gestos, gananciosos ruídos.
Oca cerimonial dos universos-flautas,
diziam as espumas do mar.
Inversas palavras ouvidas na padaria torta:
mortas, desafiadas, sempre
desfiadas pelo azul crescente
do mar próximo,
de vozes esvoaçadas,
vindo do por vir,
atacadas pelo Azul comedor,
“azul” com fome de ar,
inoculando sua força contrária.
Anti-matemática.
A criança bebendo um líquido
de localização de antiouro das caixas registradoras
não pronuncia língua interminável
recebida das nuvens do cocar da montanha.
Arara, amarela arara, dedicada à decifração
da teia delicada dos rios do invisível
não pousara no topo da cumeeira
arcomida de madeira da abafada padaria, ainda?
Tribo que ela é a não ser adivinhada
por nuas mastigações centrífugas do nada...
Escre-vendo na mesa sedenta
setenta rabiscos,
indeterminações gráficas fluentes
da futura letra-forma trazida do Orenoco,
cunhada agora sobre chumbo fervente
na oficina tipográfica do porão do casarão
no centro da cidade atlântica,
solidificada em seu tablete lunar,
repetidamente desenhador,
bebendo refrigerantes antiequinociais,
que certo tom de ouro inventa-se
antes do meio-dia.
Um estilo tipológico preciso
a se forjar
que
invade o ar.
Mais buscas-rabiscos
extraídas do contínuo
ecoar permanente da faminta vogal,
Afluentes próximos dos condutos da bilabiação
da vogal atratora de entre-entes,
primícias, arquétipos, rebentam.
O som sem serifas
no belvedere circular
octogonal
do telhado da tipografia
soara
desde os lábios natatórios de peixe
do índio, desatando antes de beijar-me
de repente, atenuando
a compleição do azul vespertino,
côncavo, sobre a cidade,
retendo-a, em seu arco, para sempre,
seu centro ancorado na lagoa
parada do tempo. A cidade
assaltada por torvelinho de pronunciação,
sopro infinito antes do inesperado
beijo selvagem, masculino,
telhas mexidas tipograficamente
em telhados de casas baixas a uma só voz,
na onda de calor da energia
de nova vogal tingindo o céu com estrias
de tigre mais profundo.
Desenhando o achar
com os modos em torno
à fôrma de letra de amor
do beijo circular.
Os três naturais emissários da desconhecida língua
que parece desejar tudo,
(pelas indicações atmosféricas
se organizar em gramática, ventania,
dar-se a descobrir em sintaxe floreal),
dançavam o silêncio recém-habitado
no pátio do terraço sobre o piso quase vivo
da materna cerâmica colorida,
pulsando formas geométricas mântricas,
(antigás),
intensionada mesmo a fecundação ritual do som
acrescentando-se aos outros sonemas
colecionados no mundo,
vogal evolucionária,
vento pós-significado,
inserindo sua lentidão alerta
do espaço nos acontecimentos,
próprio sopro unificado dos lábios do índio
antes de beijar-me um beijo de língua,
beijo-selo de poder, pré-furacão,
letra desejante ardente de floresta:
coisas, seres,fatos modificados
pela súbita vogal que, nova, retinge o céu
e , com a força de seu amarelo-arara,
dele se apodera
ENTÃO
Escrever, escrever bem, sempre,
sempre ir além,
desvestindo-se das vozes antigas
que não pronunciavam o gê.
Se elas, estas vozes-ventos,
se elas vêm do mar,
à procura de suas delicadas inumeráveis nozes,
anteriormente perdidas,
você talvez acaso encontre os sentidos,
as casas do som,
a grande base-tom,
e as pautas de rota,
estes invólucros móveis do Leste,
para seu canto-nutriz voador
nestas agora outras mesmas escritas palavras
abertas mágicas no ar
diretas à mente.
Inovadas - vindas da distância -
pelo sopro da pedra
que escondia o centro de todos os dias no céu.
Carlos Emílio C. Lima é autor de nove livros de prosa de ficção e de um longo ensaio literário e, também, de três livros de poesia ainda inéditos, constando esse poema-conto do livro intitulado Culinária Venusiana. Mestre em Litertura Brasileira pela UFC, editor de diversas publicações culturais, entre elas Arraia Pajéurbe, O Saco Cultural, Cadernos RioArte e o jornal Letras&Artes. Fundador do CEP 20 000, Centro de Experimentação Poética do Rio de Janeiro, das Rodas de Poesia e das ZPLs, Zonas Poéticas Liberadas. E-mail: carlosemiliobarretocorrealima@yahoo.com.br
03 setembro 2009
Tender Surrender
Olha, vou ser pai novamente. Logo, logo, chega o Tom Mitsuo. Sim, meio Tom Zé, meio Tom Jobim, meio Antonio Candido, ginga brasileira com disciplina japonesa, farofa sofisticada pra comer com palitinhos. O sobrenome foi um presente do mestre Daisaku Ikeda. Uma diretriz para a vida do pimpolho, e para a nossa. A Sophia, lembram?, já ganhara a sua: Miki (aquela que lidera de forma esplêndida). Agora, o Tom, ganhou a sua diretriz. Dois caracteres: o de cima significa homem; o de baixo, brilhante. Homem brilhante. Uau!
O curioso é que, preparando as rodas de leitura do SESC Campinas, li o Haroldo de Campos fazendo sua homenagem à síntese do haicai e de toda a escrita japonesa (digo, o kanji). Abramos uma valiosa aspas:
“...Realmente, se tivermos presentes as observações de Fenollosa sobre a estrutura do ideograma (kanji, para o japonês), ou seja, que ‘neste processo de compor, duas coisas conjugadas não produzem uma terceira, mas sugerem alguma relação fundamental entre ambas’, compreenderemos que um ideograma isolado pode ser, em si próprio, pela alta voltagem obtida com a justaposição direta dos elementos, um verdadeiro poema completo:
em chinês ming ou mei = sol + lua, ou como interpreta Pound, ‘processo de luz total’ (em japonês, na forma adjetiva, akarui = brilhante); e, mais ainda, perceberemos que o haicai não é outra senão a manifestação de análoga ‘forma mentis’, desenvolvida em combinações mais elaboradas, se bem que sujeitas sempre, à mais extrema economia de meios.”
Auspicioso. Tom será nosso haicai: meu e de minha querida esposa Eliane. A Sophia Miki pula de felicidade ao saber que seu irmãozinho está chegando. Desde a barriga, Sophia já escutava e gostava da canção que o Luiz Tatit fez para ela - que por sinal se chama "Haicai".
Fico pensando nisso tudo e escutando o blues acima [apesar do lado poser do Steve]: uma doce melancolia rola, uma leve alegria, alguma fúria e doçura... entrego-me a essa docura concentrada. Gotas de um mar morto deslizam nos seios de minha face. Play again, Steve.
02 setembro 2009
Zen e a Crise da Cultura Ocidental
[Texto inédito de Leonardo Boff, Teólogo]
Venho insistindo há tempos que por detrás da crise atual econômico financeira vige uma crise de paradigma civilizatório. De qual civilização? Obviamente se trata da civilização ocidental que já a partir do século XVI foi mundializada pelo projeto de colonização dos novos mundos.
Este tipo de civilização se estrutura na vontade de poder-dominação do sujeito pessoal e coletivo sobre os outros, os povos e a natureza. Sua arma maior é uma forma de racionalidade, a instrumental analítica, que compartimenta a realidade para melhor conhecê-la e assim mais facilmente submetê-la. Depois de quinhentos anos de exercício desta racionalidade, com os inegáveis benefícios trazidos e que encontrou na economia política capitalista sua realização mais cabal, estamos constatando o alto preço que nos cobrou: o aquecimento global induzido, em grande parte, pelo industrialismo ilimitado e a ameaça de uma catástrofe previsível ecológica e humanitária.
Estimo que todos os esforços que se fizerem dentro deste paradigma para melhorar a situação serão insuficientes. Serão sempre mais do mesmo. Temos que mudar para não perecer. É o momento de inspirar-nos em outras civilizações que ensaiaram um modo mais benevolente de habitar o planeta. O que foi bom ontem pode valer ainda hoje.
Tomo como uma das referências possíveis o zen-budismo. Primeiro, porque ele influenciou todo o Oriente. Nascido na Índia, passou à China e chegou ao Japão. Depois, porque penetrou vastamente em estratos importantes do Ocidente e de todo o mundo. O Zen não é uma religião. É uma sabedoria, uma maneira de se relacionar com todas as coisas de tal forma que se busca sempre a justa medida, a superação dos dualismos e a sintonia com o Todo.
A primeira coisa que o zen-budismo faz, é destronar o ser humano de sua pretensa centralidade, especialmente do eu, cerne básico do individualismo ocidental. Ele nunca está separado da natureza, é parte do Todo. Em seguida, procura uma razão mais alta que está para além da razão convencional. Recusa-se a tratar a realidade com conceitos e fórmulas. Concentra-se com a maior atenção possível na experiência direta da realidade assim como a encontra.
“Que é o zen?”, perguntou um discípulo ao mestre. E este respondeu: “as coisas cotidianas; quando tem fome, coma, quando tem sono durma”. “Mas não fazem isso todos os seres humanos normais?” - atalhou o discípulo. “Sim”- respondeu o mestre - “os seres humanos normais quando comem pensam em outra coisa, quando dormem, não pregam o olho porque estão cheios de preocupações”. Que significa esta resposta? Significa que devemos ser totalmente inteiros no ato de comer e totalmente entregues ao ato de dormir. Como já dizia a mística cristã Santa Tereza: “quando galinhas, galinhas, quando jejum, jejum”. Essa é a atitude zen. Ela começa por fazer com extrema atenção as coisas mais cotidianas, como respirar, andar e limpar um prato. Então não há mais dualidade: você é inteiro naquilo que faz. Por isso, obedece à lógica secreta da realidade sem a pretensão de interferir nela. Acolhê-la com o máximo de atenção nos torna integrados porque não nos distraímos com representações e palavras.
Essa atitude faltou ao Ocidente globalizado. Estamos sempre impondo nossa lógica à lógica das coisas. Queremos dominar. E chega um momento em que elas se rebelam, como estamos constatando atualmente. Se queremos que a natureza nos seja útil, então devemos obedecer a ela.
Não deixaremos de produzir e de fazer ciência, mas o faremos com a máxima consciência e em sintonia com o ritmo da natureza. Orientais, ocidentais, cristãos e budistas podem usar o zen da mesma forma que peixes grandes e pequenos podem morar no mesmo oceano. Eis uma outra forma de viver que pode enriquecer nossa cultura em crise.
Leonardo Boff é autor, entre tantos, de Espiritualidade: caminho de realização, Vozes, 2009. Site: http://www.leonardoboff.com/
01 setembro 2009
Provocações / Revelação
Quem diria? O Abujamra leu uma interpretação livre de meu poema "Revelação" [extraído do videopoema feito pelo porreta Mardônio França] em seu programa "Provocações". Dê uma conferida no áudio: http://www2.tvcultura.com.br/provocacoes/poesia.asp?poesiaid=611
Tenho uma certeza, uma epifania pessoal, quase religiosa. Tenho uma certeza, uma busca pessoal, quase religiosa. Tenho uma certeza, uma corrida pessoal, quase religiosa. Tenho uma certeza, uma estória pessoal, quase religiosa.
Tenho uma certeza, uma canção pessoal, quase religiosa.
Tenho uma certeza, apesar da convicção que me anima, Quase fanática.
Tenho uma certeza, apesar da convicção que me anima, quase errática.
Tenho uma certeza apesar da convicção que me anima, quase alegre.
Tenho uma certeza, apesar da convicção que me anima, quase dormente... dormente
... estúpida... errática.
Não estou disposto a enforcar ninguém, por não compartilhar de meu júbilo, de minha sina solitária.
Não estou disposto a jogar bombas em ninguém, por não compartilhar de meu silêncio, de minha viola solitária.
Não estou disposto a apedrejar ninguém, por não compartilhar de meu tiro, de minha lua solitária.
Não estou disposto a civilizar ninguém, por não compartilhar de meu levante, de minha fuga solitária.
Jogar bombas...
apedrejar... atirar...
exterminar...
abraçar com morteiros no culote...
embargar economicamente...
eliminar...
civilizar!
Sobre o(a) autor(a):
O texto foi extraído de video-poema de Mardônio França feito sobre texto do poeta Edson Cruz, co-editor da revista Cronópios.
Poesia apresentada no programa 52 [http://www2.tvcultura.com.br/provocacoes/sobre.htm]
Os poemas e os textos lidos em "Provocações” são, às vezes, livre adaptação do original, por Antônio Abujamra ou Gregório Bacic. O formato em que se apresentam escritos aqui é apropriado para a leitura em TV e não o seu formato original.
Tenho uma certeza, uma epifania pessoal, quase religiosa. Tenho uma certeza, uma busca pessoal, quase religiosa. Tenho uma certeza, uma corrida pessoal, quase religiosa. Tenho uma certeza, uma estória pessoal, quase religiosa.
Tenho uma certeza, uma canção pessoal, quase religiosa.
Tenho uma certeza, apesar da convicção que me anima, Quase fanática.
Tenho uma certeza, apesar da convicção que me anima, quase errática.
Tenho uma certeza apesar da convicção que me anima, quase alegre.
Tenho uma certeza, apesar da convicção que me anima, quase dormente... dormente
... estúpida... errática.
Não estou disposto a enforcar ninguém, por não compartilhar de meu júbilo, de minha sina solitária.
Não estou disposto a jogar bombas em ninguém, por não compartilhar de meu silêncio, de minha viola solitária.
Não estou disposto a apedrejar ninguém, por não compartilhar de meu tiro, de minha lua solitária.
Não estou disposto a civilizar ninguém, por não compartilhar de meu levante, de minha fuga solitária.
Jogar bombas...
apedrejar... atirar...
exterminar...
abraçar com morteiros no culote...
embargar economicamente...
eliminar...
civilizar!
Sobre o(a) autor(a):
O texto foi extraído de video-poema de Mardônio França feito sobre texto do poeta Edson Cruz, co-editor da revista Cronópios.
Poesia apresentada no programa 52 [http://www2.tvcultura.com.br/provocacoes/sobre.htm]
Os poemas e os textos lidos em "Provocações” são, às vezes, livre adaptação do original, por Antônio Abujamra ou Gregório Bacic. O formato em que se apresentam escritos aqui é apropriado para a leitura em TV e não o seu formato original.
02 agosto 2009
Horácio Costa no SIMPOESIA
ASSISTINDO UM ESPECIAL SOBRE LEONARD COHEN NUMA SAUNA GAY EM IPANEMA
O televisor de plasma tem mais de trinta polegadas
E fica quase debaixo da escada pela qual incessantemente
Sobem e descem homens de todas as idades enrolados em suas toalhas.
Interessam-se ao ver-me plugado ao que acontece no vídeo:
Nunca soube que o Leonard Cohen, now aged 75,
Tinha tantos admiradores entre os mais jovens.
Bono Vox, Rufus Wainwright, o pessoal da pesada
Da música de língua inglesa dos oitenta e noventa
E mesmo jovens ainda mais jovens, um certo Antony
Que canta como um rouxinol metrossexual,
Alternam-se neste especial montado, ao que parece,
Em Sydney, Austrália.
Observam-me e seguem subindo e descendo os degraus,
E nas quase duas horas que levo assistindo o especial
Nenhum dos coroas ou dos jovens que sobem e que descem
De fato parou, o que se chama parar, para de fato entender
Qual a razão que tão atentamente me traz transfixado
A este programa que para eles deve parecer
Pelo menos bizarro. Ninguém vai a uma sauna gay
Para assistir com firmeza um especial
Sobre Leonard Cohen.
Não posso evitar os olhares de espanto nem quero
Deixar de assistir o programa. Se os mais jovens
Ao menos me perguntassem sobre a minha escolha.
Se os mais velhos tivessem o mesmo repertório
E soubessem o que Leonard Cohen significou
Para a minha geração e o mundo ou a deles.
Mas não.
A uma sauna gay se vai por sexo, dizem esses
Ressabiados olhares. Não queira inventar moda.
Ninguém está aqui para saber de mais nada.
Pare com o teu programa, e mande botar de novo
Algum filme pornô, que todo mundo entende
E não tem blá-blá-blá em inglês australiano
Nem poemas cantados.
Mas não me desligo da tela, estou cativado,
Até que no último número o septuagenário
De Montreal, com pele manchada e cabelos
Grisalhos e vestindo Zegna ou Armani,
Canta com uma voz mais do que sensual
Com o grupo U2 um poema de amor e de
Autoconhecimento, com arriscadas, perfeitas
Rimas internas, e um olhar que perfura o plasma
Do televisor.
RJ/SP, 16 II 09
21 julho 2009
Eunice Arruda à queima-roupa
[foto: Juan Esteves]
1 – O que é poesia para você?
A poesia, para mim, é uma das formas de viver. Que está incorporada em meus dias. Significa captar, no cotidiano (ou em outra dimensão que não ouso nomear), as emoções. Os pensamentos. Para depois devolvê-los ao mundo transformados em outra linguagem: a da poesia. Mas, muitas vezes, abandonei este caminho – a estrada real – para conhecer o atalho. Visitar a cor de outras ramagens.
2 – O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?
Um iniciante – que para mim são todos os poetas no momento que iniciam a escritura de um poema – é exatamente esta palavra: perseguir. Escrevendo, rescrevendo até encontrar a forma exata que o próprio poema reconhece. Também é necessário estabelecer um diálogo com os procedimentos artísticos do passado e do presente. E abraçar as múltiplas vozes que imploraram as nossas palavras.
3 – Cite 03 poetas e 03 poemas referências para o seu trabalho poético. Por que destas escolhas?
Os poetas referências para o meu trabalho são aqueles cujos poemas, ou trecho de poemas não consigo esquecer. Porque são poemas ou trechos de poemas que eu gostaria de ter escrito. Por exemplo, o de Lúcia Ribeiro da Silva:
“De tudo que tive na vida
Só levarei um pôr do sol
De tudo que tive do tudo
Só levarei um pôr do sol
De todas as coisas ardentes
Só levarei um pôr do sol
Só levarei
Sol levarei um por do sol.
( do livro “Jogo fixo”, Livraria José Olympio Editora, apresentação de Walmir Ayala, RJ/R/, 1966)
E também a última parte do poema “Natal” de Claudio Mello e Souza:
“Olhar sem susto para o fim.
No meu último passo,
Serei o último sujeito.
Deixarei vestígios.
A vida não é um crime perfeito.”
( do livro “Passageiro do tempo”, Editora Nova Fronteira, RJ/RJ, 1985)
No mais, há os outros poetas que me acompanharam e acompanham sempre, com maior ou menor intensidade os, digamos, clássicos, como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira: referências insubstituíveis.
Eunice Arruda nasceu em Santa Rita do Passa Quatro (SP). Pós-graduação em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP (1988). Prêmio no Concurso de Poesia PABLO NERUDA, organizado pela Casa Latinoamericana, Buenos Aires, Argentina, 1974. Presença em antologias, com poemas publicados no Uruguai, Colômbia, França, Estados Unidos, Canadá. Fez parte da diretoria da União Brasileira de Escritores e do Clube de Poesia de São Paulo. Ministra oficinas de criação poética desde l984, em locais como a Biblioteca Mário de Andrade e a Oficina da Palavra (Secretaria de Estado da Cultura). Coordenou os projetos Tempo de Poesia/Década de 60 em l995 e Poesia 96/97, promovidos pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Por tais iniciativas recebeu o prêmio de Mérito Cultural em 1997 conferido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, RJ. Foi homenageada com o prêmio Mulheres do Mercado, concedido pela Casa de Cultura de Santo Amaro – São Paulo/SP, 2005. Em 2006, fez leitura de poemas para o programa Momento do poeta –Instituto Moreira Sales (IMS) – SP, disponível na Rádio IMS: www.ims.com.br. Leitura de poesia no projeto “Mulheres do Planeta” (Casa das Rosas e Oca).
Lançou os seguintes livros: É tempo de noite. São Paulo, Massao Ohno, 1960. O chão batido. São Paulo, Coleção Literatura Contemporânea, n.7,1963. Outra dúvida. Lisboa, Panorâmica Poética Luso-Hispânica, 1963. As coisas efêmeras. São Paulo, Ed. do Brasil, 1964. Invenções do desespero. São Paulo, edição da autora, 1973. As pessoas, as palavras. São Paulo, Ed. de Letras e Artes, 1976 (1.ed); São Paulo, Ed. do Escritor, 1984 (2.ed). Os momentos. São Paulo, Nobel/Secretaria de Estado da Cultura, 1981. Mudança de lua. São Paulo, Scortecci, 1986 (1.ed.); 1989 (2.ed.) Gabriel: São Paulo, Massao Ohno, 1990. Risco. São Paulo, Nankin Editorial, 1998 (Prêmio “Fernando Pessoa” da União Brasileira de Escritores, RJ/RJ). À beira. Rio de Janeiro, Blocos, 1999. Há estações (haicai). São Paulo, Escrituras Editora, 2003 – selo do Programa Nacional do Livro Didático. Olhar (haicai). São Paulo, Dulcinéia Catadora, 2008. Dias contados (conto). São Paulo, RG Editores, 2009. Blog: www.poetaeunicearruda.blogspot.com Email: poetaeunicearruda@bol.com.br
16 julho 2009
Joana Ruas à queima-roupa
1) O que é poesia para você?
A Poesia deve ao poeta alemão Novalis a sua melhor definição. Grata pela oportunidade de a recordar, num tributo à sua memória, aqui a deixo:
«A poesia é representação da alma, representação do mundo interior na sua totalidade. Os seus intermediários, as palavras, já o indicam, pois elas são a manifestação exterior deste reino profundo. O sentido poético tem muitos pontos comuns com o sentido místico. Trata-se do sentido de tudo aquilo que é particular, pessoal, desconhecido, misterioso, de tudo o que deve ser revelado, de tudo o que é ao mesmo tempo necessidade e acaso. O sentido poético representa o irrepresentável. Ele vê o invisível, sente o insensível... A crítica da poesia é um absurdo: já é difícil de dizer se uma coisa é poesia ou não, e isto é ainda a única distinção possível. O poeta é literalmente insensato, e, por outro lado, tudo se passa nele. Ele é, ao pé da letra, sujeito e objecto ao mesmo tempo, alma e universo. Daí o carácter infinito e eterno de um bom poema.
A poesia é o real absoluto. Quanto mais uma coisa é poética, mais ela é verdadeira.»
2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?
Deve conviver com a poesia de outros poetas, adquirir o sentido da forma e partir, infinitamente partir para tudo o que o possa exprimir na sua singularidade e experiência pessoal.
3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?
Ao longo dos anos o meu contacto com as obras dos vários poetas de que tive conhecimento ajudou-me a progredir mental e moralmente. Através de uns encaminhei-me para outros que, na altura me pareceram mais próximos da minha própria demanda ou ainda, porque notava a existência entre nós de uma afinidade electiva. Sem esquecer a minha dívida para com todos eles, portugueses e estrangeiros, neste momento a minha escolha vai para Rimbaud, Bashô e José Ángel Leyva.
Rimbaud, inventou Khenghavar, um país mítico de uma geografia apócrifa , um país plein de lourds cieles ocreux et de fouet de fleurs en chair. Khenghavar era o país mítico onde todos os lugares eram poéticos, onde todas as viagens se faziam de homem para homem, de povo para povo. Para salvar a própria pele ,Rimbaud enterra a sua inspiração poética no negócio de marfim e peles de leopardo, de tigres e cabras, negócios baseados em ofícios sangrentos de matar, arrancar presas, esfolar animais. Estuda aGramática Somali e o Corão de que faz uma tradução bilingue, francês e árabe. Segundo escreveu, depois de abandonar a poesia, cumpriu a existência e, se condenado a viver durante bastante tempo ainda em França, não passaria ali de um estrangeiro.
L´Éternité
Elle est retrouvée.
Quoi? — L´éternité.
C’est la mer allée
Avec le soleil.
(do livro Une Saison en Enfer)
Matsuo Bashô
Este poeta japonês do século XVII escreveu num dos seus Diários:« Estou só e escrevo para minha alegria». Para mim, ele, perante as atribulações da sua existência de peregrino, alcança a sua maravilhosa serenidade através da sua arte, isto é, a arte do equilíbrio na desilusão.
Ervas do estio
Eis o que resta
Da ambição dos guerreiros
do livro O Gosto Solitário do Orvalho)
José Ángel Leyva, que só agora estou descobrindo, impressionou-me pelo seu dom de uma expressão directa que reflecte, não só o Real como a sua realidade subjectiva. O seu poema Marcha fúnebre para um anjinho narra a caminhada do indecifrável para o mundo do Humano tornado familiar pela acção de o nomear.
Marcha fúnebre para um anjinho
Assim que alce a escotilha
E veja o meu sangue exaltado
Fazendo remoinhos no crânio
Terei a infância à minha mercê
Poderei tocar-lhe com a mão
Reviverei ossaturas
Falarei com meus irmãos
De tantas coisas esquecidas
Sairemos a passear pelos campos
Um bosque de pinheiros e de fetos
Se abrirá como casca de árvore
Veremos regressar as chuvas
Com sol e num descampado
Resgataremos o véu dos nomes
A pedra permanecerá livre e será pedra
O musgo e o orvalho arroios
E ser e estar na estação do ano
O soçobro da água e das folhas
Quando abrir a escotilha da minha casa
Um menino como eu terá morrido
Não temerá a obscuridade a sua cara de anjo
Não hesitará em mostrar-me as cavidades
Comuns dos olhos
O seu verdadeiro rosto
assomará por essa porta
(do livro Duranguraños)
Finalmente, alguns haiku da minha autoria
Camélia
Camélia branca
Sorriso de névoa
Na milenar rocha
Da saudade
Carta
Verde, a folha
Voa
Por oceanos de Tempo
Para o Amado
Poente
Com raro esplendor
Qual taça de vinho quente
Ergue-se a frésia vermelha
Ao doirado sol do poente
Joana Ruas publicou os seguintes romances: Corpo Colonial, Centelha, Coimbra, 1981; O Claro Vento do Mar, Bertrand Editora, Lisboa, 1996; A Pele dos Séculos, Editorial Caminho, Lisboa, 2001; A Batalha das Lágrimas, Editora Calendário,2008. Em prosa publicou Na Guiné com o PAIGC, reportagem escrita nas zonas libertadas e Zona (ficção). Escreveu os ensaios: Amar a Uma só Voz, Colóquio Rilke, Edições Colibri, Lisboa, 1997; A Amante Judia de Stendhal e E Matilde Dembowski, e A Guerra Colonial e a Memória do Futuro, comunicação apresentada no Congresso Internacional sobre a Guerra Colonial. Participou na 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará onde proferiu uma palestra intitulada Aproximar o Distante, Do Estranho ao Familiar — duas experiências: Timor-Leste e Guiné-Bissau. A sua poesia encontra-se dispersa por publicações como NOVA 2 (1975), um magazine dirigido por Herberto Helder; o seu poema Primavera e Sono com música de Paulo Brandão foi incluído, pelo compositor Jorge Peixinho, no 5º Encontro de Música Contemporânea promovido pela Fundação Gulbenkian; Cartas a Ninguém de Lisa Flores e Ingrid Bloser Martins, Vega. Participou nas antologias: Antologia da Poesia Erótica, Universitária Editora; Na Liberdade, Garça Editores; Mulher e Um Poema para Fiama, Editora Labirinto. E-mail: joanaruas@sapo.pt
13 julho 2009
Luiz Roberto Guedes à queima-roupa
[foto: Akira Nishimura]
1) O que é poesia para você?
Poesia é certamente uma forma de conhecimento do mundo e da psique. É memória mágica da humanidade, um rito persistente na tentativa da arte de reencantar o mundo. Serve para celebrar os nomes de divindades extintas e majestades desaparecidas, ou para assinalar experiências sensoriais, como aquele simples e misterioso “gole de água bebido no escuro”, por exemplo, de que fala Mário Quintana num poema.
2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?
Eu creio que esse iniciante deve se esforçar para ler o maior número possível de poetas, de todos os séculos e culturas, para poder captar o espírito poético através das épocas e a vibração do poeta vivente em seu momento sob o sol. Creio que é simplesmente fundamental que a poesia diga algo e que, essencialmente, diga respeito à vida. Em meados dos anos 90, um tanto desapontado com a poesia norte-americana naquela altura, Lawrence Ferlinghetti recomendava aos poetas que fossem para a rua e fizessem “novas e frescas observações” da realidade ou do cotidiano.
3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?
Em termos de iniciação e formação, em minha adolescência, os numinosos Bandeira, Drummond e Jorge de Lima. Em Bandeira, o dizer exato e simples e a revolta contra “a vida que podia ter sido e que não foi”, mais a contínua evasão para Pasárgada, onde “tem prostitutas bonitas para a gente namorar”. Na cordilheira mineira de Drummond, sua investigação no reino obscuro das palavras, sua profundeza e seus calculados delírios, como aquela celebração de uma Fulana que “é toda dinâmica/tem um motor na barriga/suas unhas são elétricas/seus beijos refrigerados”. Em Jorge de Lima, essa catedral fantástica que é Invenção de Orfeu, que nos revela, por exemplo, a divindade como um cacho de faces, concepção surpreendente para um poeta confessadamente católico. Claro que Mário de Andrade e Oswald são santos no meu altar. Preciso acrescentar ao rol o buleversante Murilo Mendes e o poeta José Paulo Paes, por sua fina lição de concisão e humor. Das pessoas do Pessoa, talvez a poesia de Alberto Caeiro tenha se sedimentado mais, em mim. Naturalmente, outras influências se somam e se entrelaçam, como a práxis concretista, a poética beat, a música popular etc. Ou se faz magia... ou se faz mélange.
Luiz Roberto Guedes é paulistano, poeta, escritor e tradutor. Publicou, entre outros, Calendário Lunático/Erotografia de Ana K (Ciência do Acidente, 2000) e organizou Paixão por São Paulo – antologia poética paulistana (Editora Terceiro Nome, 2004). Lançou a aventura juvenil Armadilha para lobisomem (Cortez Editora, 2005) e a novela O Mamaluco Voador, pela Travessa dos Editores, de Curitiba. É, também, letrista de música popular sob o pseudônimo de Paulo Flexa. E-mail: lrguedes@hotmail.com
04 julho 2009
Oniá: oO Murmurador na noite
[poema inédito de Vicente Franz Cecim]
Como uma Construção erguida para baixo
rio em Silêncio, e serpentes: A Palavra
interminavel
mente
calada
mente de Aves Profundas
e um Carrilhão de Luz
soando na Penumbra dos Seus Olhos,
dAquilo que escurece
as manhãs de cinzas
as pedras dos dedos da Oração
quando o mais Alto se ergue
e depõe o Muro Branco das Idades
como Transparência
no deserto Inundado
dos Teus sonhos: Cílio
da Carne,
e Rumor de Bosque Escuro
Curva dos Lábios
que não dizem - Rio
lá, onde
a Água Escura de um Abismo
Aquele que teve os olhos Selados
já não aguarda a Aurora das Virtudes: o Guardião de Sombras
Aurora das virtudes
Quando a terra se abre aos nossos pés,
quando a terra se abriu aos nossos pés
e vindo a ausência da Ausente, veio a Ausência
do ausente
e A que devorávamos na Sombra estava atrasada, e vindo
a que esperávamos estava atrasada
Caminho lento
que a terra ainda não abrira aos nossos pés
ainda Tantas vezes O teu silêncio e a Pálpebra
que não quis nos ver
Tantas vezes o Conselho: Soluça sem espreitas
Tu me nutriste de Escombros,
como uma construção erguida para baixo
não eram os passos
Vocação de Olhos mais Escuros
quando a mão se abriu
para tocar O céu
Não eram os Passos dos que vieram antes
Sim
Quando a Árvore sem tréguas descer do céu
como saber: Se um homem vem por degraus
no coração da nave submersa nos Seus Olhos,
antes
que a Inquietante fale as Palavras
mas não após o silêncio das Virtudes
indo
ao Encontro das lápides Flutuantes e das Águas
se erguendo para a Sede
e na penumbra oh na Penumbra
de um Encanto
e
da Esfera tombada no Caminho
por Onde ainda Passam os que passaram antes
Na penumbra oh na Penumbra,
enquanto espera a tempestade, a: Tempestade
nos
Repousos
dos
Teus
Passos
Lodo das espécies
As Catedrais de Luzes já foram semeadas
no Centeio Negro
e não te voltas para colher a Sombra
O
Que Ora está ausente
onde murmura Silêncio a Serpente
Agora aquele que aguardou a Alvura
despertou na névoa e sem olhos
Agora, Aquilo se lançou nas Águas e
sem guelras
Nenhum Cílio
desvia o Pó de um homem das Visões
do Florescer
ao Fenecer
da vida,
indo
tu serás o Escombro de Lágrimas
Canto Mais Impuro
O
cantando
Se um Oceano de pedras descesse
uma palavra Não te espera
Reino que Se curva
Quando a Mente, sem espinhos,
torturou Teu Sangue
veio a lágrima
e O orvalho te doou
O Lago
Na Solidão
se tinge o Lodo
Ainda é a carne a Submersa na pedra
que o teu Dom adormece
Estação das seivas
Não era a Infância ainda,
pois foi antes
Instante
sem tempo, O cancelado instante
de Ressurreições
do Pó
enteNoite
ente de murmúrios: uma semente,
apenas Uma bastaria, Escura
Se
no Silêncio de Seivas em que nasceste
o teu Luar acolhesse a serpente
Corpo nu da Demanda profunda
aquele que Tomba,
quando virá à Tona coberto de Cinzas
quando dará às Fontes suas mãos de Encantos em ruínas até
à Seca folha lágrima Raiz da Desfolhada não nascida
quando dirá ao outroO
nascendo do seu Lado Esquerdo com a ferrugem
das Catedrais partidas
- Busca
O ourO Escuro
para onde, para onde
Irá
indo,
indo
com sua imortalidade de lençóis de Alvura: O naufragado em terra,
caminhando sobre águas brancas que não vê
Pó
de despedidas de reencontros de Trevas murmurantes
Pedra de Queda como um fruto; o Fruto O
que alcança a outra margem: Oo
Fervor de Limo
Levanta vôo para baixo
Quando obterá a recusa da Envolvente?
e o Não lhe será um Dom
de Indiferença
que poupará, por Desprezo
que poupará, pelo silêncio
VICENTE FRANZ CECIM nasceu e vive em Belém do Pará, na Amazônia, Brasil. Desde que iniciou em 1979 a invenção de Viagem a Andara oO livro invisível, se devota unicamente a essa obra imaginária, que chama de literatura fantasma e diz escrever com tinta invisível. Os livros visíveis que escreve emergem dessa Viagem, ou, segundo o autor, não-livro, ambientados no território metafísico e físico de Andara, transfiguração da Amazônia em região-metáfora da vida. Em 1980, recebeu o prêmio Revelação de Autor da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte, por sua segunda obra, Os animais da terra. Ao longo dos sete primeiros livros de Andara prosseguiu abolindo as fronteiras entre prosa e poesia. Publicados inicialmente pela Iluminuras no volume Viagem a Andara, receberam, em 1988, o Grande Prêmio da Crítica da APCA, nessa década somente atribuído também a Hilda Hilst, Cora Coralina, Mario Quintana e, na seguinte, a Manoel de Barros. Em novas versões, transcriados pelo autor e reunidos nos volumes A asa e a serpente e Terra da sombra e do não, foram reeditados em edição comemorativa, pela Cejup, em 2004. Em 1994, Silencioso como o Paraíso, lançado pela Iluminuras com mais quatro livros de Andara, em que o autor reafirma sua disposição de converter a literatura em pura escritura, foi aclamado por Leo Gilson Ribeiro como “um dos mais perfeitos livros surgidos no Brasil nos últimos dez anos.” Desde então, suas novas obras passaram a ser publicados apenas em Portugal. Em 2001, a Íman lançou Ó Serdespanto, livro duplo, em que a palavra cada vez mais aprofunda o seu dialogo com o silêncio, aqui reeditado em 2006 pela Bertrand Brasil. Apontado pela crítica portuguesa, no jornal Público, como o segundo melhor lançamento do ano, Cecim foi saudado por Eduardo Prado Coelho como “Uma revelação extraordinária!” K O escuro da semente, que saiu em Portugal pela Ver o Verso em 2005 e tem lançamento previsto, no Brasil, pela Bertrand, inaugurou uma outra fase em sua linguagem, que o autor denomina Iconescritura. Fase que se prolonga em seu livro mais recente, lançado em 2008 pela Tessitura, de Minas Gerais: oÓ: Desnutrir a pedra. Nesta obra, o autor aprofunda sua demanda de uma nova escritura, mesclando palavra, silêncio da página em branco e imagem. Diz que durante esses anos todos, Andara lhe desvelou que “o natural é sobrenatural, o sobrenatural é natural.” Em 2009, a invenção de Andara atinge 30 anos de criação. E-mail: andara@nautilus.com.br
27 junho 2009
26 junho 2009
Jorge Rivelli à queima-roupa
1) O que é poesia para você?
Inundado de maravillosas metáforas de maravillosos poetas elijo hoy la de Joseph Brodsky: “la poesía es un espíritu que busca carne pero encuentra palabras”…puedo decir que es un cóctel pagano y partisano, cartesiano y místico; una interferencia cotidiana de sangre y tinta.
2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?
Leer, leer diferentes estilos poéticos, diferentes autores, leer y leer…sin miedo a quedar influenciado. La lectura es una herramienta que, junto con los hechos cotidianos, alimentan la creatividad. Además tomar el oficio como una tarea a largo plazo, que necesita de una disciplina. Trabajo diario.
3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?
César Fernández Moreno toda su poesía provoca y elijo el poema más conocido de él “argentino hasta la muerte”. Nicanor Parra que también entra en la tendencia de César de la poesía existencial, también una obra difícil de elegir un poema “prédicas y sermones del cristo de Elqui” es un poemario como también me gusta “poemas y antipoemas” pero de elegir uno … “la víbora”. Charles Bukowski dentro de una obra irregular pero que desarma las alcantarillas para mostrar a los mortales más cerca del infierno. No sé que poema elegir pero “qué es lo que quieren” podría ser. Son sólo tres pero agrego uno sólo más Esteban Moore, su poesía escarba Buenos Aires hasta las más íntimas secuencias, además desarrolla una lírica que representa una poética de la generación de los ochenta. El poema: “ángeles caídos”.
Jorge Rivelli, Buenos Aires agosto de 1954. Publicó: Un tiempo para matar (1991), Movimiento en fuga (1992), Trompe l’oeil (1994), Hebra mojada –en colaboración con Alejandra Mendé-(1997), Matambre (2004) y Las calles terminan en los bares (2005)-Premio Fondo Nacional de las Artes-. Desde 1999 dirige la revista de poesía OMERO. E-Mail: rivelliom@gmail.com
25 junho 2009
Um poeta de olho no Irã
Ter ido ao Irã em 2004, ter visto as ruínas do império persa de Dario e Ciro lá em Persépolis e Pasárgada, e ter ouvido e visto a opressão atual do regime dos aiatolás narrada por intelectuais, artistas e gente do povo nos jantares, ruas e praças, me põe mobilizado, sobretudo diante dessas fotos atrozes em que soldados de motocicletas espancam mulheres e jovens que protestam contra a discutível eleição desse insano radical chamado Ahmadinejad. Claro, ele não está só, é cão de guarda do sacerdote que acima dele se julga dono dos corpos e mentes dos iranianos.
Essa ferocidade toda esbarra por outro lado num dos aspectos mais delicados da alma persa e iraniana. No meio dessas notícias desoladoras desponta um fato que reafirma coisas que ali vi: a ligação do povo iraniano com a poesia de ontem e hoje. No meio do tumulto dos protestos, diz o correspondente do "Independent" Robert Fisk: "Um estudante de engenharia química da Universidade de Teerã, que andava junto a mim na multidão, cantava em farsi, em plena chuva. Pedi que traduzisse (para o inglês) o que dizia."É um poema de Sohrab Sepheri, um de nossos poetas modernos"- disse ele. Me pergunto se isso era realmente verdade. Estaria ele cantando um poema em meio a uma manifestação em Teerã que estava tentando mudar a História? Era isso sim. Eis o que dizia o poema:
'Devemos seguir sob a chuva,
devemos lavar nossos olhos,
devemos ver o mundo de um jeito diferente'".
Quando li isto procurei saber mais sobre esse poeta. Encontrei coisas e acabei traduzindo e botando outro poema dele em meu site/blog. O poema se chama "Do verde ao verde", foi publicado no "Volume Verde", editado no mítico ano de 1968, e, por coincidência, a cor verde é a cor da campanha dos opositores de Ahmadinejad.
Ah, se esses abutres religiosos com suas almas pretas e tenebrosas deixassem a alma desse povo se abrir e respirar! Me lembro das lindas mulheres iranianas ensaiando sua liberação, usando roupas mais claras, mostrando o rosto, o cabelo já tingido, a maquiagem; me lembro até delas comprando roupas intimas em algumas lojas, começando a soltar a eroticidade reprimida. Para mim elas pareciam borboletas tentando sair da escura crisálida para abrir asas multicoloridas.
Quando lá estive, era primavera. E a primavera tinha duplo sentido. Olhava as neves nas montanhas de Alborz ao redor da cidade. Estavam começando se derreter. E esperava-se também o degelo do regime trazido por Khomeini. Regime, que ao surgir nos anos 70, vejam que paradoxo, foi louvado por vários intelectuais franceses. Esses franceses são meio alucinados. Na década anterior muitos deles louvavam Mao Tse Tung.
Esperando a volta progressiva à democracia, impressionou-me no museu de Esfahan um raro objeto chamado "coletor de lágrimas". Era uma espécie de ampola que servia para as mulheres recolherem suas lágrimas. Asssim os maridos poderiam medir a quantidade de lágrimas vertidas por elas, como medida de seu amor.
Já lhes contei que no Irã recentemente houve um terremoto que destruiu toda a cidade de Bann. Vários dias de busca de sobreviventes até que os soldados acharam uma velhinha de 97 anos, que ao sair dos destroços declamou um poema de louvor à vida. A poesia, contraparte da violência, faz parte da alma humana. E no Irã, poetas de há mil anos como Hafez, Saadi, Ferdowsi, Omar Hhayyam continuam vivos na boca do povo.
A alma iraniana está fazendo tudo para sair da escuridão dessas roupas, da ideologia tenebrosa desse regime. As borboletas querem abrir as asas. Ou como diz Sepehri Sohrab, no poema "Do verde ao verde":
Dentro desta escuridão
eu sonho com um cordeiro luminoso
que virá pastar a erva de minha fadiga.
Verde é a cor da renovação no Irã, é a cor do opositor Mir Houssein Moussavi.
Que o verde sobreviva.
SOBRE OS TELHADOS DO IRA
Affonso Romano de Sant'Anna
Sobre os telhados da noite, no Irã
ecoa a voz agônica
dos que querem
se expressar.
Não é a ladainha dos Moezins
e suas preces monótonas
-conformadas
é o canto verde rasgando
o negro manto dos aiatolás
como se do alto das casas
fosse possível antecipar
-o parto de luz
que sangra na madrugada.
TOIT' IRAN
Affonso Romano de Sant'Anna (Trad. Serge Bourjea)
Sur les terrasses de la nuit, en Iran
eclate la voix agonisante
de ceux qui exigent
d’exister.
Ce n’est pas la litanie des Muezzins
et leurs prières monotones
– conformées.
C’est le chant vert, déchirant
le manteau noir des Ayatollahs,
comme si, du haut des maisons,
se pouvait anticiper
– la naissance de la lumière
sanglante du matin."
Affonso Romano de Sant’Anna é poeta, cronista, professor, administrador cultural e jornalista. Tem mais de 40 livros publicados, ensinou em universidades estrangeiras e nacionais e, à frente da Biblioteca Nacional (1990-1996), criou o Proler, o Sistema Nacional de Bibliotecas e programas de exportação da cultura brasileira. Os textos acima foram cedidos de seu site/blog http://www.affonsoromano.com.br/ E-mail: santanna@novanet.com.br
24 junho 2009
Manoel de Barros y el portuguaranhol de índole selvátika
Volava 1989 quando descobri la palabra hechizera de Manoel de Barros.
Yo tinha 25.
Ele contava ya com mais de 50 experimentando en la poesia.
Había frescor fontano.
Había néctar de los orígenes em sua palabra hechizera que me impactou más allá de los conceptos de lo apolíneo y lo dionisíako.
Um frescor original que es la base de tudo lo que Manoel de Barros escreveu y segue escrevendo.
He aprendido mucho sobre el arte de la palabra leyendo suos escritos y oubindo alegremente tudo lo que ele me disse and transmitiu.
Aprendi que la palabra es vida.
Aprendi que la poesia é vida ou non es porra ninguma.
Acho que nostros ángeles de la guarda hablam tambiém el portunhol selvagem.
Las conbersas na sala de sua casa em Campo Grande que me deixaram mais humano y menos burro fueron mia facultad de ciências & letras.
Uma vez Manoel de Barros fue a Rio de Janeiro receber um prêmio por el Livro sobre Nada.
Pediram que fizesse discurso.
Manoel de Barros desdiscursou: “Todo lo que tengo a dizer es que non tengo nada a dizer”.
Gosto del teko-etê, el modo de ser autêntico-genuíno dele mesmo.
Non fica lambendobola de críticos literários.
Non fica fazendo média com editores de cadernos culturais de periódicos de grandes e pequeñas provinzias.
Gosto dessa radikalidade.
Gosto dessa inexplicabilidade ruprestre de sua palabra.
Aprendo muito com la delicadeza selvátika de suo lenguaje: koisa que fala pouco y diz muito pero nunca dice tutti.
Para enkandilar korazones. Para enkantar krâneos desencantados.
“El kulo de una hormiga es más importante que una usina nuclear”.
Palabra com ojo de pássaro.
Palabra com fuego próprio.
10% mentira: 90% inbencione.
Douglas Diegues nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criado em Ponta Porã (MS), fronteira do Brasil com o Paraguai. É autor de Dá Gusto Andar Desnudo Por Estas Selvas (Travessa dos Editores, 2003, Curitiba, PR) e Uma Flor Na Solapa Da Miséria (Eloísa Cartonera, Buenos Aires, 2005), ambos livros de sonetos salvajes escritos em portunhol. Atualmente trabalha como diretor e roteirista de programas audiovisuais na TVE Regional, em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Escreve no blog www.portunholselvagem.blogspot.com E-mail: douglasdiegues@hotmail.com
22 junho 2009
Victor Paes à queima-roupa
1) O que é poesia para você?
Poesia é quando as coisas nos atingem com o fato de serem coisas... O poeta é aquele que tem a coragem de mostrar como esse mecanismo é arrebatador, mas indomável, apesar de negarmos isso diariamente, inclusive nos próprios poemas, a ponto de negarmos o próprio mecanismo. As palavras são poéticas quando nos atingem com o fato de serem palavras.
2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?
Existe muito, muito a fazer... ler, acima de tudo, buscar, desacreditar, acreditar, andar, ouvir, gritar, estar atento a absolutamente todos os gestos e ações. Mas tudo isso vai ser em vão se ele pensar a poesia apenas como crônica da poesia, pois aí só vai encontrar palavras velhas (cheias de fórmulas e celebrações), ou como poesia da poesia, pois aí pode acabar encontrando só palavras e mais nada. Nos dois casos vai estar sendo apressado, fazendo escolhas supostamente decisivas, e estacionando logo de saída. A primeira coisa é botar como meta entender como a poesia é tensão, desconforto real, com tudo. Buscando isso nas palavras, vai encontrar na vida e vice-versa (até porque são indissociáveis).
3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?
Vou citar três poetas extremamente desconfortantes: Antonio Cisneros, que faz qualquer mágica parecer uma palavra das mais simples, como se fosse possível uma precisão cirúrgica para isso (e que ele alcança sempre)... e por saber usar como ninguém a palavra “como”; Manoel de Barros, por não separar homem e natureza, mas tensioná-los, e por seu constante embate nessa história das palavras serem palavras; e Mário Quintana, pelo seu ludismo desesperado e por buscar no poema sua “misteriosa condição de poema”.
Victor Paes é escritor, ator, editor da revista e da editora Confraria do Vento. Publicou em 2007 o livro de poesia O óbvio dos sábios e hoje prepara seu primeiro livro de contos. Tem publicados seus textos em revistas e sites como Cronópios, Germina, Polichinello, entre outros. É um dos 21 poetas da coletânea XXI Poetas de hoje em dia(nte), organizada por Priscila Lopes e Aline Gallina, pela editora Letras Contemporâneas. Escreve também para teatro e já teve montadas algumas de suas peças, dentre elas Mara em um quarto, As três Marias, e Os cálices do deus. Publica o blog http://victorpaes.blogspot.com. E-mail:
17 junho 2009
A consciência é individual, mas o pensamento é coletivo
Em minha certidão de nascimento, desde sempre, me chamou à atenção a denominação de que eu sou pardo. O que isso significa? Nenhuma professora, ou professor, que tenha passado por minha vida soube responder a contento essa questão. Depois, ouvi um monte de nomes gostosamente esquisitos e nem por isso mais compreensíveis: cafuso, mameluco, mamaluco, caboclo, mulato, e o que mais gostava - curiboca. Nos primeiros contatos com a literatura descobri com Jorge Amado que Dona-Flor era cabo-verde, uma mistura bem brasileira de branco com negro e índio. Isso, mais tarde vim saber, fazia parte do caldo denominado “o fenômeno da mestiçagem”. Nome pomposo para algo que meu conterrâneo grapiúna mostrava em seus romances sem catalogar e que nos soava tão natural. Claro, só poderíamos ser isso mesmo: mestiços. E por que não? Aliás, passei a adorar o figuraça Darcy Ribeiro (que adorava papar uma mestiçazinha in natura) quando ele afirmou categoricamente: “Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades.”
Não sei se é verdade, mas que é um belo ideal não tenho dúvidas. E eu estou com ele. A mestiçagem é sempre mais alegre, embora sofrida. E a alegria é sempre a prova dos nove, da vitória.
Ao contrário do que diziam os geneticistas arianos (e vamos tornar isso extensivo aos linguistas e sociólogos também) quanto mais mestiço melhor, mais forte, mais adaptável, mais rico, com mais ginga e sonoridade - que é uma característica da pujança da vida. Salve os antropólogos. Eles que nos deram à luz. E ela iluminou a literatura e essa aventura cultural que nos incluímos todos.
A arte da contraconquista sugerida por Lezama Lima imiscui-se em todos os campos. A língua é fundamental para essa retomada. Ou melhor, as línguas e suas variantes sonoras e semânticas. Ela tem, agora, um grande aliado: a web.
Com a internet as últimas fronteiras serão dominadas. Não, ainda não está tudo dominado. O processo ainda é lento, não chega a acompanhar a velocidade dos bits emitidos. Mas a potencialidade é animadora. As literaturas e seus autores já travam diálogos e intercâmbios por emeios e sítios distribuídos na net.
Sítios como o brasileiro Cronópios (que carrega em seu nome o diálogo com a hispano-américa) já possuem, em seu corpo de colaboradores, autores do México, de Angola, do Uruguai, da Argentina, Venezuela e dos colonizadores Portugal e Espanha, publicando em suas respectivas línguas.
E o que dizer, então, do trabalho intensivo de diálogo da cearense-paulista Revista Agulha e sua maravilhosa Banda Hispânica e dossiês fundamentais.
Gosto muito, também, da ampla TriploV com suas presenças de África, apresentando-nos (a nós brasileiros) vários autores e temas que não costumam circular por este lado de alegres trópicos.
Venho acompanhando, com muito gosto, a revista mexicana de poesia Alforja que segundo seu editor, José Ángel Leyva, fechará as portas, melhor seria dizer, as janelas, em dezembro. Uma pena. Ela e a venezuelana Ala de Cuervo foram minhas referências para conhecer novos autores e outros não tão novos, porém, desconhecidos para mim.
O título deste artigo tirei de um livro do filósofo Pierre Lévy, As tecnologias da inteligência, que analisa como será o futuro do pensamento e da cultura nesta era de conexões virtuais. Não há mais retorno. O diálogo pela internet é a própria mestiçagem se configurando em âmbito mundial. Com os tradutores on-line (sim, ainda incipientes) e a “erudição de internet” se disseminando, e deuses trafegando em nossos emeios, nada restará intocado e sem ser apropriado.
No momento histórico em que a Casa Branca é conquistada pelo primeiro presidente negro, embora ele se autodefina mulato (ou será pardo?), faz-nos acreditar que o momento é esse. Ficou evidente o papel da internet para o sucesso da campanha. Com ela, e com o coração aberto ao diálogo, disposto a trilhar juntos a aventura desta mestiçagem podemos também gritar: sim, nós podemos! Como não?
[Texto produzido a convite a Bienal do Livro do Ceará de 2008, ou será 2007? O tempo passa tão rápido]
Não sei se é verdade, mas que é um belo ideal não tenho dúvidas. E eu estou com ele. A mestiçagem é sempre mais alegre, embora sofrida. E a alegria é sempre a prova dos nove, da vitória.
Ao contrário do que diziam os geneticistas arianos (e vamos tornar isso extensivo aos linguistas e sociólogos também) quanto mais mestiço melhor, mais forte, mais adaptável, mais rico, com mais ginga e sonoridade - que é uma característica da pujança da vida. Salve os antropólogos. Eles que nos deram à luz. E ela iluminou a literatura e essa aventura cultural que nos incluímos todos.
A arte da contraconquista sugerida por Lezama Lima imiscui-se em todos os campos. A língua é fundamental para essa retomada. Ou melhor, as línguas e suas variantes sonoras e semânticas. Ela tem, agora, um grande aliado: a web.
Com a internet as últimas fronteiras serão dominadas. Não, ainda não está tudo dominado. O processo ainda é lento, não chega a acompanhar a velocidade dos bits emitidos. Mas a potencialidade é animadora. As literaturas e seus autores já travam diálogos e intercâmbios por emeios e sítios distribuídos na net.
Sítios como o brasileiro Cronópios (que carrega em seu nome o diálogo com a hispano-américa) já possuem, em seu corpo de colaboradores, autores do México, de Angola, do Uruguai, da Argentina, Venezuela e dos colonizadores Portugal e Espanha, publicando em suas respectivas línguas.
E o que dizer, então, do trabalho intensivo de diálogo da cearense-paulista Revista Agulha e sua maravilhosa Banda Hispânica e dossiês fundamentais.
Gosto muito, também, da ampla TriploV com suas presenças de África, apresentando-nos (a nós brasileiros) vários autores e temas que não costumam circular por este lado de alegres trópicos.
Venho acompanhando, com muito gosto, a revista mexicana de poesia Alforja que segundo seu editor, José Ángel Leyva, fechará as portas, melhor seria dizer, as janelas, em dezembro. Uma pena. Ela e a venezuelana Ala de Cuervo foram minhas referências para conhecer novos autores e outros não tão novos, porém, desconhecidos para mim.
O título deste artigo tirei de um livro do filósofo Pierre Lévy, As tecnologias da inteligência, que analisa como será o futuro do pensamento e da cultura nesta era de conexões virtuais. Não há mais retorno. O diálogo pela internet é a própria mestiçagem se configurando em âmbito mundial. Com os tradutores on-line (sim, ainda incipientes) e a “erudição de internet” se disseminando, e deuses trafegando em nossos emeios, nada restará intocado e sem ser apropriado.
No momento histórico em que a Casa Branca é conquistada pelo primeiro presidente negro, embora ele se autodefina mulato (ou será pardo?), faz-nos acreditar que o momento é esse. Ficou evidente o papel da internet para o sucesso da campanha. Com ela, e com o coração aberto ao diálogo, disposto a trilhar juntos a aventura desta mestiçagem podemos também gritar: sim, nós podemos! Como não?
[Texto produzido a convite a Bienal do Livro do Ceará de 2008, ou será 2007? O tempo passa tão rápido]
15 junho 2009
Luis Benítez à queima-roupa
1) O que é poesia para você?
Inicialmente, es un impulso que tenemos todos: el afán de expresar nuestras difusas sensaciones, de ponerlas en el papel para verlas frente a nosotros con alguna forma, examinarlas y creer que, así, comprenderemos algo de eso que somos; una idea errónea, sin duda, ya que las palabras transforman a las sensaciones… en palabras. En otra cosa que aquello que son, realmente, y que nunca comprenderemos cabalmente. Además, si es que uno va progresando un poco en poesía, llega el momento en que se da cuenta de que aquello que escribe le pertenece menos una vez que está escrito; se ha vuelto algo objetivo, externo, algo que puede compartir con los demás –cree uno- cuando en realidad los demás lo leerán desde sus propias ópticas, que difieren de la nuestra, desde luego y es bueno que así sea. Además, conspira contra esta idea primitiva de la “expresión del yo” el hecho de que descubrimos que lo escrito tiene sus propias reglas y su propio mundo, insertado en una tradición de 6.000 años de antigüedad. Eso es mucho tiempo y marca a lo escrito, lo quiera uno o no. Para la literatura lo importante no es el hombre que la escribe; a ella sólo le importa ella misma. Lo que nos suceda a nosotros sirve apenas –y en el mejor de los casos- como disparador del texto, es lo que acciona primariamente el gatillo. El arma tiene su propio blanco.
Surge inicialmente como una sensación difusa, lo que yo llamo “el fantasma” del poema que será después. Es algo sin límites claros, casi sin forma, y desde luego, no está hecho de palabras. Puede motivar su aparición una frase oída al pasar, más habitualmente algo que leo o que recuerdo. La memoria, que es caprichosa, resulta de gran ayuda para escribir, porque deforma a su gusto los recuerdos y así, aquello que fue un momento feliz, según creíamos, puede ser recordado años después con tintes sombríos u otras connotaciones, vaya uno entonces a saber cuáles. Estas deformaciones de la memoria también son un proceso creativo, no hay por qué subestimarlas. Luego, el fantasma del que hablo se vuelve impuro, se mezcla con otras impresiones, diferentes evocaciones, se le agregan partes ajenas, posteriores a su primer surgimiento, y allí, con muchísima suerte, ya se va volviendo parcialmente palabras: tenemos el comienzo o el final del futuro poemas, un verso o a veces, apenas una parte nuclear de él. El fantasma ha perdido peso, lo va ganando el lenguaje. Luego, los juegos del idioma: la tergiversación sucesiva, los cambios de rumbo del sentido inicial; las treguas, cuando nos olvidamos casi por completo del asunto; posteriormente, la retoma por parte de uno, nosotros, que ya no es el mismo de días atrás, uno que trae otros aportes… El poema es siempre colectivo: lo hacen los sucesivos señores que somos, según pasan los días. El tema, me parece a mí, en definitiva, es lo menos importante de un poema. Es, por así decirlo, una excusa que emplea el poema para referirse casi siempre a las mismas cosas.
No tengo una rutina, al menos cuando escribo las primeras versiones de un poema. Puede aparecer en cualquier momento el fantasma al que antes me refería. Me ha sucedido escribir en el autobús, en el tren subterráneo, en plena calle tuve a veces que entrar a una cafetería porque se producía el asalto. Otras veces, escribí versos aislados apoyando cualquier papel contra un árbol o un muro. Ahora que el proceso de las versiones finales sí tiene siempre otros escenarios de mayor recogimiento y en esto me pongo muy quisquilloso: tengo que estar en mi cuarto, o en un sitio aislado, sin ruidos, frente a un ordenador, porque si bien generalmente escribo las primeras versiones a mano, con bolígrafo, sobre papel sin renglones, las sucesivas versiones hasta arribar al poema final –lo poco que queda del fantasma- tengo que hacerlas sentado frente al teclado gris y la pantalla brillante, una y otra vez. ¿Antes de sentarme? Bien, siempre hay algunos ritos. Bacon sólo podía escribir vestido de etiqueta y con un gato persa sobre las rodillas; Hemingway y Camus escribían de pie frente a las Underwood de entonces; Scott Fitzgerald tenía que beberse una botella entera de champaña al comenzar y al terminar una novela. Yo, para escribir las versiones finales de un poema tengo que dar muchísimas vueltas por la casa, mascullando como un búho, mientras escucho música –particularmente tango, que es mi favorita- fumar tres o cuatro cigarrillos rubios, tomar whisky y renegar, antes de ponerme a trabajar. Son rituales propiciatorios; no significan nada en sí mismos, pero son necesarios e imprescindibles. Me estoy poniendo viejo y son mis manías, dan resultado y no veo necesidad alguna de cambiarlas.
Luego, el proceso de corrección, que es tan fastidioso como imprescindible. Tengo que sentarme muchas veces frente al texto antes de comprender finalmente que sí, que definitivamente está terminado, que es una obra acabada. Es que todo lleva a algo como “terminado”, “acabado”, “culminado”, que remiten obligadamente a la muerte. La verdad es que creo que está terminado / “muerto” para nuestro proceso interior, donde primero fue un fantasma, después un monstruo todavía sin forma, proteico, en constante transformación, pero también opino que una vez terminado el poema comienza a transitar por su segunda vida, pues sólo existe en el mundo cuando alguien lo lee o escucha. Hacia ello va el proceso de corrección: es como afilar un instrumento, un arma; la corrección es el procedimiento que le da filo, lo que le permite entrar en el lector. La corrección despoja al poema de los ripios, las rémoras que retrasarían su ingreso al espíritu del lector. Por ello es tan importante su proceso. Las joyas en bruto no brillan demasiado.
2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?
Debe perseguir fundamentalmente dos cosas, aparentemente contradictorias, en realidad, completamente complementarias: la primera es su propia voz, para lo que debe afrontar un largo proceso de formación, que según sus capacidades, puede durar toda la vida o no terminar nunca, truncarse en algún punto de su desarrollo por la desaparición física del autor antes de que éste haya alcanzado el punto más alto de sus posibilidades expresivas. En este proceso, debe ir el autor en dirección al meollo, la médula de aquello que quiere expresar, despojándose sucesivamente de todo aquello que sea superfluo, a fin de adensar su voz, de condensar su expresión particular. Debe ir quitándole las máscaras a sus palabras, hasta que queden desnudas, o semidesnudas, mejor dicho, pues nunca llegamos a quitarnos la última careta, que es nuestro mismo yo, nuestro ficticio ser individual, esa superstición necesaria, sin la cual, efectivamente, desaparecemos en el conjunto de lo sí, de veras, existente. Pero para llegar allí, a esa vecindad, el autor debe tener la ayuda de otros autores que lo han precedido en el camino de la creación poética. Esto es, debe aprender a escribir poesía ahondando en lo que escribieron otros antes que él. No para copiar sus recursos expresivos, sino para comprender para qué sirven y cómo se manejan esos recursos expresivos; fundamentalmente, si su camino es bien atinado, para comprender las analogías entre los procedimientos posibles en la escritura poética, para tratar de organizarlos de un modo diferente y propio. En ese punto estará más cerca de lo que podríamos definir como su voz personal. Para ello, deberá adaptar unos y descartar otros; ya en ese proceso comienza a comprender y a ejercitar su arte; debe buscar las influencias, debe contrarrestar una con el hallazgo de otra; debe combinar varias, las que estime como más afines a su voz personal, en una sinergia única, que sólo a él le pertenecerá y será, desde luego, absolutamente reconocible ante la simple e inmediata lectura. No todo el mundo consigue algo así, pero creo que el faro hacia el que debe dirigirse queda allí, en esa dirección. Es un punto brillante en la absoluta oscuridad, pero es lo único que brilla adelante, con luz propia.
3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?
A comienzos de 2008, Peter Davis y Thomas Koontz, de la editorial Barnwood Press, de Seattle, Estados Unidos, publicaron el segundo tomo de “Poet´s Bookshelf”, un interesante volumen donde consultan a 100 poetas respecto de los libros que más influyeron en su formación. Tuvieron la gentileza de invitarme a participar junto a poetas como Robert Bly, David Shapiro, Alicia Ostriker, Dennis Schmitz y Reginald Sheperd, entre otros que aprecio y leo habitualmente y ello, además de ser un gran honor para mí, fue la ocasión de sistematizar un listado de esos libros y autores que me ayudaron desde sus obras a saber dónde buscar la mía, proceso en el que todavía sigo perseverando. Señalé entonces los 10 libros y autores que resultaron fundamentales para mi trabajo poético, pero ante su pregunta, reduciré a los tres más importantes mi listado y le diré por qué fueron tan fundamentales.
Thomas Sterns Eliot, “The Waste Land”: Desde mi primera lectura de The Waste Land, me atrajo el humor particularísimo de su autor, irónico hasta el sarcasmo, lo mismo que otro factor distintivo, su vanguardismo para la época en que fue escrito, tomando encuenta cómo su intelectualismo enfrentó la presencia de obras líricas de los alcances de las de Wystan Hugh Auden o Dylan Thomas, por ejemplo. También el hondo sentido religioso de sus versos me atrajo, pero pienso que fue la combinación de estos tres elementos, cómo cada uno de ellos potencia a los demás en The Waste Land, lo que me hizo sentir un profundo deseo de emular a Eliot, cosa que desde luego, no he logrado en absoluto. Sin embargo, tener presente que The Waste Land es una de las cumbres de la poesía universal alcanzada en el siglo XX me sirvió siempre como medida de comparación para discernir si un poema –mío o de otro- tenía más o menos kilates en su haber. Particularmente, de las cinco partes de The Waste Land, las que más captaron –y creo que para siempre- mi atención son dos: A Game of Chess y Death by Water. Posteriormente me impactó fuertemente Four Cuartets, donde el factor de la meditación religiosa se acentúa grandemente. Pese a que no soy un poeta religioso, la hondura abordada por Eliot me cautivó por lo que interpreté como un intento suyo de amalgamar el pensamiento religioso con la visión descarnada de lo contemporáneo para un hombre del siglo XX, del mismo modo que la escolástica intentara, en su tiempo, amalgamar las escuelas antiguas de la filosofía grecorromana con la convicción cristiana. Desde luego, creo que tanto los escolásticos como T.S. Eliot fracasaron en el intento, pero que éste tiene una grandeza tal que deja su impronta inevitablemente.
Dylan Thomas, "Poemas Completos": La figura del poeta y el hombre que fue Dylan Thomas es uno de los hitos señeros en mi poesía y además en mi vida personal. Fue quizás el menos literario de los poetas ingleses, según gustaba definirse a sí mismo, y ello porque no separaba –hasta las últimas consecuencias, como lo demostró cabalmente- su existencia como autor y como persona de los efectos de la aberración obligatoria de todo lo humano -ya en su época, la primera mitad del siglo XX- producida por la mecánica de un mundo que creamos –como cultura global- para destruirnos voluntaria/involuntariamente. Esto es, no se alienaba en literato célebre, pese a que era una de las figuras más importantes de la poesía inglesa de su tiempo, en esa sola condición de productor de bienes simbólicos a la que nos quiere reducir nuestro tiempo (que sigue siendo el suyo, pese al cambio de siglo), sino que sostuvo la última consigna a la que puede renunciar un poeta, la de administrador de uno de los sentidos posibles de la realidad –para mí la mejor, pero soy parcial- aun más allá del límite de sus fuerzas. Fue un revolucionario no sólo en poesía, sino en su correlato más inmediato: la vida misma del sujeto poeta. No era el borracho que todos creyeron imitar como si consiguieran algo de su talento y un gramo de lo que estaba diciendo. Fue la coherencia del sujeto que, enfrentado al mundo de la modernidad, siguió la batalla que se originó muy lejos, cuando un modelo de hombre que se resistió a morir enfrentó al modelo de hombre que parecía triunfante una y otra vez, y siguió peleando y muriendo, ignoto o célebre, para decir “sí, todavía era posible, yo fui la prueba viviente de que, en mi tiempo, todavía era posible”.
Sus Collected Poems fueron una revelación para mí e, indudablemente, la influencia de Thomas en mi poesía, particularmente en mis primeros libros editados, fue muy marcada. Me atrajeron irresistiblemente sus oscuridades y la magia inmediata de sus versos, su capacidad de condensar significados complejos y diversos en una sola línea y, a la vez, hacer que el verso fuera tan compacto y exacto, tan preciso. Hasta conocer la poesía de Dylan Thomas, yo había buscado –sin saberlo- algo que aunara complejidad conceptual y potencia expresiva, diversidad y exactitud, elementos a los que juzgaba antitéticos e imposibles de combinar. Leyendo a Thomas fue como comprendí no solamente en qué consistía mi búsqueda como autor primerizo, sino también que aquello que buscaba era posible.
La carnalidad presente en su poesía está indisolublemente unida a una poderosa pulsión interior, expresada con una riqueza extraordinaria, atenta a revelar el significado cósmico de la existencia humana, al mismo tiempo que sus miserias, sus oscuridades y su fragilidad constitutivas, el misterio profundo de la mortalidad inmanente de la conciencia.
Me causó una impresión muy potente su poesía, pero también algunas de sus afirmaciones respecto del trabajo que realiza un poeta; por ejemplo, cuando él dice: “la poesía debe ser tan orgiástica y orgánica como la cópula, divisoria y unificadora, personal pero no privada, propagando al individuo en la masa y a la masa en el individuo”. Formalmente, Dylan Thomas es, sin discusión posible, un maestro de los juegos de palabras, un experto en aliteraciones y en las más complicadas combinaciones de la métrica, así como en la invención de neologismos (emplea, entre otros recursos, sustantivos que se transforman en verbos). Erróneamente, se le han atribuido a Thomas deudas con los surrealistas y hasta los simbolistas, cuando su obra lleva decididamente hacia los metafísicos ingleses del siglo XVI y XVII y a William Blake y John M. Hopkins. En Thomas encontré –entre muchos otros hallazgos- una síntesis entre la libertad de la metáfora y su ceñida funcionalidad al meollo del poema.
Poemas de Thomas como "Should Lanterns Shine", "Hold Hard, These Ancient Minutes in the Cuckoo´s Month", "In the white giant´s thigh", "Fern Hill", "Poem in October", "Do not go gentle into that good night", "Elegy", "In country sleep" o "Poem on his birthday", "O Make me a Mask" o "If my Head Hurt a Hair´s Foot" fueron algunos de los más importantes para mí en esa etapa de mi vida como autor novel.
El regalo más valioso que me dejó la frecuentación de Mr. Thomas y sus Collected Poems fue, sin duda, la comprensión de los alcances de la metáfora funcional bien entendida, la noción de que, en poesía, se debe intentar expresar dos cosas en una, tres en dos y, también, uno de los mejores consejos que un poeta de su estatura podía darnos a todos los primerizos. “fundamentalmente, amen las palabras”.
Jorge Luis Borges, “Poemas Completos”: Al leer a Borges, particularmente sus poemas y cuentos, sentí la enorme fuerza de su escritura, que continúa la mejor tradición literaria occidental. Sin duda, es el mayor escritor de mi país, pero también uno de los fundadores de la literatura del siglo XX. Percibí claramente, en mis lecturas de la década del 80, cómo Borges lleva sus temas –inclusive los clásicamente argentinos- a una estatura universal, en un complejo ir y venir de lo particular a lo general, de lo característico de un individuo a lo que afecta a todos, refiriéndose continuamente a ese puente, revelándolo: es por ello que en sus personajes cualquier hombre, de cualquier época, puede reconocerse. Más allá de la mera situación temporal y espacial, los personajes borgeanos resultan intercambiables con otros de su posteridad o su anterioridad y aquella capacidad de su escritura me fascinó. De la misma manera que su concepción de la literatura, me fascinó su extraordinaria exactitud y precisión expresiva, en lo que hace a los aspectos formales de la escritura. En este último sentido, me atrajo enormemente esa imposibilidad de quitar una sola palabra –una acepción de una palabra- de un poema o un cuento de Borges sin desmoronarlo. No tardaría en convertirse en una fuerte influencia dentro de mi obra, la primera buscada, a diferencia de todas las anteriores, que vinieron a mí de un modo más casual, al ritmo de lecturas no siempre metódicamente organizadas.
Una década después de la muerte de Borges en 1984, encontré unas palabras de Harold Bloom que definen para mí muy exactamente la importancia de Borges: “…Borges emerge claramente como el único autor del siglo veinte que resulta más emblemático de los valores estéticos aún esenciales para la supervivencia de la literatura canónica universal. Ocupa esta posición, no sólo con respecto a las letras hispanoamericanas, sino a toda la literatura occidental y quizás, incluso, a la literatura mundial. No es exagerado decir que Borges, consciente y exitosamente, encarnaba la ´idea´ misma de literatura tradicional. A través de su obra, llegó a representar a Dante y a Shakespeare, a Cervantes y a Joyce, para nuestra era que, en el último tramo del siglo, sigue buscando detrás de su estandarte. Borges se volvió sinónimo de romance literario: es hoy su Caballero de la Triste Figura. Como Don Quijote, no puede ser derrotado, al menos no en su propio reino (Harold Bloom, El Canon Occidental).
Qué recibí de Jorge Luis Borges y estimo que quedó en mi obra: su concepción de la literatura como una tradición ininterrumpida, caracterizada por ejes conceptuales entre los que ocupa un sitial fundamental el de la equivalencia de lo individual con lo general, y la exigencia de una marcada precisión expresiva. Fue muy importante para mí en mis primeros libros y posiblemente la influencia de la que más me costó despegarme posteriormente, como le sucedió a muchos poetas y narradores argentinos de mi generación.
El poeta, narrador, ensayista y dramaturgo argentino Luis Benítez nació en Buenos Aires el 10 de noviembre de 1956. Es miembro de la Academia Iberoamericana de Poesía, Capítulo de New York, Estados Unidos, con sede en la Columbia University; de la World Poets Society (Grecia); de la International Society of Writers (Estados Unidos); del Advisory Board de World Poetry Press (India), Miembro Honorario de la sección argentina del IFLAC (International Forum for a Literature and a Culture of Peace, Israel) y de la Sociedad de Escritoras y Escritores de Argentina. Ha recibido el título de Compagnon de la Poèsie de la Association La Porte des Poétes, con sede en la Université de La Sorbonne, París, Francia. Sus 25 libros de poesía, narrativa, ensayo literario y teatro se publicaron en Argentina, Chile, España, Estados Unidos, Italia, México, Uruguay y Venezuela. E-mail: lben20032003@yahoo.com.ar
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