20 maio 2020

CIDADE IMAGINÁRIA


















a busca principia e se finda no coração
na longa jornada, dia a dia, se oficia
e ao final nos brinda com a claridão

no meio do caminho de minha vida
viajante que sou por sendas selváticas
ouço falar de cidade tão querida

com dadivosos tesouros e benefícios enfáticos
sua existência - nutriente da procura
leva-me adiante em ofício tão errático

encontrá-la, amacia o ferro-vida que perdura
habitá-la, ultrapassa o mundo-lida já tão lábil
desposá-la, é a felizcidade em tessitura

se até aqui nada me havia sido fácil
agora verei do que realmente o laço é feito
em nada me adiantou ter sido hábil

tal estrada abriga horrores em seu leito
terríveis desertos, terra inóspita e dardejante
falta-me ar, me dá sede, a derrota arde-me no peito

corpo em espírito antes tão flamejante
arrefece exausto e amedrontado foge
- chega de tempestades e sol escaldante!

queria eu estar nesta hora que consome
a reviver instantes da memória
lugares que vivi e o deleite que me some

porém, o sábio mestre da vitória
com hábeis meios de uma melodia
soa o canto que nos leva à possível glória

aquele que conhece o caminho - o guia
presença que em si é a ênfase do tesouro
disciplina o ser e as almas fugidias

em meio ao sofrimento vislumbro o ouro
a imensidão do desejo em seu oásis
a alegria reluzente, as dores em sumidouro

o cansaço esvanece - um desenho a lápis
os contornos da dor desaparecem na fumaça
tudo esqueço, retornar ou desistir – jamais!

sob meus pés a exuberância se enlaça
revela-se íntegra uma cidade tão fantástica
o paraíso em delícias nos perpassa

o mestre, com sua voz sonora e dramática
diz que não, estávamos no meio da jornada
a cidade é imaginária, pura névoa carmática





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