08 maio 2020

QUARENTENA EM DUAS ESTROFES




por Leopoldo Ponce e Edson Cruz

A voz do Serafim fala conosco nestes dias
Pesa sobre tudo, como um lenço retumbante
Planícies se abrem nas têmporas
O tempo não existe, só a experiência
E a imanência constante do fim de algo que não se identifica
Que era até então chamado realidade.

De nada nos adiantou a visão privilegiada do possível
O instante pesaroso do que era o real nos consome
Como se fôssemos meras ondas e/ou partículas
Devoradas pelos buracos negros espalhados
Por uma pele cósmica, eterna e insone.



[imagem: obra “Meteoro”, de Leopoldo Ponce]


Leopoldo Ponce, nasceu em 1976 em Quito, Equador. Vive em São Paulo desde 1991. Desde 1998 desenvolve práticas e investigações artísticas que partem de um interesse nas mútuas influências entre ser humano e habitat, numa tentativa de articular narrativas e rastrear indícios de uma mneme mítica, no acúmulo de derrelitos da vida cotidiana. Outras obras, aqui: http://retornodeutopia.tumblr.com 







4 comentários:

  1. Obrigada por serem alento.
    A arte que inspira, acalenta, inquieta e cura.
    Beijos saudosos nos dois.

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  2. Traduzir em palavras tão certeiras, estas sim identificáveis, nos faz acreditar na beleza do humano.
    Gratidão!

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  3. Muita beleza e Lucidez nessas palavras! Moveu e me afetou por aqui. Parabéns!!!

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