29 setembro 2007

Tartaruga de um só olho



para se traçar um simples gesto
não basta armar-se de vontade
a luz mente e na direita pode estar o sestro

é preciso saber esquecer a própria idade
pois nas profundezas de um mar escuro
até o sândalo não conduz à claridade

pode-se viver por muito tempo obscuro
a tatear diante de si o tal anseio
feito criança na noite inseguro

a almejar o tão amado enleio
sem nenhum ontem em círculo vazio
e um amanhã que traga algum esteio

pode-se esperar milanos o tronco arredio
e súbito vê-lo passar com enganosa visão
ou tentar alcançá-lo feito gato no cio

como um quelônio sôfrego a exaustão
e deparar-se com mais um logro desvario
o sândalo na onda indo noutra direção


[Poema inspirado em uma parábola budista de mesmo nome]

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