20 abril 2009

Paulo de Toledo à queima-roupa




1) O que é poesia para você?

Poesia é a arte de transformar signos simbólicos em signos icônicos (sempre no sentido peirceano).

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

O novel deve tentar descobrir as características que tornam os melhores poetas melhores do que os não-melhores-poetas. Depois de descobertas essas características, ele deve tentar descobrir uma forma de incorporar essas características de maneira a parecer que essas características sejam exclusivas dele. De que maneira? Não sei. Ainda estou tentando descobrir.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Os poetas e livros citados a seguir referem-se àqueles que serviram de base para a minha formação.

Os poetas: Fernando Pessoa, e. e. cummings e Augusto de Campos.

O Pessoa foi o poeta que primeiro causou em mim o deslumbramento poético. Quando li pela primeira vez coisas como o poema “Aniversário”, só consegui pensar em virar poeta.

Já em cummings e Augusto, encontrei um aspecto lúdico que tem muito a ver com o meu temperamento e biografia. Pra quem foi alfabetizado lendo gibis da Marvel, as Letras devem necessariamente ter cor, sabor, movimento etc. O preto no branco nem sempre dá conta do que rola na cabeça e no coração.

Os textos: ABC da Literatura (Ezra Pound), Understanding Media (Marshall McLuhan) e Semiótica e Literatura (Décio Pignatari).

Só quando descobri o ABC, é que comecei realmente minha alfabetização literária. A lição poundiana me possibilitou ter uma atitude crítica com relação a todo e qualquer paideuma — ou coisa que o valha—, inclusive aquele elaborado pelo magnífico autor dos Cantares.

McLuhan me revelou as engrenagens das coisas. Ler Marshall McLuhan foi como ingressar numa escola de relojoaria. Com ele, pude entender melhor as especificidades da literatura em relação às outras formas de arte. E, principalmente, pude compreender melhor a diferença entre poesia e prosa, entre poesia oralizada e poesia escrita, entre som e letra.

Semiótica e Literatura foi um dos livros mais importantes da minha vida. Posso dizer que ele, juntamente com a leitura posterior dos escritos peirceanos, foi o hardware que permitiu que eu pudesse “rodar” todos os softwares artísticos e poéticos com que me deparei vida afora.



PAULO DE TOLEDO (Santos/SP, 1970) é poeta. Publicou 51 Mendicantos (Ed. Éblis, 2007, Porto Alegre). Venceu o V Projeto Nascente (USP/Ed. Abril). Tem poemas, contos, traduções e ensaios em vários sites de arte e literatura e nas revistas Babel, Sítio, Coyote, Cult e nos jornais Augusto, Casulo e Correio das Artes. Participou da edição crítica de "Catatau" (ed. Travessa dos Editores), obra de Paulo Leminski. Alimenta um blog de estimação: http://paulodtoledo.blog.uol.com.br E-mail: paulodtoledo@uol.com.br

18 abril 2009

Jairo Pereira à queima-roupa




1) O que é poesia para você?

Até tempos atrás sustentava que poesia era produto fenomênico do pensamento, extrato de experiências cósmicas... extrema liberdade das linguagens. Hoje fujo de qualquer definição da dita.
Na verdade, poesia é mistério apreendido por um milagre das linguagens. Nem sempre acontece, mas com técnica (tipo um método subjetivo detido pelo verdadeiro poeta) o milagre tende a se repetir inúmeras vezes.
Poesia supera a filosofia na inauguração dos novos espaços do pensar, que o próprio visionarismo possibilita. Poesia, acata a dinâmica das linguagens que sempre se renovam, e atrás do poeta devem correr antropólogos, filósofos, exegetas e toda sorte de pensadores.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Considerar a poesia quase como um ofício, do qual não se pode esperar retorno financeiro. É missão na vida do sujeito criador. Missão de fé e descoberta das linguagens. Ninguém se mantém poeta por que quer, mas algo misterioso o faz poeta pra toda vida.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Angusto dos Anjos, me marcou com sua poesia forte. Não pela forma, mas sempre pelo conteúdo.

Edgar Allan Poe, pelo poema “O corvo” que lia e relia abismado.

Manuel Bandeira q. me emocionou quando li na escola o poema “A última canção do beco”.

Os poetas que cito, apenas me chamaram a atenção pra poesia, numa época em que sequer escrevia poemas, dos 17 aos 21. Comecei a escrever em poesia somente aos 24 anos, embora já tivesse alguns manuscritos bem amadores.


jAirO pEreIra. Nascido em 23/03/56 em Passo Fundo-RS. vive e trabalha em Quedas do Iguaçu-PR há mais de vinte anos. editou sete livros, sendo: O artista de quatro mãos – contos - ; O antilugar da poesia – manifesto poético - ; Signo de minha prática – poesia - ; Meus dias de trabalho – poesia - ; O abduzido – romance/ensaio e o livro-poema Capimiã pela Editora Medusa, Coleção Ruptura Réptil e ESPIRITH OPÉIA, Editora dos Recusados, poesia. Tem ensaios e artigos publicados em várias revistas e jornais (revistas escritas e eletrônicas como TANTO, EM TEMPO, A ARTE DA PALAVRA, BLOCOS, VERBO 21, COYOTE, PALAVREIROS,ONTEM CHOVEU NO FUTURO, REVISTA ZUNÁI, CRONÓPIOS, CAPITU, as últimas três de São Paulo e outras.
E-mail: jairopereiraadv@hotmail.com
Site: www.jairopereira.com.br

16 abril 2009

Affonso Romano Sant'Anna à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Poesia é o espanto transverberado.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

A mesma coisa que qualquer iniciante em qualquer matéria ou profissão. Iniciar sempre, até o fim. Ou, no caso da poesia, desconfiar dos que oferecem a receita da “verdadeira” poesia.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

O rei Davi, salmista
Camões, o lírico
Drummond

A Bíblia
Cartas e ensaios de Mário de Andrade
Introdução à metafísica - Heidegger



Affonso Romano de Sant’Anna: Um dia dizendo seus poemas no Festival Internacional de Poesia Pela Paz, na Coréia (2005), ou fazendo uma série de leituras de poemas no Chile, por ocasião do centenário de Neruda ( 2004), ou na Irlanda, no Festival Gerald Hopkins(1996), ou na Casa de Bertold Brecht, em Berlim(1994), outro dia no Encontro de Poetas de Língua Latina(1987), no México, ou presente num encontro de escritores latino-americanos em Israel(1986), ou participando o International Writing Program, em Iowa(1968), Affonso Romano de Sant’Anna tem reunido através de sua vida e obra, a ação à palavra . Nos anos 90 foi escolhido pela revista "Imprensa" um dos dez jornalistas que mais influenciam a opinião pública. Em 1973 organizou na PUC/RJ a EXPOESIA, que congregou 600 poetas desafiando a ditadura e abrindo espaço para a poesia marginal; foi assim quando em 1963, no início de sua vida literária, tornou-se um dos organizadores da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte. Com esse mesmo espírito de aglutinar e promover seus pares criou, em1991, a revista “Poesia Sempre” que divulgou nossa poesia no exterior e foi lançada tanto na Dinamarca, quanto em Paris, tanto em São Francisco quanto New York, incluindo também as principais capitais latino-americanas. Atento à inserção da poesia no cotidiano, produz poemas para rádio, televisão e jornais. Tendo vários poemas musicados (Fagner, Martinho da Vila), foi por essa e outras razões convidado a desfilar na Comissão de Frente da Mangueira na homenagem a Carlos Drummond de Andrade, em 1987. Apresentou-se falando seus poemas, em concerto, ao lado do violonista Turíbio Santos. Tem também quatro CDs de poemas: um gravado por Tônia Carrero, outro comparticipação especial de Paulo Autran, outro na sua voz editado pelo Instituto Moreira Salles e o mais recente outro pela Luzdacidade, com a participação de atrizes e escritoras. Seu CD de crônicas, tem participação especial de Paulo Autran. Escreveu dezenas de livros de ensaios e crônicas. Como cronista, aliás, substituiu Carlos Drummond de Andrade no “Jornal do Brasil” (1984). E-mail: santanna@novanet.com.br

14 abril 2009

Reforma da Lei Rouanet

Reproduzo abaixo o texto que o poeta Ademir Assunção postou em seu blogue e que, para o bem dos escritores, deverá repercutir na rede e em outras instâncias. A discussão e a ação dos autores é importante, pois, o que está em jogo é se a Literatura vai ser considerada ou não como uma arte literária ou simplesmente como um resultado das edições em livros. Temos que interferir!


É COM VOCÊS, ESCRITORES

Não sei se todos estão acompanhando. Uma nova lei, que substitui a Rouanet (mas não acaba com ela, ao contrário do que os barões da cultura dizem) vai ser enviada ao Congresso Nacional. Para votação. A pressão contrária vai ser brutal. Por quê? Há muita grana envolvida na parada. E os barões da cultura e as grandes empresas não querem perder a mamata de fazer marketing privado com dinheiro público.

A nova lei propõe a incrementação do Fundo Nacional de Cultura. Na minha opinião, é um mecanismo que vai favorecer os independentes. E os barões da cultura não querem isso. O texto da nova lei está disponível para consulta pública no site do Ministério da Cultura. Todo mundo pode opinar (de preferência, com propriedade, sabendo o que está falando).

No nosso caso, dos ESCRITORES, ainda há uma distorção. Continuam nos colocando no guarda-chuva do “Livro e Leitura”. Eu cansei de falar contra isso nas reuniões que participei. Uma bosta isso. Livro é livro, é o produto. Literatura é o que vem antes: a arte literária. Livro é o produto industrial das editoras. Literatura pode se manifestar em outras formas: revistas, sites, cds, cds-rom, jornadas literárias, encontros de escritores com leitores, enfim, uma infinidade de outras coisas que não se resumem ao livro.

A nova lei cria o Fundo Setorial das Artes que inclui, repare bem, teatro, circo, dança, artes visuais e música. Reparou? Literatura não está incluída aí, como arte. Eu estou cansado de bater na mesma tecla. Estou também sem tempo (preciso batalhar minha própria sobrevivência). Mas sugiro que todos os escritores que ainda têm alguma consciência façam uma coisa simples: entrem no site no Minc, sigam ao link da consulta pública da nova lei e exigam que a literatura seja considerada como uma arte. Que ela saia do guarda-chuva “livro e leitura” e passe para o Fundo Setorial das Artes. Só assim, a criação literária poderá receber recursos públicos, justos, através de editais públicos, e não sob a (má) vontade de um gerente de marketing de uma grande empresa (que nunca está interessado num projeto literário).
Depois, não adianta espernear quando barões da cultura surgirem com projetos mirabolantes. A oportunidade é agora. Se mexam. Todos os outros setores estão se mexendo. O link do Ministério da Cultura é esse aqui: http://www.cultura.gov.br/site/ À direta no site você vai ver de forma bem visível: Reforma da Lei Rouanet. É ali.

Ademir Assunção é poeta e jornalista, autor dos livros, entre outros, LSD Nô, Zona Branca e Adorável Criatura Frankenstein e do cd Rebelião na Zona Fantasma. É um dos editores da revista Coyote. Blog: http://zonabranca.blog.uol.com.br
Site: http://zonafantasma.sites.uol.com.br E-mail: zonabranca@uol.com.br

12 abril 2009

O culto ao amador e aos amantes



A reação começou há algum tempo. E vai gerar muita discussão, polêmica, defesas e táticas de guerra.

Na Ilustrada deste sábado (11/04/2009) podemos conferir a “crítica” de colunista da Folha sobre o livro de Andrew Keen, O culto do amador, recém-lançado no Brasil pela Jorge Zahar. Keen, que foi professor da universidade de Massachusetts e de Berkeley (EUA) e um dos pioneiros do Vale do Silício, já se tornou figurinha carimbada com suas opiniões medrosas e amedrontadoras que vaticinam o fim de nossa cultura se a liberdade e a facilidade da web 2.0 continuar com os seus milhões de blogueiros e “pseudo-editores” gerando e postando conteúdos e informações na Net. O subtítulo de seu livro em inglês já diz tudo: “como a internet de hoje está matando a nossa cultura”.

Você pode acompanhar e conhecê-lo mais acessando o seu blog (sim, claro, ele também bloga), http://andrewkeen.typepad.com/.

O colunista [João Pereira Coutinho], em sua “crítica”, não deixa de se colocar e tomar partido (pois o texto está sem aspas...): “A internet, e o culto do amadorismo que ela promove, ameaça as instituições culturais que fizeram o nosso mundo. Jornais, música, literatura ou cinema estão sendo assaltados por milhões de internautas que não respeitam os direitos autorais e roubam conteúdos sem um pingo de vergonha. Sem falar do resto: exércitos de blogueiros em pijama que acreditam e professam um radical igualitarismo de opiniões. Na cacofonia da internet, um Ph.D. de Harvard, que passou os melhores anos da sua vida enfiado em bibliotecas, não tem mais valor intrínseco do que um autodidata adolescente, que plagia ou inventa na cave do seu subúrbio. Será possível suportar este assalto?”

O mesmo jornal já havia publicado uma entrevista com ele, Keen, em 2007. Se você tiver acesso ao UOL ou a Folha poderá conferi-la aqui. Nela ele diz que “Há um legado hippie na filosofia libertária da blogosfera, no desprezo à autoridade, à mídia tradicional. Acho que a autoridade do Estado, da mídia, são coisas que devemos prezar, porque têm valores significantes que, se minados, criariam a anarquia. A rejeição da autoridade vista nos blogs não é progressista, é anarquista.”

Para mim é justamente este o ponto de inflexão e de possibilidade inovadora gerada pela Net — pelos sites e pelos blogues. Principalmente, em se tratando de Cultura. São vozes alternativas e não viciadas que, justamente por não se afinarem ao establishment, poderão romper paradigmas e criar caminhos novos e insuspeitados.

Os blogues surgiram em 1999 e hoje estão longe de serem simples diários umbigóides e sem interesse geral. Estima-se que existam mais de 10 milhões de blogues na rede e a cada instante milhares de novos blogues são criados. O crescimento é assustador e não pode ser ignorado. E não está sendo. A reação da mídia tradicional toma corpo e desloca-se para o campo das idéias, e das noções de autoria/autoridade e de direitos.

Já houve um debate sobre o livro no Prosa Online. Confira.

O jornal O Estado de S. Paulo, também, já faz parte da história deste confronto com sua campanha que “insinuava” serem os blogueiros meros macacos. Veja aqui.

Acabo de ler o livro de Hugh Hewitt, BLOG – Entenda [entendendo] a revolução que vai mudar seu mundo. Esperava mais, bem mais... No entanto, para quem se preocupa com a questão, ou está no meio dela, é um livro que precisa ser lido. O cara é um republicano autodenominado de centro-direita, professor de Direito na Chapman University e já foi apresentador de TV e agora de rádio.

Quando escreveu o livro, havia em torno de quatro milhões de blogues na rede e ele conta, de seu ponto de vista e de outros blogueiros, a invasão dos blogues na “seara da política e do jornalismo”. A partir daí, os blogues e blogueiros começaram a chamar atenção e, alguns, a serem mais respeitados do que os comentaristas e jornalistas da mídia tradicional.

Apesar de todo papo republicano e antiesquerdista (pré-Barack Obama, que usou como ninguém a Net e a blogosfera) de Hewitt ele acerta o alvo quando diz: “O que permitiu que Lutero fosse bem-sucedido em sua reforma quando outros tinham fracassado? O que permitiu a Calvino moldar o pensamento de todas as gerações que vieram depois? A imprensa. Em 1449, Gutenberg amplificou a voz humana de tal modo que ela pôde ser ouvida em todo o mundo. Ele forneceu os meios pelos quais uma pessoa pode se comunicar com as massas sem a interferência das estruturas institucionais. Finalmente os indivíduos podiam falar, e ninguém podia silenciá-los.
Para a mídia hegemônica, estamos ao mesmo tempo em 1449 e 1517.”

Em outro momento do livro ele diz: “Os blogs são feitos de velocidade e confiança e a mídia tradicional hegemônica é lenta demais e tem confiança de menos.”

Em outras palavras, o que concluo baseado em meu próprio trabalho e incursões na Net é que a autoridade do Estado, da mídia, das grandes corporações, das editoras, da Academia, não deve ser menosprezada e sim levada em consideração na “cruzada” por uma nova cultura mais aberta, mais solidária (com o reconhecimento e valorização das inúmeras diferenças) e “verdadeira” — com consciência e sem ingenuidade. Uma Cultura onde os fundamentos possam ser questionados e, quiçá, redirecionados. Se queremos um novo mundo, precisamos interferir nele. Conhecer e utilizar suas amplas ferramentas.

10 abril 2009

Ana Elisa Ribeiro à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Eu não sei bem o que é, mas certamente é algo necessário em minha vida. A poesia é um aspecto das coisas que só alguns conseguem transformar em texto. Talvez isso. E esse texto precisa ter certas características. Umas delas são óbvias, formais; outras são mais sutis. João Cabral de Melo Neto dizia que o poeta sabe quando o poema está pronto porque o texto faz um clique, algo parecido com o clique dos estojos quando se fecham. O pulo do gato da poesia, para o poeta, é esse clique. Para o leitor, o texto precisa provocar um outro clique desses.


2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Ele deve perseguir a precisão. Não é engraçado? Geralmente, associamos a poesia à subjetividade, à abstração. Essas coisas têm um quê de vaguidão. Mentira. O poema precisa ser exato, justo. Não pode ter palavra demais.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Não são exatamente escolhas. São cliques. A gente lê um poeta, um dia, e calha de ele fazer clique na gente. Foi assim com Paulo Leminski, que me deixou perplexa por uns dias. Conheci os poemas dele no colégio. João Cabral de Melo Neto me deixava perplexa de um outro jeito. E, por fim, a Adília Lopes, que tem uma ironia que me causa muito estranhamento.



Ana Elisa Ribeiro nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, em 1975. Graduou-se em Letras, língua portuguesa, e desenvolve tese de doutoramento sobre a formação de leitores de textos na Internet. Publicou Poesinha (Poesia Orbital, 1997) e Perversa (Ciência do Acidente, 2002), além de minicontos e poemas em revistas e jornais, no Brasil e em Portugal. É cronista do site Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com). Tem dois livros prontos para serem publicados: Meu amor é puro sangue, de contos, e Portáteis, de poemas. E-mail: escrevaquerida@gmail.com

08 abril 2009

Anibal Beça à queima-roupa




1) O que é poesia para você?

A poesia se há uma função para ela, é a de ter o poder de transformar o irreal no real e o real no imaginário. Tem o poder de humanizar um mundo que está zangado consigo. Este mundo em que vivemos em meio a tanta barbárie.
Creio no poder da poesia, que me dá razões para ver adiante e identificar um clarão de luz. Eu sou um trabalhador de metáforas, não um trabalhador de símbolos.
Eu considero a poesia uma medicina espiritual. Posso criar com palavras o que não encontro na realidade. É uma tremenda ilusão, mas positiva: não tenho outra ferramenta com que encontrar um sentido para minha vida ou para a vida daqueles do meu chão (vide “Filhos da Várzea”). Tenho o poder de outorgar-lhes beleza por meio de palavras e plasmar um mundo belo expressando também sua situação. No feio também há beleza. Tudo é matéria para o poema.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Ler muita poesia. No café, no almoço, no jantar. Ler sobre poesia. Imitar os mestres num primeiro momento. Depois saber cortar o umbigo. Poderia sugerir algumas leituras como pré-requisito: A poética de Aristóteles, Poesia de Massaud Moisés, As Vanguardas e seus manifestos de Gilberto Mendonça Teles, Poesia experiência de Mario Faustino, Poesia de T.S. Eliot, ABC da literatura e poesia Ezra Pound, Cartas a um jovem poeta de Rainer Maria Rilke, “Itinerário de Pasárgada” de Manuel Bandeira, entre muitos outros.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Mario Quintana, Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Jorge de Lima. O primeiro, pela descoberta da poesia, pela criatividade e por saber manejar com o mínimo um vasto universo poético. O segundo, pela musicalidade, pelo ritmo do verso, aliados às imagens, às ideias e pensamentos de modo singular O terceiro, pelo lirismo do cotidiano, das coisas banais, tratados na simplicidade com maestria. E por último, não nessa condição, senão o primeiro dos primeiros, pela genialidade.

"O modernismo e três de seus poetas", "Razão do poema", "A volta do poema", "O fantasma romântico" ensaios críticos de José Guilherme Merquior; "Signo e Sibila" e os dois volumes de "Ensaios escolhidos" de Ivan Junqueira e "Poesia e desordem", "Romantismo", "João Cabral - a poesia de menos" e "Escritos sobre poesia e alguma ficção", de Antonio Carlos Secchin. Pelo rigor, pela atualidade, pela discussão de idéias centradas na modernidade sem perder o seu vínculo com a tradição.


ANIBAL BEÇA é o nome literário de ANIBAL AUGUSTO FERRO DE MADUREIRA BEÇA NETO, poeta, tradutor, compositor, teatrólogo e jornalista, nasceu em Manaus, na Amazônia brasileira, em 13 de setembro de 1946. Trabalhou como repórter, redator e editor, em todos os jornais de Manaus. Foi diretor de produção da TV Cultura do Amazonas, Conselheiro de Cultura, consultor da Secretaria de Cultura do Amazonas. Vice-presidente da UBE-AM União Brasileira de Escritores, presidente da ONG “Gens da Selva”, onde atualmente exerce o cargo de vice-presidente, bem como de presidente do Sindicato de Escritores do Estado do Amazonas e presidente do Conselho Municipal de Cultura;.é membro da Academia Amazonense de Letras. Neste ano de 2009, completa 43 anos de atividade literária e 45 de atuação na música popular, tendo vencido inúmeros festivais de MPB por todo o Brasil. Em 1994 recebeu o Prêmio Nacional Nestlé, em sua sexta versão, com o livro "Suíte para os Habitantes da Noite", concorrendo com 7.038 livros de todo o Brasil.
Ao lado de seus afazeres literários e musicais, tem se destacado em prol da causa da integração cultural latino-americana, seja traduzindo escritores de países vizinhos, ou participando e organizando festivais e encontros de poesia. Representou o Brasil no IX Festival Internacional de Poesia de Medellín, no III Encontro Ulrika de escritores em Bogotá e no VI Encuentro Internacional de Escritores de Monterrey. Sua produção poética tem sido contemplada em importantes revistas: “Poesia Sempre” (Brasil), “Casa de las Américas” (Cuba), “Prometeo” (Colômbia), “Ulrika” (Colômbia), “Revista Armas & Letras” da Universidade de Nuevo León ( México), “Tinta Seca”( México), “Lectura” (Argentina), “Frogpond Haiku”( Estados Unidos), “Amazonian Literary Review” (Estados Unidos), “Mississippi review” (Estados Unidos).

LIVROS PUBLICADOS: Convite Frugal, Edições Governo do Amazonas (1966), Filhos da Várzea, Editora Madrugada (1984), Hora Nua, Editora Madrugada (1984), Noite Desmedida, Editora Madrugada (1987), Mínima Fratura, Editora Madrugada (1987), Quem foi ao vento, perdeu o assento, Edições Muraquitã (teatro, 1988), Marupiara – Antologia de novos poetas do Amazonas, Edições Governo do Amazonas (organizador, 1989), Suíte para os habitantes da noite, Paz e Terra (1995), Ter/na Colheita, Sette Letras (1999), Banda da Asa – poemas reunidos, Sette Letras, (1999), Ter/na Colheita, Editora Valer (2006, segunda edição), Noite Desmedida, Editora Valer (2006, segunda edição), e Folhas da Selva, Editora Valer (2006). Chá das quatro, Editora Valer (2006) Águas de Belém, Editora Muhraida(2006); Águas de Manaus, Editora Muhraida( 2006). PALAVRA PARELHA reunindo os livros Cinza dos Minutos, Chuva de Fogo, Lâmina aguda, Cantata de cabeceira e Palavra parelha, Edições Galo Branco, Rio, 2008.

CD – MÚSICA: ANIBAL BEÇA – O Poeta solta a voz (2001) e DUAS ÁGUAS – 2006
E-mail: anibal.beca@vivax.com.br

06 abril 2009

Tavinho Paes à queima-roupa


Crédito: PAULO BATELLI
do work-in-pro FACES::TRANSFORMATIONS


1) O que é poesia para você?

...no meu caso específico, muito além do trato com palavras de uma língua que quem a usa deveria amar, posso dizer categoricamente que a poesia foi meu ganha-pão desde anos 70 e 80 ... portanto, apesar de me confundir com platônicos desesperados que de Homero não ouviram o recado, seria politicamente correto afirmar que, a poesia (se já não foi ou se ainda será), é a máquina da minha vida ... mas, no caso especificamente técnico da pergunta, a poesia pode ter sido aquela luz que projetou a sombra do homem no fundo de uma caverna, variando como os ventos que correm o mundo, entre a vida arcaica e a morte moderna ... acredito que, sem a poesia, o arco-íris não teria sete cores, as flores não exalariam odores, as borboletas não sairiam de seus casulos, o zero seria nulo e os frutos que sucedem uma flor num pomar, não conheceriam sua forma evoluída nem suas propriedades vitais contra a fome que, no homem, é capaz de matar ... se a poesia não existisse, as musas dos poetas não seriam lindas e amar alguém seria tão instintivamente triste quanto um deserto sem oásis ou um luar sem a possibilidade de um eclipse ... se para alguns contemporâneos meus, a poesia tem sido água que mata a sede e, em alguns casos clinicamente mais graves, o ar que ajuda o coração bombear sangue no corpo, para mim, a poesia é como o feedback do sinal de um sonar; e, muito embora, para alguns, seja motivo de estudos profundos, capazes de determinar o motivo da morte de um defunto, a poesia é a morte que em vida se persegue cada vez que se a evita ... quem sabe o que é a poesia, sabe que, pelo Hades, a carona na barca de Carontes é para todos, mas o passeio é para os poucos que souberem admirar a paisagem que, incontinente, desfila em ambas as margens...

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

... primeiro, perceber no fundo da alma que não é (nem nunca será) um iniciante; mas, um iniciado num saber esotérico onde deus, seja católico, muçulmano ou judeu, não lhe pedirá que pague nenhuma promessa nem lhe oferecerá nenhum milagre ... segundo, ao contrário do que atualmente lhe impõe o mercado (este transcedental demônio do mundo pós-moderno e da democracia neo-liberal dos poetas de Chicago), não deve ignorar o olhar da Medusa que chamamos de Tradição (a qual, se for possível, pode-se, de forma original, desmontar) ... nem abstrusamente quebrar, como um rebelde sem causa tão cheio de liberdades que à liberdade não tenha nada a declarar, o pacto inter-geracional que nos insere no voltaico fluxo da história e faz com que a presença dos poetas (e a de seus versos) possa ser digna das fundamentais memórias do futuro, evitando ficar só, em seu umbigo egocentrado, desafiando o mundo com a soberba das vaidades mais provincianas e inexatas, perdido como um calendário que não calcula idades, sem qualquer referência daquele presente que havia antes que sua vida começasse e que vai estar presente quando ela se acabar ... para fazer poesia (mesmo a mais concreta e imaterial), além de ler (mesmo que a título de ilustração descartável) o iniciante deve perceber que, em tempo real, os verbos não têm tempo de informar em que tempo estão sendo conjugados, como se o presente do indicativo, dobrado pela língua em que está sendo falado, não tivesse mais futuro nem passado...

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

... aquele poema de Baudelaire, em que 3 gerações de mendigos aproximam-se da vidraça de um restaurante e observam um casal degustando algo da ordem palatoniana dos fois-gras: o avô olha faminto a iguaria criada por um poeta dos molhos e temperos que o casal aristocrata come em estado de graça; o pai, ainda romântico, observa com interesse emocional o amor com que o paladar do acepipe sagrado juntou àquela mesa de amantes socialmente privilegiados; enquanto o neto, com a língua exigindo mais do que um item num cardápio, simplesmente inaugurando a modernidade, fixa seu olhar na luz elétrica recém instalada e percebe que o futuro é o único desejo da alma da gente que se mantém latente tanto no presente quanto no passado...

... aquele poema de Fernando Pessoa que identifica que a dor que o poeta sente é uma dor ausente, que só se faz presente nas palavras do poema em que é fingida e desejada como uma amiga querida, trazendo consigo, tanto na cicatriz quanto na ferida, a magma certeza de que, no ato em que é sentida, funda a incerteza da poesia que a retrata viva, numa alma, que, sem a vida, não passaria de uma fantasia abstrata...

... aquele poema do Augusto de Campos, em que um substantivo-signo (cidade) sufixa palavras comuns ao Frances e ao português de tal maneira, que torna o idioma inglês mais latino do que derivado do germânico híbrido que precisou de Sheakspeare para ser realmente inventado ... neste poema incrível, quando sua heterodoxa leitura em voz alta é chamada, a polissílaba palavra criada, que é dita pela voz que toca na língua que fala, vai e volta ao infinito das possibilidades das línguas que ainda poderão ser faladas neste planeta, em que a maioria lê sem poder doar aos demais sentidos o que lendo vê e lido pode ser ou não ser aquilo que dito se fala...

... mesmo que três seja o bastante sendo, como diz o ditado: demais ... não quero esquecer da Pedra de Drummond, da Usura de Pound nem da Língua de Caetano Veloso (especialmente quando recitada à capella por Elisa Lucinda) ... são mais de três, os fotogramas falados com os quais Glauber, Eisenstein e Godard me ensinaram a ver como sílabas de palavras imaginárias que a tudo definem a partir do nada ... são mais de três, as imagens inscritas palavras que artistas como Duchamp, Nan-June-Paik e Oiticica me ofereceram para entender exatamente o quê num poema cala, enquanto a poesia nele fala ... são mais de três, as figuras da santíssima trindade, já que o espírito santo, além de santo, é são e são muitos os espíritos que, como ele, chamam de mãe quem, além dos desígnios de deus, uma a vida lhes deu ... três, dito de uma só vez, é sempre mais do que um simples três ... dizem os cosmopatas que pode até se mais do que três se outro três ao cubo lhe elevar ... assim sendo, são por mais de três lembranças que, a poesia, que de velho me faz criança, da mais abstrata ao mais metrificado soneto, sempre foi minha guia para a perdição ... meu mapa, meu mundo, meu amuleto e meu patuá...



Tavinho Paes é aquariano com ascendente em aquários, nasceu carioca da gema em janeiro de 1955, pelas mãos de uma parteira, na Praça da Apoteose (Catumbi-RJ). Editorialmente, pela Ibis Libris, lançou seu primeiro livro BUZINAÍ NAÏF, em 2008, posto que OS MOMOSSEXUAIS (todos os poemas podem ser vistos/escutados na web, de 2007, por não conter mais de 48 páginas, não é considerado livro, mas um panfleto. Aliás, desde 1974, no mercado informal dos 100% independentes, coleciona, até agora, 104 panfletos e livretos, que vão do mimeógrafo ao xerox, vendidos pessoalmente de mão-a-mão, com títulos como: O TRAVESTI BOSSAL (1976), CAT-XUPE (1978), O OGÃ DE OGUN (1984) e A CINDERELA DESCALÇA (1989) - uma antologia do período está sendo organizada por João José de Melo Franco, sob o título de PALESTRA, com data de lançamento prevista para o segundo semestre de 2011. Crendo que cantar seja uma das muitas formas de se falar e ler um poema, o poeta acumula mais de 250 registros fonográficos com sucessos na voz de Caetano Veloso, Gal Costa , Marina Lima , Lobão , Roupa Nova e por aí vai... Fundador do Cep 20.000, com Chacal, Carlos Emílio Lima e Guilherme Zarvos (1991) e do Festival Poesia Voa , com Bruno Cattoni, organiza eventos de poesia como o poemaShow, cinePoesia o recente kineCubB ... Foi Editor de O PASQUIM, e participou de filmes como: Rio-Babilônia e A Idade da Terra. Desde 2000, atua na internet com mais de 10 canais ativos e atualizados que podem ser acessados através de seu sítio pessoal...

Tavinho Paes by the web
www.tavinhopaes.com.br
http://tavinhopaes.wordpress.com
BLOG TAVINHO
POEMATRIX

e os mais bacanas, que tem download free

AUDIO VISUAL VOX (audio layers to audiovisual mix'n'remix)
CARNAVAL MIX (marchinhas)
add: http://tavinhopaes.mymusicstream.com/album/os-momossexuais-carnavalizai%E2%80%93vos

04 abril 2009

Washington Benavides à queima-roupa



1) ¿Qué es poesía para usted?

La quinta pata del toro asirio o sea la ficción que sostiene a la realidad (¿una segunda realidad?) o la “tercera orilla” de Joao?.

2) ¿Qué debe perseguir un iniciado en poesía y de qué manera?

Deberá (tal vez) buscar el tono en las palabras que le sea familiar. La manera? Es un manojo de maneras: Lecturas, experiencias, diálogos, la papelera siempre llena con “los crisantemos de la desesperación”.

3) Cite tres poetas y tres textos referenciales para su trabajo poético. ¿Porqué de estas escuelas?

J.DONNE: Los metafísicos ingleses (según Eliot) son contemporáneos por su insólito matrimonio de ciencia y poesía, alquimia y descubrimientos, por la originalidad de sus imágenes.
E.POUND: El viejo Ezra es un resumen de búsquedas y reencuentros: Provenza, cantares, dolce stil novo, ideogramas sino-japoneses. Azote de la Usura (deida de lo moderno).
DRUMMOND: Encontró a la poesía en una piedra del camino.


JOHN DONNE (1573-1631) “La Canonización”

“Por Dios, guarda silencio y deja que te quiera,
o increpa ya a mi gota y perlesía, búrlate
de mis cinco cabellos grises y de mi ruina;
tu posición mejora con riquezas, tu mente,
con las artes. Avanza hasta lograr un puesto;
observa a quienes llaman “su honor” o bien “su gracia”;
el acuñado rostro del Rey o el verdadero
contempla;
aprueba lo que más te guste,
y dejarás así que yo te quiera.
¡Ay de mí¡ Por mi amor ¿a quién le llega daño?
¿Qué barcos mercantiles hundieron mis suspiros?
¿Quién dice que mis lágrimas sus tierras inundaron?
¿Cuándo apartó mi frío la pronta primavera?¿Ycuándo los ardores de mis venas
aumentaron en uno la lista de apestados?
El soldado halla guerras, y encuentra el leguleyo
A hombres litigantes, que pugnas mueven, aunque
Ella y yo nos amemos.
Llamadnos como os guste, que amor así nos hace;
Llamadle mosca a ella; decid de mi lo mismo;
Cirios somos también , consumidos muriendo,
Y hallamos en nosotros la paloma y el águila.
El enigma del fénix tiene mayor ingenio
Por nosotros, que somos, dos en uno, el enigma.
Pues a cosa neutral ambos sexos se adaptan,
Idénticos morimos y resurgimos siendo,
Al fin, por este amor, como un misterio.
La muerte podrá darnos, si amor no nos da vida,
Y si no sientan bien cadáveres y tumbas
Para nuestra leyenda, la aceptarán los versos;
Si para alguna crónica no somos pieza digna
Tendremos linda estancia en los sonetos;
Una labrada urna sienta a las más preclaras
Cenizas, cual las tumbas que miden medioacre;
Así, con tales himnos, han de aprobarnos todos
Cuando por nuestro amor nos canonicen.
Y nos digan:”Vosotros, a quien amor rendido
Trocó en ermita el uno para el otro;
Los que en amor tuvisteis paz, que es rabia ahora;
Los que el alma del mundo contraisteis
Guardada en el cristal de vuestros ojos,
Y así espejos se hacían y unos espías tales
Que todo halló en vosotros su resumen:
Países, villas, cortes;
Pedidnos en lo alto
Copia de esos amores.”


EZRA POUND (1885-1972). “La buhardilla”

“Ven y apiadémonos de los que tienen más que nosotros.
Ven, amiga, y recuerda
Que los ricos tienen criados y no amigos
Y nosotros amigos, no criados.
Ven y apiadémonos de solteros y casados.

El alba entra en punta de pie
Como una dorada Pavlova
Y yo estoy próximo a mi deseo.
Nada puede darnos la vida
Mejor que esta hora de clarísima frescura,
La hora de despertarnos juntos.”


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902-1987) “De la mano”

“No seré el poeta de un mundo caduco.
Tampoco cantaré al mundo futuro.
Estoy preso a la vida y miro a mis compañeros.
Se sienten taciturnos pero alimentan grandes esperanzas.
Entre ellos, considero la enorme realidad.
El presente es tan grande, no nos apartemos.
No nos apartemos mucho, vamos de la mano.

No seré el cantor de una mujer, de una historia,
No hablaré de suspiros al anochecer, el paisaje desde la ventana,
No distribuiré estupefacientes ni cartas de suicida,
No huiré a las islas ni seré raptado por los serafines.
El tiempo es mi materia, el tiempo presente, los hombres presentes,
La vida presente.”




Washington Benavides (Tacuarembó,1930). Poeta, traductor, músico, profesor. Más de 20 libros de poesía, 3 de relatos y una novela. Traductor de Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Joao Guimaraes Rosa, Affonso Romano de Sant’Anna, Gregorio de Mattos, Clarice Lispector, Decio Pignatari, Mario de Sá-Carneiro. Profesor de la Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación, autor de canciones para variados intérpretes.
E-mail: bochab@adinet.com.uy

02 abril 2009

Nelson Guerra à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

La poesía es el arte de la palabra.
Todo está en la palabra.
Naturalmente que no dejo de lado la verdad, ni el sentimiento, ni la música y el ritmo. Pero la sustancia es la palabra.
La poesía es algo oculto, y se relaciona con lo oculto.
Con la alquimia, por ejemplo.
Como el alquimista, el poeta busca trascender la palabra, quintaesenciarla, de modo que signifique más allá de ella misma.
Con la Kabalah también. La creación es la palabra. (Véase Genesis 1-1) "En el principio era el Verbo, y el Verbo era con Dios, y el Verbo era Dios"
Y con la magia transformadora también.
Es lo que le da al bípedo implume un toque de angelitud, como el beso de amor de las leyendas infantiles, que transfora en príncipe azul a un sapo, o rescata de la muerte a la bella princesa.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

No soy quien para ese tipo de consejos, ni me seduce la aureola de sabio anciano venerable que eso otorga, pero debo decir que a la poesía se llega solamente desde la poesía. Actuar de otra manera sería cometer la tontería de querer inventarla.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Federico García Lorca
"Llanto por Ignacio Sánchez Mejía"
José Asunción Silva
"Nocturno"
Carilda Oliver Labra
"cuento"

Es escasa la obra editada que puedo citar. La mayor parte goza de la ineditud.
(Esa virtud tan molesta como la virginidad en una doncella de 50 años.) He publicado en algunas colecciones compartidas, revistas, páginas web, etc. Y tan solo un librillo, hace demasiados años, titulado "20 poemas de amor y un soneto rezagado" He obtenido premios, o sea que he logrado el interés de los jurados, pero no el de los editores.




Nelson Guerra é escritor, profesor de literatura. Nacido en Montevideo el 19 de enero de 1943. Radicado en Maldonado, desde 1978 donde dirigió, durante tres años, los Talleres Literarios del Ministerio de Educación y Cultura. Desde 2005 dirige los talleres de la Casa de La Cultura, dependiente del Municipio de Maldonado, en la misma disciplina. Miembro de la sociedad de Escritores del Uruguay. Ha sido galardonado en numerosos concursos de narrativa y poesía. Ha publicado tres libros de cuentos: "EL esquema, los pechos verdes y otras muertes", "Los ojos del viento sur", y "Más o menos a las siete" volumen compartido. Su cuentos y poemas integran numerosas antologías. Ha dictado cursos sobre distintos temas literarios. "Introducción a la poesía de las Islas Canarias" "La poesía de Carilda Oliver Labra" y otros. E-mail: nelgue@gmail.com

30 março 2009

Jair Cortés à queima-roupa



O que é poesía para você?

A poesía é um tránsito que va da experiência pessoal até o ponto no que essa experiência se volta fundamental, necesária para erguir uma reflexão coletiva que deriva em uma estrutura verbal.

A poesía e um conjunto de palavras que reorganiza a experiência e rompe com o quotidiano, emite uma cintilação que fica no meu interior além das palavras.

A poesía e um vidro, quebrado talvez; por ele eu posso olhar o mondo.

A poesía e um movimento da imaginação, é uma segunda oportunidade.

O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

SEMPRE tem que lembrar: “É possível porque é impossível.” (José Lezama Lima)

NUNCA deve aceitar conselhos.

A maneira? É um assunto pessoal.

Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

3 poetas
Catulo, por sua precoce maturidade na poesía.

Arthur Rimbaud, por falar desde o inferno.

José Carlos Becerra, por sua maneira de escrivir desde a margem.

3 textos
Cármenes de Catulo (na tradução do Rubén Bonifaz Nuño), uma transparente imagem do coração apaixonado.

Una temporada en el infierno de Arthur Rimbaud, testemunho poético da natureza escura do homem.

Relación de los hechos de José Carlos Becerra. Porque é uma reinvenção do mundo depois da experiência do amor, e tudo com palavras.




Jair Cortés nasceu no Calpulalpan, Tlaxcala, México, 1977. Poeta, ensayista e tradutor de poesía brasileña. Livros: A la Luz de la sangre (1999), Tormental (2002), Contramor (2003) Caza (Premio Nacional de Poesía Efraín Huerta 2006) y Enfermedad de Talking (2008). Escrive para Cronópios e Círculo de Poesía. E-mail: jair_cm@hotmail.com

28 março 2009

André Ricardo Aguiar à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Poesia é uma resposta com todas as perguntas por dentro.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Conviver de maneiras bem variadas com o mundo e com os livros, aceitar todas as leituras como um incessante vai e vem entre conhecer e desconhecer. Tirar proveito disso em qualquer dia. Exercer o ato da escrita como se dependesse do alimento. Como se andasse de bicicleta sem a angústia do destino. E só publicar de voz pensada.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Drummond, Pessoa e Jacques Prévert. De Drummond, A máquina do mundo; do Pessoa, os poemas heterônimos; de Prevért, Para pintar o retrato de um pássaro (Pour faire lê portrait d’um oiseau).
Drummond, porque empreende um percurso vertical aos questionamentos do mundo e da linguagem, Pessoa, porque estreitou incessantemente o jogo entre espelhos e Prévert, pelos jogos lúdicos, pela linguagem pedindo espaço para brincar. Estes poetas oferecem direções não tão alinhadas, antes, trabalham um certo jeito torto de viver, um viver onde o literário adoece de vida.

André Ricardo Aguiar nasceu em Itabaiana-PB em 1969. Atualmente, mora em João Pessoa. Cursou faculdade de jornalismo e letras. Começou com os livros de poemas A Flor em Construção e Alvenaria. Colaborou em revistas como Correio das Artes, Crispim, Poesia Sempre, Ficções (Portugal), Zunái, Cronópios, Germina. Ingressou na literatura infantil com O rato que roeu o rei (Rocco) e Pequenas reinações. Também editou um livro de crônicas, Bagagem Lírica. Mantém o blog Fora da Gaveta (http://andrericardoaguiar.wordpress.com) É membro do Clube do Conto da Paraíba. E-mail: diariodebordo@yahoo.com

26 março 2009

Beatriz Bajo à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Poesia é o tesão da inteligência, é o orgasmo que provoca a recuperação da alma. Poesia é algo que me salva do afogamento ou do incêndio. Lembro que desde quando comecei a escrever e fazia isso com certa frequência (sem trema, agora, mas tremendo ao acaso...rs), o ato de produzir era imperativo... porque não podia dormir, era como estar engasgada de nuvem, tropeçando no sol das palavras que se acenderiam se eu pegasse o caderninho... somente se vomitasse os versos que atravessavam meu sono. Depois, gozava de espelhamento e a leveza deixa-me em outro movimento eufórico e em seguida mais brando, até a singeleza. Tem sido assim, desde sempre. Posteriormente vieram os estudos, o aprofundamento, a academia e os “papas” do lirismo insistentemente desmentindo o que sinto de antes: de que poesia é o blablablá do trabalho (sim de parto), da transpiração (ora, o orgasmo). Nada disso me pega porque leio poemas que não me transformam, mas são apadrinhados pelo cânone, então, fodam-se as teorias e os intelectualismos poéticos. Quero comover-me. Para mim, poesia é uma morte, por isso, uma salvação... um resgate da gente, um perdoar-se.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Deve perseguir a espontaneidade... técnicas para impressionar leitor não valem de nada... é necessário que a poesia incendeie... é imprescindível provocar dores, espasmos, estupefações.
O segredo é sempre caminhar ainda mais pra dentro... escrever de olhos fechados para o mundo, construir imagens impossíveis e que representem os sentimentos que impulsionaram o ato... não levar preocupações para o poema... não se importar com escolas e oficinas, obedecer o que caminha bem dentro e que nunca ninguém leu ainda... respeitar as palavras, não as escravizar, sobretudo, respeitar os assuntos de cada um.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Engraçado isso, mas a poesia primeira veio de Clarice Lispector... desesperei quando li Água viva, lá estava tudo o que procurava há tempos. O maior de todos é Drummond, por tudo que me atormenta ainda hoje, o que mais vem me tocando é “Tarde de maio”. Brecht mudou muita coisa em mim com “Poemas de um manual para habitantes das cidades”. Bem, para não ficar muita extensa a lista, cito um último poeta que me atordoou, Fabiano Calixto. Seu livro, Sangüínea (agora com trema e tudo...rs), é maravilhoso, mas destaco “versos de circunstância”.

beijo no ventre dos versos





Beatriz Bajo (São Paulo/SP, 1980). Poeta, escritora, professora de língua portuguesa e literatura, especialista em Literatura Brasileira (UERJ) e aluna especial do mestrado em Letras (UEL). Editora da seção literária do site Armadilha Poética (http://www.armadilhapoetica.com/) e membro do conselho editorial do Projeto Macabéa (http://www.trapiches.com.br/). Participou de antologias e mantém publicações frequentes em revistas literárias e espaços virtuais como Portal Cronópios, Germina Literatura, Confraria do Vento, Conexão Maringá, Minguante, Lasanha e Coyote (impressa). Insiste em cultivar o blogue http://lindagraal.blogspot.com/. Morou por 17 anos no Rio de Janeiro (RJ) e vive há 2 em Londrina. E-mail: beahbajo@hotmail.com

24 março 2009

Ana Maria Ramiro à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

O estado permanente de tensão individual que se resolve aparentemente com a escrita, a procura angustiante daquilo que se esconde e se esvai e que, por essa mesma razão, dá sentido a essa busca, ao processo poético. Para mim, três palavras-chave têm sido a base para o fazer poético: pulsão, concisão e descoberta (um novo olhar sobre a linguagem) e, claro, muita reescrita.


2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Acho fundamental ler muito, dos clássicos (aqueles que permanecem "novos") aos contemporâneos, estabelecer um paideuma, mas também acho necessário um certo distanciamento do cânon e do campo literário, que muitas vezes acaba criando uma amarra condicionante, um instrumento de padronização. Os poetas não devem nunca deixar de lado a idéia de reformular constantemente a própria linguagem, e isso serve para todos, iniciantes ou não. A poesia, como aspecto da linguagem, é matéria viva e ninguém passa uma vida inteira fazendo, falando, escrevendo as mesmas coisas. Ser fiel a um leitmotiv, mas com possibilidade de desvios. Reinventar-se.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Minha inclinação para a poesia se iniciou na adolescência e me lembro que a leitura de Alberto Moravia e de Baudelaire (As Flores do mal) me apresentou uma escrita enérgica, anímica, além de expandir a minha compreensão para a existência de uma estrutura textual. A partir daí, outras leituras foram fundamentais: Uma temporada no inferno, do Rimbaud, A Divina Comédia (mais tarde li na versão original e o prazer foi redobrado ao descobrir como a linguagem arcaica contextualiza historicamente a obra de Dante, mas ao mesmo tempo é uma surpresa estética para o leitor contemporâneo), O livro das horas, do Rilke, muito da obra do Pessoa, do Drummond, alguns poemas específicos de Cecília Meireles, João Cabral e os concretistas. Mais tarde descobri poetas ingleses, franceses, irlandeses, americanos, mexicanos, sul-americanos, poetas orientais... e sigo nessas descobertas. Devo mencionar ainda algumas obras e autores singulares, sui generis, tanto da poesia como da ficção e, nesse sentido, seriam muitos os exemplos, desde o Popol Vuh, passando por Sóror Juana Inés de La Cruz, E. A. Poe, Joyce, Clarice Lispector, a poesia em dialeto de Pasolini, os orikis de Antonio Risério... Todas essas leituras me provocaram em determinado aspecto e momento, me incitaram a dissecá-las, mais do que outras tantas, e de alguma forma se tornaram um palimpsesto, o amálgama que utilizo quando penso em poesia.


Ana Maria Ramiro nasceu em São Paulo (1972). Publicou os livros Menina-Poesia (1999) e Desejos de Gaia (2007). Em 2006, organizou e traduziu a plaquete Para Fazer um Talismã, com poemas de cinco autoras argentinas: Alejandra Pizarnik, Elizabeth Azcona Cranwell, Dolores Etchecopar e Olga Orozco. Participou da antologia 8 femmes (2007) e da Antologia de poesia brasileira do início do terceiro milênio (2008), lançada em Portugal. Tem poemas, traduções e ensaios publicados nas revistas literárias Zunái, Critério, Coyote, Grumo, entre outras. Publica na internet o blog Folhas de Girapemba, no endereço http://girapemba.blogspot.com. Email: ana.ramiro@uol.com.br

22 março 2009

Jorge Tufic à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Deve ser o substrato da primeira manhã do universo, algo que teria se fixado em minha retina nos albores de minha infância em Sena Madureira-Ac, lá pelos idos de 1935. Um cenário bucólico onde o rio, a mata, os igapés, violões à distância e o desafio dos cantadores nordestinos, soldados da borracha, tanto me deslumbravam quanto acenavam desafios que somente anos depois eu viria a aceitar, compondo o meu primeiro soneto. É um sentimento forte demais para uma criança que ainda não tinha amigos nem brinquedos.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Um iniciante no fazer poético deve perseguir os bons livros de poesia. Devorá-los em silêncio, de preferência contido diante de qualquer impulso ou chamado para os primeiros rascunhos, tarefa essa que deve ficar para quando dispor de muito papel para ser gasto. A ilusão de texto definitivo é um dos véus de Maia nessa fase de busca de estilo e de linguagem.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Minha escolha de três poetas-modelos recai sobre Jorge de Lima, Manuel Bandeira e Ferreira Gullar. O primeiro pela sua exuberância e riqueza de metáforas, o segundo pela simplicidade e o terceiro pela extrema economia verbal, sem abdicar do discurso lírico e da participação social.


Jorge Tufic nasceu em Sena Madureira, Acre, a 13 de agosto de 1930. Viveu em Manaus durante 46 anos, dali saindo para morar em Fortaleza, em 10 de dezembro de 1991. É autor da letra do Hino do Amazonas, entre vários livros de poesia, ficção e ensaio, perfazendo os 50 títulos publicados. Pertence a várias entidades, entre as quais a Academia Amazonense de Letras, Academia Acreana de Letras e a Academia de Letras e Artes do Nordeste, sendo, além disso, detentor de inúmeros prêmios literários, com destaque ao Curso de Arte Poética, prêmio nacional da Academia Mineira de Letras para o ano de 2003. É Comendador da Ordem do Mérito Cultural do Estado do Amazonas, Cidadão Honorário de Fortaleza e colaborador do portal Cronópios da Internet. Foi objeto de uma primorosa reportagem do jornalista Jacques Menassa no jornal libanês Al Naher, já divulgado e traduzido para 80 idiomas. E-mail: jorgetufic@hotmail.com

20 março 2009

Marcos Siscar à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Há um certo desconforto dos poetas em responder à questão “o que é poesia?”. A pergunta não é mais complicada do que outras. O problema é que a poesia não gosta muito de definições, e isso tem a ver com a história de sua constituição como discurso e como saber sobre o mundo, de modo distinto da filosofia, da religião ou, mais recentemente, da ciência.

Por isso, respostas especulativas, místicas ou sistêmicas, por mais interessantes que possam parecer, soam sempre como meia-verdade. Comento os paralelos, arriscando algumas hipóteses sobre o modo como a poesia reivindica sua diferença:

- Gosto de imaginar, dentro da formulação filosófica do problema, que a poesia é a tentativa de manter o paradoxo, ou seja, aquilo que a filosofia tenta resolver a todo custo. O papel básico do filósofo é evitar o paradoxo, é dar um sentido coerente para aquilo que se apresenta contraditoriamente. Saber que não se sabe (Platão) é apenas uma estratégia do saber e, no fundo, um problema que a filosofia tem o cuidado de justificar, de manter sob controle. Para o poeta, o paradoxo não traz inconveniente (Octavio Paz). É possível dizer que a ambição da poesia é manter o paradoxo como tal, dando-lhe forma e formulação.

- Já o discurso religioso valoriza o mistério, verticaliza a vertigem do conhecimento permanecendo, via de regra, dogmático. Se a poesia se aproxima da reivindicação do mistério, rejeita claramente o dogmatismo. O poeta é mais comumente agnóstico (Drummond), ou inicialmente profanador (Baudelaire). Mantendo o “mistério” (hoje diríamos a alteridade), mas recusando a necessidade de dar-lhe um fundamento, subvertendo o que foi separado e trazendo-o para o uso do profano (Agamben), a poesia seria um tipo de “profanação”.

- Com a poesia sobre a mesa de dissecação, pode-se chegar a algumas conclusões em relação aos seus “dispositivos”. A herança científica nos legou uma visão do poético que passa sobretudo pela via da lingüística (Jakobson, formalistas russos) e é capaz de nos oferecer definições de procedimentos e mecânicas poéticas. Como toda fonte de definições, ela vale tanto pelo que descreve quanto pelo que acaba por normatizar. Daí a idéia pedagógica que lhe é associada (por exemplo, nos discursos do make it new). Entretanto, a poesia resiste à idéia de reiteração de formas e valores, valoriza a experiência única.

É difícil responder “o que é poesia?” sem constatar essa disputa entre discursos. Acho que dá para dizer que discurso poético aspira ao paradoxo do conhecimento da ignorância, que não deixa de estar ligado com a pulsão da alteridade (acaso, mistério, etc.). Essa experiência de constituição de identidade não deixa de ter sintonia com o modo pelo qual a poesia aborda questões psicológicas (“afeto”), cosmológicas (ou “ecológicas”) e sociológicas (“comunidade”).



2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Se aceitamos essa perspectiva do discurso poético, então o poeta só se realiza plenamente se levar o mais longe possível os seus pontos de partida, ou seja, os dados de sua própria experiência: o que sabe, o que faz, o que lê, o que deseja. Até o ponto em que essas coisas mostram seus pontos cegos, suas contradições. Há muitos tipos de prática de poesia, mas a que mais me interessa é essa radicalidade, essa capacidade de assumir a dificuldade, ainda que por meio da formulação mais simples.

Um poeta iniciante é sempre um poeta inteiro já que, como todo poeta ele ainda está por vir, por reconhecer-se. Ele está sempre em processo e isso significa, no fundo, que sua tarefa é a incessante transformação do lugar de onde vem.

Acho que o maior perigo hoje para um poeta é acreditar no marketing, no estilo de fachada, no reconhecimento vazio, como algo que substitui a tarefa de fazer-se poeta. Claro, o marketing existe, sempre existiu. Mas o pior dos mundos, para a poesia, é aquele em que o marketing encontra em si mesmo sua justificativa.


3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Tomando um atalho, eu citaria três autores que estão destacados em epígrafe no meu próximo livro de poemas.

Carlos Drummond de Andrade. Trata-se de um poeta que fica mais interessante se lido fora da habitual ortodoxia crítica. Claro Enigma (1951) é um dos pontos altos da fragilidade e da irritação da poesia de Drummond. Esses dois “defeitos”, aliás contraditórios, são combinados e se tornam qualidades poéticas.

Haroldo de Campos. Para mim, Galáxias (1984) é um livro de grande liberdade de linguagem e de “respiração”, que negocia de modo muito pessoal com os excessos joyceanos, sem o engessamento de escola que o temperamento “aventureiro” de Haroldo ajudou a evitar.

Michel Deguy. Gisants (1985). Os “jacentes” do título são ao mesmo tempo figura do humano, da história, da poesia. É um ponto alto da poesia de Deguy, do modo espantosamente coerente e sensível com que flagra a metafísica nos gestos mais simples do cotidiano, dando-lhes sentido histórico.




Marcos Siscar é poeta, tradutor e professor de literatura na Unesp. Publicou os livros de poemas Não se Diz (1999), Tome seu café e saia (2001), Metade da Arte (2003, finalista do Jabuti) e O Roubo do Silêncio (2006, prêmio Goyaz e finalista do Portugal Telecom). Tem livros traduzidos na Argentina (No se Dice, 2003) e na França (Le Rapt du Silence, 2007, e a antologia Prends ton café et va-t-em, a ser lançada em 2009). É tradutor de Tristan Corbière, Michel Deguy, Jacques Roubaud, entre outros. Em 2005, foi poeta residente em La Rochelle, França. Prepara atualmente a edição de seu próximo livro Interior via Satélite, pela Ateliê Editorial. E-mail: siscar@ibilce.unesp.br

18 março 2009

Criação literária na pós-graduação



Com módulos [romance, conto, poesia, roteiro, teatro, infanto-juvenil, crônica e blogue] coordenados por professores escritores, um curso — em nível de pós-graduação — para formação de escritores.

A coordenação geral está a cargo do escritor Nelson de Oliveira e de Claudio Brites e contará com Marcelino Freire, Nelson de Oliveira, Paulo Ferraz, Marne Lucio Guedes, Marcelo Maluf, Fernando Marques, Luís Marra e Edson Cruz entre os professores convidados.

Informações e inscrições: www.labmind.com.br

16 março 2009

Sylvio Back à queima-roupa


[foto: Guilherme Gonçalves]


1) O que é poesia para você?

Poesia é a mais imponderável das criações do espírito humano. E a única totalmente imprevisível. “O poema não é um ato compulsório”, ensina W.H. Auden. Uma espécie de bricolagem holística do que fomos, somos e seremos, daí esse caráter profético ancorado, como se fosse uma segunda pele, em nosso e no inconsciente coletivo. Talvez uma “brisa mediúnica” que sopra sobre e dentro de você e do seu intelecto quando ela bem entende. Poema é como suicídio, você não premedita, simplesmente comete! Por isso, todo poema é uma obra completa. Na sua invenção, implodem tanto o passado quanto o devir. Só a palavra é presente, a dádiva sobrevivente. Em cada poema a imersão formal e a exorcização moral são tamanhas que ele sempre soa o último. Como se a musa jamais fosse voltar à cena do crime.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Tempos atrás fui interpelado por um neo-poeta que me fez essa pergunta. De cara pensei em dizer que, antes de tudo, há que se ter talento e amar a poesia. O que são verdades incontornáveis. Mas, insuficientes. Na hora tive uma iluminação, pois nunca havia elocubrado sobre o tema. Disse-lhe algo mais ou menos assim: leia e releia muita poesia de qualidade, de todos os tempos, brasileira e estrangeira, essa, se possível, na língua do criador, caso não, traduzidos, com o original ao lado para conferir o "tamanho" da traição. "Traduzir é poetar às avessas", assim chama-se o livreto com poemas do americano Langston Hughes que verti para o português. Portanto, mente, olhos e ouvidos atentos! A partir de então, numa auto-crítica implacável, avalie até que ponto ficou influenciado por esses e outros poetas de sua preferência. Se pressentir que em um e outro poema ou verso existe identificação, isso ainda não é dicção própria, ou seja, não é a "sua" poesia, nem poesia, se rigorosos formos. E poesia é antes de tudo, rigor em todos os sentidos! Certo dia, passados, sei lá, os anos, passada a vida, passados os poemas, você surpreender nos seus versos uma inaudita estranheza, uma negação absurda de tudo que você pensa seja poesia, como se "aquilo" não parece coisa sua, algo que não lembra nada do que você leu ou escreveu, e sente um misto de medo e felicidade, é bem provável que a "sua" poesia o tenha fulminado.


3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Muitas vezes o poema chega antes do poeta. No meu caso, eu cheguei fora de hora, maximizando a chamada "angústia da influência" (Bloom). Ainda que a estante de poesia seja maior do que a de livros de cinema, só ousei poetar já homem maduro com uma filmografia de trinta títulos. Leitor voraz desde a juventude, escrevi os primeiros versos aos 48, sem nunca antes ter cometido nenhum poema, nem por desfastio ou artimanha amorosa.

movie junkie

sou um reles
traficante de
fotogramas

antes fazendo fita
do que viver sem
Viveca Lindfors

movies não
há mais timing
livre-se deles

do cowboy que fui
restam furtivas
ínfância e infâmia

a bala na lua
Méliès de olho
a dor irisada

queimei o filme
queimei o poema
queimei se amei

Em fins de 1984 fui literalmente invadido por uma cadadupa de inesperados versos sofridos e doridos, frutos de um incontornável drama existencial. Logo vieram Drummond e Mallarmé, advertindo que pensamentos & sentimentos não bastam, que é preciso penetrar "... surdamente no reino das palavras" (CDA), que um poema é feito de palavras, não de idéias. Para agravar a conflagração, foram chegando, imbricados, versos e estrofes inoculados pelas chamadas "palavras do antro". Fiquei perplexo e assustado. Ato contínuo, porém, procurei não apará-las da contundência de suas hipérboles erótico-fesceninas, do seu "amor & humor" (Oswald de Andrade), eivados de viço e isentos de vício. E dei-lhes passagem. Até hoje: dos sete livros publicados, quatro remetem-se, justamente, a esse gomo nobre da poética, o verso fescenino, também rotulado de pornográfico e poemas de sacanagem. Entretanto, grife dos maiores, tanto do Ocidente como do Oriente e d'África, do Egito, Grécia, Roma e China antigos à atualidade.

Foi então que me dei conta, leitor contumaz de Catulo, Juvenal, Ovídio, Marcial, Bocage, das medievais "Cantigas d'escarnho e de mal dizer", de Aretino, Gregório, Apollinaire, António Botto, Boris Vian, Hilda Hilst, Bernardo Guimarães, Whitman, Kafávis, Verlaine, Affonso Ávila, etc., o quão tinha sido refém do preconceito contra o verso licencioso. Ou seja, de expressões obscenas, daquele "baixo calão" aceito na prosa, no teatro, no cinema, mas proscrito na poesia. "Não existe palavra impura para o poeta", escreveu Manoel de Barros, ao ler meu livrinho de estréia, "O caderno erótico de Sylvio Back". A poesia empurece qualquer palavra.

ablução do grelo

tantos vorazes ofícios
bocas e salivas assaz

tanta porra que jorre
sacia vícios e ardores

tantos orifícios há pra
aplacar dedos e dildos

tanta ablução do grelo
o caralho é prisioneiro

Dado esse assincrônico despertar para o poema (são apenas vinte e dois anos escrevendo e publicando), fica difícil enunciar o paideuma fundador do meu estro. Embora fácil rememorar os primeiros leitores: coube à tríade de poetas paranaenses, Paulo Leminski, Alice Ruiz e Sérgio Rubens Sossélla, nos idos dos anos 1980, o aval e curso aos versos inaugurais, eles tão surpresos quanto eu. Até que ponto fui inoculado pelo seu poemário, só o tempo dirá. Na seqüência, criadores e criaturas, antes deles, iam, foram e voltaram ao longo de, no mínimo quatro décadas, todos embaralhados a uma trintena de filmes dos mais variados torques estéticos, políticos e morais. Como se poema e cinema dormissem juntos e jamais tivessem trocado algum afago. Os fotogramas, na verdade, sempre embutiram epigramas. "O poema/antevê/o cinema" (álbum d'alma, em "Moedas de Luz").

Nessa voragem, só me resta homenagear, de forma randômica, poetas e poemas que, feito um eterno iniciante (vá-te, Back!), os leio e releio, descubro novos (como Laura Riding), deliciando-lhes a alma e a beleza com primevos pureza e encantamento. Sem que nenhum deles, propriamente, fosse ou é, o azimute dos fesceninos e que tais (o erotismo é o DNA de todo poema), sinto-me o receptáculo privilegiado dos influxos difusos e confusos, esmaecidos e quase todos prescritos ao longo do tempo, oriundos do inimitável fabbro de um, entre tantos (além dos citados), Bandeira, Issa, João Cabral, Auden, Celan, Sá-Carneiro, cummings, Murilo, Dickinson, Augusto de Campos, Bashô, Álvares de Azevedo, Rilke, Helena Kolody, Keats, Jorge de Lima, Paz, Wang Wei, Cecília Meirelles, Mallarmé, Eliot, Cruz e Souza, etcetera, etcetera, etcetera. Quem sabe não seja de todo impertinente o título do meu novo livro: "Isto ainda é poesia?"

Eurus

sopre este poema
da página enxote
pro nume que dá
a lume sopre aqu
eloutro suma com
todos e deixe o tí
tulo sumo do que
do verbo fora po
esia viés que ag
ora seria não és




Sylvio Back é cineasta, poeta, roteirista e escritor. Filho de imigrantes, pai húngaro e mãe alemã, é natural de Blumenau (SC). Ex-jornalista e crítico de cinema, autodidata, iniciou-se na direção cinematográfica em 1962, tendo escrito, dirigido e produzido até hoje 36 filmes, entre curtas, médias e dez longas-metragens, esses, a saber: "Lance Maior" (1968), "A Guerra dos Pelados" (1971), "Aleluia, Gretchen" (1976), "Revolução de 30" (1980), "República Guarani" (1982), "Guerra do Brasil" (1987), "Rádio Auriverde" (1991), "Yndio do Brasil" (1995), "Cruz e Sousa – O Poeta do Desterro" (1999) e "Lost Zweig" (2003).
Publicou vinte livros entre poesia, ensaios e os roteiros dos filmes, "Lance Maior", "Aleluia, Gretchen", "República Guarani", "Sete Quedas", "Vida e Sangue de Polaco", "O Auto-Retrato de Bakun", "Guerra do Brasil", "Rádio Auriverde", "Yndio do Brasil", "Zweig: A Morte em Cena", "Cruz e Sousa – O Poeta do Desterro" (tetralíngüe), "Lost Zweig" (bilíngüe) e "A Guerra dos Pelados".
Obra poética: "O caderno erótico de Sylvio Back" (Tipografia do Fundo de Ouro Preto, Minas Gerais, 1986); "Moedas de Luz" (Max Limonad, São Paulo, 1988); "A Vinha do Desejo" (Geração Editorial, SP, 1994); "Yndio do Brasil" (Poemas de Filme) (Nonada, MG, 1995); "boudoir" (7Letras, Rio de Janeiro, 1999); "Eurus" (7Letras, RJ, 2004); "Traduzir é poetar às avessas" (Langston Hughes traduzido) (Memorial da América Latina, SP, 2005), "Eurus" bilíngüe (português-inglês) (Ibis Libris, RJ, 2006); "kinopoems" (@-book) (Cronópios Pocket Books, SP, 2006); e "As mulheres gozam pelo ouvido" (Editora Demônio Negro, SP, 2007). E-mail: sylvioback@gmail.com

14 março 2009

José do Carmo Francisco à queima-roupa




1) O que é poesia para você?

A poesia é para mim a resposta possível ao absurdo da vida, o sentido do que não tem sentido, a resposta precária e nunca definitiva às grandes interrogações. Metade canção, metade filosofia, é assim que eu vejo a poesia.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

O principiante deve ler tudo o que diz respeito à poesia. Todos começamos por ser «leitores», eu comecei por ler Cesário Verde com dez anos. Só publiquei o meu primeiro poema adulto aos 27 anos em 1978 no «Diário Popular».

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Três poetas são Cesário Verde com «Cristalizações», Carlos de Oliveira com «Sobre o lado esquerdo» e Ruy Belo com «Aquele grande rio Eufrates». Manuel Bandeira e outros poetas igualmente importantes foram surgindo depois de 1978. E ainda não parei nas minhas leituras e nas minhas descobertas.



José do Carmo Francisco nasceu a 13 de Fevereiro de 1951 em Santa Catarina (Caldas da Rainha), Portugal. Frequentou o Instituto Comercial de Lisboa e o Instituto Britânico. Foi bancário entre Setembro de 1966 e Novembro de 1996. É juiz social no Tribunal de Menores desde 1993. É jornalista – carteira profissional nº 4149. Estreou-se no «Diário Popular» em 1978 e em «A Bola» em 1979. Foi colaborador do «Sporting» desde 1988 («As palavras em jogo») e seu redactor de Janeiro de 1997 a Novembro de 2006. Entre 1992 e 1996 entrevistou na revista «Bola Magazine» figuras nacionais das Artes e das Letras na rubrica «Um cafezinho com». Colabora no mensário «Voz de Alcobaça» com a coluna «O lugar do poema» e no semanário «Gazeta das Caldas» com a rubrica semanal «Um livro por semana» e a coluna quinzenal «Estrada de Macadame». Colabora na revista «Desporto sem Paralelo» e nos jornais «Diário Insular» e «Notícias da Amadora». Colaborou nos jornais «O Mirante», «Diário Popular», «Diário de Lisboa», «República», «O Ponto», «O Remate», «Correio dos Açores», «O distrito de Portalegre» e nas revistas «Ler», «PC Win», «Mulheres», «Revista Alentejana», «Colóquio Letras» e «Seara Nova». Desempenhou funções da direcção da Associação Portuguesa de Escritores e é secretário da Associação Portuguesa de Críticos Literários. Organizou duas antologias para o Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas: «O Trabalho – antologia poética» e «O Desporto na Poesia Portuguesa». É co-autor do livro «Glória e vida de três gigantes» sobre o Sporting C. de Portugal, o Benfica e o F.C.Porto editado em 1995 por «A Bola». É autor dos seguintes livros: «Iniciais» (1981), «Universário» (1982), «Transporte Sentimental» (1987), «Jogos Olímpicos» (1988), «1983 – Um resumo» (1991), «Leme de luz» (1993), «Mesa dos Extravagantes» (1997), «As emboscadas do esquecimento» (1999), «De súbito (2001), «Os guarda-redes morrem ao Domingo» (2002), «O Saco do Adeus» (2003), «Pedro Barbosa, Jesus Correia, Vítor Damas e outros retratos» (2005) e «Mansões Abandonadas» (2007). «Iniciais» venceu em 1980 o prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores atribuído por um júri constituído por Armando Silva Carvalho, Fernando J.B. Martinho e Pedro Támen. Em 2006 foi publicada uma versão da tese de mestrado de Ruy Ventura («José do Carmo Francisco - uma aproximação») nos 25 anos da sua obra poética. O Júri (Clara Rocha, Silvina Rodrigues Lopes e António Cândido Franco) atribuiu à tese («Representações da Memória e do Quotidiano na poesia de José do Carmo Francisco») a classificação de «Bom com distinção». O poema «Café contigo» está gravado num CD de José Cid. O Jornal «ABC» de 15-11-2008 dedicou-lhe uma página no seu Suplemento Cultural. Tem poemas, entrevistas e notas de leitura nos sites e blogs «aspirinab.com.», «triplov.com», «escritacriativa.com», «ofogareiro.blogspot.com» «alicerces1.blogspot.com», «casariodoginjal.blogspot.com», «cabradeservico.blogspot.com» e «viagenspelooeste.blogspot.com» E-mail: jcfrancisco@mail.pt

12 março 2009

Felipe Fortuna à queima-roupa



1) O que é poesia para você?

Eis uma pergunta que deve ocorrer para todo poeta. Às vezes parece ingênua, às vezes parece a única pergunta a responder... Em qualquer momento, porém, penso que poesia é transformação e transfiguração. Uma palavra no verso transforma todas as palavras e todo o verso. Transfiguram-se o poema e o leitor.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Se tivessem dito para mim o que deveria perseguir...

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?

Carlos Drummond de Andrade, ao escrever Claro Enigma, atingiu um momento altíssimo da lírica brasileira moderna. Depois dele, somente João Cabral de Melo Neto chegou lá, com Serial e Duas Águas. Nos dois poetas, o mais impactante é o modelar da palavra: como escrever de modo diferente os versos "a máquina do mundo se entreabriu / para quem de a romper já se esquivava / e só de o ter pensado se carpia"? Como imaginar um ovo diferentemente de "sem possuir um dentro e um fora, / tal como as pedras, sem miolo: / e só miolo: o dentro e o fora / integralmente no contorno"? Para ficar na língua portuguesa, Fernando Pessoa (Álvaro de Canpos) de "Tabacaria" é um assombro, pois se tem a impressão de que o poema não poderia ser diferente, por ser essencial.



Felipe Fortuna nasceu no Rio de Janeiro, em 1963. Mestre em Literatura Brasileira (PUC/RJ), é poeta e ensaísta, e vem colaborando regularmente na imprensa brasileira. Publicou Ou Vice-Versa (1986), Atrito (1992) e Estante (1997), poemas; A Escola da Sedução (1991) e A Próxima Leitura (2002), crítica literária; Curvas, Ladeiras - Bairro de Santa Teresa (1997) e Visibilidade (2000), ensaios. Traduziu a obra integral da poeta francesa Louise Labé no volume Amor e Loucura (1995). Diplomata, atualmente trabalha em Londres. Em 2005, publicou um novo livro de poemas, juntamente com os três anteriores, no volume Em Seu Lugar (Editora Francisco Alves). E-mail: felipefortuna@felipefortuna.com Biobibliografia em www.felipefortuna.com e http://pt.wikipedia.org/wiki/Felipe_fortuna